PT abre comissão de ética para captador de recursos







PT abre comissão de ética para captador de recursos
O Diretório Regional do PT no Rio Grande do Sul abriu ontem comissão de ética para julgar o procedimento do economista Diógenes Oliveira, presidente do Clube de Seguros da Cidadania -que captava recursos para o partido e se tornou pivô de acusações de vínculo entre o governo de Olívio Dutra (PT) e o jogo do bicho. A comissão pode expulsar Oliveira do PT em 30 ou 40 dias.
A comissão de ética é o mecanismo adotado pelo partido para casos polêmicos. Há três punições possíveis: advertência, suspensão (medida já aplicada à ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina, hoje no PSB) ou expulsão.

""Não expulsaríamos ninguém de forma direta. Só um partido stalinista faria isso. A decisão de abrir a comissão foi unânime, das 17 pessoas que participaram da reunião", disse o presidente regional do partido, Júlio Quadros.
As seis horas de reunião serviram também para o partido discutir a CPI da Segurança Pública, que resultou nas acusações contra o governo e Oliveira.
A principal conclusão a que chegaram foi de que houve desvirtuamento do objetivo da CPI (de investigar a segurança pública) e seus integrantes aproveitaram a oportunidade para, segundo Quadros, ""atacar o PT e o governo do Estado".

O PT pretende abrir CPI com o objetivo de investigar os financiamentos de campanha feitos a todos os partidos. A oposição, que tem 43 dos 55 deputados estaduais gaúchos, quer abrir uma específica sobre corrupção no PT.
A atual CPI tem de acabar no dia 14, data prevista para entrega do relatório final, no qual deverá ser proposto processo de improbidade administrativa e, consequentemente, o impeachment de Olívio Dutra.
O delegado Wilson Müller Rodrigues, que entregou à CPI a fita na qual Diógenes Oliveira fala com o ex-chefe de polícia Luiz Fernando Tubino sobre as supostas relações do PT com o jogo do bicho, disse ter outras gravações que ligam Olívio a bicheiros. A Agência Folha apurou com integrantes da CPI que as fitas estariam guardadas em um cofre e serão apresentadas em breve.

Novos depoimentos ocorrem amanhã. Na segunda, será a vez de Diógenes Oliveira depor na CPI. Os deputados tentarão mostrar que ele agiu em nome do governador ao pedir a Tubino que amenizasse a repressão ao bicho.

Outro lado
A Folha tentou falar com Oliveira ontem, mas não o localizou. Seu advogado, Ricardo Cunha Martins, disse que ele só voltará a falar sobre o assunto ao depor na CPI. No fim de semana, o economista admitiu a conversa com o ex-chefe de polícia, mas disse que deu um "carteiraço" em Tubino ao dizer que falava em nome de Olívio.


Economista foi guerrilheiro, torturado e exilado
Guerrilheiro treinado em Cuba, dirigente da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), um dos supostos autores da explosão na qual morreu um soldado do 2º Exército em 1968, preso libertado no sequestro do cônsul japonês em São Paulo em 1970, aprendiz que dominou o idioma flamengo em poucos meses de estudo, executivo do Ministério do Planejamento da Guiné-Bissau e um dos inspiradores do MSTur, programa de turismo em acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
Eis um possível currículo do economista Diógenes José Carvalho de Oliveira, 58, que em 1999 orientou o chefe de Polícia Civil a não reprimir o jogo do bicho, na condição de colaborador do governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra (PT).

Oliveira nasceu em Júlio de Castilhos (RS). Tornou-se militante de esquerda na adolescência. Depois da instauração do regime militar, em 1964, esteve em Cuba para aprender guerrilha.
Em 1968, foi um dos fundadores da organização armada VPR, uma das principais do combate ao governo militar (1964-85).
Documentos do CIE (Centro de Informações do Exército) apontam Oliveira como um dos participantes do atentado ao quartel-general do 2º Exército, em São Paulo, quando morreu o soldado Mário Kosel Filho. Ex-companheiros confirmam.

Preso em 1969, foi severamente torturado, conforme numerosos testemunhos. Conseguiu ser solto quando o cônsul do Japão em São Paulo, Nobuo Okuchi, foi sequestrado em março de 1970 por um comando da VPR.
O objetivo do sequestro era libertar o militante Shizuo Ozawa, o Mário Japa, preso ao se acidentar de carro dias antes. Ozawa guardava o segredo da localização da área, no vale do Ribeira, sul do Estado de São Paulo, onde o ex-capitão do Exército Carlos Lamarca montava um foco de oposição armada.
Na lista de cinco presos cuja libertação foi exigida em troca do cônsul, foi incluído um certo ""Toledo", cujo verdadeiro nome de guerra era ""Oliveira" e nem tinha sido preso. Foi substituído por Diógenes, antes fora da relação.

Amigo de Lamarca, que viria a morrer em 1971, Oliveira foi para o exílio. Morando na Bélgica, cursou economia na Universidade de Louvain. ""Ele era tão determinado que em menos de um ano falava fluentemente flamengo, a língua da região. Dava palestras em flamengo", diz o hoje jornalista Shizuo Ozawa, 56.
Então casado com a ex-guerrilheira Dulce Maia, Oliveira mudou-se para a recém-independente Guiné-Bissau (África) e lá integrou a cúpula do Ministério do Planejamento.
Voltou ao Brasil nos anos 80 e entrou no PT. Como secretário dos Transportes de Porto Alegre na gestão de Olívio Dutra (1989-92), ganhou fama ao disciplinar o trânsito da cidade. Depois, abriu um agência de turismo, fundou o Clube de Seguros da Cidadania e intermediou contatos do partido com empresários. Procurado ontem, Oliveira não foi encontrado.


PT não é uma "comunidade de anjos", diz Tarso
O prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro (PT), vai defender modificações em alguns procedimentos internos do partido em razão das denúncias contra o partido levantadas na CPI da Segurança Pública na Assembléia Legislativa do Estado.
""O PT não é uma comunidade de anjos, e nenhuma comunidade é uma comunidade de anjos aqui na Terra", disse. O partido está sendo acusado de ter vínculos com o jogo do bicho e de ter recebido doações de bicheiros para a campanha a governador de Olívio Dutra, eleito para o cargo em 98.
""O PT muitas vezes faz da questão ética e moral o centro da discussão, mas ela não deve ser o centro, deve ser a base. O fundamento da política deve ser ético e moral, mas a discussão exclusivamente ética e moral não deve ser o centro", declarou Tarso.

Tarso Genro disse que a investigação a respeito da possível vinculação do PT com o jogo do bicho será usada, certamente, tanto em futuras campanhas locais como na campanha presidencial do partido no próximo ano.
Em relação ainda ao processo eleitoral, Tarso afirmou considerar grave o fato de que o processo eleitoral ""pode ser despolitizado", com as questões ideológicas ficando de lado.

""Foi assim que o Collor [o ex-presidente Fernando Collor de Mello" ganhou a eleição [em 1989", dizendo que era o caçador de marajás e que o Sarney [o ex-presidente José Sarney" era ladrão", disse o prefeito, que em 1998 perdeu para Olívio Dutra a prévia que indicou o candidato do partido ao governo do Estado.
Tarso classifica a situação vivida pelo atual governo gaúcho como ""uma lição" e diz considerar importante aperfeiçoar os ""mecanismos internos de controle" no PT, para controlar as relações institucionais com entidades privadas, entre elas o Clube de Seguros e Cidadania, presidido por Diógenes Oliveira, pivô da crise.


Tribunal envia Nicolau de volta à PF

O TRF (Tribunal Regional Federal) de São Paulo suspendeu ontem a prisão domiciliar do juiz aposentado Nicolau dos Santos Neto, 73, concedida pela Justiça Federal em 29 de junho deste ano, pelo prazo de 30 dias.
No início da noite de ontem, Nicolau estava novamente no prédio onde funciona a carceragem da Polícia Federal, desta vez cumprindo pris


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