Presidente do BC diz ao Congresso que só inflação baixa leva ao crescimento sustentado
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou durante debate na Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização que só inflação baixa provoca crescimento econômico sustentado, com aumento de renda e de emprego da população. Por isso, o governo Luiz Inácio Lula da Silva coloca como prioridade o combate à inflação, a qual acabará levando a uma redução nos juros reais praticados no Brasil.
E como então reduzir a inflação, questionaram os deputados e senadores. -Pelo uso da taxa de juros-, respondeu Meirelles. Para ele, parece um paradoxo usar a taxa de juros para controlar a inflação e, mais à frente, obter uma redução na própria taxa de juros. -É tudo questão de confiança-, ponderou. No momento em que os investidores não tiverem mais dúvidas sobre o risco de investir no Brasil, o próprio mercado aceitará taxas de juros mais baixas para os títulos da dívida pública. União, estados e municípios gastaram R$ 113,9 bilhões no pagamento de juros de suas dívidas, em 2002.
Meirelles disse aos parlamentares que a maioria dos bancos centrais do mundo usa atualmente a taxa de juros para combater a inflação e que a alternativa de emprego da taxa de câmbio, como fez o governo brasileiro de 1995 a 98, hoje é um caminho abandonado pela maioria dos países, por causa das crises cambiais. O uso dos chamados -agregados monetários-, especialmente a quantidade de dinheiro na economia, também é hoje uma opção descartada no mundo. Controle de preços, controle de capitais, confiscos e tablitas -não funcionaram no Brasil e no mundo-, acrescentou. Neste momento, admitiu o presidente do BC, os preços administrados pelo governo, como energia e telefone, são as grandes fontes de inflação.
O presidente do BC defendeu a política de -metas de inflação-, adotada desde o governo passado, e ponderou que os juros pagos pelo governo na venda de seus títulos -não são esses de 26,5% que sai toda hora na imprensa-. Henrique Meirelles disse que o juro que interessa é o que sobra depois de descontada a inflação e os impostos - -é o juro real-. Essa taxa real tem variado no Brasil, nos últimos tempos, -de 6% a 10% ao ano-. A taxa média dos juros reais de agosto de 95 a junho de 99 ficou em 19,07%. De julho de 99 ao mês passado, a média foi de 10,18%, informou.
Henrique Meirelles compareceu ao Congresso para dar explicações, exigidas pela Lei de Responsabilidade Fiscal, sobre o cumprimento dos objetivos da política monetária do governo. Ele informou que o Banco Central teve um prejuízo de R$ 17 bilhões no ano passado, sendo R$ 6,2 bilhões no segundo semestre, basicamente por conta da desvalorização cambial antes das eleições. Revelou ainda que, nos primeiros três meses do governo Lula, o lucro do BC chegou a R$ 8,1 bilhões. Por lei, todo lucro ou prejuízo do Banco Central é repassado ao Tesouro Nacional.
Parlamentares do PSDB, PFL e PPB, hoje oposição, elogiaram os caminhos da política econômica do governo, muitos com ironias sobre a atuação do PT depois que ganhou as eleições para a Presidência da República.
- Antes, o PT considerava um absurdo o governo manter superávits fiscais. Agora, o governo do PT diz que tem de manter superávits fiscais por muitos anos. Antes, o PT criticava o uso da taxa de juros para controlar a inflação e agora defende este caminho - observou o deputado Ricardo Barros (PPB-PR), ex-líder do governo Fernando Henrique Cardoso na Comissão de Orçamento.
Já os parlamentares da base do governo Lula fizeram perguntas sobre os gastos do governo passado com o Proer (saneamento de bancos) e o crescimento da dívida pública. Meirelles evitou maiores comentários sobre esses assuntos, lembrando que não participou do governo passado.
01/04/2003
Agência Senado
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