Palacete do Conde de Sarzedas abriga Centro Cultural do Tribunal de Justiça
Construído no século 19 vai abrigar cursos, oficinas e exposições itinerantes de fotografias, pinturas e esculturas
O castelinho ocre com frontões amarelos e vitrais franceses chama a atenção das pessoas que passeiam pelo bairro da Liberdade, na capital de São Paulo. Conhecido como Palacete de Sarzedas, o edifício abriga, desde dezembro, o Centro Cultural do Museu do Tribunal. “Graças à ação de desembargadores e de funcionários do TJ, o local que estava abandonado há décadas, recuperou seu velho esplendor”, diz Alexandre Germano, desembargador e coordenador do Centro Cultural.
Elisabete Pires, diretora do Museu e do Centro Cultural do Tribunal de Justiça, explica que o local será responsável pela modernização e ampliação das atividades realizadas pelo Museu do Tribunal e visa a preservar a documentação histórica e a memória do Judiciário paulista.
“Os funcionários do Tribunal terão neste espaço, explica Germano, cursos de aperfeiçoamento, redação, artesanato. Para o público, em geral, haverá exposições permanentes e itinerantes de fotografia, pinturas, esculturas, livros, artesanatos, etc. O desembargador salienta que o investimento em educação extra-curricular para os funcionários do TJ é importante. “Por isso, a criação do espaço, somente com servidores bem treinados e motivados é que poderemos melhorar o atendimento e a qualidade dos serviços prestados por eles”.
Acervo
O acervo do Centro Cultural (mobiliário, quadros, esculturas e acessórios) é proveniente de vários Tribunais de Alçada que foram desativados em 2002 e que ficaram no Museu do Tribunal. “Adquirimos o que foi possível, mandamos restaurar e agora esse material faz parte do acervo da casa. Quanto às fotos, as imagens passam por um processo de digitalização. Um piano foi doado pelo desembargador José Roberto Bedran”. Em relação às exposições, salienta Elisabete, “elas terão como objetivo incentivar o trabalho já desenvolvido pelos funcionários do TJ (juízes, desembargadores, promotores e servidores em geral)”. De acordo com a diretora do Centro Cultural, já está aberto o credenciamento para os futuros expositores.
O Centro Cultural do Tribunal de Justiça conta com oito funcionários para dar conta de todo o serviço. Muitos vieram do Museu do Tribunal do TJ, como é o caso de Elisabete (atual diretora das duas entidades), Sueli Finoto e Edna Costa, ambas com experiência no campo das Belas Artes. Sueli já fez várias exposições no Museu do Tribunal, enquanto Edna já trabalhou como monitora em grandes exposições como a dos “Guerreiros de Xi´an e os Tesouros da Cidade Proibida". Ambas montarão oficinas e cursos, de pequena duração, para os interessados. As oficinas terão carga horária de duas horas e poderão ser ministradas pela manhã e à noite. “Com mais esse espaço, queremos mostrar ao grande público e à comunidade do Direito que o Tribunal de Justiça não é um espaço somente ligado a processos, mas, que se preocupa, também, com as questões culturais”, finaliza o desembargador Germano.
Do esplendor ao abandono
Em fins do século 19, a região conhecida hoje como o bairro da Liberdade foi ocupada de fato. Dentre as propriedades tradicionais que ali existiam estava a Chácara Tabatingüera, propriedade de Dona Anna Maria de Almeida Lorena Machado. Foi ela quem mandou abrir em suas terras, ruas como Conselheiro Furtado e Conde de Sarzedas, além de mandar construir a Capela de Santa Luzia que, após a sua morte, em 1903, foi doada pelos herdeiros à Cúria Metropolitana.
Anteriormente, a chácara tinha sido propriedade de D. Francisco de Assis Lorena, filho de D. Bernardo José de Lorena, governador da capitania de São Paulo entre 1788 e 1797, vice-rei da Índia entre 1806 e 1816, e quinto Conde de Sarzedas, título nobiliárquico criado em 1630 pelo rei Felipe IV da Espanha.
O prédio, que atualmente abriga o Centro Cultural, foi construído por volta de 1891 a pedido de Luís de Lorena Rodrigues Ferreira, descendente do Conde de Sarzedas e deputado por São Paulo. O palacete era um presente para sua futura esposa, a jovem francesa Marie Luise Dallanger. Conta-se que, com 60 anos de idade e apaixonado pela garota de 18 anos, Luís mandou levantar a edificação que ficou conhecida como “Castelinho do Amor”. Vitrais franceses, madeiras nobres, ladrilhos, lustres importados compunham o cenário idealizado por Luís de Lorena para a sua amada. O casarão, também, estava localizado em local privilegiado: no topo de uma colina. Subindo por uma escada estreita chegava-se a um mirante, de onde se podia avistar todo o vale do Tamanduateí. Hoje, a vista da construção, quando se sobe ao mirante, não é a das melhores, mas, pode-se ver, ainda, a Catedral da Sé e o Palácio da Justiça.
Após a morte do proprietário, Marie Luise, seu filho e nora ainda permaneceram no castelinho até 1939. “Depois desse período, o local abrigou de tudo: igreja evangélica, cortiços, invasões, até que em 2001 foi aberto o processo de tombamento pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp)”, explica Elisabete.
A diretora explicou que existem três castelinhos em toda a capital paulista: o Palacete do Conde de Sarzedas, o da Avenida Brigadeiro Luis Antônio e o da Avenida São João (que, segundo algumas pessoas, seria mal-assombrado). A Fundação Carlos Chagas é a atual proprietária do terreno, e foi o arquiteto Samuel Kruchin quem assumiu as pesquisas para o restauro do antigo casarão.
SERVIÇO
Centro Cultural do Museu do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo – Palacete Conde das Sarzedas
Rua Conde das Sarzedas, 100 – Horário: a partir de fevereiro: das 13 às 17 horas, de segunda à sexta-feira. Visitas deverão ser agendadas pelo telefone (11) 3101-9499.
Maria Lúcia Zanelli
Da Agência Imprensa Oficial
(I.P.)
02/14/2008
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