Representantes dos setores público e privado discutem na CI formas de geração de energia elétrica
O secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Altino Ventura Filho, afirmou em audiência na Comissão de Infraestrutura, nesta quarta-feira (10), que a sociedade precisa estar consciente sobre a exclusão da construção de usinas hidroelétricas apoiadas por grandes represas. A outra opção são usinas “a fio d’água”, com lagos menos extensos e que não afetam o fluxo regular dos rios.
Depois de admitir que os reservatórios a fio d’água são mais sustentáveis do ponto de vista ambiental, Altino disse que essa opção, no entanto, apresenta outras desvantagens. Entre outros problemas, ele citou o menor aproveitamento do potencial elétrico, além da impossibilidade de usar as águas represadas para regular a navegabilidade nos períodos de estiagem ou para evitar as cheias que costumam afetar populações próximas, além da redução da oferta de água para irrigação.
- Essa é uma discussão que devemos ter, mas o Ministério de Minas e Energia está conduzindo o assunto com muita prudência e com muito equilíbrio, olhando tanto o aspecto técnico e o ambiental para que possamos continuar conduzindo o programa hidroelétrico brasileiro – disse Altino.
O debate sobre energia e desenvolvimento faz parte do ciclo de discussões sugeridas pelo presidente da CI, senador Fernando Collor (PTB-AL), tendo como tema geral Investimento e Gestão: Desatando o Nó Logístico do País. Além de Altino, participou do debate Paulo Kev, sócio da Kev Line Administração Empresarial, especialista em sistemas alternativos de energia.
O representante do Ministério de Minas e Energia foi enfático ao defender a geração de energia hidroelétrica, a seu ver o “carro-chefe” para atender as necessidades do país durante a próxima década. Para Altino, é um privilégio o país poder contar com esse recurso energético, observando que se trata de uma fonte renovável, de baixo custo e ambientalmente mais viável que os combustíveis fósseis, como o gás natural e o petróleo.
De acordo com Altino, o país tem hoje capacidade instalada para produzir 117.100 megawatts de energia elétrica, com participação de 82.500 de fonte hidroelétrica (70%). A intenção é chegar a 197 mil megawatts até 2021, com participação de 60% de fonte hidroelétrica. Partindo de 2012, os investimentos estão projetados em R$ 269 bilhões.
O representante do Ministério de MInas e Energia chamou a atenção para o fato de já ter havido redução do potencial hidroelétrico do país, estimado em 260 mil megawatts, o quarto maior do mundo (depois de China, Rússia e Estados Unidos). Hoje, exatamente por conta das restrições ambientais, o governo estima como aproveitável apenas 180 mil megawatts, com perda de 80 mil, para evitar reflexos em parques nacionais, reservas florestais e áreas indígenas, entre outros fatores. Ele disse que a perda pode se ampliar
- Abrimos mão de 80 mil megawatts, dos anteriores 260 mil, e devido a novas restrições ambientais, imaginamos poder obter efetivamente de 150 a 160 mil megawatts – disse.
Modelo alternativo
Já Paulo Kev defendeu uma mudança radical no modelo de geração elétrica do país, dentro de uma solução que ele chamou de “desenvolvimento sinergético”. A chave desse modelo seria a implantação de sistema de “geração universal”, por meio da geração fotovoltaica (solar) e eólica, que envolveria a disseminação de microgeradores – no caso da energia solar, envolvendo inclusive a captação em paineis nas residências e prédios.
O que fosse armazenado durante o dia e na madrugada em “armazenadores físicos” locais, inclusive o excedente residencial, seria despachado para cobrir a demanda nos horários de ponta, que variam a depender das características do lugar. A produção seria também interligada com a rede nacional, suplementando a demanda onde fosse preciso.
Ainda de acordo com Kev, o armazenamento passa a ser parte do sistema, sem as limitações das barragens e das usinas hidroelétricas. Disse que já existem máquinas eficazes e complexas para cumprir essa finalidade, que já são de “domínio público”.
- Então, é só agregar e combinar equiopamentos para que se faça a distribuição em escala – disse.
Nas criticas ao sistema de geração a partir de fonte hidroelétrica, ele destacou o alto volume de perda da energia gerada. Disse que elas chegariam a 90% da energia obtida nas turbinas, desde a usina até os pontos de consumo, embora, como ressalvou, se fale normalmente de valores apenas entre 12% e 14%.
Reprovação
Alguns senadores, como Flexa Ribeiro (PSDB-PA), criticaram a opção atual do governo de construir preferencialmente a “fio d’água”. Ele afirmou que gerações futuras vão cobrar da atual a exclusão da alternativa de fazer reservatório, o que significa perder benefícios.
Depois de relatar recente visita de parlamentares à Usina de Belo Monte, ele cobrou ainda do Ministério de Minas e Energia que estude a ampliação do reservatório em 500 metros quadrados. Com essa pequena alteração, disse que será possível aumentar a produção em 1.000 megawatts, conforme dados fornecidos por técnicos do consórcio construtor.
Valdir Raupp (PMDB-RO), que também foi a Belo Monte, denunciou o desperdício da madeira de árvores na área do lago que está sendo formado. Segundo ele, são 99 toneladas de madeira que estão se perdendo debaixo da água ou que, já cortadas, correm risco de apodrecer sob a chuva.
- São bilhões de reais que estão sendo perdidos porque o Ibama não dá autorização para a utilização da madeira, que poderia gerar emprego e renda para aquela população – reclamou Raupp.
Houve ainda cobranças por parte dos senadores para que o Ministério de Minas e Energia não deixe de planejar eclusas nas usinas, para que os rios continuem navegáveis.
'Dumping'
Fernando Collor, o presidente da CI, que coordenou a audiência, destacou artigo do cientista Rogério de Cerqueira Leite que situa a produção de energia elétrica a partir de fonte hídrica como mais competitiva que a fotovoltaica. Conforme o artigo mencionado, essa alternativa somente seria viável para aplicações especificas e de pequeno alcance. Observou que a nascente indústria de equipamentos no campo da energia solar ganhou fôlego devido aos estímulos do governo da China, que pretendia dominar esse mercado mundial e praticava dumping. Porém, boa parte das empresas naquele país acabou falindo.
Quanto à produção eólica, houve críticas na audiência ao descompasso entre a implantação dos parques produtivos e a construção de linhas para que a energia seja aproveitada, com sua integração ao sistema nacional.
O caso mais destacado foi o de um parque de energia eólica na Bahia, o maior já implantado no país. Por falta da linha, não está havendo produção, mas o governo cumpre o contrato de fornecimento com o pagamento regular aos produtores. Altino disse que o maior problema é a falta de licença dos órgãos ambientais para implantação das linhas.
10/04/2013
Agência Senado
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