Produção de café de qualidade é incentivada em SP
Especialista assegura que a bebida passa por um novo boom de consumo, por causa das cafeterias e interesse dos jovens
O paulistano bebe, por dia, 25 milhões de xícaras de café fora de casa. É o maior consumo per capita do Brasil e, provavelmente, do mundo. A estatística aponta também que 85% dos paulistanos tomam café e 65% o fazem fora de casa, em bares, restaurantes e no trabalho.
Essa é a constatação de pesquisa feita pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), vinculado à Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, com o objetivo de incentivar o cafeicultor paulista a produzir café de qualidade e oferecer números atuais de mercado a todos que participam do setor.
Técnicos do IEA ouviram 1,1 mil pessoas entre julho e setembro do ano passado, usando a mesma metodologia adotada pelo IBGE em trabalhos semelhantes. O patrocínio foi do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café.
O resultado completo será publicado em livro, em novembro, pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA), dentro do Programa de Administração do Varejo, o Provar.
Arábica e robusta – O pesquisador do IEA, Celso Luís Rodrigues Vegro, informa que nos últimos dez anos o consumo do café passou por um processo de modernização, com os consumidores tornando-se muito mais exigentes quanto à qualidade do produto. Isso se deveu, sobretudo, à expansão das cafeterias, fenômeno mundial, e estendeu o hábito do cafezinho às faixas mais jovens da sociedade, “que descobriram que café é uma boa bebida, e saudável”, ressalta.
O mais importante da pesquisa, no entender de Vegro, é ter revelado que cresce a procura por café de qualidade, o superior e o gourmet. Ele conta que essa faixa do mercado se expande 30% ao ano, em números de xícaras. Nos supermercados, também é possível encontrar o produto mais sofisticado. “Já existe até quem compra máquina de café expresso para uso doméstico e procura por grãos mais nobres”, explica Vegro.
Da produção nacional, informa o pesquisador, cerca de 40%, equivalentes a 16 milhões de sacas/ano, ficam para consumo interno. Ele calcula que apenas 5% do total (quase um milhão de sacas) são dos tipos superior e gourmet. “O mercado está propício ao crescimento do café de qualidade e é esse o grande desafio do produtor paulista”.
O grão plantado no Estado, diz Vegro, na maioria é do tipo arábica, com sabor e aroma. No entanto, é vendido no comércio misturado ao robusta, de menor qualidade, mais barato, sem sabor. São Paulo é o segundo produtor de arábica e terceiro de conillon (variedade brasileira do robusta).
A presença do conillon costuma variar de 50% a 70% na composição do pacote de café em pó. “É usado para dar massa (peso) e baratear o produto”, conta Vegro. O robusta brasileiro é plantado principalmente no Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia, Rondônia e outros Estados do Norte.
As localidades paulistas que mais se notabilizam em café de qualidade são Franca, São João da Boa Vista, São Sebastião da Grama, Espírito Santo do Pinhal, Piraju e Tejupá.
Corcova de camelo – A previsão é que o Estado de São Paulo produza este ano 3,4 milhões de sacas (de 60 quilos cada) de café beneficiado em grão. O volume será menor que o de 2006, com mais de 4 milhões de sacas. No entanto, ressalva Vegro, a cultura cafeeira é mesmo cíclica, pois queda e aumento de safra se alternam a cada ano. É a chamada bienalidade do café.
O Estado colhe apenas 10% do total brasileiro. No entanto, todo o País é dependente do mercado paulista, que absorve 40% da produção destinada ao mercado interno. Além disso, é em São Paulo que se encontram as grandes indústrias do café e o Porto de Santos, onde é embarcado o produto made in Brazil.
Minas Gerais e Espírito Santo respondem por 70% da produção nacional da famosa frutinha vermelha, que há séculos deixou a Abissínia (atual Etiópia, na África) para conquistar o mundo, levada em corcova de camelos por mercadores árabes.
São Paulo dominou a produção do grão até 1960. Por causa do ataque de pragas, envelhecimento das árvores e expansão da cultura de cana-de-açúcar, o café avançou para o Paraná, Minas Gerais, Espírito Santo até chegar ao extremo norte do País.
Em seu hábitat, na Etiópia, é uma árvore de bosque, que verdeja à sombra. Aqui, mesmo plantado a céu aberto, com muito sol, sentiu-se “em casa” e até hoje a produção nacional é a maior do mundo. O arábica de melhor qualidade é obtido em regiões altas do Estado, com bom regime de chuva, como por exemplo a Alta Mogiana. Um pé de café, em espaçamento longo, produz bem por 25 anos a 30 anos. Vegro explica que há árvores até centenárias, que ainda geram suas frutinhas. Em espaço menor, chega a 15 anos.
Ao bater do martelo
Cafeicultores de 13 regiões paulistas participarão este mês do concurso estadual de café, safra 2007, organizado pela Secretaria da Agricultura e parceiros da iniciativa privada que atuam no setor. Os lotes foram selecionados nas versões regionais do evento. Serão cinco premiados nas categorias natural e na de cereja descascado. A intenção é conscientizar o produtor paulista a apostar na qualidade.
Prova de degustação e escolha dos melhores grãos serão realizadas nos dias 22 e 23 deste mês na Associação Comercial de Santos, onde também será realizado, dia 29, o leilão das sacas de cada produtor selecionado. Os cinco primeiros a receber maior oferta de compra levam os prêmios. A entrega da láurea está marcada para 8 de novembro, no Museu dos Cafés do Brasil, também em Santos.
Renomadas torrefadoras enviam seus provadores ao leilão de Santos. As que adquirem os premiados adicionam outro arábica ao lote e vendem a mistura em edição especial por ocasião do Natal. Os premiados devem exibir na embalagem o selo de qualidade do concurso.
Otávio Nunes
Da Agência Imprensa Oficial
(L.M.)
10/14/2007
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