Projeto coloca Brasil em destaque na área da genômica



Há dez anos, a comunidade científica brasileira se organizou para iniciar um projeto que colocaria o País em destaque na área da genômica - ramo da bioquímica que estuda a estrutura genética de organismos. O primeiro grande passo dado por cientistas brasileiros foi o sequenciamento dos genes da bactéria Xylella fastidiosa, causadora do amarelinho (nome popular para a doença Clorose Variegada dos Citros) que ataca as plantações de laranja.

A bactéria endurece os frutos e inviabiliza o comércio para indústria de suco ou consumo natural. Com o mapeamento genético, cientistas podem criar soluções para prevenir ou combater a praga e evitar prejuízos para o setor. O sucesso do trabalho abriu oportunidades para o Brasil expandir as pesquisas para outras áreas, como saúde e bionergia.

O projeto, no entanto, não inovou apenas no trabalho desenvolvido, mas também na maneira como foi conduzido. Para facilitar o intercâmbio de informações entre os participantes, foi criada uma rede virtual chamada Onsa (sigla em inglês para Organização para Sequenciamento e Análise de Nucleotídeos). Ao todo, 192 cientistas e 35 laboratórios de São Paulo se envolveram no trabalho, que recebeu investimento de US$ 15 milhões (cerca de R$ 26,82 milhões na época) e foi o primeiro a fazer o sequenciamento completo de um organismo fitopatógeno (que causa doenças em plantas). O valor foi repassado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Fundo Paulista de Defesa da Citricultura (Fundecitrus).

Além de ajudar a indústria a reduzir prejuízos, o projeto nasceu de uma preocupação da diretoria científica da Fapesp, explica o ex-diretor científico da entidade, José Fernando Perez. Atualmente presidente da Recepta Biopharma, uma das empresas de biotecnologia que surgiram após o projeto inovador, Perez conta que o Brasil não estava acompanhando o crescimento intenso da biotecnologia ligada à genômica. “Era preocupante porque poderíamos ficar atrasados no domínio da ciência e da tecnologia da genômica. E a preocupação era como dar um salto. Havia poucos grupos que dominavam essa linguagem e tecnologia em São Paulo e no Brasil e a ideia era encontrar instrumentos suficientes e casos para superar este atraso”, relembra.

Inédito

A professora titular do Departamento de Botânica do Instituto de Biociência da USP e uma das coordenadoras dos grupos de trabalho, Marie Anne Van Sluys, explica por que o projeto da Xylella no Brasil foi pioneiro em vários aspectos. Pela primeira vez o País executou um projeto genoma completo de um organismo. Para isso, estabeleceu uma rede virtual de trabalho e juntou pesquisadores de diferentes formações para um objetivo comum, que foi o sequenciamento linear do genoma da Xylella. “Juntamos pesquisadores, médicos, agrônomos, biólogos moleculares, de genética clássica, da área de informática. Foi muito rico. Foi uma mudança de paradigma de como se faz ciência”, explica Sluys.

A professora ressalta que o projeto foi o primeiro a trabalhar com uma bactéria que causa doenças em plantas e, pela primeira vez, executado fora de laboratórios dos Estados Unidos, Europa ou Japão. E graças à decifração de seu código genético, cientistas puderam identificar algumas características do organismo e como ele se relaciona com a planta.

A diretora da filial brasileira do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, Anamaria Camargo, conta que o projeto Xylella contribuiu para desenvolver a pesquisa no Brasil. Segundo ela, a rede entre laboratórios montada no projeto pioneiro foi expandida e implementada em diversos outros projetos de genoma. Um deles foi o projeto do Genoma Humano do Câncer, realizado em paralelo com o sequenciamento da Xylella, fruto da parceria entre a Fapesp e o Instituo Ludwig. "Não houve apenas um avanço tecnológico de equipamento, mas também muita formação de recursos humanos. Criou-se um contato muito grande entre pesquisadores. As colaborações que eu tenho hoje em dia são frutos de contato realizados deste trabalho em rede”, diz Camargo.

Além de habilitar os laboratórios para fazer biologia molecular (estudo da estrutura e função do material genético) e também o sequenciamento genético, outro ponto positivo foi a criação de laboratórios de bioinformática, que até então eram poucos no Brasil. Em julho de 2010, um artigo da revista inglesa Nature, a mesma que há dez anos celebrou a entrada do Brasil no circuito dos países que conseguiram realizar o sequenciamento genético, destacou o aniversário de uma década da descoberta e as mudanças na área de bioinformática.



14/11/2013 16:31


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