'Os artistas não morrem jamais', diz mãe de Glauber
Desde a morte de Glauber Rocha, em 1981, a missão de sua mãe, Lúcia Rocha, é procurar e guardar todo e qualquer material referente a seu filho. Aos 92 anos, ela é a guardiã do Tempo Glauber, um centro cultural no Rio dedicado ao cineasta, com um acervo que já chega a 100 mil peças.
- Muita gente se interessa. Um professor francês de Cinema vem aqui todos os anos. Ele passa três meses pesquisando e depois volta para casa - conta, orgulhosa.
Lúcia Rocha participará nesta terça-feira (23), no Senado, da sessão em homenagem a Glauber, proposta pela senadora Lídice da Mata (PSB-BA). Leia abaixo entrevista da mãe do cineasta para o Jornal do Senado.
Como era o filho Glauber Rocha?
Enquanto todas as crianças da idade dele estavam na rua, brincando de peteca ou bola de gude, ele ficava dentro de casa, lendo e escrevendo. Aquilo me chamava a atenção. "Minha mãe, minha cabeça é um vulcão", ele explicava. Eu entendi que, lendo e escrevendo, ele dava um jeito de expelir todas as ideias que tinha dentro da cabeça. O curioso é que Glauber detestava a escola. Uma vez, ele brigou com a professora e veio para casa dizendo que não queria mais voltar. Ele achava a professora fraca. Queria que eu o ensinasse a ler e escrever. E, de fato, fui eu que o alfabetizei.
Dos filmes de Glauber, qual é seu favorito?
Meu favorito é Barravento. Sabia que ele planejou esse filme quando tinha sete anos? Estávamos passeando na praia de Buraquinho, na Bahia, e ele, criança, disse: "Quando crescer, vou fazer um filme aqui". Anos mais tarde, ele voltou lá para fazer Barravento. O filme é muito bonito. Eu participei de todos os filmes que Glauber fez no Brasil. Eu costurava as roupas, fazia comida para os atores... Ajudei com dinheiro também. Eu era rica e, por causa do cinema, fiquei pobre. Mas não me arrependo. Valeu a pena. Se outro filho quisesse fazer cinema, ajudaria do mesmo jeito.
A senhora cuida do Tempo Glauber, um espaço que guarda 100 mil documentos. Foi difícil reunir um acervo tão amplo?
Eu comecei a juntar o material quando ele tinha nove anos. O primeiro documento é o roteiro de uma peça de teatro que ele encenou no colégio. Tenho até anotações que ele fazia em papel, amassava e jogava fora. Eu corria ao lixo, pegava o papel, passava com ferro e guardava. Minha missão, hoje, é reunir, conservar e divulgar toda a produção de Glauber. Tenho fotos, poemas, cartas, entrevistas publicadas, desenhos, roteiros que nunca chegaram a ser filmados. As pessoas vêm aqui, interessam-se pelos roteiros, mas ninguém tem coragem de fazer os filmes. Seria muita responsabilidade. Quando Glauber foi morar na Europa, ele me pediu que eu cuidasse de todo o material dele. Jurei que cuidaria de tudo e que, assim, ele nunca morreria. E, de fato, ele nunca morreu - porque o artista nunca morre.
Ricardo Westin / Jornal do Senado
22/08/2011
Agência Senado
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