Protesto e tumulto



Protesto e tumulto Trabalhadores da educação, servidores e professores de universidades federais em greve, estudantes e sem-terra ocuparam ontem a Esplanada dos Ministérios, em manifestação que reuniu 25 mil pessoas, segundo a Polícia Militar, ou 50 mil, de acordo com os organizadores. O que era para ser um protesto pacífico contra a política educacional do governo transformou-se em tumulto: estudantes ligados à UNE entraram em confronto com PMs. Depois de atear fogo a um boneco que simbolizava o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, e pisoteá-lo, os estudantes atiraram pedras, garrafas, cocos e até um rojão contra os PMs que protegiam o ministério. A PM respondeu mandando a cavalaria para cima dos estudantes e deixando o Batalhão de Choque de prontidão. Agentes da Polícia Civil infiltrados prenderam dois estudantes, apontados como incitadores. Segundo a UNE, cinco estudantes teriam sido presos pela PM, que só confirmou a detenção de dois. Um deles, Hélio Menezes Sacramento, de 23 anos, da Faculdade Católica de Salvador, foi arrastado e algemado. Depois do tumulto em frente ao MEC, os estudantes atravessaram a Esplanada e foram reforçar um protesto do Movimento dos Sem Terra (MST) em frente ao Ministério do Desenvolvimento Agrário. Mais uma vez, pedras e paus foram atirados nos PMs, que, de novo, usou a cavalaria. Professores em greve aproveitaram para exigir do governo o pagamento dos salários de setembro, bloqueados por Paulo Renato. O ministro permaneceu irredutível. — Se voltarem ao trabalho, eu pago — disse. Funcionários dos hospitais vão receber Paulo Renato determinou o pagamento dos salários dos funcionários dos hospitais universitários e repassou aos reitores a responsabilidade de só pagar os que estão trabalhando. Mas acabou admitindo que vai pagar a todos. A Advocacia-Geral da União recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF), ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao Tribunal Regional Federal (TRF) para reter o repasse dos salários de setembro dos professores. A categoria conseguira liminar no STJ segunda-feira. O STJ determinou o pagamento na terça-feira, mas o governo ainda não cumpriu a liminar. Ao STJ, o procurador-geral da União, Walter Barletta, pediu a mudança da decisão do ministro Gilson Dipp a favor do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes); ao Supremo, solicitou a cassação da liminar. O presidente interino do STF, Ilmar Galvão, pediu parecer do Ministério Público Federal. Até o confronto, a passeata seguia organizada como uma escola de samba. Os manifestantes foram divididos em sete alas de cores diferentes, cada uma representando um item de reivindicação. Havia até cordão de isolamento, feito por seguranças contratados pela organizadora, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Educação (CNTE). Havia estudantes usando perna-de-pau, bonecos alegóricos, palhaços e roupas coloridas. O alvo preferido era Paulo Renato, cuja acusação mais polida era de “inimigo da escola”. Ele foi atacado com palavrões em faixas e nos discursos nos carros de som. Ao lado do boneco de Paulo Renato havia um com feições diabólicas e chifres, simbolizando o FMI. — Quando era reitor da Unicamp, fizeram meu enterro debaixo da minha janela. Isso faz parte — disse Paulo Renato, que aceitou receber uma comissão da CNTE. O presidente da entidade, Carlos Augusto Abicalil, insistiu na reivindicação de revogação dos vetos do presidente Fernando Henrique Cardoso ao Plano Nacional de Educação, que, na versão original, estabelecia percentual mínimo de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) para investimento em educação. Paulo Renato disse que levaria o pedido a Fernando Henrique. Por intermédio do porta-voz Georges Lamazière, o presidente disse que esse investimento é feito por meio de programas como o Bolsa-Escola e o Fundef (Fundo Nacional de Desenvolvimento e Valorização do Magistério). Lamazière explicou que o presidente vetou o plano por considerar inadequado fixar em lei percentuais para gastos. — Na prática, estamos chegando a essa meta, pois os dados mais recentes de gastos na educação já estão em mais de 6% — disse. Comissão aprova parlamentarismo BRASÍLIA. Depois de quatro anos de discussão, foi aprovada ontem na Comissão Especial da Câmara, por 19 votos a favor e um contra, a emenda constitucional que institui o parlamentarismo como regime de governo a partir de 2007. O parlamentarismo tem a simpatia do presidente Fernando Henrique. A novidade do relatório do deputado Bonifácio Andrada (PSDB-MG) é a criação da figura do ministro-coordenador, que passaria a existir logo após a promulgação da lei como uma medida de transição até 2007. Esse ministro teria de comparecer ao Congresso a cada 30 dias para prestar conta das ações do governo. Como passou por uma comissão especial, a emenda agora está pronta para ir a plenário. Para virar lei, deverá passar por duas votações na Câmara e no Senado. A aprovação da emenda, porém, provocou reações: — A aprovação na comissão especial cria um fato e põe o tema na ordem do dia. Sou muito simpático ao parlamentarismo e à criação do ministro-coordenador, mas é preciso sentir a reação dos partidos — disse o líder do governo na Câmara, Arnaldo Madeira (PSDB-SP). — Sou parlamentarista convicto, mas essa emenda é inconstitucional. Esse foi o único tema da Constituinte que gerou um plebiscito e a população não aceitou. A Constituinte derivada, que somos nós, não pode mais mudar isso. Virou cláusula pétrea — afirmou o líder do PFL, Inocêncio Oliveira (PE), que vai solicitar uma consulta ao Supremo Tribunal Federal (STF). O PT também recorreu ao plebiscito ocorrido em 1993 para criticar a emenda. O deputado José Genoino (SP) disse que proposta que já foi reprovada em plebiscito não pode ser objeto de emenda constitucional. Câmara aprova Código de Ética e permite a cidadão denunciar deputado BRASÍLIA. A partir da semana que vem, qualquer cidadão poderá apresentar denúncias contra deputados, desde que acompanhadas de provas. As investigações por quebra de decoro serão conduzidas por um conselho de ética composto por 15 deputados, que terá prazos regimentais para a conclusão dos processos. Essas são as principais inovações do Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados, aprovado ontem e que será promulgado na terça-feira. — Trata-se de um dos momentos mais importantes do Parlamento. Pode não ser o texto ideal, mas é o possível e significa um grande avanço — disse o presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), que retomou há dois meses a discussão do Código de Ética, em tramitação na Casa há nove anos. Oposição tentou mas não conseguiu mudar o texto Ontem, na votação do projeto de resolução em segundo turno, a oposição ainda insistiu em suas propostas, como a que permitia a publicidade dos dados fiscais dos deputados. — Poderíamos ter evitado manifestações corporativistas que impedem a transparência da atividade parlamentar exigida pela sociedade. Mas temos de reconhecer que a aprovação do código é um avanço — disse o relator da proposta, o deputado José Dirceu (PT-SP). Pelo texto aprovado, o sigilo fiscal dos deputados ficará resguardado pela Mesa. Os dados sobre renda e variação patrimonial serão apresentados à Mesa anualmente, como já é hoje, mas poderão ser enviados ao Conselho de Ética caso o deputado esteja sendo investigado. Na votação de ontem, foi derrubada a exigência de que, para apresentar denúncia, o cidadão precisaria recolher assinaturas de pelo menos 5% do quociente eleitoral do estado do deputado alvo da denúncia. Com o texto final ficou apenas a exigência da prova. Em caso de denúncia de deputado contra deputado, não são exigidas provas, mas a apresentação de indícios sobre o delito. Hoje, sem o Código de Ética, as denúncias por quebra de decoro contra deputados são analisadas pelo corregedor-geral da Câmara. Agora haverá um colegiado para cuidar das investigações. Próximo passo é mudança da imunidade parlamentar Concluída a aprovação do Código de Ética, Aécio quer levar à plenário em duas ou três semanas a emenda constitucional que muda o conceito de imunidade parlamentar. A Câmara está negociando o texto que mantém a imunidade para o direito de palavra, opinião e voto, mas restringe a proteção em casos de crime comum. Pela proposta, todo crime comum cometido antes da posse será investigado pela Justiça Jader deverá formalizar renúncia ao mandato hoje BRASÍLIA. O senador Jader Barbalho (PMDB-PA), que anunciou segunda-feira pela TV sua decisão de abrir mão do mandato para escapar do processo de cassação, deverá finalmente formalizar a renúncia hoje. Ontem, em Belém, Jader disse que, em vez de enviar uma carta de renúncia ao Senado, estará hoje em Brasília para pôr fim ao impasse. — Não vamos nos antecipar: cada dia com a sua agonia. Se for possível compatibilizar a perícia nos documentos do Banco Central com o processo do Senado, que demonstra que não existe nada e que isso é uma injustiça, eu topo enfrentar o processo. Caso contrário, se eu perceber que é um risco, aí me afasto sem problema — disse Jader em Belém. O senador aguarda informações sobre a perícia judicial que pediu nos relatórios do BC para formalizar a renúncia. Mas não terá tempo porque o relator do caso na Mesa, Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), deverá apresentar seu relatório amanhã. Os dois suplentes de Jader — o pai, Laércio Barbalho, e seu ex-secretário Fernando Ribeiro — resistem a assumir a vaga após a renúncia. Projeto contra golpe da renúncia terá urgência BRASÍLIA. O presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), determinou ontem tramitação em regime de urgência para o projeto que prevê a inelegibilidade do parlamentar que renunciar ao mandato para escapar do processo de cassação e da perda dos direitos políticos. O senador Jader Barbalho (PMDB-PA), acusado de desviar recursos do Banpará, por exemplo, deverá renunciar ao mandato hoje para impedir a cassação e a suspensão de seus direitos políticos por oito anos. Para Aécio, o chamado golpe da renúncia prejudica a imagem do Congresso. — Renúncia, em qualquer tempo, não pode sustar mais o processo de cassação. Hoje, a partir da renúncia, os projetos são arquivados. Isso não é bom. Temos que mudar essa regra — disse Aécio. Na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ), foi designado um petista para a relatoria do projeto, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP). Embora esteja disposto a alterar o texto do projeto de Orlando Desconsi (PT-RS), Greenhalgh prometeu apresentar seu parecer em dez dias. A mudança do texto — deixando claro que a lei só valerá para casos futuros — poderá viabilizar a aprovação do projeto na Casa. Um dia depois de duvidar da aprovação do projeto, o líder do PFL (partido do ex-senador Antonio Carlos Magalhães, que renunciou ao mandato para escapar do processo de cassação), Inocêncio Oliveira (PE), disse ontem: — O que não pode é a lei incidir sobre alguém que renunciou quando a legislação em vigor era outra. O líder do PSDB na Câmara, Jutahy Magalhães Júnior (BA), elogiou a proposta. Segundo ele, não há chances de o projeto prejudicar Jader ou Antonio Carlos. Mas, rival do pefelista, Jutahy brinca. — Ainda não o submeti à bancada, mas terá meu voto. Já o efeito retroativo, infelizmente, não pode ser aplicado — afirmou. O líder do PT, Walter Pinheiro (BA), reconhece que a manutenção do projeto como está pode provocar briga judicial. Para ele, nada evitará que alguém entre na Justiça para impedir, por exemplo, a candidatura de Jader ao Senado. — Esse projeto vai dar muito pano para manga — disse Pinheiro. PMDB veta José Ignácio e mantém casal Camata BRASÍLIA. A reunião da executiva nacional do PMDB que rejeitou ontem a filiação do governador do Espírito Santo, José Ignácio Ferreira, se transformou num festival de baixarias e ofensas. Depois de muito bate-boca entre os dirigentes capixabas e o comando peemedebista, a executiva decidiu por uma proposta de consenso formada pelas duas alas: a dos Camata e a da atual direção local. O senador Gerson Camata (PMDB-ES) e a deputada Rita Camata (PMDB-ES), que ameaçaram trocar o partido pelo PSDB e pelo PPS, continuam no PMDB e ficaram com a presidência da junta interventora no diretório estadual; e o presidente regional, Hugo Borges Júnior, terá direito a indicar dois. Outra decisão foi a escolha do prefeito de Linhares (ES), Guerino Zanon, como candidato do partido ao governo do estado nas eleições do ano que vem. Mas até que se chegasse a essas decisões, foram gastas duas horas e meia em brigas. — Só aceitamos a saída de José Ignácio se o mesmo critério for usado para Orestes Quércia, Geddel Vieira Lima e Jader Barbalho, que, para nós, não são diferentes do governador — disse aos berros Hugo Borges. — Não vou responder a este tipo de gente. É mais fácil eu deixar de ser baiano do que o governador José Ignácio ser peemedebista — disse Geddel. José Ignácio Ferreira enfrenta denúncias de corrupção à frente do governo capixaba, entre elas, de cobrança de propina para a liberação de benefícios tributários. Eleito pelo PSDB, ele se desligou do partido em julho, para evitar constrangimentos ao partido do presidente. Rita Camata reclama do nível da reunião A deputada Rita Camata, que saiu duas vezes da sala por não suportar o tom das discussões, disse que o nível da reunião estava “abaixo da linha da cintura”. Mas a movimentação peemedebista não ficou só aí. Houve ainda a filiação do senador Sérgio Machado (CE), que trocou o PSDB pelo PMDB, e a saída do clã dos Cunha Lima do partido. A filiação do prefeito de Campina Grande (PB), Cássio Cunha Lima, ao PSDB desfalcou ainda mais a sigla peemedebista. Com ele, diversos deputados, estaduais e federais, e prefeitos paraibanos trocaram de legenda. Aliados fazem pressão por prévias no PSDB BRASÍLIA. Dos quatro partidos da aliança governista, apenas o PSDB não aceita ainda a idéia de realizar prévias para a escolha do candidato que disputará a eleição presidencial do ano que vem. O PMDB já tem prévias marcadas para o dia 20 de janeiro, o PFL prega a idéia já há algum tempo e o PPB propôs ontem que este deve ser um dos critérios de escolha do candidato para que a aliança possa ser reeditada em 2002. Em almoço ontem com o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), e o deputado Pedro Correa, presidente em exercício do PPB, o deputado José Aníbal, presidente do PSDB, ouviu apelos para estabelecer regras e critérios para a escolha do candidato da aliança. Jorge Bornhausen disse que, além das prévias em cada partido, seria prudente também a realização de prévias suprapartidárias. Ele tem repetido que o PFL não aceitará “prato feito”, uma referência à possibilidade de o PSDB impor aos partidos aliados o seu candidato. — Não sou contra as prévias, mas não estamos ainda preocupados com esse assunto — disse José Aníbal. Mas diante da pressão dos aliados pela definição de critérios, o PSDB não terá como ignorar o tema, que fará parte das discussões do partido na reunião que será realizada amanhã em Goiânia. Aécio defende processo amplo e democrático Apesar da resistência de grande parte da cúpula tucana, o assunto divide o partido. O presidente da Câmara, Aécio Neves, voltou a defender ontem um processo mais amplo e democrático de escolha do candidato do PSDB. — Não pode evidentemente ser uma escolha exclusiva da executiva nacional ou de uma pessoa. Se não for por meio de prévias, teremos que adotar um instrumento de consulta mais ampla, que envolva parlamentares e dirigentes estaduais do partido — disse Aécio. Ele diz que a realização de prévias é muito saudável por dois motivos: mobiliza as bases do partido e cria o compromisso de que todos os que disputarem aceitarão o resultado e estarão envolvidos com a campanha do vencedor. — Esse desejo de prévias ocorre porque não existe um candidato óbvio e aí cada um quer mostrar o peso que poderá ter nas eleições. Não sou contra as prévias, desde que elas não signifiquem desunião e atrito da base — disse o deputado tucano Arthur Virgílio (AM). PT articula encontro de Lula com Edir Macedo BRASÍLIA. Um encontro entre o possível candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, e o principal dirigente da Igreja Universal do Reino de Deus, bispo Edir Macedo, está sendo articulado entre o núcleo evangélico do PT e o deputado Bispo Rodrigues (PL-RJ), o coordenador político da seita. O primeiro passo para essa aproximação será um jantar entre Lula e o Bispo Rodrigues, em Brasília, nas próximas semanas. Os conflitos entre o PT e a Igreja Universal nas últimas eleições são coisas do passado, dizia ontem Bispo Rodrigues: — O Conselho de Bispos da Igreja Universal determinou que não haja animosidade com o Lula. Tínhamos preconceito com o PT por falta de informação e ignorância. Hoje o Lula não assusta mais a comunidade evangélica, muito menos a Igreja Universal. Igreja Universal já comparou Lula com forças do mal Na última campanha eleitoral, o jornal da Igreja Universal chegou a comparar Lula e o PT com as “forças do mal”. Mas no PT, essa aproximação tem sido tratada com muito cuidado. Parlamentares petistas confirmam que está sendo agendado o encontro. Ontem, na Itália, Lula minimizou o acordo, dizendo que não estava conversando com a Igreja Universal, mas com o PL: — Não vamos fazer acordo nem com a Igreja Universal e nem com nenhuma igreja, seja católica ou Assembléia de Deus, porque não são partidos políticos. Não se conversa com a Igreja enquanto instituição e sim com partidos. O presidente do PT, deputado José Dirceu (SP), defende a mesma tese: — Nossa conversa é com o PL. Mas, se a Igreja Universal não ficar contra a candidatura de Lula, já será muito bom. O líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA), que é batista, disse que, a partir de agora, será aberta a fase de discutir alianças políticas. Sobre a aproximação com a Universal, ele é pragmático: — Apoios e votos não se pode rejeitar. Seja pelas práticas questionáveis de Edir Macedo ou pela forma como Lula foi tratado pela Universal no passado, o PT trata o assunto com cuidado. O partido não pode rejeitar o apoio de uma comunidade de quase 30 milhões de eleitores, mas teme que uma relação mais estreita provoque divisões na legenda, que sempre contou com a simpatia de setores da Igreja Católica. Filiação de Alencar reforça contatos com evangélicos A filiação do senador José Alencar (MG) ao PL, que será formalizada hoje em Belo Horizonte, reforçou os contatos de integrantes da bancada evangélica com o PT. Alencar já disse a Lula que o apoiará em qualquer circunstância. Ao negociar sua filiação ao PL recebeu carta branca para tomar o rumo que quiser nas eleições de 2002. Católico, o mineiro não vê problemas em conviver com os evangélicos do PL. — Não tenho preconceito de ser apoiado pelo Edir Macedo. Não misturo religião com política — disse Alencar. Artigos Terrorismo e Islã HELIO JAGUARIBE Passado o momento de horror e de indignação gerado pelo atentado terrorista de 11 de setembro, apresenta-se para os Estados Unidos e o mundo civilizado a angustiante questão do “que fazer?”. A reação inicial do presidente e do povo americanos foi a de considerar os Estados Unidos vítimas de um ato de guerra, de que logo resultou a mobilização de um poderoso aparato militar. Paralelamente a essa mobilização, os Estados Unidos empreenderam uma ampla campanha diplomática para receber apoio e colaboração de todos os países. Esse apoio foi dado de forma igualmente ampla. Arafat condenou veementemente o atentado e doou sangue para os hospitais americanos. Fidel Castro, os governos de Rússia e China, o próprio prefeito de Teerã, se reuniram a uma quase unânime manifestação de protesto contra o atentado e de solidariedade ao povo americano. O Conselho de Segurança das Nações Unidas conferiu aos Estados Unidos o direito a uma justa reação, para a qual a Otan assegurou sua colaboração operacional. Armados esses dispositivos militares e diplomáticos, os Estados Unidos e o mundo civilizado se defrontam com o problema de que o que está em jogo, diversamente da primeira reação americana, não é uma nova guerra mundial, nem mesmo uma guerra contra um país primitivo como o Afeganistão, a despeito de este se estar acumpliciando com o líder terrorista Osama bin Laden. O que está em jogo é uma questão extremamente complexa e que apresenta diversos níveis de profundidade. É evidente que, com a ativa participação de Bin Laden, mas não apenas por causa dele, formou-se uma imensa rede de terrorismo internacional, com base em pelo menos 35 países, europeus, alguns, como Inglaterra e Alemanha, a maioria em países islâmicos. É igualmente evidente que Bin Laden, seja ou não diretamente responsável pelo atentado, comanda essa rede direta ou indiretamente, com o apoio de um grupo de fiéis terroristas, e conta com a proteção dos talibãs, que se negam a entregá-lo. A angustiante questão do “que fazer?”, nas presentes condições, se reveste de extrema complexidade, tanto porque, em termos puramente operacionais, a captura de Bin Laden não se pode realizar por meios militares comuns, como, o que ainda mais importa, porque o terrorismo internacional não terminará com essa captura, nem depende de Bin Laden para subsistir e prosperar. Reduzindo uma questão complexa a seus aspectos mais simples, importa reconhecer que o que está em jogo é um conjunto de problemas relacionados com as dificuldades que a cultura islâmica vem experimentando, desde fins do século XVII, para se modernizar e resistir ao impacto da cultura ocidental. O islamismo é uma concepção totalizante (não necessariamente totalitária) do mundo, em que as dimensões religiosas, política e civil se fundem num núcleo único, que é a ummah. Um dos requisitos do processo de modernização consiste na instituição de sociedades caracterizadas pela independência de seus subsistemas — religioso, político, civil. A cultura ocidental passou por várias e terríveis crises até atingir a plena independência de seus subsistemas, o que só logrou a partir do século XVIII. A luta entre o papado e o império, que marcou a Idade Média, o Renascimento, a Reforma, a Ilustração, essas várias etapas da cultura ocidental tiveram de ser percorridas até chegarmos à sua modernidade. A maior dificuldade do Islã é converter-se, como o cristianismo, numa religião subjetiva. Somente a Turquia de Kemal Ataturk logrou esse feito, assim mesmo para se defrontar, hoje, com fundamentalistas que o renegam. O islamismo situa seus crentes num continuum que vai do islamismo subjetivo, da Turquia oficial, ao islamismo moderado, de Marrocos, ao islamismo ortodoxo, de Arabia Saudita, ao islamismo fundamentalista dos aiatolás iranianos, ao islamismo radical de núcleos existentes em quase todos os países islâmicos. É desse islamismo radical que surgem os grupos terroristas. Nenhum controle do terrorismo islâmico é viável e eficaz se não se fizer em nome do próprio islamismo e de sua modernização, promovido pelos setores moderados que predominam na maioria dos países islâmicos. É exclusivamente com o isolamento dos terroristas, em sua própria cultura e território, a partir dos setores progressistas de cada país islâmico, que se pode conter o terrorismo. Colunistas PANORAMA POLÍTICO – TEREZA CRUVINEL Grid de largada Encerra-se agora, com o prazo para mudança de partido, o turno zero da eleição de 2002. Muita gente trocou de legenda, mas os partidos continuam os mesmos. Na correlação de forças, o PMDB pode ter ganhado mais entre os partidos governistas ao segurar Itamar Franco. Mas ganha também uma confusão permanente. Na oposição, o PT mais ampliou as possibilidades de aliança. O que o PMDB ganha ao segurar o complicado Itamar é um trunfo em suas barganhas com o governo. Itamar ganhou a vice-presidência do partido e aposta nas prévias de janeiro. Apesar do predomínio dos governistas, um itamarista como o deputado Hélio Costa lembra que nas prévias votarão no mínimo oito mil filiados (se votarem apenas membros dos diretórios). Ou 800 mil, se o direito for garantido a todos os filiados. Em universo tão grande, não se compra nem se acabresta votos, diz ele. Pode ser. Evitou o PMDB um prejuízo de imagem recusando a filiação do governador do Espírito Santo, José Ignácio, e segurando o casal Gerson e Rita Camata. O PSDB fez festa para receber a adesão mais valiosa deste período, a do prefeito de Campina Grande (PB), Cássio Cunha Lima. Ganhou muitos quadros no varejo, mas nada que faça uma grande diferença para a disputa. Não conseguiu, por exemplo, filiar o prefeito de Curitiba, Cássio Taniguchi, que seria um candidato competitivo ao governo do Paraná, onde os tucanos estão desfalcados. O ganho do PFL foi ter contido a hemorragia de seus quadros com a candidatura presidencial da governadora Roseana Sarney. Quem andou querendo cair fora teve uma razão para continuar no partido. No campo da oposição, salvo alguma mudança inesperada hoje, o PT ficou em melhor situação, com mudanças localizadas em Minas, mas capazes de influir no jogo nacional. O prefeito de Belo Horizonte, Célio de Castro, que se filia hoje, com sua liderança e seu largo trânsito político, será o comandante do palanque de Lula em Minas, segundo maior colégio eleitoral do país. Ganha indiretamente o PT com a filiação do senador José Alencar (ex-PMDB) ao PL. A aliança do PT com o PL está mais adiantada do que se imagina e não exatamente para fazer do senador o vice de Lula. Mais provável agora é que ele (e não Célio ou o ex-prefeito petista Patrus Ananias) dispute o governo do estado com o apoio do PT. O PPS de Ciro Gomes teve crescimento quantitativo, mas, para a largada, saiu no prejuízo. O rompimento prematuro da aliança com Brizola e o PDT deixa de oferecer a Ciro tempo maior de televisão e polimento oposicionista. Brizola e o PDT não conseguiram um candidato que, reinserindo o nacional-trabalhismo no debate, garantisse a sobrevivência do partido. Sem Ciro e sem Itamar, resta saber para onde vai Brizola. Miro Teixeira, líder na Câmara, promete ir à convenção pregando a unidade das oposições, o que pode ser entendido como apoio ao candidato mais viável da dividida oposição. O PSB ficou onde estava com Garotinho. Pode receber ainda hoje uma adesão importante, a do senador Paulo Hartung (PPS), candidato favorito ao governo do Espírito Santo. Agora, começa outra etapa pré-eleitoral.Para Leonel Brizola, Lula tornou-se um sapo mais barbudo depois da filiação de seu filho José Vicente ao PT. Mas sem Ciro e Itamar, parte dos pedetistas reflui para o apoio a Lula.Não é sem tempo A renúncia ainda não consumada de Jader Barbalho para escapar da cassação fez o presidente da Câmara, Aécio Neves, acelerar a tramitação do processo que torna inelegíveis, mesmo com a renúncia, os parlamentares processados. Deve também o Congresso vacinar-se ainda este ano contra os aventureiros que disputarão um mandato em 2002 buscando a impunidade sob o mandato da imunidade. O projeto em tramitação não livrará os parlamentares de qualquer crime cometido antes da eleição. Garantirá apenas o foro privilegiado. Continuarão eles imunes por palavras, voto e opinião, mas por crimes comuns serão automaticamente processados. Caso a vítima demonstre que está sendo alvo de perseguição política, a suspensão do processo poderá ser votada pela respectiva Casa. Isso também era para ontem.O PRESIDENTE do INSS, Fernando Fontana, espera acabar com a greve dos servidores até amanhã. Arranjou os recursos, agora depende apenas de autorização da área econômica. Fontana reconhece os transtornos causados à população, mas garante que todos os benefícios serão pagos com correção plena. Pelo menos. O MINISTRO Celso Lafer explicará hoje na Câmara a autorização dada ao governo dos EUA para instalar em São Paulo um escritório de seu serviço secreto. O governo brasileiro deveria ter pedido autorização do Congresso, argüiu no STF o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh. O Supremo pediu explicações a Lafer. O CENAFOCO é um dos programas do Plano Nacional de Segurança, destinado a prevenir a violência com a formação de empreendedores sociais, ensinando-os a montar programas sociais para áreas carentes com altos índices de violência. O acerto da iniciativa será avaliado em seminário hoje e amanhã em São Paulo, por iniciativa da secretária de Assistência Social, Wanda Engel, e da Secretaria de Direitos Humanos. Editorial Caminho da paz O apoio explícito do presidente George W. Bush à criação do Estado palestino, tornado público anteontem pela primeira vez, representa notável mudança de rumo numa política externa antes marcada pelo que parecia ser uma forma arrogante de isolacionismo ou desinteresse. Nos primeiros oito meses de governo, Bush procurou guardar prudente distância dos problemas do Oriente Médio; parecia querer mostrar repúdio ao profundo envolvimento de seu antecessor, Bill Clinton. A manifestação de agora, mais que uma correção de rumo, é passo importante no intenso esforço diplomático dos Estados Unidos para garantir a adesão do mundo árabe à frente internacional contra o terrorismo. Um acordo que efetivasse a criação do Estado palestino removeria a maior fonte de atrito entre árabes e judeus, dando uma demonstração prática da possibilidade de convívio — justamente num momento em que ganha terreno, em certos setores acadêmicos, a tese da incompatibilidade fundamental e do conflito inevitável de civilizações. Afirmam fontes oficiais em Washington que a decisão de iniciar nova ofensiva diplomática no Oriente Médio, incluindo a declaração de apoio ao Estado palestino, tinha sido tomada antes dos atentados de 11 de setembro, e que portanto não existiria relação de causa e efeito entre os ataques terroristas e a nova política para o Oriente Médio. De qualquer forma, Bush esperou para falar de israelenses e palestinos num momento crucial da guerra ao terrorismo: a véspera da ação. É inevitável que suas palavras ganhem significado especial: o mundo tomou nota de que Bush finalmente reconhece o papel insubstituível dos EUA na pacificação do Oriente Médio. Lá, uma política americana de distanciamento não costuma ser interpretada como imparcialidade, mas como incompreensão ou hostilidade. Um discurso não elimina os enormes problemas que dividem Israel. Mas é um alívio saber que os EUA voltaram a entender que a paz ou a crise entre o Ocidente e o mundo árabe começam ou acabam naquela faixa estreita do Oriente Médio. Topo da página

10/04/2001


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