Roseana: mais ênfase ao social do que FH







Roseana: mais ênfase ao social do que FH
RIO e BRASÍLIA. A governadora do Maranhão, Roseana Sarney, pré-candidata do PFL à Presidência da República, disse ontem que, se for eleita, dará mais prioridade à área social do que o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Em entrevista no Hotel Caesar Park, no Rio, Roseana elogiou a estabilidade da moeda, mas admitiu que faria mudanças na política econômica do governo:

— Acho que a estabilidade econômica é uma conquista. Temos de lutar por ela. Agora, cada governo é um governo, com suas posições, suas metas e seu estilo — afirmou a governadora.

Roseana defende aliança com partidos da base

Roseana passou o dia ontem no Rio e hoje estará em São Paulo para gravar o programa nacional do PFL, que vai ao ar no dia 31 de janeiro. Segundo a pefelista, o roteiro do próximo programa do PFL ainda não está pronto e deverá ser discutido hoje antes das gravações. Roseana, que deve ser a principal estrela do programa de 21 minutos do partido, disse que, se depender dela, não serão feitos ataques aos partidos da oposição ou que formam a base do governo nos próximos programas de TV.

A pefelista defendeu a necessidade de uma aliança entre os partidos da base governista:

— Sabemos que no sistema presidencialista não se pode governar com um partido só. Qualquer um que for eleito, vai ter de fazer alianças para governar o país.

Embora a candidatura do ministro da Saúde, José Serra (PSDB), já esteja prestes a ser lançada, Roseana disse ontem que ainda acredita num acordo entre os partidos da base. Ela lembrou que as convenções partidárias serão realizadas em junho e que o PFL sempre defendeu a realização de prévias entre os partidos da base para a escolha do candidato governista. No Rio, Roseana conversou com o prefeito Cesar Maia (PFL), um dos coordenadores da pré-campanha, responsável pelas pesquisas do partido, sobre cenários políticos.

A governadora voltou ontem a protagonizar os comerciais do PFL em rede nacional. Em inserções de 30 segundos, recheadas de críticas indiretas aos seus adversários políticos, Roseana prega que o presidente do Brasil deve se preocupar com todo o país. Numa alusão ao PT, diz que o presidente não deve governar para a Central Única dos Trabalhadores (CUT) ou para o Movimento dos Sem Terra (MST). Ao dizer que o presidente também não pode governar para São Paulo, Roseana manda um possível recado ao tucano José Serra.

— Um presidente não pode governar para uma determinada região do país. Um presidente tem que cuidar de todas as regiões, sobretudo as mais pobres e as que mais precisam de atenção como as grandes cidades e suas periferias. Um presidente não pode ser presidente da República do Maranhão, da República de São Paulo, da República da CUT, da República do MST. tem que ser presidente da República do Brasil — diz ela, num dos comerciais.

Em outro, que também foi ao ar ontem, Roseana fala da crise Argentina e sugere que os políticos devem parar de brigar entre si e se preocupar com os problemas do povo.

Governadora vai fazer exames de rotina no Incor em São Paulo

Além de gravar os programas do PFL para a TV, Roseana aproveitará sua passagem por São Paulo para fazer exames no Instituto do Coração (Incor). Ela será submetida a uma avaliação de rotina. Como já teve câncer, Roseana faz esse tipo de exame periodicamente desde junho de 1998.


PSDB busca a unidade
Depois da delicada operação que resultou na conversa entre o ministro da Saúde, José Serra, e o governador do Ceará, Tasso Jereissati, no fim de semana, o comando do PSDB investiu ontem num sonho: colocar lado a lado Tasso, Serra e o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, outro que brigou muito para ser o candidato tucano à presidência da República, mas ontem defendeu a unidade pró-Serra. E isso pode acontecer amanhã, no lançamento da candidatura de Serra à Presidência da República, numa demonstração de unidade do PSDB.

Paulo Renato voltou de férias decidido a deixar as diferenças de lado e apoiar Serra. Na sua primeira aparição pública desde o início do ano, ele defendeu a união do PSDB.

— Desde o final do ano passado eu digo que o candidato do partido é o ministro Serra. Neste momento o PSDB tem que estar unido em torno do nome de um candidato — disse.

Em Fortaleza, Tasso disse que apoiará Serra com certeza.

— Em nenhum momento isso foi colocado em dúvida por mim; até não entendo porque existem essas especulações. Minha vida, minha história política é de absoluta coerência.

Segundo Tasso, as diferenças políticas entre ele e Serra "se contornam politicamente".

Governadores irãoa ato de Serra

Em contato permanente com o presidente do partido, José Aníbal, os governadores do Pará, Almir Gabriel, do Mato Grosso, Dante de Oliveira, e de Goiás, Marconi Perillo, trocaram telefonemas na tarde de ontem. E decidiram fazer um último apelo a Tasso para que compareça ao lançamento da candidatura de Serra. A resposta foi um "talvez".

— Já tenho compromisso no interior do estado. Tenho que tomar conta da "lojinha" . Mas também posso cancelar a programação — disse, deixando o mistério no ar.

Tasso disse que seu provável destino será concorrer ao Senado, mas que a decisão ainda não foi tomada.

Perillo, Dante e Almir telefonaram ao governador para informar que tinham sido convidados e pediram conselho a Tasso. O governador disse que não faria objeção à presença deles. E disse que seu único problema era de agenda. Agora, Tasso ouvirá seus aliados antes de decidir.

— Fiz o apelo. Todos nós estaremos lá e não é bom ele ficar de fora. Precisamos dessa demonstração de unidade — contou Dante.

Meia hora depois, Aníbal deu o segundo telefonema a Tasso. Após conversa com Serra, o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Magalhães Júnior (BA), disse que ele está otimista quanto à participação de todos.

Paulo Renato não quer ser deputado

De olho na vaga de senador por São Paulo, Paulo Renato defendeu o apoio de todos à candidatura de Serra. Mas ainda não confirmou se irá participar do lançamento.

— Por enquanto não fui comunicado oficialmente, mas imagino que serei chamado porque sou da executiva do partido — disse.

A declaração de paz entre os dois lados da Esplanada veio com um telefonema de Serra a Paulo Renato na última semana, depois de meses de disputas pelo posto de maior estrela da área social no governo.

O ministro da Educação admite até ajudar na elaboração do programa de governo de Serra, se for convidado. O que o ministro não quer, no entanto, é ser candidato a deputado federal. Diz que essa é uma das suas "decisões de fim de ano".

As outras opções são tentar ser vice na chapa do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), ou disputar uma vaga no Senado.


Crítica de FH ao FMI causa polêmica na oposição e entre economistas
BRASÍLIA e SÃO PAULO. O discurso do presidente Fernando Henrique na Rússia, acusando o chamado sistema de Bretton Woods, composto pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial, de estar obsoleto, causou polêmica na oposição e entre economistas de várias tendências. Muitos apontam incoerência entre a fala do presidente e as ações de seu governo.

O deputado Aloizio Mercadante (PT-SP) disse que a política de Fernando Henrique tem sido o inverso do que ele defendeu diante dos russos.

— O sociólogo está tentando redimir o presidente. É tão distante o que ele disse do que faz aqui! É uma cara-de-pau tão grande que ele vai ganhar do Maluf o troféu peroba do ano — ironizou Mercadante.

O deputado petista destacou que o seu parti do costuma ser acusado de obsoleto pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan, justamente por defender uma maior autonomia em relação ao FMI.

Para o economista e professor da Fundação Getúlio Vargas Paulo Nogueira Batista Júnior, ligado ao PT, o presidente deve estar se preparando para a aposentadoria.

— O presidente sempre teve postura frouxa em relação ao discurso político e à reorganização do sistema internacional. Esse discurso agora não condiz com a política que vem praticando em seu governo, daí imaginarmos que ele está ensaiando um discurso de ex-presidente para, quem sabe, fazer palestras — disse.

Para o professor da FGV, esse discurso tem mais aceitação internacional do que interna. Mas ele acha positiva a mudança do foco.

— Nunca é tarde para dizer a verdade — disse.

O professor Luciano Coutinho, da Unicamp, destaca que uma das políticas recomendadas pelo Banco Mundial e aceitas no Brasil pelo governo Fernando Henrique foi a das privatizações.

— As privatizações demonstraram em várias partes do mundo, em vários países, ser uma política equivocada. No Brasil o caso mais visível foi o da privatização do setor elétrico — afirmou.

O economista Lauro Vieira de Faria, da Fundação Getúlio Vargas, lembrou que o governo Fernando Henrique já fez três acordos com o FMI, em 1998, 1999 e 2000, e tem tido um bom relacionamento com a instituição:

— O Brasil fez três acordos em que se pode criticar alguns aspectos mas, no geral, o governo dá a entender que concorda com os seus principais aspectos. O presidente da República, muitas vezes, fala como se fosse um crítico do próprio governo.

Brant diz que o país não segue o figurino do FMI

Já o ministro da Previdência, Roberto Brant (PFL), não vê incoerência entre o discurso e a prática do presidente. Brant diz que o Brasil é o país menos globalizado da América Latina . E compara os números nacionais com os do México.

— O grau de abertura do Brasil é de apenas 12% do PIB. No México é de 35%. O PT fica repetindo que o Brasil segue cegamente as regras do Consenso de Washington, mas isso não é o que ocorre de fato. Saímos do figurino várias vezes. Temos praticado uma política externa independente — defendeu Brant.


Olívio diz que prévia é dispensável
SÃO PAULO. O governador Olívio Dutra (PT-RS) reacendeu ontem a polêmica sobre a prévia no PT. Segundo ele, a consulta é totalmente dispensável, já que os militantes do partido conhecem muito bem os pré-candidatos: Luiz Inácio Lula da Silva e o senador Eduardo Suplicy (SP).

Suplicy, que reagiu ao comentário de Olívio, inviabilizou uma tentativa de pacificação, formulada ontem pelo deputado José Genoino (SP), vice-presidente nacional do partido. O senador quer debater com Lula em emissoras de televisão e rádios. Mas Genoino acha a proposta incendiária e ligou ontem para Suplicy, propondo que o debate seja feito apenas internamente, considerando que o assunto só interessa aos filiados.

— Como será possível levar a informação correta a mais de 800 mil filiados e mobilizá-los sem a cobertura dos meios de comunicação? Precisamos que isso chegue ao Acre, à Amazônia, do Oiapoque (AP) ao Chuí (RS). Até Olívio Dutra vai ter que fazer prévia com Tarso Genro pelo governo no Sul, pelo que eu soube — afirmou Suplicy.

Genoino: “Essa história já foi longe demais”

De acordo com Genoino, a prévia é uma lei para o PT e será realizada, mas não faz sentido o partido expor questões internas no rádio e na TV.

— Não devemos esticar muito a corda. Essa história já foi longe demais. Vamos apagar o fogo e não discutir mais isso. Faremos a prévia, com debate interno, para os filiados — afirmou Genoino.

A polêmica cria desconforto para diversos setores petistas que apóiam Lula como a Democracia Socialista (DS), do líder do PT na Câmara, deputado Walter Pinheiro (BA).

— Há um desconforto geral porque o ideal seria Lula sair candidato sem a necessidade de uma confirmação nas urnas internas. Ninguém faz omelete sem quebrar ovos, mas a gente já poderia estar cuidando melhor do recheio, ou seja, podíamos já estar fechando alianças eleitorais — reclamou Pinheiro.

Lula está de férias e sua assessoria não comenta a polêmica. No entanto, Paulo Okamoto, presidente do Instituto da Cidadania, organização presidida por Lula que formula o plano de governo petista, lembrou ontem que vai ser difícil fazer um debate interno.

— Lula já avisou que não pretende mover uma agulha para sair candidato — disse Okamoto.

Anteontem foi decidido que no dia 28 a executiva nacional se reunirá para decidir a questão. Antes, no entanto, vai consultar Lula. Se não conseguir o apoio da executiva, o que é remoto, Lula ainda poderá usar o recurso de não comparecer, já que se prepara para uma viagem internacional.

Para acalmar os ânimos dos defensores de Suplicy, o presidente do PT em exercício, Luiz Dulci, anunciou anteontem 12 medidas que permitirão a divulgação das propostas dos dois pré-candidatos. As providências vão desde um pacote de viagens pelo país para os dois, passam pelo lançamento de uma edição especial do jornal “PT Notícias” e incluem até a divulgação das propostas nos sindicatos de trabalhadores liderados por petistas.

Suplicy estará com Lula no Fórum Social Mundial

Suplicy evitou críticas diretas a Lula e à executiva e disse ter convicção de que conseguirá convencer Lula. Ele espera fazer isso no próximo dia 1 , quando deve encontrar o adversário no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, durante o lançamento de um livro de sua autoria.

— Lula é muito sensível e vai se convencer da necessidade de debates. É normal entre pessoas que se amam que elas debatam, sejam elas casais ou amigos— disse Suplicy.


Congresso só decide mês que vem se chama Malan
BRASÍLIA. O Congresso só vai discutir em fevereiro se convoca o ministro da Fazenda, Pedro Malan, para explicar as modificações incluídas pelo governo na medida provisória que regulamenta a correção na tabela do Imposto de Renda. Malan, entretanto, disse ontem ao presidente do Senado, Ramez Tebet (PMDB-MS), que vai comparecer assim que for chamado.

Mesmo recebendo um requerimento do líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA), para solicitar a presença de Malan na comissão representativa, durante o recesso, Tebet decidiu que só vai tratar do assunto no período normal de trabalho do Legislativo, ou seja, a partir de 15 de fevereiro. O vice-presidente do Senado, Edison Lobão (PFL-MA), apoiou a decisão.

— Um debate agora seria improdutivo, pois não se pode decidir nada sobre o assunto. Isso só pode ser feito com os votos da comissão representativa — alertou Lobão.

O vice-presidente do Senado fez coro com Tebet, que criticara a postura do governo de mudar o texto da medida provisória. Assim como o presidente do Senado, Lobão acredita que existem chances de o Congresso alterar a MP.


Rosinha ao PSB: ‘Não sou panela de pressão’
PARAÍBA DO SUL. A secretária estadual de Ação Social, Rosinha Matheus, afirmou ontem que não aceita a pressão de seu partido, o PSB, para que anuncie até sexta-feira se aceita concorrer ao governo do estado. Ao comparecer à festa pelos 169 anos da emancipação política de Paraíba do Sul, ela foi tratada como governadora por correligionários. Rosinha, no entanto, negou estar em campanha e pediu tempo para tomar sua decisão.

— Agradeço ao partido e ao carinho que os diretórios vêm tendo comigo, mas se for para decidir até sexta, que eles procurem outro candidato. Não sou panela de pressão.

PSB deve dar mais tempo para Rosinha se decidir

Ao saber das declarações de Rosinha, Alexandre Cardoso, presidente regional do PSB, afirmou que ela não precisa responder já. O dirigente do PSB afirmou que nos próximos dez dias vai se dedicar a negociações para ampliar a aliança política que sustente a candidatura de Rosinha. Somente no fim do mês, o diretório regional do PSB deverá se reunir para homologar a candidatura, disse Cardoso. Assim, Rosinha terá cerca de duas semanas para se decidir.

— Nos próximos dez dias, estarei com agulha na mão costurando a aliança. Vou procurar o PMDB, o PCdoB, o PCB, o PV, o PTB e o PL. Queremos uma aliança para ganhar no primeiro turno — disse Cardoso, que amanhã entregará a Rosinha o resultado das prévias realizadas nos diretórios municipais, que aprovaram a candidatura da primeira-dama.

Rosinha disse que ainda precisa consultar sua família.

— Essa é uma decisão que muda a história da minha vida. Não pode ser tomada assim, até porque apenas eu serei responsável pelas conseqüências desse ato. Tenho nove filhos e vou ganhar um neto. Preciso ouvi-los e nesse período de férias escolares não foi possível reunir todo mundo.

A visita a Paraíba do Sul foi, segundo Rosinha, um ato da Secretaria de Ação Social. Além de uma ambulância, o governo do estado firmou um convênio para a construção de um hospital com cem leitos e UTI. Os investimentos chegam a R$ 7,9 milhões.

— Esse clima de campanha, deixo por conta e risco do prefeito. Estou aqui como secretária — disse Rosinha, referindo-se à festa montada pelo prefeito Rogério Onofre.

Rosinha reagiu às declarações da deputada estadual Cida Diogo (PT), que acusou Garotinho de não repassar recursos para a área social, quando esse setor estava sob a responsabilidade da vice-governadora Benedita da Silva (PT).

— Por que a Ação Social foi boicotada? Você acha que o governador não queria ver suas secretarias andando bem? Quantas outras tiveram bons resultados, independentemente de serem administradas pelo PT ou não?

Rosinha afirmou que, ao assumir a secretaria, herdou o orçamento deixado pela gestão do PT à frente da Ação Social:

— Minha secretaria andou porque tinha programas. Onde estão os programas anteriores?

Moreira diz que PMDB não aceita vetos a Sérgio Cabral

Sobre o slogan criado pelo PSB — “Não basta ser mulher, tem que ser Rosinha” — a secretária disse que ele foi criado à revelia dela.

— Completaram uma frase que costumo usar. Sempre digo que em política não basta ser mulher, é preciso ser competente. Talvez o PT esteja criticando, porque queria que essa idéia fosse dele.

Para viabilizar a aliança em torno do nome de Rosinha, Cardoso terá que dobrar as resistências do PMDB, que insiste na pré-candidatura ao governo do presidente da Assembléia Legislativa, Sérgio Cabral Filho. Demonstrando irritação com a maneira como o PSB vem conduzindo a candidatura de Rosinha, o presidente regional do PMDB, Moreira Franco, disse que seu partido tem sido um aliado leal de Garotinho e não aceita vetos à candidatura de Cabral.

— O movimento do PSB é uma forçada de barra para criar dificuldades para a candidatura de Sérgio Cabral. Temos muito o que conversar. Será que a candidatura de Rosinha unirá a base da mesma forma que a de Sérgio Cabral? — perguntou Moreira.


Acordo para a fabricação de jato causa polêmica no governo brasileiro
BRASÍLIA. O acordo de cooperação tecnológica entre a Avibrás e um consórcio de empresas russas para a fabricação do caça Sukhoi Su-35 no Brasil causou polêmica no governo. O ministro da Defesa, Geraldo Quintão, disse ontem que desconhecia o acordo, assinado na segunda-feira em Moscou. O ministério realiza uma licitação no valor de US$ 700 milhões para a renovação da frota de caças da Força Aérea Brasileira (FAB). Segundo especialistas, o Sukhoi Su-35 é um dos mais modernos jatos que participam da concorrência.

— Foi uma surpresa. Achamos muito estranho e vamos analisar — disse o general Joélcio Silveira, secretário de Logística, Mobilização, Ciência e Tecnologia do ministério.

O general se reuniu na manhã de ontem com o ministro para discutir o assunto. Quintão não sabia que o presidente da Avibrás, João Verdi de Carvalho Leite, estava na comitiva do presidente Fernando Henrique Cardoso e que iria assinar esse contrato.

Silveira é o responsável, no ministério, pela promoção dos produtos bélicos de empresas brasileiras no exterior. Ele e o ministro farão, no mês que vem, uma visita à fábrica que produz o Sukhoi Su-35 na Rússia.

O vice-presidente da Avibrás, João Brasil Carvalho Leite, irmão do presidente, dissera anteontem, antes da assinatura do contrato, que o acordo com os russos era “de boca”.

O presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, deputado Hélio Costa (PMDB-MG), afirmou ontem que também não sabia da parceria, apesar de revelar que em conversas alguns oficiais da Aeronáutica lembravam da Avibrás, quando a Embraer era citada como a única empresa brasileira a participar da licitação. Segundo ele, os diretores da Avibrás assistiram a diversas audiências públicas no Congresso sobre a compra dos jatos da FAB:

— Mas desconhecia que ela participava da licitação.

Com o acordo firmado, a Avibrás passa a ser o segundo consórcio brasileiro na disputa. O outro envolve a Embraer, vinculada à francesa Dassault, fabricante do Mirage 2000.


Artigos

Réquiem para Enron
FERNANDO G. CARNEIRO

Aqui no Texas, bandeiras e outros símbolos patrióticos nos carros é algo tão corriqueiro que chamam a atenção agora os plásticos com vaqueiros urinando em homens com turbantes. O outro adesivo famoso diz “Não se meta com o Texas” (Don’t mess with Texas).

O Texas é a Itu dos Estados Unidos. Tudo é maior. Aliás, nada é comparável. Nem a empáfia, nem as bazófias. Inclusive quando uma de suas empresas quebra, é o equivalente a Godzilla sentando no frágil banquinho de madeira.

Ou assim pensam os texanos. Mas o que seria um grande estrondo soa como o estampido de um estalinho.

Tomemos por exemplo o caso da Enron, baseada em Houston, Texas. O colapso da Enron — empresa que comercia energia — pontua com várias exclamações o que vem sendo dito e escrito sobre a ideal estrutura administrativa e papel das empresas neste milênio.

Como lembra James Wolfeson, presidente do Banco Mundial, “a governança das empresas é hoje em dia tão importante para a economia mundial como a governança de países”. E isso não é hipérbole. Nem para texanos.

Deixando o Texas orgulhoso, no ano passado, a Enron era a sétima maior corporação americana em termos de capitalização de mercado, na frente da IBM, e atrás apenas do Citigroup, GE, Ford Motor, GM, Wal-Mart e Exxon.

Mantendo as tradições domiciliares, as bravatas da Enron eram clássicas. A empresa investia e tinha substanciais ativos como gasodutos e participações na exploração de vários tipos de energia.

Paralelamente, a Enron era também a maior negociadora de energia do planeta, comprando e vendendo kilowatts e BTUs em terminais de computador, e arbitrando o preço de tais commodities. Como diversificar virou moda, a empresa estava comerciando no mercado futuro os derivativos mais exóticos jamais cogitados, como meteorologia e espaço de propaganda.

Com a consolidação do mercado futuro como balizador e organizador do preço da energia, a empresa conquistou um monopólio de fato no setor. Mas, por que o colapso? Antes dos ataques terroristas, a empresa dava sinais de alento, principalmente no primeiro semestre, quando a bolha da internet havia estourado e buscava-se outras alternativas de investimento. Somem-se a isso as crises de energia na Califórnia e Brasil, e o mercado salivou ao pensar nas ações da En ron no seu cofrinho. Mas o que ocorreu serve de lição e aviso prévio a empresas com estrutura societária baseada na lei de Gerson.

A Enron forjou uma aparência de crescimento dramático ao criar entidades que captavam o dinheiro de investidores, e nestas escondia seus rombos financeiros. A estrutura societária era comparável a várias aranhas em uma só teia, onde várias empresas médias de parceria limitada, alavancadíssimas, mantinham relações incestuosas com a matriarca.

O curioso é que as práticas contábeis americanas permitem muita criatividade: tudo o que ocorreu — até onde foi apurado — está dentro da lei. Essa era a empresa que ganhou por seis anos seguidos da revista “Fortune” a alcunha de “empresa que mais inovava no país”. Era uma empresa detentora de canos gosmentos que virou um monstro digital.

E parte do orgulho exacerbado está bastante claro na maneira como a empresa doou milhares de dólares a membros do partido republicano, entre eles o presidente Bush, o vice Dick Cheney (que participou, no início do ano, de uma comissão especial para resolver a crise energética deflagrada na Califórnia), e o ministro da justiça John Ashcroft, que teve (vergonhosamente) que se escusar agora do inquérito criminal deflagrado por sua pasta.

A Arthur Andersen, auditora da empresa, levou US$ 27 milhões em honorários de consultoria sobre trabalhos não relacionados à inspeção de contas da empresa, e agora é questionada se isso seria conflito de interesse.

Se fosse, não sobraria nenhuma firma de auditoria para apagar as luzes. Ou afinal de contas, consultoria é privilégio de bancos de investimento? Ela deveria ser questionada por inépcia, isso sim. E toda a indicação é de que o ex-presidente da Enron, Jeff Skillings, manipulava os fatos, às vezes insultando analistas que questionavam tantos “itens extraordinários” no balancete. Não é à toa que a própria Arthur Andersen já admitiu que documentos foram destruidos. Ou seja, é caso de polícia.

Tudo isso deve gerar preocupação para acionistas de empresas com estruturas societárias enroladas; e no Brasil ainda há várias delas, que — verdade seja dita — aos poucos vão aparando as arestas, após o empurrão dado por Francisco Gros quando presidia o BNDES.

Aliás esse é o famoso modelo “continental” de governança, encontrado na Alemanha, Japão e Coréia. A única Lei da Selva que deve ser aplicada nesse caso é a de “cada macaco no seu galho”.

Por outro lado, é confortante ver que mesmo com a queda e colapso da Enron, o mercado não se mexeu um milímetro sequer. Os preços de energia e petróleo nunca estiveram tão estáveis, não obstante o conflito no Afeganistão.

O espólio da Enron está sendo retalhado e dividido entre os credores. Ainda assim, teremos muitas horas nos tribunais, onde advogados vestidos a caráter, com ternos festivos, chapéus Stetson de um galão e botas de vaqueiros com bico fino terão que conter a fúria da turba de investidores institucionais, que prometem uma nova batalha.

Para os republicanos pode não ser o derradeiro Waterloo, mas vai ser um Alamo. Sem exagero.


Colunistas

PANORAMA POLÍTICO

Garotinho em ação

O governador Anthony Garotinho (PSB) quer abrir o diálogo político com outros dois presidenciáveis de oposição ao governo Fernando Henrique: Itamar Franco (PMDB) e Ciro Gomes (PPS). A idéia, semelhante à já defendida por Ciro, é unir as forças de oposição, excluindo o PT, em torno de um nome que tenha mais chances que o petista Lula de vencer o candidato governista.

Emissários de Garotinho procuraram ontem os deputados João Herman, do PPS, e Hélio Costa, interlocutor de Itamar Franco, para transmitir sua proposta: um encontro entre os três ainda antes do carnaval.

— A minha proposta é que estabeleçamos um diálogo, um modo de convivência para que em março ou abril possamos encontrar uma solução que una os três — disse ontem o governador Garotinho.

Com seu governo obtendo bons índices de aprovação no Rio de Janeiro e estando ele em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto para presidente, Garotinho sente-se à vontade e em condições favoráveis de propor o diálogo. Ele tem entre 11% e 13% nas pesquisas, enquanto Ciro tem 10% e Itamar 7%, segundo o último levantamento do Datafolha.

— Juntando os votos dos três chegamos a quase 30%, o mesmo que tem o Lula. E o Lula, as pesquisas mostram, perderia no segundo turno até para o Silvio Santos — afirma.

Qual a segurança de que um outro candidato de oposição, sem qualquer garantia de que chegará perto dos 30% de Lula, teria maiores condições de derrotar o governo?

— Nenhuma certeza, mas o cenário e as pesquisas indicam que há espaço para uma candidatura alternativa no campo da oposição. E volto a repetir: em todas as simulações de segundo turno o Lula perde.

Dizendo-se convencido de que Lula não vencerá o governo, Garotinho argumenta que os partidos de oposição não podem repetir o apoio em massa ao PT, como fizeram em 1994 e 1998. Acredita que uma união com Ciro Gomes e Itamar Franco daria um novo rumo às eleições. Sabe que não é uma tarefa fácil e não tem idéia de qual será a receptividade de Ciro e Itamar à sua proposta.

Ciro Gomes está reatando seu “namoro” com Leonel Brizola que, por sua vez, é inimigo de morte do governador do Rio.

— Não tem problema. Se o Brizola quiser participar, ótimo. Eu não faço política com o fígado — acena Garotinho.

Enquanto a campanha não começa...

Foi das mais amistosas a conversa de ontem entre o ministro tucano Pimenta da Veiga, que estará na coordenação da campanha presidencial do ministro José Serra, e o prefeito pefelista Cesar Maia, um dos principais estrategistas da candidatura de Roseana Sarney. Seguindo a orientação do presidente Fernando Henrique, Pimenta disse que uma de suas tarefas na campanha de Serra será a de impedir insultos à candidata do até agora aliado PFL.

— Seria burrice ficar nessa troca de agressões. A vitória está no nosso campo e acredito que nos entenderemos na hora certa — disse o ministro.

Cesar Maia concordou que PSDB e PFL devem manter um pacto de boa convivência. Mas fez questão de valorizar o papel de Roseana, com quem, aliás, jantou ontem no Rio:

— O crescimento de Roseana mostrou que Lula é batível. Mas ela é cuidadosa, prudente. Por enquanto está no vestiário, na concentração. Só entrará em campo, uniformizada e preparada para o jogo, lá na frente — diz Cesar, que não acredita em recuo do PFL.Novo figurino

O primeiro dia do ministro da Saúde, José Serra, na condição de candidato do PSDB à Presidência, já será em clima de campanha eleitoral. Na sexta-feira, ele irá a Mossoró, no interior do Rio Grande do Norte, reinaugurar um hospital público.

Com a presença do ministro confirmada, o PSDB local tratou de organizar para o mesmo dia a realização da convenção municipal do partido. Serra será a grande estrela. O líder tucano no Senado, Geraldo Melo, que defendia Tasso Jereissati, fará as honras da casa.

Desgarrado?

A própria Roseana Sarney e muitos de seus partidários não digerem muito bem a forma como o vice-presidente Marco Maciel defende a manutenção da aliança governista nas eleições presidenciais. Ontem, no exercício da Presidência da República, ele voltou a falar da necessidade de reprodução dessa aliança.

Bornhausen também defende a aliança, mas lembra sempre que o PFL tem candidata, enquanto que Maciel nunca fala sobre Roseana. Apenas excesso de cautela, dizem amigos do vice.

GOVERNADORES e estrelas tucanas prometem ir ao ato de lançamento da candidatura do ministro Serra. Com isso, cresce a expectativa sobre a presença ou não do governador do Ceará, Tasso Jereissati. Dizem por lá, no Ceará, que o governador deve aparecer. E poderá roubar a cena, já que Serra anunciou que não falará com a imprensa.


Editorial

Bem essencial

Não há outro adjetivo para qualificar a onda de crimes brutais em Campinas: é estarrecedora, mesmo para os padrões de um Brasil anestesiado pela violência urbana. A seqüência de roubos, seqüestros e assassinatos naquela cidade paulista mostra o quanto é perigoso descuidar da segurança pública — ou cuidar mal. Campinas, terceira cidade de São Paulo, pólo tecnológico e educacional, está no centro da pior onda de violência da história do estado, na qual se destacam os seqüestros. Em cinco anos, a ocorrência desse tipo de crime, em todo o estado, aumentou 2.125% — de 12 casos registrados em 1996 eles haviam somado 267 no ano passado, mesmo sem considerar dezembro. A segurança da população não é artigo de luxo, como parecem acreditar políticos e policiais de visão curta. É, antes, um bem essencial, imprescindível para a vida saudável em sociedade. Faz parte da infra-estrutura de qualquer ambiente minimamente civilizado.

Chama a atenção, pela gravidade, a situação humilhante de um empresário de Campinas entrevistado pelo “Fantástico”. Nelson Prado, comerciante, depois de sofrer nas mãos de criminosos, está impedido pelo medo de usufruir de seus bens materiais, do padrão de vida conquistado com trabalho e perseverança. Mais de uma vez teve a casa assaltada e, quando os ladrões levaram o que havia para levar (telefones, computadores, tudo), desistiu e mudou-se com a família para um quarto de hotel. Não se deu ao trabalho de fechar as portas e nem sequer contratou caseiro. Para que, se ele, o próprio dono, não conseguiu proteger os seus bens?

Ao drama de Nelson Prado se soma a tragédia da família de Rosana Melotti, assassinada em frente de casa por seus seqüestradores, numa resposta selvagem à demora no pagamento do resgate. Os dois casos se fundem ao assassinato, no ano passado, do próprio prefeito da cidade, Antônio da Costa Santos, o Toninho do PT, e ilustram o desafio do crime à capacidade do poder público de garantir segurança às pessoas. E não se trata de um problema paulista. O Rio também já viveu situações semelhantes à enfrentada por Campinas, e a desenvoltura com que o tráfico de drogas se move em amplas regiões da cidade não garante tranqüilidade diante do futuro. Por tudo isso é preciso tratar o combate à violência urbana como questão de alta prioridade nacional. Só um ambiente protegido permite à população trabalhar e prosperar honestamente. Uma vítima, Nelson Prado, tem feito a sua parte: distribui no centro de Campinas um manifesto contra a insegurança. Falta as autoridades cumprirem o seu papel.


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01/16/2002


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