PRESIDENTE DO BC DIZ QUE NÃO HÁ PROVAS SOBRE VAZAMENTO DE INFORMAÇÕES
O presidente do Banco Central, Armínio Fraga Neto, disse, nesta quinta-feira (dia 15), que é impossível provar se houve ou não vazamento de informações do Banco Central para instituições financeiras no mês de janeiro, quando ocorreu a desvalorização cambial, mas qualificou de "aberração" a situação do Banco Marka nesse período, que trabalhava com um grau de alavancagem vinte vezes maior do que seu patrimônio. As declarações de Armínio Fraga foram feitas durante seu depoimento na CPI que investiga o sistema financeiro. Apesar de não haver provas sobre o vazamento de informações, as investigações que estão sendo feitas pelo BC vão continuar, prometeu. O sistema cambial estava sob forte pressão na época, observou, e as informações de possíveis mudanças no regime eram públicas. Ele citou várias matérias veiculadas no jornal Folha de S.o Paulo, no Jornal do Brasil e na revista Veja sobre o "cansaço" do então presidente do BC, Gustavo Franco, e de sua substituição por Francisco Lopes, a defesa da mudança cambial pelo então presidente do BNDES, Mendonça de Barros, e declarações do presidente Fernando Henrique Cardoso sobre a necessidade de o ministro da Fazenda, Pedro Malan, permanecer no governo, sem mencionar Gustavo Franco. Para Fraga, o mercado começou a trabalhar com tais informações. Mas, acrescentou, "isso não significa que não tenha havido vazamento de informação, e, hoje, no Banco Central, temos várias frentes de investigação abertas".Quanto ao Banco Marka, Fraga disse que a situação da instituição chamou atenção do Banco Central "devido ao grau de alavancagem extraordinário com o qual trabalhava". O Marka operava com investimentos no mercado vinte vezes maior do que seu patrimônio, o que correspondia a uma taxa de alto risco para seu funcionamento, explicou. "Isso tudo é indagação de natureza técnica, mas é um indício, uma pista que merece ser perseguida", disse Fraga.Devido a esse fato, segundo informou, o BC instalou comissão de sindicância para apurar a situação do Marka. Decidiu também estabelecer medidas de supervisão, com vistas a reduzir os riscos no sistema financeiro. De acordo com esse projeto do BC, cada instituição financeira, para operar, será obrigada a ter limites de câmbio, crédito, prazos e juros sempre de acordo com o volume de seu capital.Essas medidas não pretendem controlar o mercado, que é "criativo", segundo Fraga, mas estabelecer limites para que os gerentes das instituições adotem uma posição mais segura, avaliando os riscos financeiros e optando por operações de acordo com a capitalização do sistema.Armínio Fraga entregou aos senadores um extenso material sobre as investigações feitas pelo Banco Central, envolvendo as denúncias sobre informações privilegiadas ao mercado financeiro, lucro de alguns bancos durante a desvalorização da moeda e situação dos Bancos Marka e FonteCindam.A posição dos bancos, nos dias 11 e 12 de janeiro, entre a compra e a venda de dólares no mercado futuro, avaliada em US$ 900 milhões em todo o mercado, foi considerada normal pelo presidente do BC e até abaixo do intervalo ocorrido no mercado futuro em meses que antecederam essa mudança no câmbio. Essa questão foi abordada para explicar as denúncias de que teria havido especulação com a desvalorização do real e conseqüente lucro dos bancos.A partir de julho de 1997, segundo o presidente do BC, esse volume de US$ 900 milhões se insere "dentro de um intervalo padrão". Mas, apesar dessa constatação, Fraga repetiu que não há motivo para pararem as investigações. Disse ainda que as investigações do Banco Central estão sendo feitas com base na técnica adotada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), de comparar o volume desses intervalos no mercado futuro em vários anos diferentes.Os bancos estrangeiros, ao contrário das denúncias veiculadas pela imprensa, não tiveram lucros em sua moeda de origem durante a desvalorização do real, afirmou. Essas instituições, segundo Armínio Fraga, perderam 32% de capital no mês de janeiro, o que corresponde à perda de um terço de seus investimentos no Brasil. O lucro auferido nessa época foi em real, explicou, e está longe de alcançar o prejuízo nas moedas de origem dessas instituições, mais fortes do que a moeda local. Várias instituições financeiras de outros países têm, de fato, segundo Fraga, uma política de manter seus investimentos protegidos contra variações cambiais, para que haja retorno desses investimentos na moeda de origem, mas o que ocorreu em janeiro foi uma perda para esses bancos.
15/04/1999
Agência Senado
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