Redução de acidentes com motos requer soluções integradas, afirmam especialistas



Não se pode esperar por uma solução única para o alarmante crescimento de acidentes com motociclistas no Brasil. Ao contrário, para reverter o quadro, o país precisará orquestrar medidas em diferentes áreas, a começar pela educação e capacitação de condutores, passando pela sensibilização dos que contratam motociclistas e pela regularização de serviços com motos, até a melhoria das vias, do processo de habilitação e da fiscalização.

Essa é a conclusão de seminário realizado nesta quinta-feira (13) pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS), que discutiu políticas para o trânsito seguro de motos.  No debate, especialistas destacaram o crescente uso de motocicletas em todo o país, seja como meio de transporte ou como instrumento de trabalho de motoboys, motofrentistas e mototaxistas.

Mas essa popularização do veículo de transporte foi acompanhada por uma explosão do número de acidentes envolvendo seus condutores, resultando, na maioria dos casos, em morte ou invalidez.

– A taxa de mortalidade de quem dirige uma moto aumentou quase nove vezes nos últimos 15 anos – informou a senadora Ana Amélia (PP-RS), que presidiu o seminário.

Dados apresentados por João Pedro Correia, do Programa Volvo de Segurança no Trânsito, ilustram esse quadro que os especialistas classificam como epidemia: enquanto a venda de motos aumentou 559% entre 1996 e 2010, as mortes em acidentes com motociclistas cresceram 1.358%.

A gravidade da situação é confirmada pelas estatísticas apresentadas por Ricardo Xavier, presidente da Seguradora Líder de dos Consórcios do Seguro DPVAT. De janeiro a agosto de 2012, disse ele, as indenizações por morte ou invalidez envolvendo acidentes de moto representam 60% do total.

– Tradicionalmente, as maiores vítimas de acidentes de trânsito eram os pedestres, mas com o advento do crescimento da frota relativa de motocicleta, isso mudou. Hoje, o motociclista é a maior vítima – informou Xavier.

Cultura da segurança

Na opinião de José Eduardo Gonçalves, da Associação Brasileira de Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores e Similares (Abraciclo), estigmatizar os condutores de motos representa uma simplificação grosseira do problema, que só aumenta as hostilidades no trânsito.

Para ele, a redução de acidentes com motos requer a adoção de um conjunto de soluções, a começar pela educação para o trânsito, desde a pré-escola, até a universidade. No mesmo sentido, João Pedro Correia disse considerar necessário desenvolver a cultura da segurança não apenas entre os condutores de motos, mas também nas empresas que contratam serviços de motociclistas e na sociedade em geral.

– Menor ganância por parte das empresas que contratam motofretistas e mais sensibilidade da própria sociedade, que não quer comer a pizza fria ou que não quer a encomenda entregue fora do prazo prometido – defendeu Correia.

Soluções integradas

Ao lado da educação, os especialistas sugerem a revisão do planejamento viário das cidades, para incluir especificidades das motos. Sugerem ainda, entre outras medidas, melhor manutenção de vias públicas e eliminação de estruturas que representem riscos aos condutores. José Gonçalves propõe, por exemplo, mudança nos modelos de barreiras de segurança, ou guard rails, utilizados no país, hoje responsáveis por mais de 15% das mortes em acidentes com motos.

Outra vertente da solução para reduzir os acidentes diz respeito à sistemática adotada nos processos de habilitação de motociclistas. Conforme o representante da Abraciclo, é preciso reforçar treinamentos de pilotagem defensiva e tornar mais efetivas as reciclagens para condutores que cometeram infrações.

Ele também critica os exames de habilitação realizados no país, voltados a veículos de quatro rodas, e propõe a padronização da pista utilizada para treinamento e exames para motociclistas.

Regularização

A necessidade de regularizar o trabalho de motoboys, mototaxistas e motofrentistas foi outro aspecto destacado no seminário. A Lei 12.009/2009 regulamentou essas profissões, mas os municípios devem especificar as normas de atuação desses profissionais e fiscalizar o trabalho dos mesmos, impedindo situações fora dos padrões de segurança.

– Alguns municípios fecham os olhos para essas categorias – disse Maria Cristina Hoffman, representante do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).

Dados apresentados por Sérgio Luiz Perotto, da Confederação Nacional dos Municípios, confirmam que essas profissões não estão regularizadas na grande maioria dos municípios. Ele, no entanto, considera que o país tem leis em excesso e pouca vontade política para colocar em prática medidas de segurança no trânsito.

Ao observar que campanhas educativas não se resumem a “distribuir panfletos no semáforo”, Perotto cobrou a implementação do Plano Nacional de Segurança no Trânsito, elaborado no ano passado e ainda não executado pelo governo federal.



13/09/2012

Agência Senado


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