Para pesquisador, carências do país fazem da humanização do atendimento à gestante medida "de luxo"



O pesquisador francês da Universidade de Strasbourg, Claude Schauder, responsável pelo programa francês de Preparação ao Nascimento e à Parentalidade, afirmou que, no Brasil, preparar a gestante e o pai da criança para acolherem seu filho pode ser considerado "tratamento de luxo". Admitiu, no entanto, a possibilidade de o país integrar às dimensões do atendimento médico oferecido à gestante as dimensões psicossociais.

- No Brasil, um país com grandes problemas sanitários, deve haver prioridades e esse tratamento é um luxo. No entanto, seria extremamente salutar e vital que o país integrasse as dimensões sugeridas - avaliou o pesquisador.

A afirmação foi feita durante a conferência promovida pelas comissões de Educação, Cultura e Esporte (CE) e de Assuntos Sociais (CAS), em resposta a indagações do senador Cristovam Buarque (PDT-DF). O pesquisador relatou que, antes desse programa, a França fez um "grande esforço" desde o pós-guerra para combater a mortalidade perinatal, sendo recente a preocupação com a dimensão psicológica da gravidez e do parto. Embora o programa, segundo informou, tenha previsão de cobertura universal, prioriza o atendimento a mulheres e homens de baixa renda, inclusive imigrantes.

A psicanalista Sílvia Zornig, presidente da AssociaçãoBrasileira de Estudos sobre Bebês (Abebê) e professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, contestou a opinião de Chauder sobre a educação à parentalidade no Brasil ser um luxo e relatou que o Ministério da Saúde implantou, com sucesso, o programa de humanização e atenção à saúde da gestante na rede pública de saúde, com ênfase na identificação de transtornos mentais durante a gravidez.

No mesmo sentido, Regina Aragão, secretária da Abebê, afirmou ser importante adaptar a pesquisa realizada na França para o contexto sociocultural brasileiro. Ela afirmou que, no Brasil, o nível de escolaridade materna é fundamental tanto para a saúde perinatal quanto para a do bebê. Disse ainda que a dimensão psicológica tem sido relegada a segundo plano nos atendimentos médicos a gestantes em situação de risco.

Partos prematuros

O senador Roberto Cavalcanti (PRB-PB) quis saber se, na França, existe tratamento diferenciado para gravidez de alto risco com possibilidade de parto prematuro e atendimento domiciliar para evitar o deslocamento da gestante. O pesquisador respondeu que, nesses casos, costuma haver a internação precoce com atendimento psicológico para evitar que a criança nasça antes do tempo e, eventualmente, o atendimento a domicílio.

Claude Chauder, ao final da conferência, ressaltou que o programa tem a preocupação de "tornar a população vigilante" com informações para prevenção e previsão de possíveis problemas de saúde, melhor acompanhamento do parto e do nascimento da criança. O pesquisador avalia que a redução dos riscos à saúde da mãe e do bebê depende da interatividade entre os futuros pais e os profissionais encarregados do acompanhamento: psicólogos, enfermeiros, médicos e outros profissionais da saúde.

Flávio Arns (PT-PR), presidente da Comissão de Educação, também em suas considerações finais, disse que a questão da parentalidade apresenta uma nova perspectiva de prevenção e educação, a partir desse programa, que envolve a entrevista com os pais, o plano para o nascimento da criança e o apoio durante a gestação e após o parto.



19/08/2009

Agência Senado


Artigos Relacionados


HC amplia humanização no atendimento a crianças

Projeto “Diagnóstico Amigo da Criança” do HC amplia humanização no atendimento

Hospital Estadual recebe 'Oscar' por humanização no atendimento a crianças

Papaléo aponta carências na infraestrutura do país e acusa o governo de fazer propaganda e agir pouco

PF busca em todo o País quadrilha responsável por contrabando de carros de luxo

Saúde: Secretaria treina profissionais de saúde de Piracicaba sobre humanização de atendimento