Paim: sistema de cotas deve obter duas importantes vitórias ainda em 2003



O senador Paulo Paim (PT-RS) espera comemorar o próximo aniversário do líder negro Zumbi dos Palmares, em 20 novembro, com o Estatuto da Igualdade Racial aprovado. Embora as dificuldades para a implementação de políticas afirmativas seja grande, ele considera que a consciência em torno da necessidade de compensações pelo atraso provocado por 400 anos de escravidão está crescendo.

O estatuto - apresentado na forma de projeto de lei no Senado e na Câmara dos Deputados - já foi aprovado nas comissões e espera o momento de entrar na pauta do Plenário da Câmara. O projeto estabelece a obrigatoriedade de que 20% das vagas nas universidades e no serviço público - incluindo empresas terceirizadas - sejam destinados a integrantes da população afro-descedente. E determina a ampliação da presença de negros na televisão, no cinema e no teatro.

Paim refuta os argumentos de que o estabelecimento de cotas feriria o princípio do mérito e que poderia acabar gerando injustiças no seio da população pobre, onde também há indivíduos de outras etnias em situação educacional e sócio-econômica desfavorecida.- No que se refere às universidades, apoio também a cotas para alunos egressos de escolas públicas, incluindo brancos e outros, mas se observarmos as estatísticas veremos que os negros estão em pior situação - argumenta.

Segundo ele, pesquisa do IBGE indica que de cada dez brasileiros pobres sete são negros e que eles recebem a metade do salário dos brancos. Assim, não haveria outra forma de mudar esse quadro, a não ser pelo sistema de cotas. Nos Estados Unidos, onde a reserva de vagas já existe há cerca de 40 anos, há uma tendência a se estabelecer cada vez mais um sistema de metas, pelo qual a cor ou etnia entra como um dos critérios na ocupação de vagas.

- Espero que no Brasil não precisemos esperar tanto tempo e em uns dez ou 15 anos a comunidade afro-descendente já esteja em condições de competir de forma mais igual, permitindo o abrandamento das cotas - disse.

Paim observou inclusive que mesmo num primeiro momento esse percentual de 20% terá de ser aplicado de forma a não ferir certas realidades regionais. No Rio Grande do Sul, por exemplo, a população negra equivale a 11% do total. Não faria sentido, portanto, reservar para ela 20% das vagas.

Além da vitória no Congresso, Paim está confiante em que a idéia das cotas encontrará acolhida também no Supremo Tribunal Federal, que está examinando ação contrária ao estabelecimento desse sistema na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). O senador, que encaminhou ao STF parecer da Consultoria Jurídica do Senado assegurando a constitucionalidade das cotas, prevê que em agosto aquele tribunal poderá julgar o caso.

No entender de Paim, a recente decisão da Corte Suprema dos Estados Unidos favorável à ação afirmativa na Universidade de Michigan fortaleceu a posição dos que defendem as cotas no Brasil. Ele citou também como positiva a declaração do procurador Geral da República, Cláudio Fonteles, de que emitirá um parecer favorável ao conceito de que as cotas não ferem a igualdade entre os brasileiros inscrita como um princípio na Constituição, contrariando parecer emitido por seu antecessor, Geraldo Brindeiro.




25/07/2003

Agência Senado


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