População pouco participa de exercício de emergência em Angra dos Reis, afirma diretor da CNEN
Poucos moradores ao redor das instalações das usinas nucleares de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, participam de treinamentos para emergências com medidas para a rápida evacuação da área. Nos exercícios periódicos, não mais que 1% das cerca de 3.700 pessoas que habitam dentro do raio de até 5 quilômetros das Usinas Angra 1 e 2 se apresentam voluntariamente para participar.
A informação foi prestada por Laércio Vinhas, da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEM), nesta quarta-feira (23), durante a primeira audiência para debater a segurança do programa nuclear brasileiro. Titular da Diretoria de Radioproteção e Segurança Nuclear da CNEN, ele disse aos senadores que o país é uma democracia e por isso as pessoas não podem ser obrigadas a participar dos exercícios.
- Quantos dos senhores senadores e deputados deixam seus gabinetes e comissões em exercícios de simulação de incêndios? - questionou Vinhas, num reforço ao argumento sobre a dificuldade de contar com as pessoas nos treinamentos.
O diretor da CNEN observou, contudo, que os exercícios adotam procedimentos e meios que levam em conta a totalidade da população. Como exemplo, disse que, mesmo com baixa participação de voluntários, utiliza-se a quantidade de ônibus necessários para a retirada, mesmo que eles "saiam vazios". O esclarecimento foi feito depois, em entrevista, quando ele afirmou ainda que a retirada não seria ponto tão crítico em caso de acidentes. Lembrou que agora, no Japão, isso foi feito entre três e quatro dias.
Licença de Angra 2
Quando ao fato de a Usina Angra 2 operar até hoje sem licença definitiva, como destacado pelo senador Lindberg Farias (PT-RJ), Vinhas esclareceu que isso decorre de decisão da Justiça, a pedido do Ministério Público. Porém, esclareceu que todas as exigências para a licença definitiva estabelecidas pela CNEN já foram cumpridas. Acrescentou que essa comunicação já foi passada ao Ministério Público, para exame e providências.
A senadora Kátia Abreu (DEM-TO) e ainda o senador Ivo Cassol (PP-RO) questionaram os motivos da escolha da área de Angra dos Reis, perto de grandes centros urbanos, para abrigar usinas de energia termoelétrica nuclear. O diretor da CNEN esclareceu que essas unidades necessitam estar próximas a fontes de água, além de comentar que a região era um espaço pouco adensado por ocasião dos projetos.
Bomba atômica
Ao abordar a questão dos rejeitos radioativos das usinas, outra questão levantada por Lindberg Farias, Vinhas defendeu a solução de acondicionar o material de "alta atividade" dentro de cápsulas de aço inoxidável e depositá-las no interior de caverna em algum município do país (a idéia é manter esse material guardado até decisão posterior sobre seu destino). Segundo ele, investir em reaproveitamento seria desnecessário e economicamente inviável nesse momento. Além disso, observou que o grupo dos cinco países que possuem bamba atômica - o P-5 - iria reagir a esforços do Brasil nesse sentido.
- O P-5 não iria gostar porque esse poderia ser o mesmo caminho [tecnológico] para a bomba atômica - esclareceu.
O diretor da área de radioproteção da CNEM observou que o Brasil está entre os sete países que já possuem o domínio da tecnologia de reaproveitamento dos rejeitos de "alta atividade". A despeito da posição do P-5, ele defendeu que o país lance mão desse conhecimento quando for necessário do ponto de vista da segurança energética do país.
A audiência foi uma realização conjunta da Comissão de Serviços de Infra-Estrutura (CI), Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) e Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT).
23/03/2011
Agência Senado
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