Quilombo do São Pedro é exemplo na criação de tilápia



Trabalho será tema de workshop na Unesp de Jaboticabal

A criação de Tilápias do Nilo na comunidade remanescente de quilombo do São Pedro será tema de workshop que se realizará na Unesp – Universidade Estadual Paulista, em Jaboticabal, nos próximos dias 18 e 19. O trabalho, iniciado em 2006, é fruto de uma parceria do quilombo com o Itesp e também a Apta – Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, da secretaria estadual de agricultura e abastecimento. A apresentação será feita por Ana Eliza Baccarin Leonardo, técnica do Itesp e coordenadora do projeto.

Na comunidade remanescente de quilombo São Pedro, localizada no município de Eldorado, moram 39 famílias que viviam quase exclusivamente da roça de subsistência. A busca por alternativas econômicas viáveis, com o uso racional dos recursos naturais, com a garantia de acesso de todos nos processos de tomada de decisões e com a preservação da diversidade e identidade cultural, foi viabilizada com a criação, em pequena escala, da Tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus), utilizando-se uma tecnologia atual que contribui não só do ponto de vista econômico, mas também com a sustentabilidade sócio-ambiental, espacial e cultural.

A comunidade contava com um conjunto de seis viveiros escavados com profundidade média de 1,5 metro e com entrada e saída de água independentes, totalizando uma área de 500 m2 de espelho d’água, povoados com alevinos de pacu (Piaractus mesopotaminus), mas esse projeto mostrou-se inviável e a infra-estrutura pré-existente inspirou o novo projeto no final de 2005, o da tilápia.

Optou-se pelo sistema semi-intensivo. “Com a mobilização comunitária, foi possível reativar um sistema de produção de peixes de água doce, ampliando a diversificação da produção e a renda familiar dos beneficiários da Comunidade Remanescente de Quilombo São Pedro”, esclarece Ana Eliza, lembrando: “a tarefa de limpar e reformar os viveiros a serem reativados com mangueiras e canos de PVC ficou a cargo da comunidade”. O processo exigiu recursos de R$ 13.501,00 em 2006 e incluiu calagem com calcário dolomítico.

Mais renda e mais união

O curso de culinária foi concorrido.Em setembro de 2006, deu-se início ao primeiro ciclo de produção, com duração de sete meses. Seis viveiros foram povoados com 1900 alevinos de tilápia do Nilo. O controle da qualidade da água foi quinzenal. Mensalmente foram realizadas biometrias de uma parcela de peixes coletados por meio de tarrafa, onde se mediu peso e comprimento para avaliação do desempenho produtivo; houve reajustes na alimentação (quantidade de ração, granulométrica e nível protéico), com base na biomassa total de cada viveiro.

Foram realizadas duas despescas, em sistema de mutirão, nas quais os peixes foram retirados dos viveiros por meio de redes de arrasto. Os peixes foram abatidos por meio de choque térmico em gelo fundente. Uma parte foi planejada para consumo interno e a parte destinada ao comércio foi embalada em sacos plásticos sem vísceras nem escamas. Com o término do primeiro ciclo de produção, em maio de 2007, realizaram-se novas práticas de calagem e preparo dos viveiros para o início do segundo ciclo, incluindo mais um viveiro de criação.

Após seis meses de criação, realizou-se, em março de 2007, a primeira despesca, resultando em 275 kg de peixes. Na despesca subseqüente foram retirados 570 kg. Em ambas as ocasiões, os peixes foram vendidos sob encomenda; primeiro a R$ 3,50 o quilo e depois a R$ 4,00 o quilo – então, na II Santa Feira de Peixe, em abril, no CEAGESP de São Paulo. O custo por quilo do peixe produzido foi de R$ 1,82 na primeira despesca e de R$ 2,13 na segunda; o lucro de R$ 831,00 foi celebrado.

Em maio do ano passado foi realizado o curso “Oficina de Processamento, Conservação e Pratos Culinários de Peixe”, por Rose Meire Vidotti, pesquisadora científica do Instituto de Pesca, que abordou do método de abate por meio de choque térmico aos cortes comerciais – filés, postas, tronco limpo e borboleta –, passando pelo rendimento de carcaça, dentro das normas sanitárias vigentes. A partir daí, as quilombolas passaram a cozinhar escondidinho de tilápia, pirão, filé de tilápia a pizzaiolo com palmito pupunha, delícia de tilápia com banana, tilápia assada com sal grosso, ceviche e pele frita a pururuca.

O segundo ciclo de produção foi iniciado em maio de 2007. Com base nos resultados obtidos até o momento, “vê-se que mesmo em uma pequena área é possível gerar receita e, ao mesmo tempo, melhorar a qualidade de vida da comunidade”, aponta o coordenador José Renato Lisboa, concluindo com mais uma virtude do processo: “O trabalho em grupo reforçou os laços intra e interfamiliar e despertou o interesse dos jovens pela atividade”.

Da Fundação Itesp

(I.P.)



02/18/2008


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