POLÍTICA DE FLUTUAÇÃO DO CÂMBIO SERÁ MANTIDA, AFIRMOU FRANCISCO LOPES NA CAE
O governo brasileiro decidiu manter a opção de flutuação do câmbio como política cambial, o que significa que não adotará a chamada centralização cambial, que levaria o país a decretar a moratória, afirmou hoje (dia 26) o presidente interino do Banco Central, Francisco Lopes, em depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Outra opção que também foi descartada, segundo Francisco Lopes, foi a adoção do currency board (regime de conversibilidade da moeda nacional a uma moeda forte, no caso o dólar), adotado pela Argentina e por Hong Kong.Francisco Lopes contou aos senadores da CAE que as três opções - flutuação, centralização e currency board - foram as alternativas colocadas por ele e o ministro da Fazenda, Pedro Malan, para o presidente Fernando Henrique Cardoso, durante jantar na última segunda-feira (dia 25).- O presidente optou pela flutuação cambial e disse que não fará a centralização - relatou.Para Lopes, a centralização cambial levaria o país, inevitavelmente, à moratória, o que seria um desastre do ponto de vista do acesso a investimentos externos e das relações do Brasil com os demais países. "Seria como uma empresa que entrou em concordata, ficaríamos sem investimentos, que estão previstos para cerca de US$ 25 bilhões neste ano mais US$ 20 bilhões no próximo ano", afirmou.A palavra moratória, acrescentou, é "nefasta". Lopes disse ainda que ficou chocado com o fato de os principais jornais brasileiros estarem defendendo a centralização cambial como "uma coisa trivial".- A centralização teria conseqüências nefastas. Seria um regime de arbitrariedade total - observou.Quanto à opção do currency board, apesar de sugerida por muitos analistas internacionais como solução para o Brasil, Francisco Lopes disse que ainda é um regime raro no mundo. Ele apontou dificuldades para adotar o regime de conversibilidade num país como o Brasil, que tem R$ 450 bilhões de depósitos bancários e aplicações financeiras, e reservas internacionais de US$ 36 bilhões, contando com US$ 9 bilhões de empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI).- Seria uma opção desastrosa para o Brasil. Não é para qualquer país adotar. Exigiria mudanças profundamente difíceis na vida econômica. Além disso, o país não tem tradição de dolarização, o que considero uma grande vantagem que temos. Na Argentina foi mais fácil - afirmou.A adoção desse regime na Argentina, como saída para a hiperinflação, implicou na transformação de todos os depósitos bancários em um título de 10 anos chamado bonex, o que caracteriza uma espécie de confisco, explicou. No Brasil, houve um regime de currency board em 1906, chamado caixa de conversão, no qual os mil réis (moeda vigente) eram transformados em libras esterlinas. Esse sistema foi destruído com a primeira guerra, relatou Lopes.Depois de explicar a opção do governo pela atual política cambial, Francisco Lopes garantiu que a inflação não voltará ao país nos níveis altos vividos antes do Plano Real: "Garanto aos senhores que não há como acontecer um processo inflacionário destrutivo como ocorreu no passado". Disse, porém, que é fundamental o governo manter uma política monetária austera e a atual legislação, impedindo qualquer movimento de indexação da moeda.Uma inflação de cerca de 4% a 5% foi prevista por Lopes para o final do ano, devido ao aumento de preços dos produtos importados. A desvalorização, explicou, sempre implica no ajuste de preços, mas será necessário um esforço para que esse impacto não se propague para os preços dos demais produtos.O depoimento de Francisco Lopes foi feito antes da sabatina dos senadores, encarregados de decidir sobre a indicação do economista para o cargo de presidente do BC, feita pelo governo. No início de seu depoimento, Lopes relatou as diversas fases da política econômica antes e depois do Real, explicou as medidas adotadas pelo governo e lamentou o fato de o país ter sido atingido pela crise internacional, principalmente depois da decretação da moratória russa, em setembro do ano passado.- Infelizmente a realidade tem esse capricho de frustrar os melhores planos - observou.
26/01/1999
Agência Senado
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