Requião quer que Itamaraty se pronuncie sobre denúncia de superfaturamento feita por ex-diplomata



A Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) deve ouvir na tarde desta terça-feira (dia 14), a pedido do senador Roberto Requião (PMDB-PR), o ex-diplomata brasileiro durante o regime militar Jacques Guilbeaud, que acusou autoridades brasileiras de se beneficiarem de superfaturamento na compra da residência do embaixador em Lisboa, em 1978. Depois da denúncia, Guilbeaud sofreu ameaças de morte e acabou pedindo asilo no Canadá, quando foi demitido pelo Itamaraty.

Depois de eleito presidente, Fernando Henrique Cardoso recebeu carta de intelectuais franceses, inclusive do sociólogo Alain Touraine, pedindo solução para o caso Guilbeaud, que hoje, aos 63 anos, trabalha como vigia em Paris. Guilbeaud entrou na Justiça brasileira pedindo indenização e sua volta ao Itamaraty, pois não foi beneficiado pela lei da anistia política, mas até hoje o processo não teve solução.

Requião tomou conhecimento do caso por jornalistas franceses e brasileiros, durante viagem a Paris. Decidiu envolver o Senado no assunto pois, a seu ver, "só assim o Itamaraty dará uma resposta oficial ao caso", que já dura 22 anos. "Que eu saiba, o presidente Fernando Henrique não respondeu aos intelectuais franceses e nem houve uma solução", afirma o senador.

Jacques Guilbeaud, que trabalhava no serviço de inteligência do Itamaraty, descobriu em 1978, durante uma investigação na embaixada em Lisboa, que a residência do embaixador, o ex-general Carlos Alberto Fontoura, também ex-chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), fora comprada por US$ 1,9 milhão, quando a avaliação indicava o preço de US$ 1 milhão. Ele disse ter ouvido do vendedor da residência, o português Queiroz Pereira, que teve de devolver a diferença a três autoridades do regime militar: o embaixador Fontoura, o então chefe do SNI, João Batista Figueiredo (depois, presidente da República) e o ministro-conselheiro da embaixada em Lisboa, Leite Ribeiro.

Numa entrevista no gabinete do senador Requião, nesta segunda (dia 13), Jacques Guilbeaud disse ter entregue pessoalmente o resultado de sua investigação ao então chanceler Azeredo da Silveira, que nunca informou sobre as providências tomadas. A partir da denúncia, o diplomata passou a receber ameaças de morte por telefone, teve seus salários suspensos, nunca mais pôde entrar na embaixada em Lisboa e, mais tarde, foi removido para a embaixada no Canadá. As ameaças continuaram e ele, depois de publicar num jornal de Toronto um relato sobre sua situação, pediu asilo político ao governo canadense. Um mês depois o Itamaraty o demitiu, sob a alegação de que ele abandonara o emprego. "Por pressão do regime militar, o pedido de asilo não foi aceito pelo Canadá", disse o ex-diplomata.

13/08/2001

Agência Senado


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