Parlamentares discutem decisão judicial que determinou desocupação de Pinheirinho, em São José dos Campos



Na avaliação de representantes do governo federal e de parlamentares como o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), a desocupação da comunidade de Pinheirinho, na cidade paulista de São José dos Campos, ignorou uma decisão judicial que suspendia por 15 dias a reintegração de posse do local, como também o acordo que estaria em discussão entre os governos federal, estadual e municipal. Por outro lado, o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), além de reiterar que a desocupação atendeu a uma decisão da Justiça, afirmou que as críticas à ação da Polícia Militar "fazem parte de uma operação política que visa atacar o governo de São Paulo".

VEJA MAIS

Na audiência pública realizada nesta quinta-feira (23), Suplicy e o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) lembraram que, no dia 18 de janeiro, haviam solicitado ao Tribunal de Justiça de São Paulo o adiamento da reintegração de posse. Como resultado, um juiz de falências dessa Corte suspendeu a ação por 15 dias, após obter a concordância do síndico da massa falida da Selecta - empresa proprietária do terreno onde está a comunidade de Pinheirinho. Essa suspensão foi posteriormente revogada.

O prazo de 15 dias seria necessário para se concretizar um acordo entre os governos federal, do estado de São Paulo e do município de São José dos Campos. De acordo com Paulo Maldos, que está à frente da Secretaria Nacional de Articulação Social, órgão vinculado à Presidência da República, "aquela foi uma semana de tratativas entre nós, o governo estadual e o municipal, e a expectativa era de um entendimento que garantisse uma solução pacífica".

- Não entendi o que aconteceu. Por que a opção pela violência e pela exclusão social [a reintegração foi realizada no dia 22] quando havia uma discussão pacífica em curso? - questionou Paulo Maldos.

Ao se referir à questão jurídica, Aloysio Nunes disse que a reintegração de posse não é da competência do juiz de falências, e sim, nesse caso, da juíza da 6ª Vara Cível de São José dos Campos, que foi quem ordenou a desocupação.

- Vivemos em um Estado de Direito, no qual as decisões judiciais têm de ser cumpridas - disse ele.

Justiça Federal versus Justiça Estadual

Outra dúvida apresentada durante a audiência, pelo senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), foi se a decisão pela desocupação teria descumprido outra, desta vez da Justiça Federal, que determinava a interrupção da reintegração de posse. Aloysio Nunes argumentou, então, que o Tribunal Regional Federal não está hierarquicamente acima do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e, por isso, não pode interferir no assunto, a não ser que este seja transferido para o âmbito da Justiça Federal.

- Mas isso [a transferência] não ocorreu, conforme atesta despacho do presidente do Supremo Tribunal Federal - destacou o senador do PSDB paulista.

Segundo Aloysio Nunes, o governo federal deveria ter se manifestado sobre o caso em caráter jurídico, para que o assunto fosse transferido para a Justiça Federal. Em vez disso, diz ele, o Ministério das Cidades apenas se manifestou quando a reintegração já estava decidida, e mesmo assim por meio de um documento com "assinaturas de pessoas de terceiro ou quarto escalão, com promessas vagas e sem nenhum valor jurídico".

- O que se constata é a lerdeza do governo federal para tratar de um problema, o de Pinheirinho, que se arrasta desde 2004 - afirmou ele. 

Propriedade privada

Para Rodrigo Rollemberg, o caso de Pinheirinho demonstra "como tudo é mais difícil para os pobres, ainda mais quando se contrasta isso com a benevolência da Justiça no que se refere à ocupação de áreas públicas nobres pelos mais ricos, como se vê aqui na capital do país". Ele também ressaltou que o caso reacende o debate sobre o direito à propriedade privada, a função social da propriedade e o direito à moradia.

Aloysio Nunes disse que a função social da propriedade tem de ser respeitada, mas que isso, como no caso de Pinheirinho, tem de ser avaliado por um juiz. Apesar de reconhecer que o conflito foi provocado por uma "situação social", o senador do PSDB frisou que não apoia ações de ocupação, e sim "o respeito a políticas públicas institucionalizadas e a ordens judiciais".

- E uma ordem judicial, uma vez exarada, tem de ser cumprida - reiterou.

Rollemberg, por sua vez, disse que "há formas e formas de cumprir uma decisão judicial; no caso de Pinheirinho, faltou um mínimo de razoabilidade e bom senso".

- O direito à propriedade foi muito considerado quando se tratou da massa falida da Selecta, mas não houve a mesma consideração com os bens das pessoas que lá moravam. Como ficarão elas? - questionou.



23/02/2012

Agência Senado


Artigos Relacionados


Sibá comemora decisão judicial de desocupação de área grilada

CDH aprova realização de audiência pública sobre desocupação de Pinheirinho

Suplicy reforça convite a juiz para debater desocupação de Pinheirinho

Audiência sobre desocupação de Pinheirinho começa com discordância entre senadores

Paim anuncia audiência pública para discutir desocupação de Pinheirinho

Senadores discutem desocupação da reserva Raposa Serra do Sol