Petrobras aumenta preço da gasolina
Petrobras aumenta preço da gasolina
Valor do litro subirá 7,5% na segunda-feira para os consumidores. Aumento na refinaria vigora sábado e é de 9,39%. Reajuste se deve à alta do valor do petróleo
A Petrobras anunciou ontem o segundo aumento no preço da gasolina em menos de um mês. O novo reajuste, de 9,39%, passará a vigorar nas refinarias a partir do próximo sábado e tem como finalidade evitar que a empresa termine o ano com lucro reduzido, porque está comprando petróleo no mercado internacional a um preço maior do que no final de fevereiro.
Esse novo aumento é maior que o primeiro, de 2,2%, que passou a vigorar a partir do dia 1º de março. No bolso do consumidor, o aumento atual vai representar um gasto a mais de 7,5% por litro de gasolina a partir da próxima semana. No primeiro reajuste, o impacto no orçamento do consumidor variou de 1,5% a 2%.
A companhia justificou o aumento recordando que na última segunda-feira as cotações da gasolina fecharam nos níveis mais altos em cinco meses, acumulando, em 13 dias, aumentos de 22% a 32% nos principais mercados do mundo. O preço da cesta de petróleo da Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep) subiu para US$ 22,44, voltando à faixa dos US$ 22 a US$ 28 dólares por barril pela primeira vez desde setembro do ano passado, quando os Estados Unidos sofreram um atentado terrorista. A partir de 1º de janeiro deste ano, os preços da gasolina começaram a variar em função do mercado. Nos últimos dias, esse mercado balançou com os conflitos no Oriente Médio entre Palestina e Israel, e com a ameaça de ataque norte-americano ao Iraque, um dos maiores produtores de petróleo do mundo.
O resultado da crise é o reajuste. Mesmo assim, o governo garante que o preço médio da gasolina nas refinarias permanecerá ainda inferior em 15% ao de dezembro de 2001, mês em que a Petrobras anunciou a queda de até 25%. Segundo o ministro interino de Minas e Energia, Pedro Parente, a estatal está reagindo ao aumento de preço no mercado internacional e que, se o governo fosse usar mecanismos para frear o aumento, como absorvê-lo, estaria impondo prejuízo à Petrobras e aos milhares de acionistas. Parente também disse que o presidente Fernando Henrique Cardoso tem sido informado sobre o aumento.
Efeito na inflação
Segundo os analistas econômicos, esta nova alta deverá provocar um aumento da inflação em março. De acordo com a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, o impacto do reajuste da gasolina será de 0,3 ponto percentual no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para os técnicos do ministérios, o reajuste uniforme, nas bombas, será de 80% do reajuste praticado nas refinarias (9,39%). Juntando o reajuste anunciado ontem ao aumento concedido em 1º de março, de 2,2%, o impacto na inflação subirá para 0,35 ponto percentual, segundo a assessoria da Casa Civil da Presidência da República.
Caso os preços demorem a entrar em equilíbrio nas bombas, o governo poderá apelar para que a BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, mantenha os preços no nível esperado, o que pode funcionar para influenciar os concorrentes. Essa estratégia já foi usada várias vezes, inclusive em janeiro, quando os preços dos combustíveis não caíram os 20% anunciados pelo presidente.
Latasa inicia obras no DF
A indústria de alumínio Latasa, líder na comercialização de latas para refrigerantes e cervejas no país, lançou ontem a pedra fundamental da nova fábrica no Distrito Federal. A nova indústria deve entrar em operação no dia 1º de outubro deste ano, produzindo 750 milhões de latas por ano. A empresa atenderá a demanda regional, com as empresas Coca-Cola e Ambev, que consomem cerca de 600 milhões de latas/ano. Para se instalar no Pólo JK, a Latasa investirá R$ 66 milhões, abrirá 113 empregos diretos e mais de 10 mil empregos indiretos. A Latasa foi criada há 12 anos na cidade de Pouso Alegre (MG), hoje tem seis fábricas no país e atua ainda na Argentina, Chile e China.
Lufthansa tem forte prejuízo
A companhia aérea alemã Deutsche Lufthansa amargou prejuízo maior do que o esperado em 2001 devido aos atentados terroristas de 11 de setembro. A segunda maior companhia da Europa teve perdas de 591 milhões de euros (US$ 517 milhões), contra o lucro líquido de 689 milhões de euros obtido em 2000. Analistas do setor esperavam, em média, prejuízo de 374 milhões de euros.
Sem ajuda, produção argentina cai muito
FMI prevê que economia argentina sofrerá queda de até 8%. Mas não está preocupado, pois evita ser uma instituição de cooperação internacional
A América Latina começa a pagar caro pelo que o presidente Fernando Henrique tem chamado de ‘‘congelamento das possibilidades de financiamento do desenvolvi-mento’’ de seus países. Esse preço será sentido imediatamente pela Argentina, que enfrenta sérios problemas econômicos, sem qualquer ajuda do Fundo Monetário Internacional. O FMI e os bancos Mundial (Bird) e Interamericano de Desenvolvimento (BID) poderiam estar ajudando a promover a evolução da região de maneira mais consistente segundo o presidente do Peru, Alejandro Toledo.
O diretor para o Hemisfério Ocidental do FMI, Claudio Loser, disse em Fortaleza que a produção argentina pode cair mais do que 5% este ano, e não descartou que alcance os 8%, o que considera um consenso no mercado financeiro. A produção argentina, segundo especialistas, cairia de qualquer forma este ano, porque o país passa por séria crise econômica. Mas parte da queda deve-se à falta de socorro do FMI a um país que seguiu a receita desse organismo para tentar recuperar suas finanças, tanto que privatizou todas as empresas estatais, restando apenas o Banco La Nacion — o Banco do Brasil argentino.
Fernando Henrique, sem citar a Argentina diretamente, criticou a postura do FMI em relação a situações como essa na abertura da 43ªReunião Anual da Assembléia de Governadores do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), na segunda-feira em Fortaleza. Para ele, o FMI, por meio de manobras contábeis, evita aumentar a ajuda destinada a países em desenvolvimento. O Brasil tem cobrado respostas do FMI sobre esse problema. ‘‘Até hoje, as respostas dadas foram como se alguns de nós fôssemos analfabetos. Não somos’’. Por isso, pediu aos dirigentes do Fundo, presentes à reunião do BID que ‘‘não nos enganem’’. Loser disse que não entendeu a primeira parte da crítica de Fernando Henrique (sobre as manobras contábeis), mas rebateu a questão argentina. ‘‘O FMI não faz um trabalho de cooperação internacional, mas trabalho técni-co’’, disse para justificar a ausência de ajuda à Argentina.
O presidente da Argentina, Eduardo Duhalde, afirmou ontem que ‘‘a Argentina sairá da crise com ou sem o FMI, mas não contra o Fundo’’, em declarações à imprensa, horas antes de receber o chefe da missão da instituição, o indiano Anoop Singh. Duhalde acredita que ‘‘em aproximadamente um mês’’ a Argentina vai obter uma resposta dos organismos internacionais de crédito, ‘‘dos quais receberá uma ajuda importante’’.
‘‘Há uma boa chance de nos darem uma ajuda importante que permita ao setor produtivo argentino refinanciar as exportações, e para toda a questão social o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) tem previstos empréstimos que estão sujeitos ao acordo global com o FMI’’, disse Duhalde. Isso significa que a verba do BID só é liberada se houver um acordo entre Argentina e FMI. O presidente classificou de ‘‘um absurdo total’’ a possibilidade de seu governo empreender uma ‘‘mudança nacionalista’’
Banco Mundial dá razão a FHC
US$ 12,5 bilhões é quanto o BID está pedindo aos países ricos para financiar o desenvolvimento de outras nações
O Banco Mundial deu razão às críticas que o presidente Fernando Henrique Cardoso tem feito nos últimos meses sobre o papel das nações industrializadas na criação de dificuldades para a evolução dos países em desenvolvimento. A instituição revelou que tem pedido a países ricos que impulsionem o financiamento da Associação Internacional de Desenvolvimento (IDA) em US$ 12,5 bilhões este ano, mas isso tem sido adiado devido à disputa entre o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e líderes europeus sobre a forma que a ajuda deve tomar.
O relatório no qual o Banco Mundial mostra esse problema foi divulgado ontem, menos de uma semana após seu presidente, James Wolfensohn, ter recriminado os países ricos para que sua escassa ajuda fosse dobrada. Os Estados Unidos, que são os maiores acionistas do banco, acreditam que a instituição precisa garantir que os recursos estejam sendo usados eficientemente antes de proporcionar aumento de capital.
O Secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Paul O’Neill, que tem sido um grande crítico do banco, tem dito que o dinheiro que os norte-americanos pagam em impostos não deve ser usado para projetos que não funcionam. ‘‘O verdadeiro problema é que nós não podemos ficar satisfeitos com os resultados da ajuda ao desenvolvimento dos últimos 40 anos. Nós precisamos garantir que os recursos são usados para melhores resultados’’, disse o porta-voz do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Tony Fratto, na semana passada.
‘‘Nós precisamos aprender com nossos fracassos, assim como entender as causas do sucesso’’, disse o banco no relatório. ‘‘Como ajudas recipientes, que têm freqüentemente seguido políticas fracas ou permitido que instituições deteriorem-se, doadores também cometeram erros que reduziram a velocidade do desenvolvimento. Muitos países em transição na Europa Oriental e na Ásia Central sofreram graves declínios nos padrões de vida e grandes aumentos nos níveis de pobreza durante os anos 90’’, avalia o relatório do banco.
A instituição disse ainda que logo após o período do fim da Segunda Guerra Mundial a alocação de ajuda foi dirigida por objetivos políticos, que focavam muito em projetos isolados e muito dinheiro foi dado a governos que não estavam de fato comprometidos com as reformas.
FGTS pode ser usado em consórcio
O Conselho Curador do FGTS aprovou ontem o uso dos recursos do fundo na compra de imóveis adquiridos por consórcio. O dinheiro do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) só pode ser utilizado para a compra de imóveis no valor de até R$ 300 mil. Segundo o diretor de Transferência de Benefícios da Caixa, José Renato de Lima, os participantes de consórcios poderão usar o saldo de suas contas de FGTS para dar lances. Também será regulamentado o uso para a complementação do valor da carta de crédito. Ou seja, se a carta de crédito é de R$ 80 mil, mas o participante tem R$ 20 mil no FGTS, esse complemento também poderá ser utilizado na compra do imóvel (casa ou apartamento).
Artigos
O impensável
Ao deixar claro, como o Pentágono o faz pela primeira vez, que as armas atômicas podem ser empregadas contra quem quer que seja, revoga-se o Tratado de Não-Proliferação Nuclear
Mauro Santayana
‘‘Armies make plans’’ é a constatação de John Keegan, em seu livro sobre a Primeira Guerra Mundial (The First World War, Londres, 1998), ao identificar no Plano Schlieffen, do marechal Alfred von Schlieffen, chefe do Estado-Maior da Alemanha no fim do século 19, uma das causas daquele conflito. Todos os exércitos, desde Alexandre, fazem planos. E é da lógica da vida que os planos contenham em si mesmos a dinâmica da execução.
‘‘Armies make plans’’: o Pentágono está retornando aos seus planos de emprego de armas atômicas táticas contra países nuclearmente desarmados, conforme artigo de Doyle McManus, no Los Angeles Times de ontem. Ou, de acordo com Michael Gordon (New York Times, edição de segunda-feira), ‘‘está fazendo pensável o impensável’’, isto é, acabando com a distinção entre as armas nucleares e as armas convencionais. Volta-se a admitir (como se admitiu contra o Vietnã e o Iraque) o emprego de armas nucleares de alcance e efeito limitados contra qualquer ‘‘inimigo’’. Dessa forma, supera-se a doutrina dos governos democratas (já desprezada pelo primeiro Bush), que só admitia o uso das armas nucleares como defesa contra armas semelhantes. Entre os supostos alvos dos ataques com essas armas encontram-se Iraque, Irã, Síria, Líbia e Coréia do Norte.
O desenvolvimento e emprego das armas atômicas talvez seja o episódio mais tenebroso da civilização ocidental. Os cientistas (quase todos estrangeiros) que desenvolveram o projeto para os Estados Unidos tinham a justificação ética da legítima defesa da humanidade porque os nazistas desenvolviam armas idênticas. Mas o emprego da bomba contra um país já derrotado, como foi o caso do Japão em 6 de agosto de 1945, é visto como crime que maculou para sempre a história dos Estados Unidos. Em um só golpe, único em sua dimensão na história, foram mortas ou feridas 130 mil pessoas e 170 mil perderam suas casas, em uma população de 343 mil. O alvo do bombardeiro ‘‘Enola Gay’’ não era exatamente a cidade de Hiroxima, mas o Kremlin: Truman usou a bomba a fim de advertir a União Soviética de seu poder e tentar impor — já em 1945 — a hegemonia imperial sobre o mundo. A resposta de Stalin foi montar o próprio arsenal atômico.
Segundo documento do Pentágono (Nuclear Posture Review), o novo elemento de ataque (armas nucleares táticas) virá compor a tríade de seu arsenal, juntamente com as armas convencionais e as armas nucleares de grande potência.
Robert Norris, especialista no assunto, adverte que, ‘‘destacando a importância das armas nucleares, o Pentágono encoraja outros a pensar que também para eles é importante tê-las’’. Passa a ser aceitável que os países ameaçados procurem desenvolver suas armas atômicas, sob o mesmo argumento que levou Niels Bohr a procurar os colegas norte-americanos em 1939, a fim de os incitar a avançar nas pesquisas, antes que Otto Hann e Fritz Strassmann obtivessem o segredo para Hitler.
Se durante muito tempo o segredo atômico foi compartilhado apenas pelas duas superpotências, hoje é possível montar as armas praticamente em qualquer lugar do mundo. Os países que renunciaram a fabricá-las fizeram-no sob a garantia internacional de que, não as tendo, delas não seriam alvo em caso de um conflito bélico. Ao deixar claro, como o Pentágono o faz pela primeira vez, que as armas atômicas podem ser empregadas contra quem quer que seja, revoga-se o Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Todos os países se sentem diretamente ameaçados e podem sentir-se empurrados a obter e a eventualmente empregar tais armas. Esse é um dado que não podemos, os brasileiros, desprezar.
Isso é particularmente provável no Oriente Médio, que assiste ao massacre do povo palestino na guerra de genocídio iniciada há 54 anos. Estimulado pela reação norte-americana aos ataques terroristas, Israel parece disposto a acelerar o extermínio dos palestinos, conforme as operações dos últimos dias. De povos desesperados e humilhados tudo se pode esperar.
Editorial
EFEITO BIN LADEN
Não é novidade o Estado Maior americano dispor de estudos sobre a hipótese do uso de artefatos nucleares. Durante o período da Guerra Fria, vários planos tornaram-se conhecidos. E, dependendo da situação, sofriam atualização permanente. Vale lembrar o caso da crise dos mísseis de Cuba. Na ocasião, o mundo chegou à beira do cataclis mo nuclear.
Superada a bipolarização mundial, Washington não desativou os projetos estratégicos. E, certamente, com o atentado ao World Trade Center, adequou-os à nova situação de antagonismo que se configurou.
Não surpreende, pois, a existência do relatório do Departamento de Estado americano que vazou para a imprensa no fim de semana. Nele consta que os Estados Unidos estão dispostos a usar armas nucleares no combate ao terror sempre que se sentirem ameaçados por esse tipo de artefato. China, Rússia, Irã, Iraque, Síria e Líbia seriam possíveis alvos.
Se não surpreende, o documento preocupa. Não tanto pelo teor. Mas, sobretudo, por estar em mãos de George W. Bush. O presidente americano é homem belicoso. A guerra lhe proporcionou grandes dividendos políticos. Legitimou-lhe o poder. Dá-lhe popularidade. Contribui para a recuperação da economia do país. O investimento na indústria bélica beira US$ 1 bilhão por dia.
A reação ao relatório não tardou. China, Irã e Rússia revelaram surpresa e indignação. O secretário de Estado, Colin Powell, apressou-se em explicar que os planos vazados são de contingência. Tratam de questões conceituais. Não seriam de uso imediato. O país só apelaria para o recurso extremo se necessário.
Em suma: não é inverossímil a hipótese da guerra nuclear localizada, onde seriam utilizadas ogivas de menor capacidade. A evolução da luta antiterror introduziu o conceito de bomba atômica de pequena escala. Apesar do nome, a arma tem inaudito poder destrutivo. Sua eficácia pode ultrapassar a das bombas jogadas em Hiroshima e Nagasaki. A primeira vítima pode ser o Iraque. O ataque, se se concretizar, deverá ocorrer em novembro. Nesse mês, haverá eleições parlamentares nos Estados Unidos.
O mundo sente-se inseguro. Está diante da mais formidável máquina bélica do planeta, comandada por grupo que venera a guerra. O enorme poder americano corre risco de se tornar arbitrário nas mãos de um governo que não respeita acordos, se norteia pela força militar e acredita em opções nucleares. Pior: governo que precisa da guerra para manter a popularidade. É um dos efeitos Bin Laden.
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03/13/2002
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