Paim reafirma voto contra salário de R$ 260 e cogita deixar o PT



-Nesse momento em que pela primeira vez não acompanho a orientação do Partido dos Trabalhadores em questão tão sagrada para mim, como o salário mínimo, fico com a frase do compositor que diz "a orquestra nos chama, vamos recomeçar".- Foi com estas palavras que o senador Paulo Paim (PT-RS) reafirmou seu voto contra o salário mínimo de R$ 260 proposto pelo governo e cogitou a possibilidade de deixar o PT.

O senador pelo Rio Grande do Sul comentou que é ingenuidade ou arrogância imaginar ser possível que ele, por incoerência, vote contra os seus princípios. Paim registrou que ficar ao lado dos excluídos sociais, dos discriminados, dos despossuídos de uma forma geral, e dedicar-se integralmente ao mundo do trabalho, foi um pacto que fez com sua própria consciência.

Paim lembrou que a luta pela defesa de um salário mínimo digno foi uma das marcas de sua passagem pela Câmara dos Deputados e que esta bandeira também o acompanha no Senado. Ele também declarou que a única forma de submissão que admite, como cidadão e homem público, é a de manter intacto e inegociável o compromisso de lutar pela superação da miséria, pelo fim das iniqüidades sociais, pela eliminação de todas as formas de discriminação e pela predominância da justiça.

- Modesta, mas orgulhosamente, posso afiançar que o senador de hoje é o mesmo menino de ontem, pobre e negro. Passaram décadas, mas não mudei. Foram dez anos como sindicalista e 18 anos aqui no Congresso Nacional, com os mesmos princípios, o mesmo ideal, o mesmo sonho de ajudar a construir uma pátria livre, democrática e cidadã - afirmou.

O compromisso assumido pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva, de aprovar uma proposta de emenda à Constituição amenizando os efeitos da reforma da Previdência - a chamada PEC paralela - também foi lembrado por Paim. Ele disse que é com tristeza que reconhece que, passados seis meses sem que a matéria tenha sido votada na Câmara dos Deputados, sentiu-se enganado.

Antes do discurso, em entrevista, Paim disse que 99% das pessoas que votaram no presidente Lula estão insatisfeitas com os rumos do governo.

- Eu não posso deixar de lado 99% para acompanhar apenas 10% - disse Paim.

O senador disse que considera os aposentados, os deficientes, os idosos, as minorias, os trabalhadores e as crianças muito mais importantes do que qualquer partido político e que, por isso, sempre estará ao lado dos interesses dessa gente.

- O PT foi criado para ser um instrumento de mudança da sociedade, de se fazer justiça social, e quando se desvia desse rumo perde a razão de ser. Vamos ver o desdobramento dos acontecimentos - afirmou o senador.

Prestaram solidariedade a Paim os senadores Mão Santa (PMDB-PI), Magno Malta (PL-ES), Cristovam Buarque (PT-DF), Efraim Morais (PFL-PB), Eduardo Siqueira Campos (PSDB-TO) e Heloísa Helena (sem partido-AL).



16/06/2004

Agência Senado


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