Participação fica abaixo do esperado



Participação fica abaixo do esperado As primeiras parciais indicam possibilidade de reeleição de José Dirceu para a presidência nacional do PT A eleição direta para os comandos nacional, estaduais e municipais do PT teve uma participação abaixo da expectativa. A votação foi encerrada às 17h de ontem. O partido também encontrou dificuldades para a divulgação de resultados. Em Porto Alegre, o diretório municipal concluiu a apuração a 1h de hoje. Waldir Bohn Gass, que tenta a reeleição para a direção do PT na Capital, deverá disputar o segundo turno com Fulano de tal. Para validar o pleito, o partido necessita obter o comparecimento nas urnas de 15% dos cerca de 860 mil filiados aptos a participarem do processo, o equivalente a 127 mil pessoas. – Nos grandes municípios, a votação foi menor do que a esperada – disse o presidente estadual em exercício, Selvino Heck, logo depois de concluída a votação. Na capital gaúcha, a direção do partido contava com a possibilidade de atingir quórum próximo ao da prévia realizada em 2000, quando cerca de 5,5 mil filiados escolheram Tarso Genro candidato do PT à prefeitura de Porto Alegre. O presidente municipal em exercício, Carlos Robério, calculava ontem à noite a participação de 3,3 mil filiados às urnas. Em algumas zonais, a coordenação foi obrigada a pedir o comparecimento das pessoas por telefone. Bohn Gass, com X votos (X% dos válidos), enfrentará fulano, que obteve X votos (X% dos válidos), no dia 7 de outubro. O candidato à reeleição conta com o apoio do Palácio Piratini. Os números não incluem as votações realizadas em urnas convencionais, mas a diferença... Para vencer em primeiro turno em qualquer umas das instâncias, os candidatos precisam obter maioria absoluta (50% mais um dos votos válidos). No diretório estadual, uma apuração parcial divulgada às 20h apontava a vantagem de David Stival na corrida pela direção da legenda no Estado. Na disputa para a presidência nacional, José Dirceu, que tenta o quarto mandato, estava na frente. O ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont ameaçava a possibilidade de vitória de Dirceu no primeiro turno. Segundo a assessoria de imprensa do PT gaúcho, “problemas técnicos” com o site da legenda na Internet prejudicaram a divulgação dos resultados no Estado e no país. A leitura dos disquetes contendo os arquivos gerados pelas urnas eletrônicas teria de ser realizada pelo sistema. No início da madrugada de hoje, os trabalhos foram interrompidos. Apesar de Dirceu ser o favorito, a tendência era de que Raul Pont ganhasse em pelo menos dois Estados: Rio Grande do Sul e Alagoas. Segundo o diretor do Departamento Municipal de Habitação (Demhab), Carlos Pestana, os resultados parciais em Porto Alegre indicavam uma vitória do ex-prefeito. A briga pelo comando estadual também apontava para um segundo turno entre David Stival e Paulo Ferreira ou Marcelino Pies. A escolha dos novos dirigentes do PT vai indicar o perfil do partido na eleição de 2002. Se for confirmada a vitória de Dirceu, candidato apoiado por Luiz Inácio Lula da Silva, o PT assumirá uma postura moderada. Stival também conta com o apoio do Palácio Piratini. Uma eventual vitória de Stival e Bohn Gass nos comandos estadual e de Porto Alegre vai significar o fortalecimento das candidaturas à reeleição do governador Olívio Dutra e do vice Miguel Rossetto. “Tenho apoio de 80% dos senadores” Insatisfeito com a forma como o PMDB nacional tem sido conduzido nos últimos sete anos, o senador gaúcho José Fogaça lançou-se na disputa interna para presidir o Senado em substituição a Jader Barbalho (PA), que deverá renunciar ao cargo esta semana. Mesmo rejeitado pela cúpula nacional do partido, que decidiu ontem apoiar Renan Calheiros (AL), líder do partido no Senado, Fogaça confia no apoio de 80% dos colegas caso haja disputa em plenário. A cúpula a que Fogaça se refere é integrada por Jader e pelo ministro dos Transportes, Eliseu Padilha. No Rio Grande do Sul, Fogaça se opõe ao grupo liderado por Padilha e que venceu a eleição para o diretório estadual em maio último. O regimento do Senado determina que em caso de renúncia do presidente o partido com direito ao cargo indique um novo nome para ser submetido ao voto dos senadores em plenário. Se discordar da indicação, o plenário poderá sugerir outro nome. É exatamente aí que está a expectativa de Fogaça, que conta com a rejeição de nomes ligados a Jader e Padilha. A seguir, os principais trechos da entrevista de Fogaça a Zero Hora, feita ontem por telefone. Zero Hora – Na última sexta-feira o ex-presidente José Sarney recusou assumir novamente a presidência do Senado. O senhor pretende entrar na disputa? José Fogaça – Estou num processo difícil com o comando nacional do PMDB, que resiste fortemente à minha indicação. Isso obstaculiza a possibilidade de eu ser indicado ao natural para o cargo. Provavelmente vai haver disputa e é evidente que tenho interesse no cargo. Qualquer senador deve estar preparado para isso e eu, possivelmente, seja o mais preparado. Tenho 15 anos de Senado e hoje, dos 81 senadores, temos apenas seis que foram da Constituinte. ZH – A cúpula do PMDB definiu ontem que Renan Calheiros será o candidato do partido. Fogaça – Eles apóiam qualquer um sobre o qual eles tenham o controle. Tem de ser um nome daqueles que estão incluídos na dança das cadeiras. São as mesmas pessoas que vão apenas trocando de cargos entre si. Com certeza não me enquadro nesse perfil. ZH – Quais as chances que o senhor teria numa disputa com o senador Renan Calheiros? Fogaça – Tenho a mais absoluta tranqüilidade de que eu venceria no plenário contra praticamente qualquer concorrente. Tenho o apoio de 80% dos senadores. Não sou apoiado é pelo PMDB e pelos senadores que o comando do partido consegue cooptar. É evidente que eu faço estas considerações tendo em vista que o Sarney não pretende colocar seu nome à disposição. Sarney é o único nome com o qual eu não disputaria dentro do PMDB. Tendo sido presidente da República e já estando no Senado há bem mais tempo do que eu, sei que a política tem fila e eu respeito a ordem da fila. ZH – Além de Calheiros teria outro nome apoiado pela cúpula do PMDB? Fogaça – Falam no Ramez Tebet (hoje ministro da Integração Nacional). As pessoas cotadas são as indicadas pelo Jader Barbalho para alguma coisa e que com ele mantêm algum tipo de compromisso. A forma como a cúpula conduz o partido há sete anos, de maneira excludente, trabalhando apenas com cooptação, sem negociação legítima e democrática. Eles só conhecem a linguagem da cooptação. Então não adianta, essa é a causa da crise permanente do partido. ZH – Por que o seu nome enfrenta tanta resistência junto ao comando do PMDB? Fogaça – Nos últimos sete anos fui excluído de todas as indicações para cargos e vetado até quando o presidente Fernando Henrique Cardoso me quis em sua equipe como ministro. Na época, a cúpula do PMDB me vetou mortalmente. Na bancada isso não é uma coisa nova. O grupo do Jader Barbalho é maioria. Não se entra em uma comissão sequer senão por meio de um benefício ou generosidade dele. O senador Carlos Bezerra já foi presidente da Comissão de Orçamento e agora é relator. O Tebet já foi, por obra e graça do Jader, relator da Comissão de Orçamento e agora é ministro. O senador Ney Suassuna, da mesma, forma presidiu a Comissão de Orçamento. Todos que tiveram cargo nessa importante comissão o foram graças ao dedo do Jader Barbalho. Gaudérios desde cedo Crianças preparam chimarrão e assam churrasco em Giruá O conhecimento da tradição e dos costumes gaúchos integrou alunos de uma escola de Giruá, no noroeste do Estado. No sábado, em comemoração à Semana Farroupilha, estudantes da pré-escola ao Ensino Médio do Colégio Evangélico Rui Barbosa – e de outros estabelecimentos da cidade – demonstraram talento ao preparar o chimarrão e habilidade para assar churrasco e construir ranchos, além de encilhar cavalos, sem esquecer a hospitalidade com os visitantes. As atividades integram a programação do Arranchamento Crioulo, projeto criado pelo colégio há três anos. Pelo Dicionário de Regionalismos do Rio Grande do Sul, “arranchar” significa construir ranchos. A perícia dos concorrentes foi avaliada por uma comissão julgadora exigente. – O teu único erro foi não ter sorvido todo o mate antes de enchê-lo – comentou a jurada e poetisa Cecília Maicá para uma das prendas que havia preparado o chimarrão. O preparo da bebida mais tradicional dos gaúchos também apresentou dificuldades para Fernanda Cella, de seis anos. Ao longo do ano, ela aprendeu os truques, mas admitiu: – É difícil. Pior é ajeitar o topete do chimarrão usando a mão. O Arranchamento Crioulo faz parte de um projeto trabalhado o ano inteiro com os estudantes para fortalecer as raízes gaúchas. De autoria da professora Maria Teresa Alves de Souza, o trabalho concorre com projetos de todo o Brasil no concurso Professor Nota 10, da Fundação Vitor Civita. As tarefas eram relacionadas à história do Rio Grande do Sul contada no livro Sobre a Anca da História, do escritor Emílio de Souza, de Santo Cristo. Depois da representação da Dança do Maçarico com seus coleguinhas, Francine Scherer, oito anos, demonstrou aos visitantes que as mulheres gaúchas também costumavam andar a cavalo, conforme relata a obra. Cavalgando seu pônei, Campeão, Francine provou a habilidade que adquiriu aos cinco anos. Os vencedores ganharam troféus e medalhas. A ameaça O Afeganistão tem três dias para entregar Osama bin Laden, suspeito número 1 dos atentados, ou o país será atacado Uma missão paquistanesa desembarca hoje em Cabul, capital do Afeganistão, com um ultimato: a milícia talibã deve entregar o terrorista saudita Osama bin Laden em três dias. Vencido o prazo, o país estará sob a ameaça de ataques em massa por parte dos Estados Unidos. Não ficou claro, porém, se o prazo já começou a contar a partir de ontem ou se o ultimato passará a valer a partir de hoje. Bin Laden, o suspeito número 1 de ter organizado os atentados de 11 de setembro em Nova York e Washington, esconde-se no Afeganistão desde 1996. Ontem, mandou dizer em comunicado escrito em árabe: “Afirmo categoricamente que não realizei esta ação”. Bin Laden pode ter demorado para alegar inocência. Na quinta-feira, dia 13, seu nome foi citado pelo presidente George W. Bush e seus primeiros assessores como suspeito número 1. E, no domingo, Bush voltou a dizer que a guerra pode começar a qualquer momento, recomendou aos americanos que “estejam prontos” para um conflito longo e se referiu diretamente ao terrorista, depois de saber de suas declarações: – Bin Laden continua como principal suspeito. O comunicado de Bin Laden foi divulgado pela agência de notícias privada paquistanesa AIP, alinhada ao Talibã. “Os Estados Unidos estão acostumados a esses tipos de acusações, cada vez que seus inimigos, que são numerosos, lhes atingem com um golpe”, afirma o documento. Bin Laden diz que os talibãs não permitem a realização de “atividades deste tipo a partir do Afeganistão”, na tentativa de livrar a própria pele e a da milícia que o protege. Nada indica que os EUA irão recuar da decisão de persegui-lo até encontrá-lo, mesmo que o terrorista não esteja mais na caverna em que se esconde no Afeganistão. A notícia de que os paquistaneses exigirão sua extradição para os EUA foi divulgada pela rede de televisão CNN, a partir da informação de que os emissários receberam autorização da Organização das Nações Unidas (ONU) para viajar a Cabul. Bin Laden não pode ser acusado dos atentados porque não há prova concreta contra ele, como reconhece o próprio governo americano. O argumento para o pedido de extradição seria o de que ele já foi indiciado nos EUA sob acusação de ter comandado os ataques de 1998 às embaixadas americanas do Quênia e da Tanzânia, quando 224 pessoas morreram. Dias depois dos atentados, os EUA dispararam 12 mísseis contra o leste do Afeganistão para tentar matá-lo. Um pedido de extradição do terrorista, feito pelos americanos, fora rejeitado pelo governo afegão. A tarefa do ultimato foi entregue ao Paquistão no fim de semana, depois de conversas do presidente Pervez Musharraf com autoridades de Washington. O Paquistão faz fronteira com o Afeganistão e é um dos três países que reconhecem o regime fundamentalista talibã (os outros são os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita), que tem sob seu controle 90% do país. O governo paquistanês foi convencido pelos EUA de que deveria colaborar com a reação militar. A ajuda incluiria o acesso a seu espaço aéreo, o fechamento da fronteira, o corte do fornecimento de combustível ao Afeganistão e o compartilhamento de informações com os EUA. A missão paquistanesa é de alto risco. Com a adesão aos EUA, o país passa a ser ameaçado pelos afegãos e pela reação interna. O presidente Musharraf sabe que o Talibã, que dá asilo a Bin Laden, tem apoio dentro do Paquistão. O líder da milícia, mulá Mohamed Omar, advertiu na sexta-feira que irá atacar quem se aliar aos EUA. O porta-voz oficial do Talibã, Abdul Hai Mutamaen, reforçou a ameaça ontem: – Se qualquer país auxiliar os Estados Unidos e permitir que usem seu espaço aéreo ou rotas terrestres contra nós, nós seremos forçados a revidar. O governo talibã também pediu à Organização da Conferência Islâmica e aos países muçulmanos que ajudem o país no caso de um ataque dos Estados Unidos. O ministro das Relações Exteriores, Wakil Ahmad Mutawakel, repetiu o que o comando do Talibã já havia anunciado: Osama bin Laden tem “o respeito” da milícia e não será entregue. O Talibã pode se aliar à oposição interna paquistanesa e reforçar o histórico sentimento antiamericano da população do vizinho para reagir ao apoio aos EUA. O líder muçulmano paquistanês Qazi Hussain Ahmad advertiu o governo de Musharraf para os riscos do uso do território do país para os ataques. Musharraf teria recebido dos Estados Unidos a promessa de que seu país contará com investimentos em troca do apoio. Milhares de pessoas continuaram deixando Cabul ontem, a maioria delas em direção ao Paquistão, cuja fronteira com o Afeganistão é de 2,2 mil quilômetros. Até os funcionários da Cruz Vermelha abandonaram o país. Em Washington, no fim de semana, o presidente George W. Bush manteve o tom ameaçador: os ataques poderão ser disseminados, atingindo países que protegem terroristas. E se dirigiu especificamente a Bin Laden: – Vamos achar quem fez isso, vamos tirá-los de seus esconderijos, vamos colocá-los para correr e vamos trazê-los à Justiça. A América está em um novo estado de guerra. É uma guerra longa, essa que vamos começar agora – afirmou Bush. O vice-presidente, Dick Cheney, também disse que os protetores dos suspeitos estão sob a ameaça dos ataques: – Eles devem compreender que, se fornecem santuários aos terroristas, deverão enfrentar os raios da nossa cólera. Buscaremos com empenho o senhor Bin Laden e, obviamente, aqueles que o apóiam. Os EUA ampliaram no fim de semana os contatos com líderes que possam ajudar na formação da rede de apoio à ação contra o Afeganistão. O secretário de Estado, Colin Powell, disse que as “reações positivas” do Irã e da Síria, que condenaram os atentados, poderiam abrir as portas para uma cooperação com Washington. Mas ninguém sabia dizer quais são os limites dessa ajuda e quais as conseqüências para a região do apoio paquistanês aos EUA. Brasil estuda montagem de uma nova defesa civil Os ataques terroristas aos Estados Unidos poderão levar o Brasil a montar um novo esquema de defesa civil. A idéia é de o país possuir um sistema de socorro à população que funcione a exemplo do que se viu em Washington e Nova York, desde a última terça-feira. O ministro da Justiça, José Gregori, espera receber, até quinta-feira, um relatório dos meios que o país dispõe para empregar em caso de qualquer tipo de calamidade. Na lista aparecem desde problemas enfrentados com secas, enchentes e incêndios florestais, mais comuns no país, a eventuais atentados terroristas, com os quais o governo começa a se preocupar. A partir desse encontro, o governo quer traçar uma estratégia a ser tomada. Artigos A violência estudada, lá e cá PAULO BROSSARD Confesso que, nas minhas cogitações, jamais considerei, sequer como hipótese, o que ocorreu em Nova York e Washington, no sinistro dia 11 de setembro. O ato vandálico não foi praticado por um Estado em guerra, mas supostamente por entidade materialmente distante e movida por fanatismo. O fato espantoso, menos pelos danos incomensuráveis que por seus requintes infernais, não teria se materializado sem que seus agentes diretos não houvessem selado um pacto com a morte. No instante da dantesca operação eles se consumiram no choque e no fogo. É um dado mais ou menos novo, embora se pudesse lembrar os camicases e os fanáticos que em Israel, carregados de explosivos, atacam alvos escolhidos. De qualquer sorte, o fato ostenta esse componente brutal. Desde o dia 11 tudo quanto poderia ser dito já o foi e não vejo utilidade em redizer o que foi descrito e analisado. Serei breve, portanto, mesmo em face das dimensões universais do fenômeno. Limito-me a notar que, numa guerra, a despeito das convenções tendentes à sua humanização, compreende-se que a violência seja inevitável e a destruição do inimigo o escopo. Mas a guerra agora inaugurada não tem lei e não conhece convenções. Sua lei é satânica. Nem a precede sua declaração. Daí por que, embora os EUA tenham sido a vítima imediata, o mundo se ergueu, em comovente solidariedade, para manifestar seu horror diante da brutalidade, até porque ficou claro que nenhuma nação pode estar segura em face da irracionalidade ululante da agressão. Hoje foram o World Trade Center e o Pentágono, mas amanhã pode ser o Louvre, o Vaticano com seus museus fabulosos, o Museu Britânico, o Palácio Pitti, a Tate Gallery, ou o Metropolitan e a National Gallery. Enfim... agora a guerra é assim. Ao lado desse medonho episódio, que encheu o mundo de inquietação e de pavor, dois fatos aqui verificados, segundo jornais que tenho diante dos olhos, me levam a comentá-los ainda que rapidamente, dado seu alto teor de nocividade e sua indisfarçável periculosidade social e institucional. Começo por dizer o óbvio, o que sucedeu em Nova York e Washington não foi o resultado de uma ação improvisada, mas o fruto de preparação demorada e meticulosa, até a execução terrivelmente exata. E o que vem sendo feito aqui, na calada da noite e à luz do dia, demonstra, à evidência, a ação progressivamente ampliada de entidade que procede independente do Estado e a ele, certamente por suas omissões, se vai superpondo. Mas a guerra agora inaugurada não tem lei e não conhece convenções. Sua lei é satânica O título de uma das notícias diz assim: “Grupo é apontado por testemunhas como autor de execução a colono em assentamento de Jóia. Assassinato revela milícia do MST”. A crer-se na objetividade da informação, milícia de um grupo privado se substitui, por direito próprio, à Justiça e aplica a lei capital, sem processo nem julgamento, como os grupos de traficantes. Diga-se o que se disser, o fato é de suma gravidade e evidencia como a entidade em causa, sem face, sem domicílio, sem personalidade jurídica, sem direção responsável, depois de tornar rotineira a violação da lei e de direitos humanos, chegou ao ponto de dispor de milícia capaz de praticar atos que nem o Estado, por seu Poder Judiciário, poderia cometer. A notícia foi estampada, com riqueza de pormenores. A outra notícia diz respeito à ocupação de área pertencente ao BC, ou seja, à União, no centro de Porto Alegre, ao lado do Ministério da Fazenda e da Agricultura. À ordem judicial de desocupar o imóvel esbulhado, e o esbulho é ilícito civil e penal, os autores do delito, 450 adultos, sem falar nas inevitáveis crianças em número de 68, responderam que “não houve nenhum aceno do governo às nossas reivindicações. Por isso vamos permanecer aqui até termos uma resposta”. E o Judiciário que vá às favas. A indiferença de uns, a covardia de outros, permitiu que essas coisas pudessem acontecer e repetir-se à face do Estado que parece fingir nada ter com o fato. Dir-se-á existir desproporção entre o acontecido nos EUA e o que se passa por aqui, e ninguém o negará, mas entre ambos existe uma comunhão substancial, concretizada por grupos que se colocam acima da lei, nacional ou internacional, violando abertamente as regras de convívio humano. O alvo é agredir símbolos nacionais, lá e cá. Quem não se lembra da proteiforme agressão cometida aqui por ocasião da celebração dos 500 anos do descobrimento do Brasil, da cena selvagem da destruição do relógio, da deformação da história brasileira em livros didáticos, das tristes e inéditas manifestações no 7 de Setembro? Dir-se-á que estes fatos não seriam imputáveis ao MST, mas isto apenas revela que o trabalho de mutilação dos valores nacionais tem mais agentes além desse movimento, o que é igualmente grave. O que não se compreende envenena VALESCA DE ASSIS Há tamanha e tão esquecida verdade no aforismo de Eugênio D’Ors, que merece ser sempre repetido: tudo aquilo que não se compreende envenena. Ainda mais quando descobrimos que a humanidade estabeleceu um Dia da Compreensão Mundial – 17 de setembro – data em que, é de supor-se, devemos refletir sobre as incompreensões dos outros dias do ano. De fato, é quando uma nação não consegue compreender os valores culturais ou as circunstâncias momentâneas de outra, que as guerras acontecem. Sempre que o homem não é capaz de entender as diferenças, ocorrem as discriminações. Até mesmo nossa pequena vida diária é assombrada por desajustes, nossos e alheios: um bebê na lata do lixo, um amante traído, um cavalo maltratado, doentes na fila, homens sem emprego, meninos sem família, o garoto puxando o rabo do gato, a professora humilhando o aluno, o aluno agredindo o professor, os avós no abandono e a doença doendo cada vez mais. Em um par de minutos se pode encher um poço com os venenos da incompreensão Em um par de minutos se pode encher um poço com os venenos da incompreensão. Isso, porém, não dá direito a julgarmos que o homem seja intrinsecamente nefasto. Mêncio, sábio chinês, garante que é tão forte a tendência do homem para o bem, quanto é natural a água correr para baixo. O que pode acontecer é que, ao batermos fortemente com as mãos na água, façamo-la espirrar e subir mais alto do que nossas cabeças. Também podemos represar um rio e mudar seu curso. Mas isso será sempre contrário à natureza da água. Igualmente, é possível, por manipulação e convencimento, induzir o homem a práticas contrárias à sua inclinação natural. E, por vezes, esta manipulação é tão constante, intensa e profunda que chega a convencer alguns de que nasceram maus e egoístas. Se a mãe acusa todos os dias o filho de aborrecê-la, de magoá-la, de roubar-lhe o sossego e a vida, ele se acusará de ladrão e assassino. Se o governante insiste em que o povo de seu país é preguiçoso e desonesto, essa gente será capaz de engendrar e, pior, atribuir-se a piada de que Deus criou, um dia, um território maravilhoso, onde não havia terremotos nem vulcões. Distinguido com paisagens tão dóceis e generosas, o lugar em seguida despertou invejas universais. Calma!, teria Deus aconselhado aos reclamantes, vocês não viram ainda o povinho que eu vou botar lá... Desconstruir mentiras tão ricamente vestidas de verdade é, quase sempre, tarefa para mais de um dia por ano. Para mais de uma vida. Colunistas JOSÉ BARRIONUEVO – PÁGINA 10 Simon tenta frear debandada no PMDB Até o comando do partido no Estado foi oferecido ao grupo de deputados do PMDB gaúcho que examina a possibilidade de deixar a sigla. A proposta chegou a ser feita pelo senador Pedro Simon em conversa com cinco deputados estaduais na noite de quinta-feira na residência de Paulo Odone, que perdeu a disputa pela presidência estadual regional para Cézar Schirmer. Simon tem consciência de que a saída do grupo inviabiliza sua candidatura a presidente da República. Uma iniciativa do senador e líder maior do PMDB, o encontro foi pautado pela franqueza. Simon recolheu as críticas com rara humildade. No fim de semana, foi ao encontro com Antônio Britto. Tudo ou nada Na avaliação de Antônio Britto, pode acontecer tudo ou nada. Se ocorrer a saída, que deve ser definida na próxima semana, ela se constituirá em torno de um projeto para o Rio Grande. Um movimento que envolveria o PTB, o PDT e o PPS. Sérgio Zambiasi encaminha as negociações, como candidato em potencial a governador, devendo ter um encontro com Leonel Brizola nas próximas horas no Rio. Casado com uma sobrinha do ex-governador, Odone foi incumbido de um contato com o líder maior do PDT, que gostaria de formar uma frente trabalhista contra o PT na eleição de 2002. O senador Roberto Freire, presidente nacional do PPS, veio ao Estado para um encontro com os dissidentes e para conversar com José Fortunati, que seria peça importante desta frente. DS ganha e Olívio se fortalece Com a maioria absoluta de votos obtidos por Raul Pont no Estado para presidente nacional do PT, a vantagem de David Stival para presidente estadual e de Valdir Bohn Gass na Capital, a Democracia Socialista de Miguel Rossetto deu uma demonstração de força. Conseqüentemente, Olívio ganha força que o torna favorito para uma disputa com Tarso pela condição de candidato a governador. Galo missioneiro – o governador Olívio Dutra prestigiou ontem em Passo Fundo, ao lado da primeira-dama, a abertura da 9ª Mostra da Cultura Gaúcha protegido contra o frio e a chuva. Na semana que antecede o feriado farroupilha, Olívio não abre mão da pilcha, que faz parte de seu marketing para a próxima eleição. Tucanos apresentam candidatos Durante congresso estadual no auditório da Assembléia Legislativa, realizado sábado, o PSDB gaúcho decidiu lançar candidato a governador, uma escolha que pode resultar de prévia entre Nelson Marchezan, Vicente Bogo, Carlos Albuquerque e Yeda Crusius. Com casa cheia, os tucanos mostraram que estão dispostos a ocupar mais espaço no Rio Grande na próxima eleição. O partido está determinado a concorrer sem coligação apenas para a Assembléia. Aceita aliança para a majoritária (Senado e Piratini) e para a Câmara dos Deputados. Tarso enfraquecido O Palácio Piratini tinha boas razões para festejar o sucesso de uma estratégia montada pelo vice-governador Miguel Rossetto. Raul Pont fez mais de 60% em Caxias e em Canoas, além de vencer o candidato do PT Amplo, deputado José Dirceu, em Pelotas, onde o prefeito Fernando Marroni previa grande vantagem para a reeleição do presidente licenciado. Tilden Santiago, apoiado por Tarso, teve um desempenho pífio no Estado. Marroni perde em Pelotas Em Pelotas, o prefeito Fernando Marroni e a deputada estadual Cecilia Hypólito medirão forças no segundo turno da eleição para o diretório municipal do PT. Um dos candidatos de Marroni – seu preferido era a esposa, Miriam Marroni, da Rede, que ficou em terceiro lugar –, Paulo Ribeiro, do PT Amplo, irá disputar o segundo turno com José Milach, da Força de Ação Socialista (FAS) tendência de Cecília. Ribeiro fez 215 votos, contra 201 de Milach. PT teme perder presidência O acordo para o rodízio na presidência da Câmara deverá provocar grande polêmica. José Fortunati, que deixou o PT, seria o sucessor de Fernando Zachia, do PMDB, em 2002, ficando João Dib (PPB) em 2003 e Reginaldo Pujol (PFL) em 2004. O líder do governo, Estilac Xavier procura se credenciar para assegurar ao PT a vaga de Fortunati. Outra pretendente é Helena Bonumá. Majoritárias, as bancadas de oposição tendem a agir de forma pragmática num ano eleitoral, assegurando a vaga a Fortunati, campeão de votos. Ninguém me quer É de autoria do próprio Haroldo de Souza a nota à imprensa, assinada, especulando sobre a possibilidade de o vereador deixar o PTB e ingressar no Partido Humanista da Solidariedade, do deputado Roberto Argenta. Notas anteriores do gabinete informaram na semana passada sobre contatos do nobre edil com o PPS e o PSDB. Isolado na Câmara, o destacado radialista entrou em rota de colisão com o seu PTB. Editorial Crise e investimento Em meio a uma ampla variedade de previsões negativistas sobre o futuro da economia mundial e da brasileira, surge enfim uma visão ponderada do cenário posterior aos terríveis atentados suicidas contra alvos norte-americanos. A diretora do Banco Mundial (Bird) Frannie Léatier declarou no Rio que o fluxo de investimentos diretos para os países emergentes, e especialmente para o Brasil, não será afetado pelos ataques a Nova York e Washington. Observa ela que as decisões do setor privado sobre inversões a longo prazo levam em conta os chamados fundamentos econômicos e as taxas de retorno de uma determinada nação. Ora, o Brasil vem recebendo um terço do capital externo aplicado globalmente e tal posição somente sofreria uma modificação substancial se mudassem os fundamentos de nossa economia ou se não fossem levadas avante reformas estruturais. Embora o mundo viva um processo de desaceleração do crescimento – o que já era patente não só nos Estados Unidos antes das ações terroristas, como também no Japão e em outras nações desenvolvidas – e não faltem projeções situando a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em algo pouco superior a 2%, portanto abaixo da média internacional, nada faz supor um dramático decréscimo das inversões internacionais. Nossos problemas são conhecidos. Enfrentamos fundamentalmente dois desafios. Um é interno: o da prolongada crise de energia provocada pela falta de previsão das autoridades federais. Não é, contudo, desarrazoado pensar que tal situação começa a ser superada, até mesmo pela paulatina melhora do regime de chuvas. O outro repto é exógeno: decorre da conjuntura extremamente adversa em que se debate a Argentina, sem que haja perspectivas concretas de superação a curto prazo. São essencialmente esses fatores que concorrem hoje para a redução da atividade produtiva e a depreciação do real. É essa condição elementar para que o país rompa o círculo vicioso do endividamento interno e externo Um terceiro desafio não é propriamente novo: trata-se de fechar o balanço de pagamentos em um período no qual se acumulam os déficits de comércio. Estaríamos diante de ingentes dificuldades se a fonte com a qual temos enfrentado parte do desequilíbrio das contas externas – o ingresso da poupança estrangeira – declinasse drasticamente. Eis aí razão suficiente para que levemos em consideração a referência da dirigente do Bird à necessidade de que prossigamos com as reformas constitucionais. Uma delas é claramente urgente, não comporta mais qualquer tipo de adiamento. Trata-se da substituição do modelo fiscalista que aí está por um sistema que amplie a base tributária, diminua a quantidade de gravames, incorpore novas tecnologias à arrecadação, descomplique o cipoal regulamentador e combata a sonegação. Pois é essa condição elementar para que compatibilizemos receitas e dispêndios e para que o país deixe de conviver com um crônico déficit público, rompendo assim o círculo vicioso do insuportável endividamento interno e externo. México e Brasil Durante muito tempo, e apesar de todas as limitações e dificuldades de um país que viveu durante 30 anos sob inflação por vezes descontrolada, o Brasil alcançou a posição de maior economia da América Latina. A própria dimensão territorial, aliada a um certo dinamismo na agricultura, indústria e comércio, colaborou para que o país mantivesse essa posição. Pois o México que tinha, no início dos anos 90, um Produto Interno Bruto equivalente à metade do brasileiro, acaba de ultrapassar o Brasil nesse indicador que dá a medida de tudo que é produzido num país durante um ano. De acordo com a revista britânica The Economist, que acompanha com rigor e atenção os desempenhos econômicos nacionais dos quatro cantos do mundo, o México conseguiu, nos 12 meses completados em junho último, um PIB nominal de US$ 596 bilhões, que supera em US$ 27 bilhões o PIB nominal brasileiro no mesmo período, o qual ficaria em cerca de US$ 569 bilhões segundo cálculo da própria revista. O IBGE ainda não divulgou o número final do PIB da etapa referida, o que deverá ocorrer até o fim deste mês. Mas o desempenho insuficiente da economia nacional, registrado por vários organismos e entidades e pelo próprio IBGE em números provisórios, indica que a tendência apontada pela publicação está correta. Quando se fala em PIB medido em dólares é preciso, no entanto, levar em consideração as distorções provocadas pelas diferenças de taxa cambial, e nesse aspecto o comportamento do real e do peso tem sido diametralmente opostos. Enquanto a moeda mexicana sofreu desvalorização de apenas 16% em relação ao dólar de 1996 para cá, o real caiu mais de 60% no mesmo período. Somente em 2001 a desvalorização da moeda brasileira ultrapassou os 30%. Com isso o México, cujo PIB tem apresentado crescimento modesto, alcança um determinado sobrevalor em dólar na comparação com o Brasil. O crescimento econômico medido em dólares indica que estamos perdendo a liderança latino-americana Com a moeda enfraquecida, o Brasil não está conseguindo manter uma posição de vantagem histórica, embora a revista inglesa deixe claro que, sob muitos aspectos, a economia brasileira continua maior. Assim, se a paridade do poder de compra for utilizada como base de comparação, o PIB brasileiro chegou a US$ 1,2 trilhão no ano passado, enquanto o mexicano ficou em US$ 890 bilhões. O poder de compra leva em conta os preços locais, sem considerar as diferenças cambiais. E se o crescimento brasileiro vem sendo vagaroso, o mexicano pode estar a caminho de uma recessão por conta da desaceleração da economia dos EUA, da qual o México é bem mais dependente do que o Brasil. Ainda assim, o governo brasileiro não pode deixar de considerar os aspectos psicológicos negativos envolvidos na relativa perda da liderança latino-americana. E sobretudo não pode negar-se a enfrentar as conseqüências internas de um crescimento insuficiente, que se traduz de imediato no aumento do desemprego e na deterioração das condições de vida de uma população que vem pagando um preço alto demais pela incompetência das elites dirigentes. A comparação com o México deve funcionar como um alerta que leve as autoridades e os agentes da economia nacional a tomar uma decisão política em favor do crescimento. Topo da página

09/17/2001


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