PSB reforça apelo à unidade







PSB reforça apelo à unidade
Executiva do partido dá apoio ao gesto do deputado federal Eduardo Campos, de retirar seu nome da disputa eleitoral e reabrir as negociações pela unidade das oposições

Dividida entre pró e contra o gesto, a Executiva Estadual do PSB acatou, ontem, a decisão do deputado federal Eduardo Campos de retirar o seu nome do debate sucessório a governador entre as oposições. O deputado pediu e o partido concordou em ir à mesa de discussão sobre a unidade das esquerdas sem colocar pré-candidatura. O PSB e Eduardo Campos esperam, agora, a iniciativa de Humberto Costa (PT) e José Queiroz (PDT), ambos lançados por suas legendas, no sentido de conversarem objetivamente e apresentarem claramente as intenções e termos para a unidade. “Não é que façam o mesmo, se retirem do debate. Não vamos discutir nomes, mas o conteúdo da aliança”, mandou o recado Eduardo Campos.

A decisão do deputado socialista aconteceu há três dias, depois de considerar uma série de episódios e ouvir líderes do partido e o avô e presidente nacional do PSB, ex-governador Miguel Arraes. Campos disse que foi uma decisão pessoal, e não, induzida por Arraes. “Conversei duas vezes com ele. Na primeira, Arraes me disse que ‘eu estava vendo as coisas com clareza’ e orientou-me a ouvir outros”, revelou. O deputado informou que comunicou a posição ao presidente nacional do PPS, senador Roberto Freire, que lhe disse estar de acordo com o gesto. O PPS e o PSB haviam firmado um acordo, há duas semanas, pelo qual consideravam a possibilidade de lançarem uma chapa, embora a primeira opção fosse a unidade geral.

Campos afirmou que também comunicou o gesto ao petista Humberto Costa. “Humberto perguntou se era uma decisão ou se ia ainda ser submetida à Executiva, e eu disse que a decisão estava tomada”, detalhou. O deputado ainda a comunicou ao prefeito João Paulo (PT) e aos presidentes regionais do PTB, André Campos, e do PL, Marcos de Jesus. “Recebi apelo para colocar o meu nome claramente na disputa, e estava sendo pressionado pelo governador Anthony Garotinho (pré-candidato a presidente da República) que queria um palanque do partido”, confessou.

Nos bastidores do partido, a versão é a de que Campos começou a formalizar o gesto a partir de fatos recentes e contraditórios, que aprofundaram atritos entre os partidos: a entrevista do vice-prefeito Luciano Siqueira (PCdoB) ao JC alertando o PT para seu imobilismo; o alerta de João Paulo sobre uma conspiração contra o PT; o anúciou do PT de que vai procurar os aliados depois do Carnaval, ao mesmo tempo em que Humberto propôs o lançamento de três chapas.
O deputado se viu pressionado, ainda, pela proximidade do programa partidário do PSB, marcado para o próximo dia 20. “Se me vissem ao lado de Garotinho sem anunciar esta posição agora, todos diriam que eu sou candidato”, explicou.


Gesto calculado à espera do PT e do PDT
O presidente estadual do PSB, Jorge Gomes, afirmou que nem o partido, nem o deputado Eduardo Campos, nem qualquer liderança socialista havia anunciado, em qualquer tempo, a sua candidatura. “O gesto do deputado é apenas a ratificação da decisão do Diretório Estadual, confirmada em congresso, de buscar a unidade sem apresentar nome”, disse Gomes. A decisão de retirar o nome de Campos foi entendida, segundo os líderes, mas é certo que não houve a concordância de grande parte, especialmente os candidatos proporcionais.

A expectativa é a de que a posição provoque o PT e o PDT. “Espero que sirva para os outras serem pressionados por seus partidos a adotar um gesto em favor da unidade. Se não unir, o PSB terá de decidir o seu caminho”, analisou um socialista, sem querer se identificar. “É um gesto pensado e amadurecido. Tenho certeza que vai ajudar à unidade”, tentou convencer Campos. O deputado reconheceu que é um gesto de risco e praticamente irreversível, pois, se não se concretizar a unidade, o PSB terá dificuldade explicar um retorno. “Se anuncia que sai, como depois vai anunciar que volta?”, concordou um assessor.

Os contrários à decisão argumentaram que, apesar do gesto, a unidade será difícil em função estágio de relacionamento atual. “A decisão dele está dessintonizada da base. O crescimento do partido se deu a partir da expectativa de uma candidatura própria. Excelente gesto para as oposições, ruim para o partido”, avaliou o vereador do Recife, Sileno Guedes. “Acho que a decisão é irreversível. Só um grande entendimento das oposições e uma convocação poderá justificar uma volta”, completou.

Apesar do encontro fechado, trechos de pronunciamentos eram ouvidos do lado de fora. “Se voltar atrás, ficará sem discurso”, disse o socialista Alexandre Rossi. “Essa bagunça aí, essa conversa babaca, é que estão nos afastando da opinião pública. Não tem candidatura própria que empolgue. Pode haver dez ou 20, é tudo um caminhão de japonês”, disparou o vereador de Olinda, Pedro Mendes. Inflamado, o vereador chegou a alfinetar o petista Humberto Costa: “Não tem candidato que empolgue. A dengue tá solta aí e Humberto não consegue acabar”.

O deputado federal Djalma Paes, entretanto, saiu em defesa da posição de Eduardo Campos. “Está correta politicamente e pode contribuir para a unidade”, disse. O dirigente da Executiva Adilson Gomes também defendeu o gesto: “Campos sai por cima. Dá uma grande lição. Temos é de ter competência para valorizar o gesto.”


Itamar Franco critica a ação dos marqueteiros
O governador de Minas acusa os marqueteiros de estarem criando uma eleição falsa, na qual os protagonistas “não seriam candidatos, mas sim bonecos”

BELO HORIZONTE – Em má-fase nas pesquisas de intenção de voto à Presidência da República, o governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), acusou ontem os marqueteiros de estarem criando uma eleição falsa, em que “não candidatos, mas bonecos seriam os protagonistas”.
Apesar de não ter citado nomes, o governador deu a entender que queria se referir à disputa que PSDB e PFL travam para ter durante a campanha presidencial o publicitário Nizan Guanaes.

“Os marqueteiros estão levando o País a um caminho não-democrático. É preciso voltar ao processo mais puro, que era quando o candidato expunha realmente o que ele era”, afirmou, completando em seguida: “Não pode é vestir o sujeito de terninho bonitinho, maquiá-lo, pintar os olhos, talvez até pôr uma lente azul ou verde. Tudo isso dá uma imagem irreal ao eleitor”.

Questionado se estaria criticando indiretamente a governadora Roseana Sarney (PFL-MA), Itamar disse que não se referia a “A ou B”, mas deixou escapar um ato falho ao dizer acreditar que esta é “uma eleição falsa”. “Essa vem se tornando uma eleição falsa, já que não representa a realidade, representa um homem e uma mulher que estão sendo preparados e prática quando exercer o cargo.”

Apesar de defender um retorno a um processo mais puro e de dizer que nunca se adaptou a um marqueteiro, Itamar recebeu ontem a notícia de que o PMDB mineiro já tem pronta a campanha dele para as prévias do partido de 17 de março.

SAÍDA – Alvo de críticas por parte dos adversários de Roseana Sarney, o publicitário Nizan Guanaes – responsável pela campanha da governadora – comunicou anteontem à noite ao presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), que nos próximos meses vai trabalhar exclusivamente com o presidente Fernando Henrique. Com isso, deu por encerrado seu contrato com o PFL.

Mas deixou prontos todos os pequenos filmetes do partido que serão mostrados, neste e nos próximos meses, em inserções na televisão. “Está tudo certo entre nós, até porque o PFL não tem programa nacional até agosto”, disse Bornhausen. “Nizan tem de cuidar da vida dele e do presidente Fernando Henrique. Nós temos de cuidar da nossa.”


Ciro Gomes chega ao Recife para ver o desfile do Galo
O presidenciável do PPS, Ciro Gomes, chega hoje no Recife para marcar presença na festa mais popular do Estado. Depois de um entrevista coletiva, no início da tarde, o ex-ministro participará, à noite, da abertura dos festejos de Momo, evento promovido pela Prefeitura do Recife, na Praça do Marco Zero. Amanhã, Ciro Gomes, que vem acompanhado pela namorada, a atriz Patrícia Pillar, estará no camarote do prefeito João Paulo (PT) para assistir ao desfile do Galo da Madrugada.

Depois de soltar confetes no bloco Nóis Sofre, mas Nóis Goza, à tarde, o pós-comunista encerra sua passagem pelo Estado, retornando ao Rio.
Planejada não por acaso, a visita de Ciro Gomes ao Estado durante o Carnaval vem fantasiada com as cores da campanha do PPS e terá o propósito colher a simpatia do eleitorado local.

Rotulado como um dos presidenciáveis de “menor empatia com o povo”, Ciro deverá aproveitar a folia para dar um tom mais popular ao seu palanque. Seguindo o exemplo do governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), e do ministro da Saúde, José Serra (PSDB) - outros dois candidatos à Presidência da República que reforçaram suas campanhas em Pernambuco no mês passado -, Ciro investirá no ‘corpo a corpo’ durante a festa.


Preso acusado de participar de seqüestro de prefeito
SÃO PAULO – A Polícia Civil de São Paulo prendeu ontem um menor de 17 anos que teria participado do seqüestro e morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel. O menor de 17 anos apontou a identidade dos demais seqüestradores de Daniel. O líder do bando seria Itamar Messias dos Santos, 21, com passagens na polícia por furto e porte de drogas.

Até o início da noite de ontem, homens do Departamento de Investigação sobre o Crime Organizado (Deic) estavam em busca dos demais bandidos, acompanhados do menor. A polícia sabe que o menor dirigiu a Blazer verde usada no seqüestro. O carro usado no crime é o segundo modelo apreendido pela polícia nas investigações. A Blazer estava queimada num lixão da zona sul de São Paulo.

Os delegados e investigadores que participam da apuração consideram o caso 99% solucionado. O ex-prefeito de Santo André ficou num bar abandonado na Favela Pantanal, na zona sul, sob a guarda de dois criminosos armados com carabinas de calibre 12. A polícia procura, além dos bandidos, a pistola usada para matar Daniel.


Jarbas e Lapa: “amabilidades” por ofício
O clima festivo do Carnaval não impediu a implosão de uma nova briga política envolvendo dois personagens que já não se dão muito bem: o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) e o deputado estadual Carlos Lapa (PSB). Provocado por Lapa, Jarbas entrou numa “troca de amabilidades” com o adversário, por ofício, que traz ingredientes típicos de uma história de folclore político.
A troca de desaforos começou com um telegrama enviado por Lapa ao Palácio. Nele, o deputado socialista acusa o governador de agir de forma mesquinha ao “perseguir” os municípios de Carpina e Tracunhaém, na Mata Norte, não os ajudando na realização do Carnaval, e de utilizar a mídia para “enganar” a população. Carpina é governada pelo irmão do deputado, Joaquim Lapa, e Tracunhaém pela esposa, Graça Lapa.

A resposta do governador, por ofício, foi curta e grossa. Jarbas registra o recebimento da “desaforada” e “inverídica” mensagem, ressalta que o Governo vem, sim, promovendo o turismo no Estado, com o apoio ao Carnaval de vários municípios, “independentemente da posição partidária de seus prefeitos”, e arremata: “Propaganda enganosa faz Vossa Excelência, como é público e notório e bem sabem a população e o Ministério Público”.

Disposto a provar que é um folião bom de briga, Lapa contra-atacou, ontem, em ofício endereçado no final da tarde ao Palácio, com cópias aos jornais. Considera o texto de Jarbas “ameaçador, desequilibrado e antidemocrático”, reafirma sua acusação e, por tabela, atinge o procurador de Justiça do Estado, Romero Andrade: “A ameaça que V.Exa. me faz envolvendo o Ministério Público não me causa medo. O Procurador da Justiça, pessoa indicada por V.Exa. é sobrinho de um testa de ferro”, escreve. Procurado pelo JC, Romero Andrade deixou para hoje uma resposta ao parlamentar.

Com sua caneta ferina, Lapa também lembra a Jarbas o episódio eleitoral de 1985, quando o peemedebista (então no PSB) elegeu-se, pela primeira vez, prefeito do Recife. Naquela campanha, diz o deputado, ele (Lapa) foi o autor de uma carta que “ensejou a vitória de V.Exa. (Jarbas)”.
Trata-se da acusação de assassinato contra o ex-deputado Sérgio Murilo, adversário de Jarbas naquela eleição e, posteriormente, inocentado no caso. A acusação de Lapa, feita no Guia Eleitoral da campanha jarbista, surgiu num momento em que Sérgio Murilo liderava as pesquisas, cenário que terminou alterado a poucos dias da eleição. Episódio lembrado agora pelo próprio autor da acusação, em nova provocação ao governador, seu antigo colega (pelo menos de palanque e Guia Eleitoral).


Colunistas

Pinga-Fogo - Inaldo Sampaio

Um olhar ao longe
Depois de ter sido, sucessivamente, no espaço de apenas cinco anos, deputado federal, ministro de estado, prefeito do Recife e governador , Joaquim Francisco continua sendo uma das melhores cabeças do PFL, malgrado não ser bem visto por setores da cúpula por ser independente demais para o gosto dela. Poderia ter abandonado o partido em abril do ano passado para procurar espaço em outras legendas, como fizeram Roberto Magalhães e José Múcio, porém chegou à conclusão de que o eleitor pernambucano costuma ser muito rigoroso com quem troca de partido sem razão plausível.

Aparentemente ele ainda alimenta a esperança de ser convocado pela cúpula da aliança para disputar uma das vagas no Senado, mas não desgruda um minuto sequer de sua campanha à reeleição. É quem mais investe no “corpo a corpo” e talvez o deputado federal que mais visitou municípios do interior nos últimos quatro anos.
Sua prioridade na política, hoje, é a renovação do mandato para a Câmara Federal a fim de dar início, imediatamente, à batalha eleitoral de 2004. Naquele ano, é pouco provável que a aliança PFL-PMDB se reproduza para a eleição do prefeito do Recife e ele espera ser convocado pelo seu partido para se contrapor ao PT.

Até o último minuto
Não passou de jogo de cena a afirmação feita no final do ano passado por Jorge Bornhausen e outros líderes do PFL, de que o partido “desembarcaria” do governo assim que Serra fosse lançado candidato à sucessão de FHC. Após ouvir as ponderações do ministro José Jorge, de que não valeria a pena o PFL entregar os cargos e continuar sendo chamado de “governista”, Bornhausen voltou atrás. O partido ficará no governo até o seu final, a menos que FHC não queira.

Único sólido
Do secretário Humberto Costa (saúde), virtual candidato do PT ao Governo do Estado, sobre a previsão de Maurílio Ferreira Lima (PMDB) de que Lula está fora do segundo turno: “É uma avaliação insensata e precipitada. Se há um candidato a presidente que apresenta solidez desde o início da campanha, este candidato é Lula”.

Fica no partido
Embora “cercado” por Sérgio Guerra para se filiar ao PSDB, o prefeito de Vitória, José Aglaílson (PSB), não deixará seu atual partido. Esteve anteontem no Palácio a fim de pedir dinheiro a Jarbas para combater um surto de dengue e, à saída, disse aos jornalistas que o esperavam: “Não saio do PSB e o meu candidato é Garotinho”.

Ex-vereador sai de Jaboatão sem fazer zoada
O ex-vereador Admaldo Matos (PFL) desligo u-se do secretariado do prefeito Fernando Rodovalho (Jaboatão) da mesma maneira com que ingressou: sem fazer barulho. Agora, o único pefelista da equipe é Wálter Maciel (Endeja).

Michel chegou para unificar mas a divisão persiste
E como diz o ministro José Jorge, o PMDB ficou pior sob o comando de Michel Temer (SP). Uma ala deseja apoiar Serra (PSDB), outra quer marchar com Roseana (PFL), uma 3ª defende Lula (PT) e uma 4ª advoga chapa própria.

Bandejão 1
Vice-presidente da Força Sindical e candidato a deputado estadual pelo PFL, Marco Aurélio Medeiros está pleitando ajuda do Estado para o programa “bandejão do trabalhador”, que fornece almoço a R$ 1,00 na Rua da Concórdia. A FS fornece 500 refeições/dia, mas ele quer ajuda do Estado para dobrar essa oferta.

Bandejão 2
O Governo do Estado não se entusiasma com esse projeto porque ele tem a cara de um político que é aliado de Eduardo Campos (PSB): Anthony Garotinho (RJ). O governador do Rio inaugurou um refeitório popular na “Central do Brasil”, para fornecer almoço a R$ 1,00. E já mandou providenciar a instalação de mais três.

Preso por ter criticado os seus superiores, o major PM Paulo Dantas era tido até bem pouco tempo no QG do Dérby como um dos oficiais mais sérios e aplicados da corporação. Tanto que foi indicado pelo comandante Iran Pereira para fazer um curso, em Brasília, na área de informações. Quem mudou? Ele ou o comandante?

Do líder do PSDB, Antonio Moraes, sobre o esperneio de Carlos Lapa (PSB) por não ter conseguido dinheiro da Empetur para os carnavais de Carpina e Tracunhaém: “Eu, que sou aliado do governo, só consegui ajuda para três cidades, como é que Lapa quer receber ajuda batendo no governo todos os dias?”

Foi como “político” e não como “sociólogo” que FHC disse aos seus ministros que “será ridículo pensar em utilizar a máquina, até porque as máquinas são inúteis para o voto”. S. Exa. por certo desconhece que em muitos municípios e estados do Nordeste o uso da “máquina” desequilibra o jogo e foi o que reelegeu inúmeros prefeitos no pleito passado.

A Secretaria de Imprensa afirma que não faz parte da “agenda” da Jarbas retaliar prefeitos que não são aliados do governador, conforme denúncia de Carlos Lapa (PSB). E cita os exemplos de Petrolina e Recife, onde os prefeitos são de oposição mas têm um bom relacionamento com o Palácio.


Editorial

Do Oiapoque ao Chuí

Roraima, o Estado menos populoso do País, no extremo Norte, teve que fazer uma profunda revisão no sistema de trabalho da polícia militar para enfrentar a criminalidade. No pequenino Estado há crimes brutais e chacinas com freqüência rotineira. A Delegacia Especializada em Prevenção e Repressão a Entorpecentes do Amazonas anuncia o desmonte, em Manaus, de um serviço de disque-droga. São Paulo chama atenção por ser o primeiro lugar em seqüestros e pelo retorno da contagem de chacinas. Uma prática monstruosa que faz parte hoje da rotina da cidade.

No extremo Sul, publicações abrem mais espaço para a crônica policial. No Rio e Janeiro, ônibus são queimados como represália de bandidos. Cá entre nós, a banalização das mortes violentas já ultrapassou, de muito, a capacidade de tolerância de qualquer sociedade civilizada.

Desta forma, se abrirmos um mapa do Brasil e apontarmos um núcleo urbano aleatoriamente, aí haverá índices de criminalidade intoleráveis. A resenha dos crimes indica uma situação de barbaridade que parece ter fugido do controle do Estado. E essa ruptura institucional fica mais visível e é mais assustadora quando se manifesta na arrogância de bandos armados que desafiam o poder público e se colocam acima deles. Em muitos casos, o fazem desarmados e dentro das prisões, o que escancara ainda mais a degradação do sistema nacional de segurança.

Esse é um cenário para o qual temos que estar permanentemente voltados. Com indignação e revolta. É revoltante constatar que ninguém mais tem segurança neste País. Causa indignação a massificação do medo de circular pelas ruas de uma cidade. Tiraram-nos a liberdade depois de nos agredir com um Brasil brutalizado em que todos somos reféns do terror armado. É como se tivéssemos um atentado em cada esquina, sem a repercussão dos grandes golpes terroristas. Haverá alguém que veja menos terror no seqüestro? Há como medir o tamanho da dor causada em atentados com grande número de vítimas e os seqüenciados, em todas as partes, que enlutam milhares de brasileiros todas as semanas? Não estamos, assim, sendo vítimas de um processo continuado de terrorismo, do Oiapoque ao Chuí?

Um senador que já viveu no lado mais difícil desta guerra civil dissimulada, Romeu Tuma, disse recentemente no Senado que o Brasil está diante de uma encruzilhada e ou se encontra rapidamente o caminho certo ou a nossa sociedade não poderá viver em paz. Com a experiência de sua carreira na área policial, o senador poderia ter sido mais rigoroso em seu alerta. Não há mais o que esperar, não há mais rapidamente. Na verdade, já perdemos a paz e estamos mergulhados na mais brutal condição de insegurança social. Do excluído que é chacinado em seu barraco, ao privilegiado que circula em carro blindado. Ninguém mais está seguro de nada e essa é uma condição intolerável.

A Nação inteira deve esperar ansiosa pelo discurso da nossa elite política e todos devem prestar muita atenção ao que será dito com relação à segurança. Que promesss serão trazidas à sociedade? Essa é uma questão para a qual deverão estar voltadas todas as atenções, porque é muito abrangente, tem a ver com o direito de ir e vir de todo cidadão, com qualidade de vida, com respostas que devem ser dadas em todos os setores, porque o terror que está instalado entre nós tem muitas raízes, da educação à remuneração dos professores, do nível de emprego ao rigor na punição dos delitos, na qualidade do aparelho policial à revisão de tudo o que pensamos até hoje em matéria de crime e sentença.

Há, ainda, uma relação muito profunda entre o que se pretende fazer e a rapidez do que deverá ser feito. Não se cuida mais de instalar as bases de uma futura condição de segurança. Ela já foi violentada há muito tempo, está em processo de corrosão, e o que surpreende é a tolerância da sociedade diante de tanta violência, de tanta agressividade nas ruas. Uma tolerância que se faz, quase sempre, no recolhimento, na construção de cercas privadas de proteção. De nossa elite política deve ser exigida uma resposta imediata para essa situação, alertando para que também ela manifeste o mesmo escândalo dos que, em lugares mais civilizados, nos cobram mais segurança, sem agredir aos mais elementares direitos humanos.


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02/08/2002


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