Organizações sociais consideram modelo de mercado inadequado para lidar com questão ambiental



Na última reunião deste ano da Subcomissão Permanente de Acompanhamento da Rio+20 e do Regime Internacional sobre Mudanças Climáticas, nesta quinta-feira (8), representantes de movimentos sociais fizeram duras críticas às soluções de mercado, que consideram esgotadas para o enfrentamento da crise ambiental, e lamentaram que a pauta da reunião de cúpula, marcada para 2012, dê pouca importância à "voz das ruas".

Moema Miranda, diretora do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), ressaltou o entusiasmo de sua entidade com a proposta da Rio+20, mas considera "rebaixada" a agenda do encontro internacional por colocar a arquitetura institucional em segundo plano diante da discussão de "economia verde".

Para ela, que classificou as crises pelo mundo como uma crise geral de civilização, é impossível que as soluções venham pelo mercado. Também foram condenadas por Moema Miranda a ambição desenfreada e a visão eurocêntrica que desvaloriza o conhecimento ancestral de povos tradicionais.

Moema salientou que a justiça social é inseparável da ecologia, o que torna necessário alterar padrões de consumo. Ela afirmou que as alternativas à economia de mercado já existem e disse esperar que a Cúpula dos Povos, evento paralelo à Rio+20, abra espaço para a articulação da sociedade civil. 

'Modelo falido' 

Nair Goulart, presidente adjunta da Comissão Sindical Internacional, também apontou o esvaziamento da Rio+20 e, ao mesmo tempo, o papel determinante do Brasil na questão ambiental. Citando a crise na Europa como exemplo, classificou o capitalismo como um modelo "falido" que tem conduzido à precarização das relações de trabalho e dos direitos sociais nos próprios países que por muito tempo serviram de modelo para o mundo.

Em termos ideais, Goulart deseja um acordo vinculante de redução de emissão de carbono, além de forte controle sobre transferências de capital entre países e imposição de um tributo transnacional sobre operações financeiras. A sindicalista elogiou as medidas antirrecessivas do presidente Lula a partir de 2008, às quais atribui o bom desempenho do Brasil diante da crise mundial.

Luiz Zarref, que representou a Via Campesina no debate, criticou a "mercantilização da vida" e a absorção pelo capitalismo dos grandes acordos ambientais. Ele repudiou o conceito de natureza como mercadoria, temendo que a Rio+20 legitime "falsas soluções" que intensificam um modelo que também considerou falido.

O ativista protestou contra a pouca atenção aos movimentos sociais em outros encontros de cúpula. Como alternativa, Zarref defendeu a soberania alimentar com produção de alimentos sadios, a reforma agrária como forma de reengenharia demográfica e uma agroecologia verdadeira, pois, em sua opinião, a agricultura orgânica foi tomada pelo mercado.

O presidente da subcomissão, senador Cristovam Buarque (PDT-DF), elogiou o avanço do debate ao longo dos encontros da subcomissão. Ele concordou com a percepção de esgotamento da teoria econômica e da política tradicional no enfrentamento da questão ambiental.

O parlamentar, que apoia a Rio+20 como "processo permanente", defendeu a aplicação do imposto mundial sobre transações financeiras em programas de educação, mas disse temer que os governos acabem usando os recursos para outros fins.



08/12/2011

Agência Senado


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