Para Antonio Carlos Júnior, reativação da moeda-convênio dará força ao Mercosul



O senador Antonio Carlos Júnior (PFL-BA) disse que a reativação da "moeda-convênio" entre os bancos centrais do Brasil e da Argentina, como acaba de ser proposta pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, é uma medida acertada, que dará mais fôlego à reativação do Mercosul. Para o senador, o gesto do presidente brasileiro, além de reabrir os canais de comércio entre o Brasil e a Argentina, fortalecidos ao longo dos últimos anos, representa, também, um gesto político de extrema importância, que vai ajudar os argentinos a encontrar apoio internacional e uma saída para a crise.

O mecanismo da "moeda-convênio" era muito utilizado no comércio com os países socialistas, principalmente os do Leste europeu, e também pela ex-União Soviética. O sistema consiste na abertura de um Convênio de Crédito Recíproco (CCR) entre os dois países ou dois blocos, de modo a permitir a troca de mercadorias entre eles. Ao final de um período, os bancos centrais dos dois países procedem a um acerto de contas e liquidam entre si eventuais diferenças entre os valores de compras e vendas realizadas.

O senador explicou que o Banco Central do Brasil já havia determinado a extinção desse mecanismo, devendo reabri-lo agora, em favor dos argentinos, com garantias do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

No passado, a utilização da "moeda-convênio" trouxe alguns prejuízos ao Brasil, como ocorreu no comércio com a Polônia. Ao final de um período de transações, na década de 70, o Brasil acumulou um saldo de mais de US$ 6 bilhões com aquele país. Em conseqüência, o governo brasileiro teve de receber em papéis do governo polonês (chamados de polonetas ), de pouca aceitação no mercado internacional. Depois de muitos acordos e perdões, junto ao Clube de Paris, o Brasil somente conseguiu livrar-se desses papéis no final do ano passado, apurando pouco mais de US$ 2 bilhões.

Para Antonio Carlos Júnior, entretanto, o gesto do presidente brasileiro é de larga importância neste momento de grande dificuldade para a Argentina. Ele analisa que o problema daquele país não é meramente econômico, pois tem uma base política. Isso, afirmou, dificulta a solução dos problemas econômicos, que por si só já são graves.

O componente político, disse o senador, traz receio principalmente aos organismos internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento - BIRD) e outros, que hesitam em conceder ajuda à Argentina.

Antonio Carlos Júnior lamenta que os argentinos tenham insistido no currency board , o modelo da paridade cambial de um peso por um dólar. Isso, continuou, trouxe danos irreparáveis para toda a indústria argentina e agravou os desequilíbrios do balanço de pagamentos e das contas públicas do país.

O senador acredita que serão inevitáveis danos à economia brasileira, decorrentes dos problemas argentinos. Mas não haverá, no seu entendimento, uma contaminação elevada, como já ficou demonstrado por indicadores de risco do país. O mercado internacional já olha o Brasil e a Argentina de forma diferenciada. Grande parte do risco registrado pelo Brasil, ainda hoje, avalia o senador, vem da moratória de 1987.

- O Brasil, certamente, vai sair perdendo com a crise argentina. Mas o país perdeu muito mais com a crise da Rússia, basicamente porque, à época, tínhamos um câmbio fixo, que nos engessava - analisa.

18/01/2002

Agência Senado


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