PPS vê 'Estado paralelo' sob Serra e afirma que FHC segue Fujimo



 





PPS vê 'Estado paralelo' sob Serra e afirma que FHC segue Fujimori
Líder do partido faz mais duro ataque ao governo; PSDB diz que Ciro se desqualifica "ladeira abaixo"

O líder do PPS na Câmara, deputado João Herrmann, um dos coordenadores políticos do presidenciável Ciro Gomes, da Frente Trabalhista, estendeu ao governo e à pessoa do presidente Fernando Henrique Cardoso críticas que havia feito ao candidato tucano José Serra e a ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
O PPS abriu guerra contra o tribunal na última sexta-feira por entender que decisões desfavoráveis a Ciro sobre direito de resposta no horário eleitoral gratuito estariam sendo influenciadas pela relação pessoal de membros do TSE com os tucanos.

Em entrevista coletiva destinada inicialmente à imprensa estrangeira, Herrmann se referiu a FHC em tom de ameaça. Disse que iria "alertar" o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, sobre quem era Fernando Henrique.
"Annan precisa ter mais cuidado. Não pense que o futuro de FHC será diferente do de Carlos Menem [ex-presidente da Argentina que responde a pelo menos seis processos judiciais", de Alberto Fujimori [ex-presidente do Peru, foragido no Japão e acusado de diversos crimes, incluindo corrupção e violações aos direitos humanos" ou de tantos outros homens que, após saírem do poder, foram desmascarados pela realidade, punidos pela Justiça e rejeitados pelo povo", disse.

Em um encontro com o presidente, em 30 de julho, Herrmann aludiu ao risco da "alfonsinização" de Fernando Henrique em 1989, o presidente argentino Raúl Alfonsín entregou o cargo ao sucessor Carlos Menem cinco meses antes da data prevista.

Em seguida, Herrmann fez duras críticas a Serra, a quem acusou, sem apresentar provas, de comandar um "estado paralelo" para vigiar e "destruir biografias".

"Quero que o presidente coloque fim a este estado paralelo. Se não o fizer, temo que o futuro presidente do Brasil padeça de ilegitimidade eleitoral."

Ladeira abaixo
A assessoria de imprensa da Presidência da República informou que o presidente Fernando Henrique Cardoso não comentaria as declarações de Herrmann. O candidato José Serra, em campanha na Bahia, também evitou comentar o que qualificou de "baixarias sem fundamento".

O presidente nacional do PSDB, deputado José Aníbal, candidato ao Senado, rebateu: "Essa gente se desqualifica a cada dia, ladeira abaixo. Que caiam na vala que quiserem cair", disse. "Manifestamos a nossa confiança nas instituições. Esses atos de desesperados não vamos responder".

Observador engajado
À imprensa estrangeira que acompanhou a coletiva -um jornalista do francês "La Tribune", um da agência de notícias "Reuters" e um do argentino "Clarín", Herrmann se apresentou insistentemente como "observador da ONU". "Atuei em outros países como observador eleitoral internacional. Será que neste momento não posso fazer o mesmo dentro do meu país?", perguntou.

Ao ser questionado pela Folha se, pelo engajamento na campanha de Ciro, não estaria incorrendo na mesma promiscuidade que identificava em ministros do TSE, o deputado recuou. Disse que havia citado ser membro da ONU somente para "se credenciar".

Herrmann afirmou, sem apresentar provas, que Serra, como candidato do governo, usou órgãos federais para vigiar opositores. "Estamos vivendo em 1984. Todos são vigiados pelo Big Brother [referência ao livro "1984" de George Orwell". Banqueiros e empresários não falam por telefone. Há uma bisbilhotice generalizada. Serra não teve um único minuto de conduta ética e moral de preservar biografias", disse.

Suas primeiras críticas foram dirigidas ao TSE. Herrmann elencou ministros e citou a seguir supostas ligações pessoais ou profissionais com FHC ou com Serra. Foram mencionados os ministros Nelson Jobim, presidente do tribunal, Carlos Eduardo Caputo Bastos, Ellen Grace Northflet, Francisco Peçanha Martins e José Gerardo Grossi. O TSE informou, por meio de sua assessoria, que eles não iriam se pronunciar.

O deputado colocou em dúvida também a confiabilidade das urnas eletrônicas. Disse que as urnas suspeitas de terem sido fraudadas encontradas na semana passada em Brasília aumentam a necessidade de serem convocados observadores internacionais para esta eleição. "Há um risco claro hoje de fraude da urna eletrônica. Vamos exigir que todos os partidos possam fiscalizar as eleições."

O deputado afirmou ter conversado com Ciro sobre suas denúncias. "Ao falar essas coisas não estou cumprindo uma ordem de Ciro. Faço essas denúncias em nome da democracia. Comuniquei Ciro Gomes, e ele somente disse ser este o caminho."


Ciro passa imagem de 'mau perdedor', avalia PT
O PT julga exagerados os ataques de Ciro Gomes, candidato a presidente da Frente Trabalhista, à suposta parcialidade do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e não pretende apoiar a proposta aventada por dirigentes do PPS de convocar observadores internacionais para acompanhar as eleições de 6 de outubro.

Segundo a Folha apurou, a cúpula do PT acredita que a virulência dos ataques de Ciro e da Frente Trabalhista ao TSE e a membros do governo, como a ministra-chefe da Controladoria Geral da União, Anadyr Rodrigues, passam a imagem de que o candidato "é mau perdedor", de acordo com a expressão de um cacique petista.
O PT avalia que a eventual vinda de observadores internacionais seria uma medida extrema e poria sob suspeição todo o processo eleitoral. Isso agravaria as dificuldades econômicas e poderia tirar cacife político do governo eleito.

Publicamente, o partido tem dito que estará ao lado de todos os esforços para garantir a isenção dos tribunais. Na prática, não vai endossar as idéias de Ciro.

Descuido
O próprio PT sofreu com uma decisão do TRE-AC (Tribunal Regional Eleitoral do Acre) que havia negado o registro da candidatura à reeleição do governador petista Jorge Viana -decisão cassada pelo TSE . No entanto, o partido vê nos reveses de Ciro no TSE um maior grau de descuido jurídico no horário eleitoral gratuito do que uma perseguição de possível aliados de Serra.

A forma dura dos ataques também desagradou a cúpula petista, pois o vice de Ciro, Paulo Pereira da Silva, ofendeu pessoalmente a ministra Anadyr por conta de um relatório feito por ela apontando supostas irregularidades no uso que a Força Sindical fez de recursos públicos. A entidade sindical era presidida pelo vice do candidato do PPS.

Ciro e aliados acusam o TSE de favorecer Serra nas decisões sobre direito de resposta a respeito da guerra travada pelos programas de TV do tucano e do pepessista no horário eleitoral gratuito.

Amizade
O candidato da Frente Trabalhista levanta suspeitas sobre as decisões devido à amizade assumida entre Serra e o presidente do tribunal, Nelson Jobim, que pertenceu ao governo Fernando Henrique Cardoso e que, no Judiciário, é visto como um aliado político da administração tucana.

Outro ministro do TSE, Caputo Bastos, também foi posto sob suspeita pela Frente Trabalhista por ter advogado para FHC na eleição presidencial de 1998 e por depender, agora, de uma indicação presidencial para continuar no tribunal a partir do dia 26.

De público, o PT não pretende se chocar com Ciro, mas, nos bastidores, não está interessado em comprar briga com a Justiça Eleitoral. A avaliação é que Lula tem vaga garantida no segundo turno.

O PT sonha até com uma eventual vitória no primeiro turno. Nos últimos dias, pesquisas internas de campanhas presidenciais apontaram subida pequena de Lula. A cúpula petista ouviu de analistas que nas últimas duas semanas, se Lula estiver na casa dos 40%, parte do eleitorado poderá se inclinar por uma decisão no primeiro turno. Lula e seu estado-maior, porém, dizem que uma decisão no segundo turno é o mais provável.


Lula tem 35%, Serra, 24%, e Ciro, 18%, diz pesquisa
Levantamento revela intenção de voto de eleitores que têm telefone fixo em casa

O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, perdeu três pontos percentuais -variação dentro da margem de erro- mas continua na liderança do rastreamento feito por telefone pelo Datafolha, após pesquisa concluída ontem à tarde.

De acordo com o instituto, Lula tem 35% de intenções de voto, José Serra (PSDB), 24%, Ciro Gomes (PPS), 18%, e Anthony Garotinho (PSB), 11%.

Como a margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos, apesar da subida de Serra -passou de 22% para 24%- o tucano e Ciro permanecem em situação de empate técnico em segundo lugar.
Os números divulgados se referem à "média móvel" (veja no quadro ao lado como isso é calculado) das duas últimas pesquisas, que são feitas nos dias seguintes às exibições de programas dos presidenciáveis no horário eleitoral gratuito.

Na "média móvel" anterior, dos dias 4 e 6 de setembro, Lula tinha 38%, Serra, 22%, Ciro, 18%, e Garotinho, 11%.

Rastreamento
O rastreamento é uma série de pesquisas feitas pelo Datafolha com eleitores que têm telefone fixo em casa -são cerca de 54% do eleitorado brasileiro.

Representa, portanto, uma parcela da população com mais renda e escolaridade do que a média nacional e mais concentrada no Sudeste.

De acordo com o Datafolha, uma das principais utilidades do rastreamento é antecipar possíveis tendências causadas pela influência do horário eleitoral gratuito na corrida sucessória.


CNT/Sensus confirma queda de Ciro
Lula cresce quase quatro pontos e chega a 37,7% das intenções de voto

A pesquisa CNT/Sensus sobre a sucessão presidencial que será divulgada hoje aponta empate técnico entre o candidato Ciro Gomes (PPS), com 18,3% das intenções de voto, e José Serra (PSDB), com 17,1%.

A liderança continua com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que subiu quase quatro pontos percentuais, de 34% para 37,7% das intenções de voto desde a última pesquisa, feita em 24 e 25 de agosto. Anthony Garotinho (PSB) passou de 10,4% para 13,3%.

O levantamento do instituto registrou a tendência de queda de Ciro apontada pelas demais pesquisas desde que teve início o horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão.

O candidato da Frente Trabalhista perdeu sete pontos percentuais, caindo de 25,5% na última rodada (de 24 a 25 de agosto) para 18,3% na pesquisa feita nos dias 5 e 6 deste mês.

Segundo os números da pesquisa CNT/Sensus, os pontos perdidos pelo presidenciável da Frente Trabalhista foram distribuídos entre os demais candidatos. O seu principal adversário na disputa por uma vaga no segundo turno, José Serra, subiu 2,4 pontos percentuais. Ele tinha 14,7% na última pesquisa CNT/Sensus.

Segundo turno
Houve grande alteração nos números de um eventual segundo turno. Na última pesquisa, Ciro venceria Lula por 44,7% a 43,3%. Na pesquisa que será divulgada hoje, Lula venceria Ciro por 49,2% a 38,1%. Haveria empate técnico entre Ciro (39,9%) e Serra (39,3%). Na última rodada, Ciro venceria Serra no segundo turno por 18,6 pontos percentuais de vantagem: 49,5% a 30,9%.

Não houve alteração na disputa entre Lula e Serra num eventual segundo turno. O petista passou de 49,2% para 50,2%, enquanto o tucano oscilou de 36,3% a 38,2%.

A rejeição ao candidato Ciro Gomes também teve um aumento expressivo, de 9,5% para 14,3%. A rejeição a Lula passou de 27,2% para 27%. A rejeição a Serra subiu de 15,1% para 16,4%.

A pesquisa ouviu 2.000 eleitores em 195 municípios brasileiros. A margem de erro do levantamento é de três pontos percentuais para cima ou para baixo. O presidente licenciado da CNT (Confederação Nacional do Transporte) é Clésio Andrade, presidente do PFL de Minas Gerais e candidato a vice-governador na chapa do tucano Aécio Neves.


Conversa com Maluf é na polícia, diz Alckmin Governador admite que metas de seu governo não foram cumpridas, mas diz que desempenho "global" é positivo

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à reeleição, rebateu ontem, em entrevista coletiva, as críticas que tem recebido do candidato pepebista, Paulo Maluf.

"Eu não converso com o Maluf, com ele é na polícia e na Justiça. E ele já é condenado." "Ele provoca todo dia, porque ele quer puxar para a lama. Ele está na lama, quer puxar para lama", disse.

Em campanha em Aricanduva, na zona leste de São Paulo, onde realizou comício, Alckmin voltou a atacar seu adversário pepebista.

"Como é que pode ser candidato alguém que diz "estupra, mas não mata'? Não deveria nem poder ser candidato, quanto mais ser eleito", afirmou.

Estiveram presentes ao comício cerca de mil pessoas, segundo a organização do evento.

Metas
O governador admitiu ontem que parte das metas do programa de governo do partido para a gestão 1999-2002 não foi cumprida. "Programa de governo não é uma coisa estática", afirmou.

Reportagem publicada ontem pela Folha apontava que, das 18 metas propostas para a gestão de 1998 pelo então candidato à reeleição Mário Covas e por Geraldo Alckmin, seu vice, 11 deixaram de ser cumpridas.
Alckmin disse, no entanto, que a avaliação "global" de seu governo não pode ser considerada negativa e que alguns números estabelecidos pela administração até mesmo superaram o previsto. "Em algumas metas realmente não se chegou ao número estabelecido, mas outras tantas foram superadas, feito muito mais do que o previsto, e coisas que não estavam nem programadas foram feitas", disse o governador.

Ele citou como exemplos de projetos realizados que não estavam previstos o programa de Renda Cidadã, a desativação do complexo do Carandiru e a transformação da Febem Imigrantes num centro de esporte, cultura e lazer, que está ficando "quase pronto", segundo o governador.

O levantamento da Folha mostrou que as metas mais distantes de serem alcançadas foram as das áreas de segurança, de habitação, de justiça e de cidadania e expansão das linhas do metrô.

Das 250 mil casas prometidas pelo programa de governo tucano, apenas 37.665 foram entregues, segundo os próprios dados oficiais do governo.

Bom ritmo
"Acho que chegaremos até o final do ano em torno de quase 80 mil unidades habitacionais entregues. Houve um atraso anterior, em 1999, porque o Tribunal de Contas questionou a questão dos mutirões, então houve uma paralisação.""Mas estamos recuperando", completou o governador Geraldo Alckmin.

"Acho que está indo num bom ritmo. Hoje nós estamos com mais 40 mil unidades em construção e mais de 60 mil unidades em licitação, que é um fato recorde", completou.

O programa também previa a redução da criminalidade pela metade e o déficit zero de vagas penitenciárias no Estado de São Paulo -nenhum dos dois objetivos chegou a ser atingido pela administração.

"A segurança pública está melhorando aqui em São Paulo: já tivemos uma redução de homicídios de mais de 10% em relação ao ano passado", afirmou Geraldo Alckmin.

"Em todas as áreas o governo do Estado fez mais do que os outros governos. Pode comparar com o governo [Orestes" Quércia, [Luiz Antonio" Fleury, [Paulo" Maluf, qualquer governo. Fez mais metrô, estrada, casa, escola, hospital, qualquer área. Fez sem endividar, saneando o Estado", disse o governador tucano.

Mesmo reconhecendo não ter conseguido cumprir as metas do seu programa de governo de 98, Alckmin aproveitou o comício de ontem em Aricanduva para assumir quatro "compromissos" com a população de São Paulo: promover "habitação, educação, saúde e segurança pública" caso consiga a reeleição.


Folha recorre de decisão da Jus tiça Eleitoral sobre direito de resposta
Juiz-auxiliar concedeu direito a Zeca do PT anteontem

A Folha recorreu ontem ao Plenário do Tribunal Regional Eleitoral da decisão que obriga o jornal a publicar resposta do governador do Mato Grosso do Sul, José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT. A notificação foi repassada às 15h24 do sábado, por fax, quando o jornal já estava em processo de rodagem.

A decisão do juiz-auxiliar Luiz Carlos Santini refere-se à reportagem publicada no dia 1º de setembro, baseada em relatório reservado preparado por quatro promotores. O documento aponta supostas ligações do governador e de integrantes do seu núcleo de poder com quadrilha de policiais especializada em roubo.
Zeca do PT se recusou a conceder entrevista ao jornal para a primeira reportagem. Dois dias depois, enviou uma carta, publicada na íntegra, em que diz não ser investigado e acusa uma "manipulação política".

"A reportagem da Folha não é ofensiva e não traduz fato inverídico. O jornal não insulta o governador, não efetua um pré-julgamento do caso. Publica, inclusive, informações indicativas de que as acusações podem não ter consistência", conforme informou o advogado Luís Francisco Carvalho Filho em sua defesa.

O advogado argumentou ainda que a decisão é nula e que foi cerceado o direito de defesa do jornal. "É nula porque violou o princípio constitucional da ampla defesa e do contraditório. A versão do governador já foi publicada espontaneamente em edição regular e espaço proporcional."


Propaganda desrespeita lei e polui a cidade
Muitos banners e faixas de candidatos são colocados em pontos que prejudicam a visão de placas de sinalização de trânsito, o que não é permitido por lei.

A legislação eleitoral, no entanto, impede que, na campanha, as prefeituras retirem propaganda política em locais que não atrapalhem o tráfego -incluindo faixas em postes e viadutos.

"Nas outras eleições, tínhamos a lei municipal que proibia a colocação de faixas e banners em postes. Mas a legislação eleitoral, que é federal e, portanto, se sobrepõe à de São Paulo, libera a propaganda. Com isso, a cidade virou um lixo. Esta eleição certamente se tornou a mais suja de todos os tempos", afirma Gabriel Haddad, supervisor de fiscalização do Limpurb (Departamento de Limpeza Urbana).

Após a eleição, o Limpurb irá trabalhar com 1.536 homens para acabar com o "lixo eleitoral" e pretende acabar o trabalho em, no máximo, dois dias.

No domingo da votação, dia 6 de outubro, haverá equipes especiais para limpar o material de boca de urna.


Artigos

11 de setembro foi ontem
Vinicius Torres Freire

SÃO PAULO - Balanços históricos sempre me lembram a velha piada sobre o senso de perspectiva histórica da antiquíssima civilização chinesa. Perguntaram uma vez a Mao Tse-tung o que ele pensava da Revolução Francesa. O ditador comunista chinês respondeu que havia se passado pouco tempo (mais de um século e meio), que era cedo para avaliá-la.

Jornalistas e chineses -ou pelo menos jornalistas e Mao Tse-tung- observam a história de maneira inversa. Minutos depois de qualquer acontecimento, a queda do dólar ou das torres gêmeas, começamos a "repercutir", a procurar o sentido e os desdobramentos do que nos parecem fatos importantes.

Já é possível ter uma idéia do que (e se) mudou depois dos atentados de Osama bin Laden? 11 de setembro mudou o mundo, os EUA ou o governo do indizível George "Baby" Bush? Por ora, parece só que Bin Laden deu um sentido para a vida e à presidência de Bush. Um governo antes talhado só para arrumar a vida de empresas e de ricos, agora se diz disposto a tornar o mundo "mais seguro", de modo aleatório e inepto. Mas, pós-Bush, os EUA vão continuar na mesma trilha?

É verdade que os EUA e os europeus se têm estranhado. Mas trata-se de uma mudança de perspectiva devido ao fato de a Europa estar à beira de se tornar uma federação de verdade, com Constituição própria e interesses federativos específicos, de segurança inclusive? Ou porque a Alemanha, devido a uma disputa eleitoral, pela primeira vez tenta peitar os EUA desde 1945? Mas a França, sempre mais anti-americana, ainda estuda o apoio a uma guerra no Iraque.

O mundo está a confusão de sempre, piorada após o fim da União Soviética. Alguns comentaristas, este inclusive, tiveram a ilusão idiota de que Bush colocaria ordem em cenários de massacres horríveis, como na Palestina. Mas Bush parece apenas lutar desordenadamente mais uma batalha da guerra islâmica que começou no Irã, em 1979. Pode botar fogo no Oriente Médio. Mas pode apenas depor Sadam e o mundo seguir o seu caminho de horrores habituais. É muito cedo para saber.


Colunistas

PAINEL

Regresso futuro
FHC disse a interlocutores que, caso José Serra seja o próximo presidente, ele encerrará no final do ano sua carreira política. Mas, se algum candidato oposicionista vencer a eleição, ele não descarta tentar voltar ao poder e concorrer nas eleições de 2006.

Apelo tucano
FHC afirma que teria muito mais gosto em voltar à vida política em 2006 se o regime político fosse mudado para o parlamentarismo. Mas, se o PSDB precisar e fizer apelos pela sua volta, poderia até mesmo disputar outra eleição no presidencialismo.

Papel de vítima
A ala "radical" da Frente Trabalhista sugeriu a Paulinho que não fosse depor na sexta. Uma condução coercitiva pela PF ao Ministério Público poderia ser usada para denunciar as eleições no exterior. Na dúvida, o vice de Ciro preferiu não arriscar.

Promessa informal
No seu "Projeto Segunda-Feira", Serra promete aumentar o fluxo de turistas estrangeiros de 5 para 9 milhões ao ano e, com isso, criar empregos "até para vendedor de coco na praia".

Duas canoas
ACM e José Sarney liberaram políticos de suas bases para apoiar José Serra. Embora continuem com Ciro e Lula, os caciques da BA e do MA não querem ficar totalmente fora do jogo em caso de vitória do tucano.

Material reciclado
O jingle da campanha de Ciro lançado na semana passada é o mesmo usado em sua candidatura à Prefeitura de Fortaleza, em 88: "A todo mundo eu dou psiu, Ciro, Ciro!", diz o refrão.

Cortar pela raiz
A cúpula do PT decidiu atacar Serra em comícios e programas eleitorais. Os petistas avaliam que é necessário avariar a imagem de Serra desde agora, vinculando-o aos problemas do governo. Se isso não ocorrer e ele passar para o segundo turno, ficaria mais difícil segurá-lo.

Letras mortas
A bancada do PT no Senado entrou com recurso na Comissão de Assuntos Econômicos para anular a aprovação de uma resolução que permitirá a bancos e empreiteiras receberem de imediato R$ 1,2 bi em Letras Financeiras do Tesouro de Alagoas já anuladas pela Justiça.

Passado condena
A emissão das letras financeiras, que em 97 rendeu um pedido de impeachment contra Divaldo Suruagy (PMDB-AL), foi considerada, em parecer do promotor Ciro Moreira, uma "operação fraudulenta digna das quadrilhas organizadas no estilo absolutamente mafioso".

Uma mão lava a outra
O projeto de pagamento das letras de AL tem apoio dos tucanos Teotônio Vilela (AL) e Romero Jucá (RR) e de Renan Calheiros (PMDB-AL). Acham que é hora de remunerar os credores. Jucá sugeriu ao PT um pacto (rejeitado): um projeto que beneficia o governo do RS seria aprovado como contrapartida.

Roto e rasgado
Maluf irá colocar no horário eleitoral a história do boneco de pano que foi encontrado "tomando conta" da guarita de um presídio. É uma resposta ao programa de Alckmin, que disse que na gestão do pepebista, por falta de algema, havia preso sendo amarrado com corda.

Censura prévia
Tarcísio Burity ( PMDB), candidato ao Senado pela Paraíba, entrou com representação na PF e no TSE contra a TV Cabo Branco, retransmissora da TV Globo e responsável pela veiculação do horário eleitoral. Na última quarta, a emissora não levou ao ar o programa de Burity.

Entre amigos
No programa vetado, Burity relatava o atentado que sofreu em 93, quando levou três tiros disparados pelo atual senador Ronaldo Cunha Lima (PSDB). José Carlos Silva, um dos donos da TV Cabo Branco, é suplente de Cunha Lima no Senado.

TIROTEIO

Do deputado federal Ronaldo Caiado (PFL-GO), sobre a campanha de Lula:
- A campanha presidencial de Lula está parecendo dieta de cardíaco. Não tem sal nem açúcar. O petista está perdendo suas características e deixando de lado a coerência política.

CONTRAPONTO

Uma canelada no ar
Na semana passada, Ciro Gomes, Anthony Garotinho, José Alencar, Rita Camata e Patrícia Pillar, entre outros nomes da campanha presidencial, foram a um shopping de São Paulo assistir à pré-estréia do filme "Uma Onda no Ar", inspirado na Rádio Favela de Minas Gerais.
Misael Avelino dos Santos, criador da rádio que funciona na periferia de Belo Horizonte (MG), fez um discurso antes do início da sessão. Ao microfone, brincou com o prefeito de BH, Fernando Pimentel (PT), que também estava na platéia.
- É o sex symbol de Belo Horizonte - disse Misael.
Pimentel, sentado logo atrás de Ciro, levantou-se e, todo sorrisos, acenou para a platéia, que ria. Quando o prefeito ainda estava em pé, Misael sapecou:
- É até bom o prefeito estar aqui para ver o filme, já que ele nunca foi conhecer a rádio lá na favela...


Editorial

TRABALHO NA CRISE

O mercado de trabalho reflete a crise de confiança que se instalou na economia brasileira nos últimos dois meses. Predominam notícias sobre planos de demissões voluntárias, férias coletivas e cortes de vagas. Em muitas empresas, as demissões ocorrem às dezenas e mesmo às centenas de uma só vez.

Os indicadores econômicos, no entanto, revelam um quadro menos grave. Tanto nos dados do IBGE, válidos para seis regiões metropolitanas brasileiras, quanto nos da pesquisa da Fundação Seade e do Dieese, esta sobre a Região Metropolitana de São Paulo, surgiram sinais nos últimos meses, ainda que tímidos, de alguma recuperação.

No caso da Região Metropolitana de São Paulo, os dados mais recentes referem-se ainda a julho, antes portanto da turbulência cambial mais acentuada. Eles revelam que, pelo terceiro mês consecutivo, houve decréscimo da taxa de desemprego total (de 18,8% em junho para 18,1% da população economicamente ativa).

No período, houve aumento de 1,3% na ocupação (com a geração de 98 mil postos de trabalho, ainda na Região Metropolitana de São Paulo).

Os dados positivos refletiram contratações em todos os setores, sempre pelo setor privado.

Algum alívio, portanto, houve, ainda que num contexto de dificuldades inegáveis. Afinal, observadas contra um horizonte de tempo mais longo, as estatísticas continuam desapontando. Em relação a julho de 2001, aumentou em 4,6% a taxa de desemprego na aferição Seade/Dieese.

A melhoria relativa e circunstancial registrada nas pesquisas, no entanto, é um contraponto aos cenários mais sombrios que muitos vinham antecipando para a economia brasileira. A certa altura, houve quem prenunciasse uma ruptura, um colapso, uma nova crise econômica e social.

A situação é grave, e as más notícias predominam. Mas a inércia e a própria dinâmica do mercado informal, além do ajuste relativamente rápido dos setores exportadores, confirmam que a economia brasileira, mesmo em crise, pode surpreender.


Topo da página



09/09/2002


Artigos Relacionados


Agripino afirma que DEM fará relatório paralelo se requerimentos forem ignorados na CPI

Serys diz que narcotráfico funciona como Estado paralelo

Garotinho disputa com Serra 2º lugar; Lula segue na frente

Inflação segue em declínio e deve ficar em torno de 4,5% este ano, afirma Banco Central

Senado segue procedimento normal no exame da indicação de Zavascki para STF, afirma Sarney

Pró Bandas segue para 19 municípios do Estado