Pichações refletem falta de integração ao espaço urbano, diz pesquisadora
A socióloga Miriam Abramovay, da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana, há dez anos pesquisa o tema das gangues e da violência nas escolas do Distrito Federal. Ela explica que, na capital federal, as pichações estão estreitamente ligadas às atividades das gangues.
- A gangue é uma identidade: eles têm um nome, uma assinatura. A pichação é a vida deles. É um vício. Eles vivem muito em função da pichação - aponta.
Na avaliação da pesquisadora, a pichação é reflexo, entre outros fatores, da falta de integração de jovens, principalmente das classes populares, ao espaço urbano: eles não sentem que a cidade também é deles e que é necessário cuidar dela, então se "apropriam" dela por meio das inscrições. Também devem ser consideradas como causas a falta de opções de lazer e as influências da "sociedade do espetáculo", que estimula cada um a buscar algum tipo de notoriedade.
- Eles têm pouco acesso à sociedade em geral e aos bens da sociedade. A grande discussão é como o jovem pode se apropriar do espaço da cidade sem pichar - observa.
Levar em conta a característica gregária dos jovens, de buscarem sempre estar em grupo, também é importante, segundo a socióloga, para se compreender o fenômeno das gangues e das pichações: "Eles sempre falam que [as gangues] são uma família, então eles têm de defender uns aos outros".
A criminalização, na opinião da pesquisadora, não é a solução para o problema das pichações. Miriam condena a hipótese de punir com prisão um pichador e afirma que a sociedade geralmente adota um ponto de vista negativo em relação ao jovem.
- Você não pode misturar esses meninos com pessoas que mataram, que estupraram. Eu acho que existe um exagero. Por que a gente só pensa em medidas repressivas e não em medidas compensatórias?
Rafael Faria / Jornal do Senado
07/05/2010
Agência Senado
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