Parlamentares da Câmara e do Senado pedem que governo não cancele visto de jornalista americano



Os integrantes das Comissões de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) da Câmara e do Senado decidiram nesta quarta-feira (12) solicitar ao governo para não cancelar o visto do correspondente do jornal The New York Times Larry Rohter, autor de reportagem segundo a qual a sociedade brasileira estaria preocupada com possíveis excessos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no consumo de bebidas alcoólicas.

Em texto sugerido por diversos deputados e senadores, a ser apreciado pelos Plenários das duas Casas do Congresso, as comissões sugerem ainda ao Poder Executivo que exija do jornal norte-americano a correção da reportagem "distorcida", além de apresentar solidariedade a Lula diante da matéria classificada como ofensiva ao presidente da República e ao povo brasileiro, por não refletir a "verdade dos fatos". Na sessão da tarde do plenário, o senador Eduardo Suplicy, presidente da CRE, leu o requerimento a ser dirigido ao presidente da República.

Durante a reunião das duas comissões, o cancelamento do visto havia sido definido pelo senador Cristovam Buarque (PT-DF) como um "pequeno passo autoritário".

- Sou do partido do governo, mas considero que, se tudo foi armado por forças que não sabemos, essas forças devem estar comemorando a expulsão do jornalista. Demos uma dimensão absurda a esse episódio e cometemos um grave equívoco, seja ou não censura - disse Cristovam, durante a reunião conjunta das duas comissões, com a presença dos ministros das Relações Exteriores, Celso Amorim, e da Defesa, José Viegas Filho.

Pouco antes, Amorim havia afirmado que o cancelamento do visto do jornalista era uma "decisão de governo", uma vez que a concessão do visto não significava um direito, mas sim uma expectativa de direito. Ele disse ainda, em resposta a questionamento feito anteriormente pelo deputado Fernando Gabeira (sem partido-RJ), que a questão não deveria ser vista pelo ângulo da liberdade de imprensa e que o New York Times não havia se retratado por uma reportagem que qualificou como "ofensa à dignidade do presidente da República".

Primeiro a falar na reunião, Gabeira expressou seu protesto pelo cancelamento do visto e disse que nunca havia visto uma reação "tão estranha" de um governo à publicação de uma reportagem. "Não em meu nome se vai expulsar um correspondente estrangeiro no Brasil", afirmou Gabeira. "Este não é o meu Brasil", observou.



12/05/2004

Agência Senado


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