Paciente que vai ao Instituto do Câncer ganha atenção especial



Preocupação da equipe é oferecer acolhimento humanizado e reduzir a ansiedade e o medo que a doença pode acarretar

Entusiasmadas, as profissionais Andréa Cesar de Oliveira e Priscila Bocchini se apresentam: a primeira é assistente social e a outra, farmacêutica. “Estamos aqui com o coração aberto, dispostas a ajudá-los em tudo que for necessário para o êxito do tratamento”, destaca a dupla, ao fixar o olhar em direção aos pacientes e seus familiares. Assim começa a reunião do Grupo Acolhida, que marca o primeiro contato dos doentes com o Instituto do Câncer de São Paulo.

Elas passam uma bola ao público. Cada um também fala de si e das expectativas da assistência no hospital. A turma está atenta às explicações de Andréa e Priscila. Detalham os principais serviços disponíveis no instituto aos pacientes com câncer, encaminhados do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP).

“A enfermagem está sempre receptiva para auxiliar”, afirma Priscila. Se precisar esclarecer dúvidas sobre medicação, curativo ou qualquer outro procedimento, o Instituto do Câncer oferece serviço telefônico 24 horas por dia. E quem preferir resolver com enfermeiros pessoalmente não precisa agendamento.

Equilíbrio e determinação – De forma descomplicada, as profissionais explicam sobre quimioterapia, radioterapia, o que fazem o nutricionista, o farmacêutico, o assistente social e o psicólogo, entre outros. “Em todos os lugares do instituto há psicólogos. Vocês não ficarão desamparados e tudo que falarem aqui é sigiloso”, avisa a psicóloga Carolina Luchetta, coordenadora do Grupo Acolhida. Há terapia em grupo, individual e acompanhamento, inclusive, aos familiares.

As profissionais enfatizam que o equilíbrio emocional e a alimentação saudável são imprescindíveis para a melhor resposta do organismo ao tratamento oncológico. Quando o assunto é nutrição, Vanuzia da Silva, 55 anos, se manifesta e conta que muitos alimentos lhe fazem mal: “Acho que preciso da orientação de um nutricionista”, observa. Andréa sugere que a mulher solicite ao médico encaminhamento ao nutricionista.

Vanuzia conta que sanou suas dúvidas sobre câncer: “Às vezes, fico deprimida porque não sei como será o tratamento. O grupo deu mais força para eu enfrentar a doença”. Seu caso exige especialista de pâncreas e fígado. No final de 60 minutos de palestra, as pessoas receberam uma pasta com mais informações sobre os serviços disponíveis e uma mensagem de otimismo do ator inglês Charles Chaplin: “Bom mesmo é ir à luta com determinação, abraçar a vida e viver com paixão, perder com classe e viver com ousadia. O triunfo pertence a quem se atreve. A vida é muito bela para ser insignificante”.

Aprendizado – Acompanhada do filho, nora e neto de 6 nos, Santila Maria de Jesus, 73, opina: “A reunião foi maravilhosa! Guardei tudo na mente. As profissionais abriram o meu coração e estou me sentindo muito bem”. Santila fez cirurgia de tumor no estômago no dia 1º de setembro no HC e foi encaminhada para continuar sendo assistida no instituto. “Se precisar de apoio, já sei onde procurar”, frisa.

A reunião do Grupo Acolhida ocorre de segunda a sexta-feira, em dois períodos, às 8 e às 13 horas. Assim que chegam do HC, os pacientes são agendados para este atendimento, antes de qualquer consulta médica.

Na opinião das palestrantes, um encontro é diferente do outro. Alguns relatam dificuldades sociais para prosseguir o tratamento, dúvidas terapêuticas, emocionais. “Notamos que, às vezes, o doente chega aqui forte, com fé e esperança. O familiar, ao contrário, fica mais preocupado e angustiado com o problema do parente. Muitos até choram”, observa a farmacêutica Priscila.

Ela trabalha no Instituto do Câncer há um mês e diz que ficou impressionada com a disposição de um doente, com tumor na vesícula. Ele trabalhou durante 23 anos, sem férias, só parou quando soube da doença. “Disse que, apesar de sua ausência, a empresa funcionava normalmente, por isso começou a olhar a vida e valorizá-la mais. É um aprendizado que desenvolvemos junto com eles”.

Rosa encontra novo caminho

Após anos de resistência, a escritora infantil Rosa Maria Pereira Gomes Robles, 60, decidiu encarar o tratamento do câncer para viver melhor. Há anos, operou um tumor na mama. “Como não me sentia bem no ambiente hospitalar, suspendi o tratamento”, conta. O resultado da teimosia de Rosa foram dores insuportáveis no corpo todo durante anos e dificuldades de locomoção. “Sentia mal-estar. Não conseguia segurar nem uma toalha nas mãos”.

Em fevereiro, procurou o Hospital das Clínicas e descobriu que o tumor havia se propagado para a coluna vertebral. Felizmente não abalou os órgãos vitais. Desde então, segue a orientação médica e, em maio, chegou ao Instituto do Câncer. “O Grupo Acolhida me ofereceu afeto e senti que ia melhorar. Os médicos me transmitiram segurança”, conta. Sempre com auto-estima elevada e apoio da família, diz que aprendeu a conviver melhor com a dor, embora com mobilidade reduzida. Rosa tem até página no site de relaciomentos Orkut, intitulada Um novo caminho, para inspirar pessoas com câncer a valorizar a vida. Planeja escrever um livro para compartilhar suas experiências com o câncer. “Alto astral e alegria de viver são fundamentais”, ressalta.

Meta é reduzir ansiedade e medo

O Grupo Acolhida existe desde maio, quando foi inaugurado o Instituto do Câncer de São Paulo. A preocupação da equipe multiprofissional, idealizadora do projeto, é oferecer acolhimento humanizado e diminuir a ansiedade e o medo que a doença pode acarretar. A equipe multiprofissional é formada por 30 funcionários, entre psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, enfermeiros, farmacêuticos e assistentes sociais. Eles se dividem em duplas e oferecem as palestras diariamente aos pacientes que chegam ao local. Nos cinco meses de atendimento, cerca de 700 pacientes e 600 familiares participaram desses encontros, que marcam o primeiro contato do doente com o Instituto do Câncer.

O paciente é informado sobre os direitos garantidos por lei, entre eles: amparo assistencial ao idoso e ao deficiente, isenção de Imposto de Renda na aposentadoria, quitação do financiamento da casa própria, saque do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do Programa de Integração Social (PIS), passe livre em ônibus municipais e Metrô. “Nossa atuação colabora para fortalecê-los emocionalmente. Informamos sobre os seus direitos para que nada (nem problemas financeiros ou familiares) impeça o tratamento”, esclarece a psicóloga Carolina Luchetta, coordenadora do Grupo Acolhida.

Na sua opinião, o encontro é oportunidade para cada um compartilhar sua experiência e ver que não está sozinho. “Eles se emocionam e saem mais motivados”, garante.

Viviane Gomes, da Agência Imprensa Oficial

(M.C.)



10/21/2008


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