Partindo para o confronto









Partindo para o confronto
Esquentou a temperatura das discussões entre os candidatos à Presidência José Serra (PSDB-PMDB) e Ciro Gomes (PPS-PDT-PTB), que disputam palmo a palmo o segundo lugar nas pesquisas eleitorais. Ontem, Ciro acusou Serra de estar sendo desonesto no debate e foi chamado pelo tucano de "genérico do Collor".

Em tumultuada passeata pelas estreitas ruas do centro antigo de São Paulo, Ciro rebateu as acusações da véspera, quando Serra havia dito que ele estimula a "dúvida pública" e que sua proposta de alongamento do perfil da dívida é sinônimo de calote. Ciro disse que o candidato tucano está sendo desonesto ao criticar seus planos para o alongamento da dívida pública. E afirmou que seu adversário estaria tentando, "na base do terrorismo", fazer o mesmo que o ex-presidente Fernando Collor fez com o petista Luiz Inácio Lula da Silva na campanha de 1989.

— Eu apenas recomendo muita calma porque ele (Serra) sabe que está sendo desonesto mais uma vez. Ele tenta fazer o mesmo que Collor fez com Lula. No debate de 89, Collor disse que Lula tomaria a poupança e conseguiu espalhar a intriga. Depois, assumiu e tomou a poupança do povo — disse Ciro.

Ciro se irrita com assédio no centro
Ciro aproveitou para responder ao candidato do PSB, Anthony Garotinho, que também o tem comparado com Collor.

— Para ele (Garotinho) eu viro a outra face e digo: Senhor, perdoai-o, ele não sabe o que diz.

Acompanhado do candidato a vice em sua chapa, o sindicalista Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, e mais de 300 militantes, Ciro se irritou com o assédio. Chegou a ameaçar cancelar a caminhada caso não fosse feito um cordão de isolamento.

Serra: ‘Ciro só sabe fazer insultos’
Em Vitória, Serra respondeu a Ciro e voltou a compará-lo com Collor.

— Ciro é o genérico do Collor, com embalagem diferente, nome diferente, o mesmo princípio ativo e o mesmo efeito. É o candidato do insulto. Com ele, não dá nunca para debater idéias, só para debater insultos. Esta campanha eleitoral deve ser destinada a debater idéias. Mas ele só sabe insultar, muito no estilo Collor — afirmou Serra, após palestra no encontro da Frente Nacional de Prefeitos.

Serra defendeu a descentralização administrativa e a criação do que ele chamou de "condados ou distritos", um agrupamento de municípios que seria uma instância intermediária entre os governos estaduais e as prefeituras.

— Tem que ter uma estrutura intermediária para ações integradas. Vai ser a grande novidade dos próximos anos — disse o tucano.

Serra, ex-ministro da Saúde, justificou as epidemias de dengue:

— O dengue é um osso duro de roer. Tem em todo o mundo.

O tucano ainda criticou a atual política de reajuste de preços do gás de cozinha e da gasolina. Para ele, o governo erra ao vincular os preços ao movimento das tarifas no mercado internacional e ao dólar:

— Os aumentos são abusivos, porque a maior parte do gás consumido no Brasil é produzida aqui. Se o preço aumenta muito lá fora, não pode aumentar na mesma proporção internamente, porque o nosso gasto é em reais. Algo parecido está acontecendo com a gasolina. A meu ver, é um procedimento incorreto da Petrobras, que prejudica os consumidores. Vamos mudar essa política de preços.


Garotinho pede mais prazo para autorizar a divulgação de fitas
Depois de se comprometer na terça-feira, em entrevista ao “Jornal Nacional”, a liberar a publicação de transcrições dos diálogos das fitas que o envolvem num suposto esquema de suborno a um fiscal da Receita Federal, o candidato do PSB à Presidência da República, Anthony Garotinho, afirmou ontem que não pôde liberar a publicação porque a tia de sua mulher está doente em sua casa, o que lhe exigiu atenção especial.

Garotinho pediu mais um prazo para analisar os trechos que foram encaminhados pelo GLOBO, já que ele se compromete a liberar desde que veja previamente as transcrições das fitas.

Há um ano liminar obtida pelo ex-governador na Justiça do Rio impede a publicação do conteúdo das fitas, nas quais Garotinho conversa com assessores sobre a obtenção da autorização da Receita para a realização dos sorteios de carros e de uma casa no programa “Show do Garotinho”, exibido pela rádio Tupi e pela TV Bandeirantes em 1995.

Quando deu entrada nos processos, em maio de 1995, a Garotinho Editora Gráfica não tinha capital suficiente para garantir o pagamento dos prêmios. O plano era distribuir sete carros e uma casa, no valor total de R$ 92 mil. O capital social, registrado na Junta Comercial, era de R$ 10 mil. Os sócios voltaram à Junta Comercial para registrar aumento de capital para R$ 190 mil. Os R$ 180 mil foram integralizados em dinheiro.

Supremo Tribunal Federal também analisa o caso
Ontem, após enviar os trechos aos advogados e ao comitê eleitoral de Garotinho, O GLOBO recebeu ofício da advogada do ex-governador, Rosely Ribeiro de Carvalho Pessanha, dizendo que ele está impossibilitado de autorizar a divulgação das gravações devido ao grave estado de saúde da tia de sua mulher, Rosinha Matheus, que estava hospedada em sua casa. Segundo assessores do ex-governador, ela foi internada ontem para uma cirurgia. Ontem, Garotinho cancelou compromisso em Goiânia, onde participaria de encontro que a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) tem promovido com todos os candidatos.

No fim de maio, O GLOBO recorreu ao Supremo Tribunal Federal com pedido para divulgar o conteúdo das fitas. O pedido ainda está sendo analisado pelo tribunal.


Lula diz que aceita Quércia em seu palanque
O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, garantiu ontem, na última entrevista da série realizada esta semana pelo “Jornal Nacional”, da Rede Globo, que receberá sem constrangimentos em seu palanque o presidente do PMDB de São Paulo e ex-governador Orestes Quércia. Lula afirmou que não julgará ninguém e definiu a política como a arte de conversar com amigos e inimigos.

— Não tem nenhum problema (receber Quércia em seu palanque). Até porque não sou polícia, não sou Justiça. Sou um político. Você conversa com os amigos e com os inimigos. Se não fosse assim, não tinha havido acordo para terminar a Segunda Guerra — disse Lula, lembrando que nesta semana o presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador de Minas, Itamar Franco, antigos desafetos, se reconciliaram.

Lula diz que Polícia Federal agiu de forma fraudulenta
Lula defendeu a apuração das denúncias que envolvem a prefeitura de Santo André, administrada pelo PT, acusada de cobrar propinas de empresários. Negou ainda que o PT seja contra a destruição das fitas gravadas pela Polícia Federal, parte do material de investigação, que contém conversas de petistas. Lembrado pelo William Bonner que a inutilização dessas fitas foi defendida pelo líder do PT na Câmara, João Paulo Cunha, Lula afirmou que essa não é a posição do partido.

— O que nós não queremos é que uma fita gravada de forma fraudulenta pela Polícia Federal seja utilizada politicamente. Apenas isso. Você coloca técnicos para ouvir e, se tiver a incriminação de alguém, que esse alguém seja punido.

Bonner lembrou que o PT do Rio de Janeiro fez exatamente o que Lula acabara de criticar: em programa partidário levado ao ar este ano, exibiu o teor de fitas gravadas ilegalmente, com conversas comprometendo o candidato do PSB à Presidência, Anthony Garotinho.

— A direção nacional não concordou. Achou que foi um equívoco do PT do Rio de Janeiro utilizar a fita da forma que utilizou — respondeu Lula.

O candidato do PT justificou a mudança de opinião do partido sobre o pagamento da dívida externa, dizend o que isso se deveu a uma evolução do partido. Lembrado por Bonner de que o presidente do PT, José Dirceu, defendeu o não pagamento da dívida, durante a consulta popular feita nacionalmente há cerca de dois anos, Lula admitiu que o discurso que se faz na oposição não pode ser mantido quando se tem a perspectiva de se chegar ao poder.

— Se você fizer um plebiscito ainda hoje, muita gente vai dizer para não pagar. Agora, quando você assume o governo, você tem uma relação de estado para estado. É uma relação que não depende de sua vontade. Não é que o PT mudou apenas de opinião. O PT evoluiu para compreender que os contratos firmados pelo Brasil com outros países têm que ser cumpridos.

Candidato diz que PL sempre foi oposição ao governo FH
A polêmica aliança com o PL, que até hoje encontra resistências no partido e forçou a direção nacional a intervir no diretório de Minas Gerais, foi lembrada pela apresentadora Fátima Bernardes. Lula afirmou que não há incoerência nesta aliança porque o PL, apesar de não pertencer ao campo da esquerda, tem feito oposição sistemática ao governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.

— Resolvemos fazer coligação com todos os partidos políticos que se opunham ao atual governo e ao projeto econômico colocado em prática. Procuramos também setores do PMDB, o PPS e o PSB. O critério foi os que faziam oposição.

Em relação à sua falta de experiência administrativa, citada por Bonner, Lula afirmou que se considera preparado para ser presidente porque conheceu de perto a realidade do país, em viagens que fez nos últimos 30 anos. Lula afirmou que, com base nesta experiência, é fácil encontrar soluções para os problemas do país.

— Você lendo ou vendo TV, não conhece nada. Você tem que ver, sentir, ouvir o palpitar do coração das pessoas, ver os olhos das pessoas, para você poder sentir como é fácil a gente encontrar soluções para os problemas brasileiros. Acho que o Brasil não tem boas experiências administrativas. É só olhar a grande maioria das cidades brasileiras. Onde tem boas, elas são normalmente prefeituras do PT — afirmou o candidato petista.

Média de audiência do JN foi de 40 pontos
O Jornal Nacional de ontem alcançou média geral de 39 pontos de audiência. Nos cerca de dez minutos em que o candidato do PT esteve no ar, a média chegou a 40 pontos de audiência. De 23 a 26 de setembro, o “Jornal Nacional" promoverá a segunda série de entrevistas com os candidatos a presidente da República.


‘Temos uma lei eleitoral muito frágil’
No Tribunal Superior Eleitoral, o ministro-corregedor, Sálvio de Figueiredo, acompanha os lances da disputa de outubro. As atenções estão voltadas para as denúncias de um suposto uso de informação privilegiada de pesquisas eleitorais por bancos e corretoras de valores, que têm levado nervosismo ao mercado financeiro.
Numa avaliação preliminar, ele não vê indícios de crime eleitoral. Mas adverte que o TSE atuará com rigor se for provocado.

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio de Mello, lamentou o baixo nível da campanha eleitoral. O senhor concorda com essa visão?

SÁLVIO DE FIGUEIREDO: Sou de uma posição diferente. É claro que, num país com dimensões continentais como o nosso, podem acontecer algumas irregularidades. Num campo desses, em que tantos interesses estão presentes, luta pelo poder, algumas por ideal, outras por interesses, pode haver alguma anomalia. Mas o sistema jurídico tem solução para tudo.

A legislação eleitoral atende às necessidades?

FIGUEIREDO: Não temos uma legislação que seria do nosso desejo. Temos uma legislação eleitoral muito frágil.

O senhor considera que deveria haver uma reforma na legislação eleitoral?

FIGUEIREDO: Sim. Na parte de propaganda, financiamento de campanha, e a questão da internet, que merece atenção especial. Tem ainda o problema das penalidades aplicadas que, depois vem uma anistia, e frustra não só a Justiça Eleitoral mas a própria cidadania. Mas aí não é bem a deficiência da legislação.

Há notícias do possível uso de informação privilegiada de pesquisas por parte de bancos e corretoras de valores para especulação financeira. De que forma o TSE pode atuar em casos como este?

FIGUEIREDO: Dependemos de provocação, não tomamos medidas por ofício. Tem que ver se Ministério Público, partidos e candidatos vão tomar a iniciativa. Aí vamos examinar. Mas isso não é tão simples por que na legislação existe uma permissão para que outras entidades requeiram essas pesquisas. Se uma entidade financeira requerer não está contrariando a lei.

Mesmo se ocorrer vazamento com informações privilegiadas?

FIGUEIREDO: Aí está sujeito a sanção. Mas não vejo em princípio na legislação eleitoral norma específica sobre isso. O que a lei eleitoral diz é que a divulgação de pesquisa fraudulenta constitui crime. E isso não é o que estaria acontecendo. Acho que aí, à primeira vista, existe uma infração de natureza financeira e não propriamente crime eleitoral.

Pode haver sanção dentro da legislação eleitoral?

FIGUEIREDO: A legislação tem uma norma genérica dizendo que todo o abuso eleitoral do poder político e econômico pode sujeitar o infrator a conseqüências. O problema é caracterizar isso como abuso do poder econômico.

O senhor foi contrário à verticalização das coligações já nestas eleições? E agora se vê uma salada de alianças nos estados quando a intenção da verticalização seria dar um caráter nacional aos partidos.

FIGUEIREDO: A médio e longo prazo, essa prática é boa, aprimora o sistema democrático, aperfeiçoa o sistema eleitoral. Fui contra em relação ao momento, porque no meu entendimento o processo eleitoral já estava em curso. Aconteceu que as conseqüências da verticalização levaram o tribunal a flexibilizar nos estados. Então, estamos nessa situação híbrida. De um lado um sistema rígido e, ao mesmo tempo, para não causar danos maiores, a flexibilização.


FH pede menos arrogância dos candidatos
BRASÍLIA. Criticado por candidatos à Presidência, o presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que está revoltado e cansado de ouvir acusações de que seu governo nada faz além da estabilização monetária. Sem citar nomes, pediu mais humildade e menos arrogância.

— Não é melhor ser um pouquinho mais humilde e menos arrogante no julgar o esforço de uma sociedade inteira? Porque não é só de um governo! Em vez de ficar sempre naquele ramerrão de que nada melhorou, por que não olham os números um pouco? — perguntou.

FH diz que não basta ter vontade política
Nos últimos dias, Fernando Henrique recebeu críticas dos próprios aliados inclusive sobre a desistência da idéia de intervenção federal no Espírito Santo, feita pelo ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior. Sem citar nomes, o presidente afirmou que a sociedade precisa assumir “como desafio próprio os grandes problemas que o país enfrenta”. Para ele, não basta vontade política.

— Não podemos pensar a mudança simplesmente como se ela dependesse de uma ação do governo, ou, como é moda aqui, do presidente. Tem vontade ou não tem vontade política? Tomara tenha, mas não basta! — disse ele.

Ao rebater as acusações de que o governo não agiu na área social, ele citou um estudo do Banco Mundial elogiando o progresso do país nas áreas da educação e da mortalidade infantil. Contrariado, Fernando Henrique disse que os resultados do Brasil são mais bem recebidos no exterior e citou também o fato de 36 milhões de crianças estarem na escola e receberem merenda escolar:

— Tantas vezes, tenho demonstrado a minha revolta àqueles que ficam se lamentando sem parar, que acham que está tudo indo para trás. Para trás o quê? É só ver o que era o Brasil e o que é hoje. Gosto de dar esses números quando estou fora do Brasil — afirmou o presidente, contestando as estatísticas sobre o número de pessoas que passam fome no país.

— E só se chama a atenção quando de diz: está aumentando o número de brasileiros com fome. Será? Não arrisco a resposta. Mas sei que 36 milhões de crianças comem todo dia — afirmou o presidente.

Ele ressaltou que as mudanças não são feitas por apenas um governo, e sim em décadas de trabalho, e acrescentou que na educação acabou com a “corrupção graúda” no uso das verbas federais.

Paulo Renato dá nota maior que 7,5 ao governo
O ministro da Educação, Paulo Renato Souza, também saiu em defesa do governo. Ele afirmou que daria ao governo uma nota superior a 7,5. Foi essa a nota dada ao governo de Fernando Henrique pelo candidato do PSDB à Presidência, José Serra. Em entrevista ao ‘Jornal Nacional’ na quarta-feira, Serra confirmou a nota e disse que, como ministro da Saúde, também daria 7,5 à sua gestão, já que pertence ao governo.

Já Paulo Renato discorda:

— Cada professor dá uma nota diferente. Eu daria uma nota mais alta ao governo federal.

Depois que foi escolhido candidato do PSDB à Presidência, Serra já deu declarações afirmando que o governo teve falhas na educação, pois poderia ter investido mais na formação dos professores. Fernando Henrique cita as estatísticas na educação, sobretudo o índice de crianças matriculadas no ensino fundamental (97%), como a grande vitrine de seu governo.

Na entrevista ao ‘Jornal Nacional’, Serra disse ainda que sua maior frustração no Ministério da Saúde foi o fato de o governo federal ter cometidos erros no combate ao dengue, no que diz respeito ao controle da aplicação dos recursos nos estados e nos municípios.

Diferentemente de Serra, Paulo Renato afirmou que não se sente frustrado durante sua gestão. Ele lembrou que ainda tem seis meses pela frente.


Eleição: número recorde de candidatos
BRASÍLIA. A Justiça Eleitoral recebeu um número recorde de registro de candidatos para as eleições deste ano, conforme dados preliminares dos 27 Tribunais Regionais Eleitorais. Até o fim da tarde de ontem, já estavam computados 18.151 candidatos na disputa das 1.653 vagas para governador (27), senador (54), deputado federal (513) e deputado estadual/distrital (1.059).

Isso sem contar os seis candidatos que pediram registro para concorrer à Presidência da República. Em 1998, foram registrados nos estados 13.592 candidatos.

Recorde de candidatos em São Paulo
São Paulo é o estado com maior número de candidatos para todos os cargos. Para o governo, 15 candidatos solicitaram registro. Em segundo lugar, aparecem empatados o Rio Grande do Sul e o Paraná, com 13 candidatos cada estado.

No Estado do Rio, em Goiás, em Minas Gerais e em Pernambuco, nove candidatos devem disputar o governo.

Em todo o país, 210 políticos concorrem ao cargo de governador. Há quatro anos, o total de candidatos era 174.

Na corrida às vagas de senador estão 334 candidatos, contra 165 registrados em 1998. Mas naquele ano, eles concorriam a apenas uma vaga por estado. Este ano o Senado será renovado em dois terços. Na média, manteve-se o número de candidatos.

Na disputa para a Câmara, de 3.385 candidatos em 1998, o número subiu para 4.629 este ano. Para as Assembléias Legislativas, o crescimento no volume de pedidos registros também é significativo: passou de 9.918 para 12.978.


Artigos

De quem é o dever de educar?
Paulo Rangel

Os tempos modernos têm-nos mostrado o quanto se inverteram os valores na sociedade contemporânea. Os filhos são deixados em casa aos cuidados, normalmente, de uma babá, ou dos avós, enquanto seus pais trabalham fora. Os avós, sabemos bem, não têm o compromisso da educação rígida dos netos, mas sim da diversão e do atendimento de todas as suas vontades. A mulher, por necessidade e por emancipação social, colabora nas despesas de casa e, por isso, trabalha fora. Isso quando não a sustenta por inteiro. O homem acaba achando que seu papel é o de provedor, e não de educador dos filhos, e que estes são de responsabilidade educacional das mães. Como estas trabalham fora, os filhos são entregues às escolas.

Os pais estão transferindo para a escola a responsabilidade de educar os seus filhos. A escola ministra os conhecimentos necessários à formação cultural e profissional do aluno, mas o aluno já tem que chegar à escola com a formação moral iniciada, sabendo que não tem o direito de agredir os colegas, de agredir a professora e de usar drogas nas dependências do colégio.

Quem educa são os pais, não a escola. E os pais têm o direito de exigir da escola um ambiente sadio, livre de qualquer tipo de vício. Se o jovem está envolvido com drogas, a culpa não é da escola, mas dos pais. O fracasso paterno não pode ser transferido à escola.

É sabido que, hoje em dia, muitos pais perderam o pulso com seus filhos. Não há mais respeito entre eles.

Não são raros os casos de filhos que desafiam os pais; e, como é óbvio, maus hábitos vão à praça. Se a direção da escola não tiver meios legais de combater certo tipo de comportamento, o filho que foi educado e que sabe que droga não se usa, porque aprendeu isso em casa, não terá proteção. Na verdade, ele é que terá de sair do colégio para procurar um outro, de ambiente sadio, ou que, pelo menos, dê-lhe proteção. Pensar que a escola tem o dever de conviver com isso e a obrigação de educar nossos filhos é uma inversão de valores.

Não é a expulsão do colégio que cria um problema para o aluno; o problema vem de casa, quando os pais não dão aos filhos atenção e amor. Assim se cria o problema que irá repercutir no banco da escola e em todos os lugares freqüentados pelo jovem.

O jovem envolvido com drogas precisa, de imediato, de tratamento terapêutico, a fim de que, depois de tratado, possa freqüentar o banco escolar.

Precisamos deixar de hipocrisia e enfrentar o problema com seriedade. O tráfico de entorpecentes de Elias Maluco e dos demais que estão sendo procurados pela polícia é fomentado pelas classes média e alta, que são quem fazem uso das drogas. Por isso, Affonso Romano já disse: todos nós matamos o Tim Lopes.

O aluno não pode ir para a escola para aprender que não se deve xingar a professora e que seus colegas devem ser respeitados, muito menos que droga é uma droga. Isso ele já terá aprendido em casa.

Achar que a escola não tem o poder de expulsão é dar uma estranha interpretação à lei: a de que os jovens somente têm direitos, e não deveres. Têm direitos e deveres. E o maior direito do jovem é ter pais que lhe dêem amor, carinho, atenção e companhia.

Se a sociedade está doente, podem ter certeza de que a família já entrou em coma há muito tempo.

Se educarmos nossos filhos, teremos uma sociedade melhor; mas se transferirmos à escola o dever de educar, a sociedade irá desabar como um bolo de areia. Aliás, já está desabando.


Colunistas

PANORAMA POLÍTICO – Tereza Cruvinel

Edital anulado, programa resgatado
A Anatel vai anular nas próximas horas o edital polêmico que quase desencaminhou uma boa idéia, a informatização das escolas com recursos do Fust. Quem tem filhos neste mundo digitalizado sabe a diferença que faz, na vida e na educação deles, o acesso ao computador e à internet.

Incluir é preciso em muitas frentes, inclusive nesta, reduzindo outro tipo de analfabetismo, o digital, composto pelos desligados da máquina e da rede que revolucionam a cultura contemporânea. Luiz Guilh erme Shymura, novo presidente da Anatel, antecipou ontem a esta coluna a decisão de anular o edital para a compra de 290 mil computadores, 46 mil impressoras, 16 mil scanners e outros equipamentos para 13.237 escolas públicas distribuídas em todo o país, ao custo de R$ 1,5 bilhão, originários do Fust, fundo alimentando pela contribuição de 1% sobre o faturamento das teles. Dinheiro que vem do contribuinte, para ser usado na universalização das telecomunicações.

Contra suas muitas anomalias insurgiram-se há 11 meses, logo depois do lançamento, os deputados Sérgio Miranda (PCdoB-MG) e Walter Pinheiro (PT-BA), que o sustaram ganhando uma liminar na Justiça. O TCU acolheu depois uma ação suspensiva de Miranda e dedicou-se a uma profunda avaliação do caso, que agora nem precisará mais ser julgado.

Aos dois somaram-se depois outros parlamentares e muitos críticos na sociedade — técnicos, professores, pensadores, pedagogos — produzindo um impasse que agora resulta na abertura de um novo caminho para a implantação do programa Telecomunidade.

— Concluímos que aquele edital acabaria mesmo gerando um Frankenstein e deveria ser anulado. Todos aprendemos neste processo, lidando com uma idéia nova, o primeiro programa a ser financiado pelo Fust.

Mas agora a proposta está madura e clara e todos parecem interessados em sua realização — diz Shymura.

Os principais erros e correções do edital original, cujo principal defeito, reconhece o presidente da Anatel, era não deixar claro o objeto da licitação, se bens ou serviços ou ambos. Agora a concorrência será aberta a qualquer empresa nacional, e não apenas às quatro concessionárias de telefonia fixa (Telefonica, Telemar, Brasil-Telecom e Embratel), dirigismo que Miranda obstinadamente combateu. Poderão ser usados tantos o sistema Windows como o Linux, pluralidade pela qual tanto brigou Pinheiro. O Linux, livre, não tem custo adicional e em algumas tarefas pedagógicas tem vantagens sobre o sistema da Microsoft, que brigou pela exclusividade, de olho não tanto em dinheiro, mas na formatação das mentes. Em defesa da livre escolha levantaram-se muitas vozes, destacando-se os professores da UFMG Sérgio Campos e Wagner Meira Júnior e o cientista político Sérgio Abranches. Por iniciativa do deputado Mares Guia (PTB-MG), presidente da Comissão de Educação da Câmara, criou-se ali um fórum em busca de um acordo com o MEC, no qual muito atuaram também os deputados Virgilio Guimarães (PT-MG), Jorge Bittar (PT-RJ) e Júlio Semeghini (PSDB-SP).

O confronto e o debate frutificaram, admite Shymura, que anteontem se reuniu com Miranda e pretende conversar com os demais envolvidos. Agora será licitada a implantação de uma rede virtual ligando todas as escolas e provendo-as com um portal cujo conteúdo será estabelecido pelo MEC, abrindo aos estudantes da rede pública — onde estudam os mais pobres, que não têm micro em casa — as fronteiras do conhecimento.

Aos poucos, poderá ser implantada uma biblioteca virtual coletiva.

— Vamos dividir o país em regiões e licitar grandes blocos da rede nacional — diz Shimura, que conta para isso, por ora, com o R$ 1,8 bilhão do Fust, dos quais R$ 600 milhões este ano, restaurados depois de terem sido reduzidos, como denunciado aqui, a apenas R$ 64 milhões.

— Claro que estou feliz, pois nunca quisemos atrasar o programa, e sim viabilizá-lo técnica, pedagógica, financeira e moralmente. Mas falta ainda a certeza de que a equipe econômica vá mesmo liberar os recursos bloqueados — diz Miranda.

Vitória do debate.Infantil a irritação de alguns tucanos com o telefonema de Armínio Fraga ao petista Aloizio Mercadante. Se o objetivo for um pacto de transição, todos os candidatos serão chamados.Lula por último

Encerrada ontem com Lula a série de entrevistas do “Jornal Nacional” com os presidenciáveis, augural e inaugural nesta campanha. As pesquisas dirão o que o eleitor achou de cada um. Aparentemente, Lula saiu-se melhor, beneficiado que foi por uma fragilidade, a de nunca ter sido governo. Não tinha um dengue para explicar, só o passado do PT e a nódoa de Santo André, que não é dele. Perdeu, porém, a chance de ter sido mais definitivo na garantia de que o PT honrará os contratos da dívida e manterá a inflação controlada, lembrando sua carta-compromisso, conhecida (e ignorada) pelo mercado mas não tanto pelo grande público.

Agora, esperemos a ruminação do eleitor.


Editorial

VITÓRIA DO CRIME

Quando era considerada inevitável a intervenção no Espírito Santo, não só o ato foi abortado, como a crise gerada pela decisão de não intervir no estado provocou a saída de Miguel Reale Júnior do Ministério da Justiça, onde o jurista começava a lapidar a positiva imagem de uma autoridade verdadeiramente dedicada a combater o crime. Não é preciso ser especialista em assuntos capixabas, basta acompanhar o noticiário político nacional, para saber qual o lado vitorioso nesse desfecho.

A saída de Reale do governo deflagrou uma troca de acusações entre ele e o Palácio do Planalto. Uma briga envolvendo um ex-ministro e o ex-chefe, o presidente da República, é sempre excitante. Esta, na prática, é desimportante.

O importante — e grave — é constatar que pessoas consideradas representantes do crime organizado no Espírito Santo cantam vitória diante da frustração da intervenção. E que cidadãos de bem se dizem derrotados.

O crime mais uma vez venceu. É sintomático que conselheiros da seção capixaba da Ordem dos Advogados tenham voltado a sofrer ameaças anônimas de morte. Em uma das ligações, foi dito para um dos ameaçados: “vocês não perceberam que nem o ministro da Justiça, nem a Polícia Federal resolvem o problema?” É preciso reconhecer que esse emissário do crime tem razão. Pelo menos até agora.

O inesperado desfecho do pedido de intervenção aprovado pelo Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana tem repercussão e implicações nacionais. Afinal, ele ocorre no momento em que em outras regiões do país, principalmente no Rio e em São Paulo, trava-se uma luta decisiva entre o Estado de direito e o crime.

Como a criminalidade está hoje mais integrada do que as polícias, não causaria surpresa saber que às comemorações em Vitória seguiu-se o estouro de garrafas de champanhe em Bangu I. Depois que a notícia foi recebida por um dos celulares da cadeia.

Por tudo isso, o governo federal tem de agir. Precisa, por exemplo, acelerar a montagem de uma força-tarefa no Espírito Santo, por mais frágil que seja o aparato policial local. O crime não pode comemorar para sempre.


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07/12/2002


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