Tombini: Brasil tem arsenal para lidar com ‘baixo crescimento e mercado instável’
Ao avaliar as perspectivas da economia brasileira, Tombini observou que o cenário internacional continua complexo, “com volatilidade nos mercados e perspectiva de baixo crescimento”. No entanto, assinalou que o Brasil apresenta sólidos fundamentos, como reservas cambiais confortáveis, e que tudo aponta para um ritmo econômico mais intenso neste semestre e no próximo ano.
Ele disse que o mercado projeta uma elevação do PIB ao redor de 4% para 2013. Para esse ano, depois de sucessivas reduções, a previsão mais atual é de um ganho de pouco mais de 1,6%. Tombini afirmou que a retomada ocorre de forma gradual, mas consistente. Destacou o início de recuperação da indústria e a melhoria do desempenho da agricultura, com previsão de novo recorde na safra de grãos no ano. Declarou que também continuam presentes fatores que vêm sustentando a demanda, como o emprego, a renda e o crédito.
Tombini ressaltou um conjunto de estímulos introduzidos desde o ano passado, com o objetivo de favorecer a retomada da economia. Entre estes, citou a redução da taxa básica de juros (Selic), em queda desde agosto do ano passado, para os atuais 7,5% ao ano.
O presidente do BC também destacou a melhoria da liquidez por meio da redução dos depósitos compulsórios, o que resultou na injeção de quase 70 bilhões na economia desde dezembro de 2011. Conforme assinalou, a economia se beneficiou ainda com melhores condições de financiamento para as empresas e famílias, ao lado de incentivos fiscais e tributários.
De acordo com Tombini, esses impulsos impactam a economia real com defasagens (de tempo), daí a evidência de um crescimento ainda moderado. No entanto, continuou, isso não significa um esgotamento das políticas em curso, especialmente no que tange às medidas monetárias, conforme questão apresentada por Ana Amélia e também pelo senador Armando Monteiro (PTB-PE).
- Não creio que a eficácia da política monetária esteja diminuindo. As defasagens se ampliaram em função do quadro internacional – observou Tombini, referindo-se ao tempo até que os estímulos à economia tenham o efeito desejado.
Inflação
Quanto à inflação, o presidente do BC afirmou que as estatísticas apontam para a convergência ao centro da meta de 4,5% ao ano, mas numa “trajetória não linear” (o mercado elevou a inflação pelo IPCA para esse ano, de 5,20% para 5,34%, em pesquisa do BC).
No curto prazo, conforme disse, choques desfavoráveis de oferta impactaram os preços agrícolas, em razão de problemas climáticos nos Estados Unidos, que puxaram os preços de commodities, e aqui mesmo no país, motivando a alta de produtos in natura. No entanto, vê prevalecer um “viés desinfacionário no médio e longo prazo”.
Em resposta aos senadores, interessados em sua avaliação sobre o impacto da anunciada redução nos preços da energia sobre a inflação, Tombini se limitou a dizer que acredita numa contribuição expressiva. No entanto, preferiu não fazer projeções. Explicou que os cálculos serão “refinados” e que os dados vão sair no próximo relatório de inflação do BC, ao fim de setembro.
Carga tributária
Os senadores Lindbergh Farias (PT-RJ) e Armando Monteiro provocaram o presidente do BC a opinar sobre a melhor forma de o país aproveitar a economia decorrente da redução dos custos da dívida pública, motivada pela redução da Selic. Para os senadores, esse espaço fiscal deve ser utilizado a favor da desoneração e da ampliação dos investimentos.
Após ressalvar que a questão não é matéria da esfera do BC, Tombini disse que medidas recentes anunciadas pelo governo apontam para a direção sugerida pelos senadores. Aproveitou para lembrar que países europeus também estão reduzindo custos trabalhistas para desonerar capital e que devem sair da crise com mais força para competir. O presidente da CAE, senador Delcídio Amaral (PT-MS), disse que o país precisa de fato encarar o desafio de reduzir os custos que oneram a produção.
- O Brasil precisa se preparar para os tempos que virão – alertou Delcídio.
Sérgio Souza (PMDB-PR) que questionou o ritmo de queda da redução da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), atualmente ao redor de 5% ao ano, na comparação com a trajetória da taxa Selic. A seu ver, há um tratamento destoante diante da importância da TJLP para os investimentos que dinamizam a economia. Em resposta, Tombini defendeu a ampliação da oferta de recursos para investimentos de longo prazo, a partir do desenvolvimento do mercado de capitais.
12/09/2012
Agência Senado
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