Países com 'diferentes mentalidades' desenham novo cenário mundial, afirma professor inglês



Nem fim da história, nem choque de civilizações. A compreensão do cenário mundial do início do século 21 deve passar longe dessas "estórias erradas", disse nesta segunda-feira (9) o professor inglês de Relações Internacionais Christopher Coker, da London School of Economics, durante audiência pública promovida pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE). Em sua opinião, deve ganhar prioridade a identificação de um mundo com "diferentes mentalidades".

Nesse mundo, indica o professor inglês, existe um primeiro grupo de países, entre os quais estão Brasil e China, que querem ficar ricos e melhorar as condições de vida de suas populações. Um segundo grupo seria composto por "ressentidos" com o Ocidente, especialmente composto por países muçulmanos. E um terceiro grupo seria integrado pelas principais potências do Ocidente, "temerosas" do fundamentalismo muçulmano e do crescente poder econômico do primeiro grupo - da China em especial.

- O Brasil, a China e a Índia são espectadores desse conflito. E a primavera árabe pode ajudar imensamente na construção de uma nova autoconfiança nesses países - disse Coker durante o painel "A Política Externa dos Estados Unidos, da União Europeia e da Rússia e seus reflexos no cenário internacional", parte do ciclo de palestras intitulado "Rumos da Política Externa Brasileira (2011-2012)".

O professor Gilberto Sarfati, da Fundação Getúlio Vargas, afirmou que as mudanças no poder global são percebidas de formas diferentes nas áreas de segurança e de economia. Na segurança, observou, os Estados Unidos permanecem como potência unipolar. Em "pleno século 21", citou como exemplo, "ainda é impossível pensar a segurança da Europa sem a presença dos Estados Unidos". Por outro lado, lembrou, o mesmo não ocorre na economia, onde os norte-americanos não podem impor ordens e ainda vacilam entre o unilateralismo - expresso em diversas medidas protecionistas - e o multilateralismo.

Como o tema da segurança na América Latina deixou de ser importante para os Estados Unidos a partir do início do século 21, observou o professor Luís Fernando Ayerbe, da Unesp, a própria região não estaria mais entre as prioridades da política externa de Washington. Em sua opinião, haveria uma "tendência de perda de relevância" da América Latina por não se identificarem na região mais ameaças em segurança, como as que chegaram a ocorrer nos anos 80, na América Central.

- Com isso, observa-se uma tendência de aumento de autonomia da região, mas sem ser antagônica com os Estados Unidos. No contexto de busca de maior autonomia, o Brasil consegue se desenvolver como uma liderança - disse Ayerbe.

Por sua vez, o professor Ângelo Segrillo, da Universidade de São Paulo (USP), ressaltou o espaço político que o Brasil pode obter por meio de seu relacionamento com a Rússia, que integra o grupo dos Brics com Brasil, China, Índia e, mais recentemente, a África do Sul. Na opinião do professor, que viveu em Moscou, a Rússia pode ser considerada o país mais receptivo do grupo ao Brasil.

- Dos quatro, o Brasil é quem mais tem a ganhar. Os outros têm mais projeção internacional. Seria mais difícil obtermos sozinhos um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas. E a Rússia claramente apoia o Brasil nesse sentido - relatou Segrillo.

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que presidiu a audiência, disse que, caso a América Latina perca mesmo espaço na política externa dos Estados Unidos, o Brasil terá de cogitar a possibilidade de "radicalizar em direção aos Brics". O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) questionou, por sua vez, se a forma como o governo dos Estados Unidos eliminou o líder terrorista Osama Bin Laden não poderia "enfraquecer a força moral" do país. Ao final da audiência, a senadora Ana Amélia (PP-RS) lamentou as dificuldades enfrentadas na Europa por migrantes de países árabes que procuram fugir de conflitos de países como a Líbia.



09/05/2011

Agência Senado


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