Pesquisadora do INPE defende engajamento de todos na contenção das mudanças climáticas



Em reunião da Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas (CMMC), presidida pela senadora Ideli Salvatti (PT-SC), a pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Telma Krugger, defendeu a importância de preservação das florestas como forma de mitigar os avanços das mudanças climáticas no planeta. Ela ressaltou, no entanto, ser imprescindível que se promova a drástica redução no uso de combustíveis fósseis - como o petróleo e seus derivados-, que são os grandes responsáveis pela emissão de dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera.

Na exposição apresentada ao plenário da CMMC, Telma Krugger explicou que algumas projeções de futuro já preveem cenários que apontam para a "savanização" de parte da Amazônia, como consequência das mudanças climáticas. Nesse cenário, a região Amazônica passaria a ter um clima muito semelhante ao do semi-árido brasileiro, como o que caracteriza o Nordeste. O aumento da temperatura não seria muito maior que dois graus centígrados, porém já traria graves consequências para a Floresta Amazônica e sua biodiversidade. Algumas culturas brasileiras estariam potencialmente ameaçadas porque não poderiam adaptar-se a uma temperatura mais elevada, ou a um regime de menor precipitação pluvial.

Os cenários mais pessimistas prevêem ainda uma intensificação das áreas de seca no semi-árido brasileiro e, de outra parte, maiores inundações no Sul do Brasil.

- Temos que ter essa preocupação com os fenômenos que são naturais, como é o caso de El Niño, La Niña, e estariam sendo intensificados com a mudança do clima - avaliou Telma Krugger. - Nós conhecemos os impactos desses eventos naturais, principalmente nas Regiões Norte e Sul do país, com seus efeitos distintos: secas na parte Norte do Brasil e inundações na parte Sul.

A pesquisadora do INPE ressaltou, no entanto, que não é possível estabelecer uma previsão, em termos de tempo, de que em que momento esse cenário se concretizaria. "Até porque, a mudança do clima é uma incógnita para nós", acrescentou. Ela disse acreditar que ainda existe a possibilidade de se mitigar essas mudanças, de maneira a mantê-las restritas a níveis que não tragam um impacto tão negativo para a sociedade como um todo. Para isso, segundo disse, se está atuando e se está procurando caminhos que evitem a concretização daqueles cenários mais drásticos.

Redução de CO2

Telma Krugger foi a titular da Secretária Nacional sobre Mudança do Clima e Qualidade Ambiental, do Ministério do Meio Ambiente, na gestão da senadora Marina Silva (PT-AC). Em seu depoimento ela explicou que a redução do desmatamento e a promoção de áreas de reflorestamento, contribuem para a redução dos níveis de CO2 na atmosfera. Por meio do processo de fotossíntese que as florestas promovem, parte do dióxido de carbono, ou gás carbônico, que é emitido pela queima de combustíveis fósseis, ou de outro gênero, pode ser removida da atmosfera.

- A nossa preocupação é no sentido de que, se os setores responsáveis pela mudança do clima, que na verdade, são os setores que promovem essas emissões de dióxido de carbono, não realizarem esforços significativos na sua contenção, não vai adiantar nada, porque as florestas não vão ter capacidade de transformar todo o CO2 que se produz no mundo - explicou a pesquisadora.

Na opinião de Telma Krugger, é imprescindível que seja reduzido o uso intensivo de combustíveis fósseis. Ela defende a busca de uma eficiência maior na utilização desse tipo de combustível, de maneira a reduzir seu volume, e a substituição por fontes alternativas renováveis.

Para a pesquisadora do INPE, é importante que se consiga o firme engajamento de todos os países na mitigação da mudança do clima. A seu ver, cada um, de forma diferenciada, deve apresentar sua contribuição, de maneira que nenhum fique isento.

- É claro que a liderança desse processo deve ser daqueles que mais contribuíram para esse fenômeno estar acontecendo, que são os países desenvolvidos - defendeu Telma Krugger. - Mas isso não significa a isenção de uma participação dos países que estão em estágio de desenvolvimento.

A especialista lembrou que os países em desenvolvimento têm grande potencial de redução de suas emissões de dióxido de carbono, que poderiam ser incentivadas a partir da contribuição promovida pelos países desenvolvidos. A seu ver, isso poderia dar-se na foram de financiamentos, ou na de compartilhamento de tecnologia, ou, ainda, na forma de capacitação de pessoal. Isso permitiria que os países menos desenvolvidos pudessem vir a ter um desenvolvimento diferenciado daqueles que estão hoje em estágio mais avançado de desenvolvimento.

A audiência destinada a ouvir o depoimento da pesquisadora Telma Krugger foi a primeira de uma série que está sendo promovida pela Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas, presidida pela senadora Ideli Salvatti. Para esse encontro, estava prevista ainda a participação do pesquisador Carlos Afonso Nobre, também do INPE, que não pôde comparecer. A próxima audiência da CMMC para discutir a situação do Brasil diante das mudanças climáticas está marcada para o dia 5 de maio. A princípio, está sendo esperada a presença do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. O coordenador-geral do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Luiz Pingueli Rosa, também estava convidado para o encontro mas não poderá comparecer. Nos próximos dias, a comissão poderá decidir uma mudança na pauta com a substituição dos depoentes.



28/04/2009

Agência Senado


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