CRE decide ampliar investigação de superfaturamento no Itamaraty



Em atendimento a pedido do senador Roberto Requião (PMDB-PR), a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) ouviu o ex-diplomata Jacques Guilbeaud sobre denúncia de corrupção na compra da residência da embaixada brasileira em Lisboa que acabou levando à sua demissão do Itamaraty. Nos anos 70, Guilbeaud fazia parte do serviço secreto do Ministério das Relações Exteriores, ligado ao extinto Serviço Nacional de Informação (SNI), quando descobriu que o prédio adquirido pelo governo brasileiro para abrigar a residência do embaixador general João Batista Fontoura (ex-chefe do SNI) em Lisboa foi superfaturado em mais de US$ 900 mil.

Após entregar relatório e documentos, em agosto de 1978, ao então ministro das Relações Exteriores, embaixador Azeredo da Silveira, Guilbeaud disse que foi imediatamente notificado que estava excluído da embaixada em Lisboa sob a acusação de ter "arranjado mulher para meu predecessor". Ameaçado de morte, o ex-diplomata ainda lutou para ser transferido para outra embaixada, o que acabou ocorrendo. Ele foi designado para Toronto, mas as ameaças recomeçaram e voltaram-se contra a sua família.

- Temendo pela minha família, fui pouco a pouco conhecendo o pânico e, receando o pior, segui conselho do advogado internacional que me disse para tornar públicas as ameaças que proferiam contra nós. Assim, não poderiam chegar a concretizá-las, essas ameaças, sob pena de serem imediatamente apontados como os mandantes. Foi o que fiz, solicitando asilo ao Canadá - resumiu.

Há três dias, Guilbeaud esteve com o ministro da Justiça, José Gregori, que prometeu interceder a seu favor no processo de reintegração aos quadros do Itamaraty e de compensação financeira.

Requião apresentou requerimento para que a CRE acompanhe de perto a ação do ministro da Justiça e peça todos os documentos existentes sobre o caso no Itamaraty. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) disse que é preciso pedir rapidez para o processo e para as providências que possam anular a exclusão de Guilbeaud. "O senhor, hoje, está completando um serviço correto que prestou ao Brasil", afirmou Suplicy. O senador Mauro Miranda (PMDB-GO) apoiou a iniciativa de Requião e disse que o caminho mais acertado é concentrar as providências no âmbito do Ministério da Justiça.

A CRE ainda aprovou a indicação de dois novos embaixadores. A diplomata Maria Lúcia Santos Pompeu Brasil foi indicada para exercer o cargo de embaixadora do Brasil junto à República de El Salvador. Para a embaixada brasileira no Reino da Tailândia, foi indicado o diplomata Marco Antônio Diniz Brandão.

21/08/2001

Agência Senado


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