Primeira ex-aluna do Projeto Guri vai estudar no exterior
Garota de 17 anos conseguiu vaga em uma das melhores escolas de música da Europa
No último sábado, Dia Internacional da Mulher, uma garota de Osasco, de 17 anos, embarcou para Sófia, na Bulgária, onde fará, nos próximos quatro anos, curso de graduação em violino na Academia Nacional de Música Pancho Vladigerov, uma das mais conceituadas instituições de música da Europa. Ana Janaina Vitorino Murakawa é a primeira ex-aluna do Projeto Guri a estudar no exterior – os dirigentes desconhecem, pelo menos, quem teve a mesma sorte antes. Até recentemente, a jovem fazia parte da Universidade Livre de Música (ULM) e da Orquestra de Câmara da USP (OCAM).
A primeira experiência musical de Ana Janaina começou com a participação em um coral. “Mas não me identifiquei muito, também não aprendi a ler partituras, coisas desse tipo”, recorda. Importante mesmo, segundo ela, foi a participação no Guri, aos 13 anos. Fazia parte do Pólo Osasco. Desde então se destacou entre os alunos, tornando-se spalla durante boa parte do período em que lá esteve.
No projeto, soube o que era uma orquestra, quais são os instrumentos, aprendeu sobre a música e teve acesso a um violino. Antes, não sabia nem que instrumento queria tocar. “Se não tivesse entrado no projeto, acho que dificilmente minha mãe teria descoberto que eu gostava de violino. E, mesmo se tivesse descoberto, meus pais não teriam condições de pagar um conservatório, sem saber se era aquilo que eu realmente queria”, revela. A garota tem um irmão e irmã mais novos. O pai é técnico em eletrônica, e a mãe faz bolos em casa para reforçar o orçamento.
Depois do Guri, a jovem integrou a Orquestra Sinfônica de Heliópolis, do Instituto Baccarelli. O passo seguinte foi o ingresso na OCAM, ao mesmo tempo em que fez um ano do curso avançado de violino da ULM. Diariamente, são em média de cinco a seis horas de estudo. Em épocas de teste, porém, a dedicação é maior.
Gospodja – A expectativa da adolescente é crescer em termos musicais na Bulgária. Segundo ela, o país do leste europeu é muito diferente do Brasil. Enquanto aqui, temos aula uma vez por semana, lá são três vezes, por exemplo. Se um professor solicita o estudo de uma peça ou conserto, aqui se tem uma semana para estudar. Na Bulgária, são apenas dois dias de preparo.
O convite surgiu depois de participar, no ano passado de duas master classes com a professora búlgara Evgenia Popova, mundialmente conhecida por seu rigor – a primeira foi em São Paulo (junho) e a outra em Brasília (julho). “Na primeira aula, ela ‘brigou’ muito comigo”, conta. Questionava o jeito rápido de tocar e uma série de coisas. “Saí chorando da aula”, revela. No mês seguinte, ainda no País, a professora se surpreendeu com a mudança, duvidou que fosse a mesma garota que estivesse tocando para ela. Posteriormente, elas trocaram e-mails e, a seguir, veio o convite. Sem meios para bancar passagem e outros gastos, deram-lhe a sugestão de buscar a ajuda do Guri.
Tocar de fato muito bem é o objetivo da violinista. “Quero realmente conseguir fazer algo além, mostrar como sinto a música, o que penso da música. Adoro tocar em orquestra, mas, querendo ou não, é preciso seguir um conceito, padrão, a batuta do maestro. Queria passar como sinto a música de uma maneira diferente. E, para isso, é preciso estudar bastante”.
Ana Janaina também foi convidada para tocar com a Orquestra Jovem das Américas, mundialmente conhecida. “Estava em casa e recebi um e-mail dizendo que os diretores tinham tido muitas recomendações a meu respeito e me convidavam para preencher uma das vagas”. Os ensaios coincidirão com o período de férias na Bulgária. Serão na Costa do Sauípe, na Bahia, depois seguindo turnê por cidades brasileiras, da América da Sul e outros países.
Uma dica da violinista para quem planeja seguir passos semelhantes é acreditar. “Tem gente que não acredita que pode fazer isso ou aquilo. Diz que não vai fazer teste para isso, porque é muito difícil. Não vai fazer teste para aquilo, porque não é para ele ainda. Se você nunca fizer, não vai saber. Tive muita sorte de fazer os testes mais difíceis e passar de cara. Mas não fui achando que ia passar. Fui para ver como eram”.
Sobre a Bulgária, ela tem algumas informações. “Sei que o inverno é muito rigoroso, os verões quentes e no outono as folhas caem realmente. Sei também que não tem açúcar igual ao daqui e que eles acabaram de entrar para a União Européia. Por isso, os preços estão tendendo a subir”. Com relação ao idioma, a garota arrisca-se em dizer algumas palavras: “senhora”, segundo ela, é gospodja, “oi” pronuncia-se zdrasti e “beleza!” é kak právish beh. Em princípio, ela ficará numa espécie de cidade universitária. Mas depois, pretende procurar um apartamento, porque na unidade estudantil não tem cozinha e lugar para lavar a roupa.
Paulo Henrique Andrade
Da Agência Imprensa Oficial
03/11/2008
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