País troca experiências de combate ao trabalho infantil



As dificuldades e limitações enfrentadas por vários países na realização dos levantamentos, e o compartilhamento de experiências de sucesso de Brasil e Camarões foram tema de uma semiplenária sobre produção de estatísticas, na tarde desta quarta-feira (9), durante a 3ª Conferência Global sobre Trabalho Infantil, em Brasília.

No Brasil, as duas principais fontes oficiais de dados sobre trabalho infantil são o Censo Populacional e a Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios (PNAD). Ao traçar um panorama sobre como essas coletas de dados foram aprimoradas ao longo dos últimos anos, a presidenta do Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE), Wasmália Bivar, reforçou que o conhecimento aprofundado da realidade de cada país é a chave para elaborar ações eficazes no combate à exploração da mão-de-obra de crianças e adolescentes.

“Mais do que apontar o recuo forte e permanente no trabalho infantil no Brasil, as pesquisas do IBGE nos ajudam a identificar onde ele ainda ocorre e quais as características das famílias que enfrentam essa realidade”, afirma Wasmália. Hoje, as pesquisas domiciliares do IBGE passam por um processo de reformulação e integração. A PNAD, hoje realizada no último trimestre de cada ano, passará a ser contínua e terá impacto significativo na produção de informações sobre vários temas, entre eles o trabalho infantil. “A PNAD anual não nos dá informações sobre as sazonalidades do trabalho infantil, em especial nas áreas rurais, onde grande parte dele ainda está fortemente concentrada”, explica. “Com a pesquisa continuada, teremos uma idea muito mais precisa da magnitude do trabalho infantil no Brasil.”

Desafios

Enquanto o Brasil é considerado referência mundial em produção de informações oficiais sobre trabalho infantil, outros países ainda lidam com limitações e desafios em vários aspectos, que comprometem a qualidade das informações coletadas e impedem o conhecimento mais aprofundado sobre a realidade das crianças submetidas ao trabalho. “O essencial não é apenas ter dados, mas que eles sejam confiáveis. Nosso papel é trabalhar as questões ligadas à produção de informações em nível global, para que as estatísticas sejam comparáveis e qualificadas”, resume o representante do Instituto Nacional de Estatística de Camarões, Sébastien Ndjomo Ndongo.

“Para isso, temos que trabalhar na precisão do conceito de trabalho infantil e das atividades que configuram essa situação, e na definição de amostras populacionais que tenham mais representatividade, já que nem todos os países têm condições de realizar censos populacionais e pesquisas com a mesma abrangência das brasileiras”, avalia o especialista. “Existem padrões e conceitos internacionais que ajudam na produção de números comparáveis em âmbito internacional, mas cada país tem que definir também seus próprios conceitos, levando em conta suas características socioculturais”, defende.

Trabalho infantil

Segundo ele, uma dificuldade enfrentada não apenas em Camarões, mas em todos os países, é que as famílias tendem a esconder dos entrevistadores a existência do trabalho infantil e de outras formas de violação de direitos de crianças e jovens. “Nenhuma família coloca em sua porta um cartaz dizendo ‘aqui exploramos uma criança’. Há casos em que as metodologias de pesquisa que aprendemos nas universidades não são suficientes para identificar os casos de trabalho infantil. Para isso, é preciso outro tipo de treinamento e sensibilidade, que vai além da estatística e entra na esfera cultural e social”, diz Sébastien Ndongo.

Para ele, os governos devem direcionar esforços também para campanhas de sensibilização junto às famílias, para que elas percebam que existe um limite entre as atividades infantis consideradas normais e aquelas que submetem a criança a uma degradação física e psicológica e que devem ser erradicadas. “As pessoas tendem a pensar que trabalho infantil é problema que existe só em outras famílias, e não em sua própria residência. Temos que ajudá-las a entender que esse tema diz respeito a todos nós e deve começar a ser prevenido dentro de casa”.

Fonte:

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome



10/10/2013 16:39


Artigos Relacionados


País troca experiências de combate a trabalho infantil com vizinhos

Brasil troca experiências com outros países sobre relações de trabalho

Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil

Combate à pobreza reduz o trabalho infantil

Governos têm papel principal no combate ao trabalho infantil

Geovani Borges defende combate ao trabalho infantil