Planta ajuda a monitorar a qualidade do ar
Partículas poluidoras mudam até o DNA do coração-roxo: é o biomonitoramento
Desde novembro de 2007, a prefeitura de São Paulo tem monitorado as emissões de poluentes da frota de veículos movidos a gás, álcool e a gasolina que circulam pela cidade. O controle é feito por sensores remotos instalados em vias de grande fluxo. A cada semana, o equipamento muda de local. Ele mede a quantidade de poluentes e fotografa a placa do carro emissor, o que permite a identificação do proprietário. O coordenador da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, Volf Steinbaum, diz que os dados obtidos pelos sensores são analisados para se ter um perfil da frota. “O carro desregulado traz prejuízos para o proprietário (aumento de consumo de combustível), sociedade (doenças respiratórios e cardiovasculares) e meio ambiente (poluição)”, adverte.
O coordenador adianta que quem estiver rodando com veículo emitindo poluentes acima do permitido será chamado para fazer a regulagem. A previsão é que essa operação comece a ser realizada já nas próximas semanas. Neste ano não haverá cobrança de tarifa de inspeção, mas a partir de 2009 já está confirmada. A restrição à circulação de caminhões foi outra medida adotada recentemente para diminuir os índices de congestionamentos na cidade e beneficiar o meio ambiente. "Carro parado, com motor ligado, continua a emitir poluentes e isso compromete a qualidade do ar, a saúde e a economia", alerta Steinbaum.
O gestor de trânsito da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), Maurício Losada, diz que a separação da circulação de pessoas da de cargas foi necessária porque o espaço viário não suportava mais o deslocamento de 6,5 milhões de veículos (sendo 5% de caminhões) ao mesmo tempo. Afirma que o procedimento ajuda na dispersão de poluentes que provocam o efeito estufa porque a medida traz mais fluidez ao tráfego, o que diminui as emissões e é reconhecido mundialmente pelos especialistas ambientais como ação eficaz.
Losada diz ser cedo ainda para saber o efeito redutor da poluição com a restrição de deslocamento de caminhões. Outra medida mais a longo prazo seria a exigência da substituição do atual diesel (cuja queima resulta em grande quantidade de óxido de enxofre e de material particulado na atmosfera) por outro com menos partículas de enxofre, o chamado diesel 50 ppm (partícula por mililitro). O problema é que a substituição por esse combustível traz pouco efeito na emissão de poluentes em veículos antigos, lamenta o gestor.
Alternativa verde – Mais uma ação contra a poluição é o biomonitoramento ambiental em todos os parques, feito desde o final de 2007 com o plantio de 1.810 mudas de Tradescantia pallida. Popularmente conhecida como coração-roxo, a planta ajuda a monitorar a qualidade do ar. Realizada em parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), a avaliação das plantas permite saber se há no ar metais pesados, compostos orgânicos voláteis e contaminantes.
Outra frente de atuação é a criação de ciclovias e de pára-ciclos (estacionamento de bicicleta). Steinbaum diz que está em estudo um Plano Global Cicloviário pela pasta do Verde. Pensa-se em reservar recursos no orçamento de 2009 para instalar 100 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas. Na Radial Leste, por exemplo, serão implantados 12 quilômetros este ano. Está prevista, também, a construção de 25 quilômetros de ciclovias no Butantã. O projeto, cuja licitação da obra ocorrerá nos próximos meses, é uma parceria entre a Secretaria do Verde e a subprefeitura.
Atualmente existem mil pára-ciclos distribuídos em órgãos públicos, escolas, bibliotecas e parques. Outros mil serão instalados em 2008. A prefeitura atua em conjunto com a Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô), a Companhia Paulista de Trens Metropolitanas (CPTM) e a São Paulo Transportes (SPTrans) para instalar bicicletários nas estações, integrando o transporte público com o uso da bicicleta. Já são dez bicicletários implantados ou em licitação.
Fiscalização com responsabilidade social
A prefeitura de Santo André fiscaliza a fumaça preta emitida pelos veículos, faz o biomonitoramento do ar com a planta coração-roxo e promove educação ambiental nas escolas. Em 2007, foram 20 operações nas ruas do município para avaliar os veículos que poluíam o ar. No período, foram emitidos 65 autos de infração, o que representa 12% dos veículos averiguados. Nos meses frios, em que a dispersão de poluentes é prejudicada, a operação é intensificada.
A diretora do Departamento de Gestão Ambiental do Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André (Semasa), Izabel de Farias Lavendowski, diz que a fiscalização da fumaça preta é eficaz, simples e barata. O fiscal pára o veículo e coloca um pedaço de papel em frente ao jato de fumaça que sai do escapamento; pelo tom de cinza que impregna o material, é possível saber a quantidade de poluentes lançados na atmosfera, explica Izabel. A frota pública de ônibus passa pelo controle e fiscalização.
Para monitorar o nível da poluição do ar, já que Santo André tem forte vocação industrial e número elevado de carros, o município adotou o biomonitoramento desde 2002. A planta coração-roxo é utilizada como sensor na análise de dados dos poluentes. Regularmente é coletada parte das plantas expostas à poluição para exame em laboratório onde são verificadas mutações ocorridas em seu DNA. “Pelas alterações ocorridas, sabemos se o índice de poluição está acima do permitido e quais os poluentes”.
Realizado em parceria com a Faculdade de Medicina da USP, o biomonitoramento é uma tecnologia econômica e precisa, informa Izabel. Foi o professor Paulo Saldiva, da Faculdade de Medicina, quem descobriu que a planta registra os poluentes em seu DNA, e sugeriu a adoção do método. Em Santo André, floreiras de Tradescantia estão espalhadas em órgãos públicos, parques e ruas de diversos pontos da cidade. Nas escolas estaduais e municipais, os estudantes plantam, observam o crescimento e aprendem a cuidar do meio ambiente, destaca a gestora.
Da Agência Imprensa Oficial
(M.C.)
07/24/2008
Artigos Relacionados
Observatório em Universidade ajuda a monitorar clima espacial
Embrapa vai monitorar qualidade do leite no Rio Grande do Sul
Rede nacional irá monitorar qualidade das águas
França cede equipamentos para monitorar qualidade do ar nas Olimpíadas do Rio
Pesquisadores usam laser para monitorar poluentes que afetam a qualidade do ar
Unesp e Cetesb firmam parceria para monitorar qualidade de água