Recessão facilita racionamento, diz professor da UFRJ



O Brasil só está contornando a crise de energia elétrica por causa das dificuldades sócio-econômicas pelas quais vem passando. É o que disse o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Adilson de Oliveira, no seminário "A Crise Energética Brasileira", realizado nesta terça-feira (dia 21) pela Comissão de Serviços de Infra-Estrutura (CI) e pela Federação Nacional dos Engenheiros.

- Se o país não estivesse entrando em recessão, seria mais difícil fazer o racionamento - afirmou o professor da UFRJ.

A maioria dos palestrantes concordou que a principal causa da crise é a falta de investimentos no setor. Para Adilson de Oliveira, o governo erro no modelo da reforma imposta ao setor elétrico, opinião compartilhada pelo representante da Federação dos Engenheiros, Marco Kappel Ribeiro .

- Se não reconhecermos o fracasso da reforma como foi feita, não haverá mudanças e nem soluções - disse Oliveira.

Na opinião do professor, a reforma foi feita de maneira contraditória: enquanto o Ministério de Minas e Energia pretendia reforçar a expansão da oferta e reorganizar o mercado, o Ministério da Fazenda queria usar a reforma como instrumento do ajuste fiscal e do controle da inflação.

O ex-ministro das Comunicações e ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luiz Carlos Mendonça de Barros, afirmou que o Brasil, hoje, está mais maduro para debater a questão das privatizações, uma vez que o tema está presente no cotidiano da população.

- É preciso encontrar uma solução para o setor elétrico tirando a questão ideológica e privilegiando o ponto de vista técnico - defendeu Mendonça de Barros.

O diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Eduardo Henrique Ellery Filho, destacou que, atualmente, 90% do mercado de distribuição estão privatizados, enquanto 80% da geração ainda são serviços públicos. De acordo com Ellery, a falta de energia resulta de um déficit acumulado do passado, enquanto o modelo de privatização, a seu ver, está em transição e precisa ser complementado.

O diretor do Departamento Nacional de Política Energética, Sergio Valdir Bajay, por sua vez, informou que o governo está estudando novas propostas para o setor.

O seminário contou com dois palestrantes estrangeiros. O professor da Unidade de Pesquisa sobre Serviços Públicos Internacionais da Universidade de Greenwich (Inglaterra), Steve Thomas, narrou como a reforma implantada naquele país a partir da década de 90 não funcionou, redundando em aumento de tarifas, problema corrigido posteriormente.

Já o diretor de Estudos de Energia da Universidade da Flórida, Paul Sotkiewcz, narrou a situação na Califórnia, em que "o pior cenário possível instalou-se", com altos preços e falta de energia. "Vão devagar e não façam promessas que não possam cumprir", aconselhou. Estiveram presentes no seminário o presidente da CI, senador José Alencar (PMDB-MG), e o senador Paulo Hartung (PPS-ES).

21/08/2001

Agência Senado


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