PARA GUSTAVO DAHL E NELSON PEREIRA , FALTA UMA POLÍTICA PARA O CINEMA BRASILEIRO



Como o primeiro dos seis expositores da audiência pública, o diretor Nelson Pereira dos Santos (Vidas Secas, Memória do Cárceres, entre outros), aplaudiu a iniciativa pela criação da Subcomissão do Cinema Brasileiro e traçou um histórico dos diversos ciclos pelos quais já passou o Cinema Brasileiro, identificando "instabilidade como uma característica constante.Para ele, depois de viver experiências como a da Vera Cruz, "quando a proposta era alcançar uma qualidade técnica dentro dos padrões de Hollywood, passando pela Atlântida, que se especializou em comédias populares e foi sucedida pelo Cinema Novo, "estamos vivendo o final de um novo ciclo, desta feita o dos incentivos fiscais". Alertando para a falta de uma política para o cinema brasileiro, Nélson fez votos de que o trabalho da Subcomissão sirva de estímulo para a formulação dessa política. Ponto de vista semelhante defendeu Gustavo Dahl, diretor de "Uirá", que já foi presidente do Conselho Nacional de Cinema. Antes de falar sobre a legislação cinematográfica, ele disse que "primeiro é necessário esclarecer qual o papel do Estado junto à atividade cinematográfica no Brasil".Trazendo dados atualizados sobre a produção, distribuição e exibição de filmes principalmente nos Estados Unidos e no Brasil, Gustavo procurou demonstrar que há uma "diferença de escala" muito grande a favor dos norte-americanos. Ele explicou que o cinema feito nos Estados Unidos, especialmente em Hollywood, se beneficia do maior mercado interno do mundo, equipado com 32 mil salas de exibição, além de ter se tornado um produto consumido a nível mundial. De acordo com o cineasta, essa circunstância põe o cinema americano em grande vantagem em relação a todos os demais. Enquanto eles têm uma remuneração principal - dentro do seu próprio país -, e outra secundária, no mercado internacional, todos os outros cinemas são quase totalmente nacionais, com uma penetração muito pequena fora dos seus próprios países. "Para se ter uma idéia do que isso representa, este ano não colocamos um único filme brasileiro no mercado argentino".ENSINO E EXIBIÇÃOA professora Maria Dora Mourão, da Escola de Cinema da USP, fez um apanhado sobre o ensino do cinema no Brasil. Para ela, "o Brasil ainda está engatinhando na reflexão sobre a formação". Nunca - disse a professora - houve de fato uma preocupação em debater propostas de políticas de formação que acompanhassem as discussões sobre as políticas de incentivo à produção.De acordo com Maria Mourão, no momento o Brasil vive "uma contradição" no que se refere ao ensino do cinema. Não adianta discutir o aumento de produção, se não há como distribuir e exibir de maneira adequada.Como representante dos exibidores, Adriana Rattes, disse que não há nenhuma dificuldade de comunicação entre o nosso cinema e o público, mas uma grande dificuldade de chegar-se ao público. No entanto, conforme Adriana, se essa constatação é simples, a solução do problema é bem complexa.- Necessitamos de um conjunto de medidas muito abrangentes, e de uma firme disposição política do Governo e das autoridades no sentido de desenvolver a indústria audiovisual brasileira - afirmou. Marcos M. Marins, que mantém um site na Internet sobre cinema brasileiro, alertou os senadores da Subcomissão sobre as pressões que, "com certeza irão sofrer se estiverem, realmente, dispostos a mudar o panorama do nosso cinema ". Para justificar sua afirmação, ele se baseou em texto publicado em 1953, pela professora Anita Simis, que descreve as dificuldades enfrentadas "há quase 50 anos, pelo povo do cinema, que se propôs a superar as tradicionais dificuldades enfrentadas pelo cinema brasileiro, naquela época.

08/10/1999

Agência Senado


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