PF investiga denúncia de extorsão ligada à Saúde







PF investiga denúncia de extorsão ligada à Saúde
O ministro da Saúde, José Serra, pediu ao Ministério Público que investigasse denúncias de extorsão e tráfico de influência que poderiam dar munição a adversários de uma provável candidatura ao Palácio do Planalto.
A Polícia Federal abriu inquérito para investigar as denúncias, que envolvem o maior escritório de lobby de Brasília, o APS Consultores & Associados, o secretário de Assistência à Saúde, Renilson Rehen, e dois outros assessores do ministério.

Uma assessora do ministro teria sido procurada pelo lobista Alexandre Paes dos Santos com informação de que Rehen e outro assessor teriam cobrado do representante de um laboratório farmacêutico contribuições para a campanha presidencial de Serra.
Santos apresentou o que seriam diálogos gravados durante um jantar em restaurante de Brasília.
O lobista teria comentado com a assessora que Rehen estaria dificultando a tramitação burocrática para a entrada no mercado do Glivec (medicamento para o tratamento de leucemia mielóide crônica), do laboratório Novartis.

O Ministério da Saúde avalia que o lobista usou o nome de Serra para garantir um bom negócio ao Novartis. "Foi uma maneira de tentar intimidar a ação do ministério, que tem sido dura com a indústria farmacêutica", disse Rehen. "Se o ministro tivesse rabo preso, não iria fazer nada e ficaria como refém dessa história."
Em setembro, Serra fechou um contrato com o Novartis para a compra do Glivec. O ministério vai investir US$ 8,2 milhões por ano na aquisição do produto. Sairia quase 40% mais caro. O preço foi reduzido de US$ 2.400 para US$ 1.620 por paciente/mês depois de negociações. O inquérito para investigar o caso foi proposto pelo Grupo de Acompanhamento e Responsabilização do Ministério Público, que trabalha em conjunto com o ministério.

O procurador Marcelo Serra Azul chegou a pedir a prisão do lobista. A Justiça negou, mas autorizou uma operação de busca e apreensão, da qual surgiu a principal referência da investigação: a agenda do lobista. Nela, há registros da tramitação referente ao Glivec até a entrada no mercado.
Esse é tido como um indício de que o lobista tem um informante no ministério. Também foram apreendidas 19 fitas cassetes. Não foi encontrada a gravação que comprometeria os assessores de Serra. Na apreensão, o lobista disse a eles que a fita não existia e que ele apenas comentara com a assessora de Serra ter ouvido as histórias sobre a tentativa de arrecadar dinheiro para a campanha.


Lobista teria ouvido "comentários" sobre cobrança de pedágio
O lobista Alexandre Paes dos Santos, diretor-presidente da APS, disse que, em viagens a São Paulo, ouviu comentários de que funcionários estariam cobrando pedágio para liberar autorização de medicamentos.
Santos afirma ter repassado o conteúdo dos comentários à jornalista Alba Chacon, que presta serviços ao Ministério da Saúde. De acordo com ele, Alba levou o caso ao conhecimento do ministro José Serra, sem fazer as ponderações de que se tratava de comentários.

Santos também negou a existência de gravações que comprovariam o envolvimento dos assessores.
O diretor médico e de relações externas do Novartis no Brasil, Branderley Claudio, afirmou que a APS prestava consultoria ao laboratório, mas que o contrato foi rescindido dia 2 de outubro. A rescisão, no entanto, não se deveu, ainda de acordo com o diretor, ao inquérito aberto na Polícia Federal.


Dossiê apócrifo expõe disputa eleitoral
Um dossiê apócrifo distribuído por aliados do presidente Fernando Henrique Cardoso contra alguns políticos ligados ao próprio governo e atacando possíveis oposicionistas foi o primeiro sinal de como pode evoluir a campanha presidencial do ano que vem.

No documento há acusações de oferta de canal de TV, tráfico de influência de empresários para que políticos não mudem de partido, ministério em troca de apoio e citações da vida particular de um senador.
O dossiê seria uma relação de ações que foram, estão sendo ou seriam praticadas a mando do ministro da Saúde, José Serra. O ministro estaria aplainando o terreno para sua eventual candidatura a presidente da República, e, para isso, necessitaria tirar do seu caminho alguns adversários.

O principal colaborador de Serra seria Andrea Matarazzo, o ministro da Secretaria de Comunicação Social do presidente Fernando Henrique Cardoso.
O dossiê apócrifo são duas folhas de papel, sem timbre, com um texto datilografado dividido em 13 itens. Embora algumas de suas afirmações contenham verossimilhança, o que consta do papel é de difícil comprovação. Todas as personagens citadas que a Folha conseguiu localizar, inclusive os ministros Serra e Matarazzo, negam os fatos ali descritos (leia texto abaixo).

A divulgação se deu no final da tarde de anteontem. Partiu de duas pessoas aliadas de FHC: o ministro do Trabalho, Francisco Dornelles, e o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho. O "Jornal do Brasil" publicou reportagem ontem sob o título "Paulinho denuncia complô pró-Serra".
"Nós tínhamos isso desde a quarta-feira à noite [10 de outubro". O ministro Dornelles não estava querendo divulgar, mas depois concordou, pois estavam aparecendo evidências que demonstravam que as informações eram corretas", diz Paulinho.

Uma das "evidências" seria a decisão do governo de apoiar a instalação da CPI do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). O FAT é uma das maiores fontes de renda de sindicatos e centrais sindicais, inclusive a Força Sindical.
O ministro do Trabalho estava ontem no Canadá. Sua assessoria afirmou que ele realmente conhecia o dossiê e teria tratado de informar Serra e Matarazzo a respeito. Sobre a decisão de divulgar os papéis, a assessoria de Dornelles disse que não teria conseguido localizá-lo até o final do dia.

Processo contra Medeiros
Paulinho é aliado de Luiz Antonio de Medeiros, deputado federal do PL-SP e ex-presidente da Força Sindical. Medeiros está sendo acusado de ter desviado dinheiro da Força Sindical para uma conta que teria no exterior.
"Essa acusação contra o Medeiros faz parte do processo. O Serra deseja inviabilizar a aliança do PL com o PT. Com o Medeiros enfraquecido o PT ficaria constrangido de se aliar ao PL", diz Paulinho. Esse é um dos itens do material divulgado pelo sindicalista.

Uma primeira versão do dossiê, segundo Paulinho, teria sido entregue a ele por uma pessoa da agência DM9DDB, que tem parte da conta publicitária do Ministério da Saúde. O sindicalista não revela a identidade desse suposto informante. "É alguém que foi contatado para participar do esquema do Serra. Teria de ajudar a executar essas ações, mas não topou. Eu pedi e ele fez um relatório do que tinha ouvido", diz. A versão definitiva do material teria chegado a Paulinho anteontem.

Esse suposto funcionário da DM9DDB seria um publicitário. O texto contém erros de português grosseiros. Há também imprecisões factuais. O ex-governador do Rio Grande do Sul Antonio Britto é citado como funcionário da Brasil Telecom. Na realidade, ele é conselheiro da Telemig Celular e da Tele Norte Celular.
Chama a atenção também no relatório que todas as personagens são citadas de forma depreciativa ou, no máximo, neutra. Há apenas uma exceção: Paulinho. "É sério, tem voto e boa imagem", diz o dossiê sobre o sindicalista. Segundo ele, o redator do texto é seu amigo.

Telefonema de FHC
Ontem pela manhã, Paulinho recebeu um telefonema de FHC. O presidente respondia a um telefonema do sindicalista do dia anterior. "Eu tinha ligado para ele para contar que iria divulgar o dossiê", afirma o sindicalista.
Segundo a assessoria de FHC, o presidente telefonou e disse considerar o conteúdo do mate rial "uma infâmia". Paulinho fez um relato mais prolixo da conversa.

"Ele disse que demitiria qualquer pessoa do governo se ficasse provado o envolvimento na montagem dessa operação. Eu respondi que estava igual aos Estados Unidos com o Bin Laden: sei que foi ele [Serra], mas não tenho provas", disse Paulinho no final do dia ontem à Folha, a partir de um telefone no Rio Grande do Sul.
Segundo Paulinho, o presidente também teria feito um apelo. "Ele disse: "Vamos parar com isso. Não leva a nada um ficar acusando o outro". Eu respondi que tinha certeza sobre a responsabilidade do Serra no episódio".


Personagens citados negam envolvimento
Todas as personagens citadas no dossiê apócrifo divulgado por Paulinho e pelo ministro Francisco Dornelles (Trabalho) negaram à Folha as informações contidas no material.
O porta-voz do presidente Fernando Henrique Cardoso, George Lamazière, divulgou a seguinte nota: "Foi o dirigente da Força Sindical quem ligou para o presidente, alegando haver envolvimento de pessoas do governo nas denúncias relacionadas ao deputado Luiz Antônio de Medeiros. O presidente respondeu que essas alegações não eram verdadeiras. Que havia conversado com as pessoas citadas -Aloysio Nunes Ferreira, José Serra e Andrea Matarazzo- e que essas alegações não passavam de infâmias. Por estar plenamente seguro da inverdade das alegações, o presidente acrescentou que, se fossem apresentadas provas das alegações, demitiria qualquer envolvido".

O ministro da Saúde, José Serra, classificou como "palhaçada" a acusação de que estaria tramando ações contra adversários e chamou os responsáveis pelo documento de "gângsteres".
Para o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Andrea Matarazzo, trata-se de "uma alucinação". O material seria "uma obra de ficção de péssimo gosto".
O presidente da agência DM9DDB, Afonso Serra, classificou de "absurda" a insinuação de que funcionários seus integrariam um esquema pró-Serra. "Espanta-me citarem um papel sem timbre, que ninguém viu", disse.

A agência tem a conta do Ministério da Saúde há quatro anos. "Participamos de concorrência pública, aberta, transparente, publicada em "Diário Oficial". Somos uma empresa privada prestando um serviço, como fazemos com outros órgãos, como Sebrae e Aneel", declarou.
Segundo ele, não há a menor relação "direta ou indireta" com estratégias políticas do ministro da Saúde. "Quem está lançando estas afirmações está mal assessorado. Agora, se continuarem com isso, serei obrigado a tomar providências e processar os responsáveis", afirmou Afonso Serra.


Serra tem de se "movimentar", diz Aécio
Depois de almoçar com o governador e presidenciável Tasso Jereissati (PSDB-CE), ontem em Brasília, o presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), disse que o ministro e presidenciável José Serra (Saúde) também tem de se reunir com os aliados para viabilizar sua candidatura.
"Ele [Serra" tem de se movimentar, assim como os outros postulantes", disse Aécio, referindo-se a reuniões políticas das quais Tasso participou em Brasília nos últimos dois dias.
Tasso almoçou anteontem com os governadores Roseana Sarney (PFL-MA) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), eventuais candidatos à sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso.

Articulação
Segundo Aécio, o ministro "achou natural" a articulação de Tasso, Roseana e Vasconcelos. Eles selaram um pacto de não disputar o Palácio do Planalto em 2002 um contra o outro. Serra não teria gostado da articulação dos três governadores.
"Ele tem de compreender como um processo natural", afirmou Aécio, aliado do ministro da Saúde. Serra apoiou a candidatura de Aécio a presidente da Câmara, quando outros ministros tucanos -especialmente Aloysio Nunes Ferreira (Secretaria Geral) e Pimenta da Veiga (Comunicações)- trabalhavam contra.
Para o presidente da Câmara, a movimentação política do governador cearense é "lícita".

Movimentação lícita
"O Tasso se posicionou de forma adequada. Ele é um dos nomes [para disputar a Presidência], mas o partido tem outros. O Tasso explicitou mais sua legítima postulação", afirmou.
Aécio citou como outros potenciais candidatos à sucessão de FHC os ministros Paulo Renato (Educação) e Pimenta da Veiga. O próprio Aécio é apontado por congressistas tucanos como eventual candidato ao Planalto.
O presidente da Câmara defende que, até o início do próximo ano, o PSDB defina o candidato tucano que disputará a Presidência da República.
"No final do processo, o PSDB estará unido", disse Aécio, que trabalha para amenizar os atritos entre os presidenciáveis tucanos.
Segundo o presidente da Câmara, os demais partidos da aliança governista -PFL, PMDB, PPB e até PTB, que tem acordo com Ciro Gomes- deveriam participar das articulações em torno da sucessão de FHC para integrar a chapa governista.
"Nas próximas eleições não poderemos desprezar a estrutura partidária", disse Aécio.


Quero ver o homem que defenderá o governo FHC em 2002", diz Itamar
Sem citar nomes nem partidos, o governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), atacou ontem a hipótese de seu partido apoiar no ano que vem um candidato governista à sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso, seu desafeto político.

Em discurso feito durante a inauguração de etapa de obras de tratamento de esgoto em Belo Horizonte, o ex-presidente disse duvidar que alguém vá defender em palanques, no ano que vem, o atual governo.
"Gostaríamos de ver qual vai ser o homem que, nas praças públicas, no ano que vem, vai defender esse governo que aí está (...) queremos ver quais serão os homens ou as mulheres que terão coragem de dizer que esse governo deve continuar esmagando a população, trazendo desemprego, miséria e esquecendo que esta é uma pátria e que temos que honrar cada vez mais a nossa nacionalidade", disse Itamar.

As declarações foram feitas um dia após a reunião feita em Brasília entre os governadores e presidenciáveis Tasso Jereissati (PSDB-CE), Roseana Sarney (PFL-MA) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), quando foram tratadas, entre outras coisas, as possibilidades de manutenção da atual base de sustentação do governo nas eleições do ano que vem.
Itamar é favorável à saída do PMDB da base de governo e é candidato declarado nas prévias eleitorais do partido que serão realizadas em janeiro e que, em tese, definirão o candidato peemedebista à Presidência.
Jarbas Vasconcelos é do grupo governista do PMDB, ala que controla nacionalmente o partido e trabalha para que a legenda apóie o candidato governista.
Após a solenidade de inauguração das obras, o governador não quis dar entrevistas.


Corregedor vai ouvir assessor de Medeiros na terça
O corregedor da Câmara, Barbosa Neto (PMDB-GO), marcou para a próxima terça-feira o depoimento de Wagner Cinchetto, ex-assessor do deputado Luiz Antônio de Medeiros (PL-SP), na investigação que apura acusações contra o deputado.
Barbosa Neto também convidou o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, para depor, mas sem data acertada.
No depoimento que prestou à corregedoria, no dia 11, Medeiros disse que "usou", quando ainda era sindicalista, o prestígio político do presidente Fernando Henrique Cardoso, então senador, para ajudar a criar a Força Sindical.

Medeiros é acusado de desviar dinheiro do Ibes (Instituto Brasileiro de Estudos Sindicais) -entidade que deu respaldo à criação da Força Sindical e que foi presidida por ele durante um ano e dois meses- para conta no Commercial Bank de Nova York. A acusação foi feita por Cinchetto.
Ao depor, Medeiros citou o nome de FHC por três vezes -o depoimento durou 45 minutos. Para negar uso do dinheiro do Ibes para custear viagem de lazer à Europa, Medeiros afirmou: "Na época dessa viagem, eu tive encontros com várias perso nalidades francesas, ajudado inclusive, e não quero meter o presidente nisso, pelo Fernando Henrique".

O corregedor quis saber então qual teria sido a ajuda de FHC. "Não vamos meter o nome dele no meio, pelo amor de Deus. Ele me ajudou a abrir contatos com o Partido Socialista Francês. Eu queria chegar aos sindicatos franceses e, para isso, era preciso chegar primeiro no [sic" partido, e o Fernando Henrique conhecia o partido. Deu certo minha estratégia. Mas não tem nada, ele nem sabe disso, não tem nenhum envolvimento. Pelo amor de Deus!"
No início do depoimento, Medeiros dissera que precisou viajar para fazer contatos com sindicatos no exterior. Afirmara que buscava reconhecimento da Força Sindical por entidade das Nações Unidas ligada às centrais.
"Com os sindicatos franceses, o Fernando Henrique até me ajudou a ter essa conversa, que era para dar legitimidade", disse.
O deputado negou que tenha desviado dinheiro do Ibes, que tenha conta no exterior e ressaltou que as acusações eram antigas. Segundo Medeiros, o Supremo não quebrou seus sigilos por não ver nada contra ele.


Procuradoria investiga se Maluf transferiu dinheiro
O promotor Sílvio Marques, do Ministério Público de São Paulo, apura a possibilidade de o dinheiro depositado em contas cujos beneficiários são o ex-prefeito Paulo Maluf e seus familiares tenha sido transferido do Citibank para o Deutsche Morgan Grenfell, na ilha de Jersey.
A família Maluf tem negado a posse ou a condição de beneficiária de contas no exterior. O governo da Suíça, entretanto, confirmou às autoridades brasileiras a abertura das contas na agência do Citibank em Genebra, em 1985. O dinheiro foi transferido para o Citibank de Jersey em 1997.
A origem do dinheiro está sendo investigada pelo Ministério Público Federal. A Procuradoria da República suspeita que haja relação entre o dinheiro remetido para o exterior e as irregularidades na emissão de LFTM (Letras Financeiras do Tesouro Municipal) para o pagamento de precatórios, na gestão Maluf (93-96).
Maluf, Pitta e o ex-coordenador da Dívida Pública do Município Wagner Ramos são réus numa ação da Justiça Federal por falsidade ideológica, acusados de mandar informações falsas ao Senado e ao Banco Central, que autorizaram a emissão de títulos em valor superior ao dos precatórios. Pitta era secretário de Finanças na gestão Maluf.
Maluf, Pitta e Ramos alegam em sua defesa justamente o endosso da operação dado pelo BC e pelos senadores. Na mesma ação, o ex-prefeito é acusado de crime de responsabilidade. No Ministério Público Estadual, a suspeita é de que o dinheiro depositado no exterior seja fruto do superfaturamento de obras viárias realizadas na gestão do ex-prefeito. O ex-prefeito nega as irregularidades.

Depoimentos
Ontem, a ex-primeira-dama Sylvia Maluf e a filha mais velha do casal Maluf, Lígia, depuseram na Promotoria paulista no inquérito que apura a existência das contas no exterior. As duas limitaram-se a responder às perguntas do promotor Marques com "nada a declarar".
Elas repetiram a estratégia da defesa, adotada na última segunda-feira por Lina, Otávio e Jacqueline Maluf. A família cala-se para não correr o risco de produzir provas contra si. Esse direito é constitucional. Maluf e o filho Flávio, presidente da Eucatex S/A, vão depor no próximo dia 22.


Pepebista diz que Sylvia é uma "santa avó"
Em nota, Paulo Maluf chamou de "puro terrorismo nazista" a intimação para que sua mulher, Sylvia, deponha. Leia a seguir a íntegra do texto:
"A intimação do promotor Sílvio Marques para que minha dedicada e virtuosa esposa, Sylvia Maluf, compareça hoje para depor é mais um ato de arbitrariedade e terrorismo, que tem por fim apenas perseguir a minha família.

Principalmente meus netos, crianças inocentes, que nas escolas são importunados com perguntas constrangedoras.
Sylvia Maluf sempre foi mulher dedicada ao lar e às obras sociais. Empenhou-se na educação dos filhos com extremo carinho e profunda determinação. Além de mãe extremada, é avó de 13 netos, os quais também se dedica a ajudar a criar com as mesmas virtudes. Nunca se envolveu em política durante todos esses anos em que estou na vida pública.

O promotor Sílvio Marques insiste, no entanto, em aparecer perante as câmeras de televisão. Mesmo que para isso tenha de envolver uma santa avó. Com a agravante de que o próprio promotor que a intima já admitiu, em entrevista na última segunda-feira (15/10), que faltam provas que liguem a minha pessoa a contas secretas no exterior.
Por estar em primeiro lugar nas pesquisas, eu entendo essa perseguição contra mim. Perseguição contra minha família continua sendo apenas ato de puro terrorismo nazista do tempo de Adolf Hitler, que repudio".


Ação pede que Jader devolva verba desviada
O Ministério Público do Pará protocolou ontem no Tribunal de Justiça estadual uma ação civil pública de ressarcimento, com pedido de liminar, contra o ex-senador Jader Barbalho e outros 13 para que sejam devolvidos aos cofres públicos R$ 5.574.722,09.

O dinheiro foi desviado do Banpará (Banco do Estado do Pará) por meio de 21 cheques administrativos, que foram emitidos no período de outubro de 1984 e agosto de 1985, quando Jader era governador do Pará.
A ação do Ministério Público propõe que o dinheiro seja devolvido por 14 pessoas, sendo que sete delas teriam sido beneficiadas diretamente, entre elas o ex-senador. As outras sete são ex-servidores do Banpará que teriam participado da emissão dos cheques.

Na ação, o Ministério Público pede à Justiça a indisponibilidade dos bens imóveis e a quebra dos sigilos bancário e fiscal de todos os citados.
Fernando de Castro Ribeiro, que deve assumir a vaga deixada por Jader no Senado, é o segundo nome da lista contida na ação de responsabilização solidária movida pelo Ministério Público.
De acordo com os promotores, Ribeiro "locupletou-se ilicitamente da importância de Cr$ 50 milhões, referentes a valor parcial do cheque administrativo do Banpará de número 84/110, emitido, fraudulentamente, no valor originário de Cr$ 250 milhões".

Em valores atualizados, a ação ressalta que Ribeiro se beneficiou de R$ 35.421,12.
Segundo o promotor Hamilton Nogueira Salame, que assina com outros dois promotores a ação, o Ministério chegou aos 14 nomes analisando notas técnicas e relatórios do Banco Central.
Salame disse que os R$ 5.574.722,09 a serem ressarcidos serão divididos em valores igualitários no ato da sentença.

"Na ação, a gente não pode dizer quanto cada um deve devolver ao erário público. Caberá à Justiça apontar", declarou Salame.
O promotor disse que o valor calculado até o momento só foi convertido de cruzeiro para real.
Salame ressaltou que o Tribunal de Justiça ainda vai fazer uma correção monetária, o que poderá duplicar esse valor. Na lista de pessoas citadas na ação, não consta o nome do pai de Jader, Laércio, nem o de sua ex-mulher, a deputada Elcione Barbalho.


Artigos

Os netos de Bin Laden
CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - No dia 6, jogaram amistosamente as seleções de futebol da França e da Argélia. Jovens franco-argelinos cantaram a plenos pulmões o hino nacional da Argélia, mas vaiaram a "Marselhesa".
Posto de outra forma: são franceses, sentem-se argelinos, mas, no fim das contas, não pertencem direito a nenhuma das duas sociedades.
Seus pais (na verdade, pelo tempo transcorrido, seus avós) foram para a França estimulados por uma sociedade que já não queria fazer o serviço sujo e pesado. Aceitaram o sacrifício, porque as penas eram maiores na terra natal.

Mas o convite à imigração não incluía nem inclui até hoje o direito de sentir-se um igual. Foram confinados não só a empregos modestos mas também aos "banlieu", a palavra francesa para designar periferia.
Seus netos, ao contrário dos pais e avós, não estão dispostos a se sacrificar perenemente. Querem, da sociedade da abundância da Europa, não apenas o serviço sujo e pesado mas também as benesses. É justo, mas não há abundância para todos.

Como continuam a ser, no geral, marginalizados, tornam-se ressentidos, um ressentimento que, na hipótese mais benigna, explode nas vaias eventuais à "Marselhesa".
Um problema puramente francês? Não. Há os turcos na Alemanha, outros árabes ou muçulmanos ou africanos em outros países europeus, latinos nos Estados Unidos e, até, nordestinos em São Paulo.
Servem todos, com as exceções de praxe, apenas para suar, não para gozar. Mais e mais levas continuarão buscando o suposto Eldorado, porque, se a riqueza não chega aos confins do planeta, os confins do planeta vão buscá-la onde ela estiver. É da regra do jogo.
Como o mel do Eldorado não jorra para todos, um ou outro sempre tenderá a pensar na forma Osama Bin Laden de ser como uma solução, não um problema.


Colunistas

PAINEL

Terceiro passo
Após construir uma aliança com a governadora Roseana Sarney (PFL-MA) e obter o apoio da família Covas em São Paulo, Tasso Jereissati (CE) tenta agora amarrar o apoio do PSDB de Minas Gerais à sua candidatura a presidente.

Café com leite
Preocupado com o avanço do cearense, José Serra saiu para o contra-ataque. Ontem conversou longamente com o ministro Pimenta da Veiga (MG). Nos próximos dias, deverá procurar novas lideranças mineiras.

Em cima do muro
A bancada do PSDB paulista decidiu comparecer ao evento promovido pelos Covas para alavancar a candidatura Tasso Jereissati (CE). A maioria dos deputados está fechada com Serra, mas diz que terá de comparecer ao evento para não ser descortês com Lila Covas.

Esqueceram de mim
Um dos principais defensores da candidatura Tasso Jereissati, ACM (PFL-BA) não vai ao ato preparado pela família Covas, a ser realizado na próxima segunda-feira em SP. Por um motivo simples: não foi convidado.

Artilharia pesada
Deputados serristas já ensaiam um discurso para tentar desqualificar o ato promovido pelos Covas em favor de Tasso. Dizem que o evento não tem força partidária, já que só está sendo articulado pelos filhos do governador morto em março.

Proibido para menores
Nenhum pré-candidato do PSDB à Presidência aparecerá nos comerciais de TV do partido, a serem exibidos nos dias 20 e 23. A estrela será FHC, que vai falar sobre a crise internacional.

Negociação difícil
Peemedebistas começaram a lançar uma proposta para tentar pacificar o partido em torno de Itamar Franco: o governador mineiro deveria convidar Michel Temer, presidente do PMDB para ser seu vice.

Lobista
Está identificado o articulador do projeto que cria a aposentadoria para os pensionistas do IPC. Trata-se do ex-deputado Haroldo Sanford. Ele passou pelos gabinetes de líderes colhendo assinaturas para o requerimento de urgência do projeto.

Simples mortais
A Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou proposta de emenda constitucional do ex-senador Jader Barbalho (PMDB) que reduz de três para um mês o recesso parlamentar e elimina a ajuda de custo nas convocações extraordinárias.

Longe de tudo
Enquanto a filha Roseana (PFL) anda às voltas com a construção de uma aliança governista para a sucessão de FHC, José Sarney estava em Lisboa, ontem, lançando o livro "Saraminda". Amanhã vai à Romênia.

Pedido de indenização
Luís Favre, namorado de Marta Suplicy, está processando a Folha por ter publicado um anúncio no qual era reproduzida uma coluna do jornalista Cláudio Humberto. No texto, o ex-porta-voz de Fernando Collor fazia ataques a respeito do relacionamento dos dois.

Pendência judicial
Cláudio Humberto diz não ter sido notificado sobre um eventual processo contra ele. O anúncio foi publicado em abril e o namorado de Marta acionou a Folha em julho. O jornal foi citado na semana passada.

Menos um
O PT não deverá ter o apoio do PC do B na eleição para o governo do Ceará. O deputado Inácio Arruda, que ficou em segundo na disputa pela Prefeitura de Fortaleza em 2000, deve apoiar Wellington Landin, candidato do PSB de Anthony Garotinho.

TIROTEIO

De Roberto Teixeira da Costa, vice-presidente do conselho de administração do Banco Sul América, sobre Lula (PT-SP) dizer que, enquanto faltar comida na mesa dos brasileiros, não é possível exportar:
- Fiquei estupefato. A única maneira de diminuir a dependência externa é aumentar as exportações. Tenho simpatia pelo Lula, não aceito as tentativas de demonizá-lo. Mas ele dá cada escorregada... Esse é um discurso de 20 anos atrás.

CONTRAPONTO

Pela tangente
Dizendo-se disposto a votar no petista Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência, o deputado Luiz Antônio de Medeiros (PL) foi questionado dias atrás se estaria arrependido de ter votado em Paulo Maluf (PPB) na eleição para a Prefeitura de São Paulo, em 1992.
Medeiros, que está sendo investigado pelo envolvimento em suposto desvio de aproximadamente US$ 2 milhões do movimento sindical, não perdeu a oportunidade de ironizar Eduardo Suplicy (PT-SP).
Adversário de Maluf na ocasião, o senador é conhecido pelos colegas no Congresso pela prolixidade de seus raciocínios e discursos.
- Suplicy tem um problema. Uma vez dei a palavra ao senador e ele não queria parar de falar. Mas ele melhorou. Hoje já é capaz de explicar o programa de Renda Mínima em quatro ou cinco minutos. É uma vitória.


Editorial

PARADOXO DA PAZ

O assassinato do ministro do Turismo de Israel, Rehevam Zeevi, ontem, por integrantes da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), traz novos e explosivos elementos para o conflito entre israelenses e palestinos que já dura mais de 50 anos.
Zeevi, que estava demissionário, era o que se pode qualificar como representante da extrema direita. Decidira deixar o governo direitista de Ariel Sharon acusando-o de ceder à pressão norte-americana e não romper definitivamente todos os contatos diplomáticos com os palestinos.

Cabe agora ao presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, demonstrar em ações e não apenas em palavras que está do lado da paz e não do terror. Há informações de que Arafat já determinou a prisão de lideranças da FPLP, que assumiu a autoria do atentado. É digno de nota que a ação da FPLP foi um revide ao assassinato, por forças israelenses, de um membro da organização em agosto último.

Paradoxalmente, porém, a grave crise mundial renova as esperanças de resolução do conflito israelo-palestino. A fórmula para a paz, admitida por um consenso internacional cada vez mais amplo, está na criação de um Estado palestino e no estabelecimento de soberania compartilhada sobre Jerusalém -cidade que os dois lados reivindicam como sua capital. O problema do retorno dos refugiados palestinos segue sendo a grande dificuldade.

É claro que, no caminho, permanecem enormes obstáculos. No plano mais imediato, ambos os lados terão de conter seus radicais, que são muitos. Mais do que isso, agem por conta própria, à revelia de seus governos, quando não visando especificamente a sabotar as perspectivas de paz.
Superada essa fase mais aguda, propícia a explosões de difícil controle, o "status quo" terá de ser alterado, a exemplo dos primeiros acordos que se celebraram depois da Guerra do Golfo. É aí que surgirá uma chance para a paz.


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10/18/2001


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