Política econômica "não pode, não deve e não vai mudar", afirma Palocci



A política econômica do país "não vai mudar, não pode mudar e não deve mudar", disse nesta terça-feira (30) à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Em debate com os integrantes da comissão, ele sustentou que o Brasil estaria vivendo uma "crise sem precedentes" se não houvesse tomado as duras medidas que tomou em 2003 e que, a seu ver, recolocaram o país na rota do crescimento.

O compromisso de continuidade da atual política econômica foi assumido pelo ministro em resposta ao senador César Borges (PFL-BA), que recordou as críticas feitas à condução da economia por partidos da base governista, a começar pelo PT, e pelo vice-presidente José Alencar. Borges observou que alguns economistas já reduzem de 3,5% para 2,8% a previsão de crescimento para este ano e que a falta de investimentos públicos pode levar o país a perder uma ótima oportunidade de crescimento.

A falta de unidade no próprio governo em relação à economia também foi lembrada, no início da audiência pública, pelo presidente da CAE, senador Ramez Tebet (PMDB-MS). Essas divergências, alertou o senador, podem acabar afastando os investidores. "Como pode haver credibilidade e confiança na política econômica?", questionou Tebet.

Em resposta, Palocci afirmou que o caminho adotado pelo governo é certamente o "mais duro e angustiante", mas o único para garantir a estabilidade a longo prazo. Ele parafraseou o então primeiro-ministro inglês Winston Churchill para defender a preservação da política de metas inflacionárias. Assim como Churchill definiu a democracia como o pior regime, exceto todos os outros, o ministro disse que as metas de inflação têm muitos defeitos, mas ainda seriam o "melhor instrumento disponível".

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), um dos autores do requerimento de realização da audiência, quis saber de Palocci se o governo submeteria ao Senado os termos do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Observou ainda que o país deverá gastar em juros neste ano aproximadamente R$ 138 bilhões, contra os R$ 5,8 bilhões que poderão ser direcionados aos beneficiários do programa Bolsa-Família.

Segundo Palocci, o governo encara o acordo com o FMI não como um contrato de empréstimo, mas sim como o exercício do direito do país de ter acesso a recursos do fundo. Sobre o pagamento da dívida, ele observou que tem muito mais satisfação de pagar os benefícios do Bolsa-Escola do que os juros, mas que é obrigado a cumprir as obrigações do país.

- Quando o país alongou compulsoriamente a dívida interna, os resultados foram desastrosos para o Brasil e para os programas sociais - observou.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) questionou o ministro sobre a notícia de que as estatais estariam colocando em risco a meta de superávit fiscal do governo, publicada no final de semana. Palocci respondeu que o resultado das estatais foi sazonal e deveu-se principalmente ao pagamento de dividendos. Por sua vez, o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) quis saber se o governo mantinha a meta de superávit equivalente a 4,25% do produto Interno Bruto (PIB), percentual confirmado pelo ministro.

O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) disse que, apesar de não se filiar ao grupo do "grande economista" José Alencar, identificava na sociedade pessimismo em relação à economia e ansiedade pela redução das taxas de juros. Palocci ressaltou o "espírito de colaboração" do vice-presidente e discordou da opinião de que o país esteja pessimista.





30/03/2004

Agência Senado


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