Roseana Sarney e Jáder serão denunciados no caso Sudam









Roseana Sarney e Jáder serão denunciados no caso Sudam
PALMAS, TO – O Ministério Público Federal denunciará hoje à Justiça a ex-governadora Roseana Sarney (PFL), o seu marido, Jorge Murad, e o ex-senador Jáder Barbalho (PMDB-PA) por formação de quadrilha, estelionato e peculato. Jáder será denunciado ainda por lavagem de dinheiro, e Murad também será enquadrado em falsificação de documentos. A denúncia foi concluída ontem à noite e será apresentada hoje pela manhã.

O documento é assinado por procuradores de quatro Estados: Maranhão, Pará, Paraná e Tocantins. Serão denunciados (acusados formalmente) 26 supostos envolvidos no desvio dos R$ 44 milhões liberados pela extinta Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) para o projeto Usimar.

Os procuradores afirmam na denúncia que Roseana, Murad e os subgerentes do Maranhão Alexandre Falcão (Indústria e Comércio) e Arnaldo Silveira (Planejamento) atuaram “decisivamente para a aprovação do projeto, com unidade de desígnios e com a divisão de tarefas típicas das organizações criminosas”.

A denúncia cita que a reunião do Conselho Deliberativo da Sudam (Condel) que aprovou o projeto Usimar, presidida por Roseana, durou das 14h40 às 15h45. “Não houve interrupções, tampouco discussão acerca do projeto Usimar. Nem sequer consta na ata a menção ao voto em separado do representante da Receita Federal”.

O ex-superintendente da Sudam Maurício Vasconcelos deixou expresso que “nunca tinha visto uma reunião tão ágil e parabenizou a governadora pela fulminante condução dos trabalhos”.

O procurador Ubiratan Cazetta (PA) respondeu à proposta de Roseana de quebrar o sigilo de suas contas bancárias. “Não somos ingênuos a ponto de achar que alguém acusado de receber propina receba dinheiro em suas contas bancárias. Mas nós trocamos o sigilo bancário pela autorização para que se abram os documentos encontrados na empresa Lunus.” Os documentos apreendidos na empresa de Roseana e Murad estão bloqueados.

Jáder foi apontado na denúncia como o efetivo controlador do esquema Sudam. “O denunciado estabeleceu um sistema de controle da direção da Sudam com a finalidade de deixar fluir os recursos do Finam para seus comparsas de forma fraudulenta.”

Também foram denunciados os ex-superintendentes da Sudam Maurício Vasconcelos e
Arthur Guedes Tourinho.


CPI PEDE QUEBRA DE SIGILO DE EMPRESÁRIOS
A CPI criada em Santo André para apurar o suposto esquema de recolhimento de propinas de empresários de transporte encaminhará, segunda-feira, aos advogados dos empresários Sérgio Gomes da Silva e Ronan Maria Pinto – principais acusados de comandarem o esquema que beneficiaria campanhas petistas – o pedido de quebra de sigilos bancário e fiscal. Em depoimentos à CPI, os empresários disseram que abririam seus sigilos espontaneamente. Além disso, comissão de vereadores fará na terça-feira uma devassa em papéis emitidos pela Empresa de Transporte Público (EPT) e na Associação de Empresas de Santo André (Aesa), para levantar “indícios de desvio de recursos”.


MALUF TEM APOIO NO PDT E PPS
O candidato a governador Paulo Maluf (PPB-PL) recebeu ontem, em Osasco, São Paulo, apoio de líderes regionais do PDT, PMDB, PPS e PL, em evento na Câmara Municipal.

Pouco antes de falar, Maluf ouviu o discurso do deputado federal Rubens Furlan (PPS-SP), eleito com mais de 220 mil votos, que declarou apoio a ele e ao candidato da Frente Trabalhista a presidente, Ciro Gomes. No entanto, em São Paulo, o PPS está na coligação que apóia o candidato a governador Antônio Cabrera (PTB). “Há sete anos, fomos assolados por uma eleição que paralisou São Paulo com promessas de saneamento das contas públicas. Mas o Estado parou”, discursou Furlan.


Serra usa Internet para bombardear adversário
BRASÍLIA – O site do candidato tucano à Presidência, José Serra (SP), decidiu centrar todo fogo no candidato da Frente Trabalhista (PPS/PDT/PTB), Ciro Gomes, segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República.

Só ontem foram publicadas duas novas sessões: “Ciro disse, mas não é verdade” e “Pérolas de grosseria de Ciro”. O site acusa Ciro de mentir em duas situações: “Quando diz que pagou toda a dívida mobiliária do Ceará e quando alega que não agride os adversários”.

Na segunda coluna, foram coletadas frases de Ciro publicadas desde 93, a respeito de adversários e pessoas que hoje estão aliadas a ele. A primeira é sobre o presidente do PDT, Leonel Brizola, hoje aliado de Ciro: “Brizola é populista e, pior, com discurso de esquerda. É a fina flor do atraso (93)”.

Eis outras frases de Ciro no site: “Quércia está no esgoto da política brasileira (94)”, “É só perguntar ao povo de São Paulo quem é o responsável pelo rombo do Banespa.

Fleury é um aborto da natureza. (95)”, “Quércia é ladrão, todo mundo sabe. (96)”, “César Maia, como pessoa, é desonesto, manipulador (96)”.

Ataques ao presidente FHC e ao ex-senador Antônio Carlos Magalhães, hoje aliado de Ciro, foram lembrados: “Não quero ser ameba. Ameba por ameba, basta o Fernando Henrique. Ameba é metáfora para ausência de resistência ao meio. (98)”, “Quem tem o dedo sujo não pode apontar sujeiras (sobre ACM, em 99)”, “ACM não agüenta o debate. Pela natureza antidemocrática e porque é sujo que só pau de galinheiro (99)”.

Enquanto o site do candidato tucano disparava novas críticas contra Ciro, Serra negava, em Belo Horizonte, a possibilidade de mudanças na coordenação política de sua campanha, hoje sob a responsabilidade do deputado mineiro Pimenta da Veiga, mas as evidências indicavam que o clima ainda é de turbulência. Pimenta não chegou com Serra à capital mineira, não o acompanhou na visita ao comitê de campanha, nem participou de caminhada com o candidato pelas ruas da cidade.

O ministro-chefe da Secretaria-geral da Presidência da República, Euclides Scalco, voltou a ser cotado ontem para a coordenação política da campanha tucano, mas tanto ele quanto Serra negaram a possibilidade.

“Não há nenhuma mudança na coordenação política. A coordenação política é mais importante da campanha e ela vai continuar como está, sob o comando de Pimenta da Veiga”, disse Serra, que fez campanha em Belo Horizonte ao lado do candidato a governador Aécio Neves (PSDB).


Lula abandona a moderação e ataca FHC
ARACAJU – Em comício realizado ontem à noite no centro de Aracaju, o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, deixou de lado a moderação de suas últimas declarações e elevou o tom de críticas ao Governo Federal. Ao comparar a diferença de taxas de juros no Brasil e nos EUA, Lula partiu para a ofensiva. “O presidente Fernando Henrique e sua equipe econômica nunca pegaram no cabo da enxada”, afirmou. “Nunca sujaram a mão de graxa, nem sabem o valor que tem o trabalho e o desenvolvimento de uma nação.”

Para uma platéia estimada em 20 mil pessoas, o candidato disse que é “por causa dos juros que o País está andando para trás”. Didático, citou exemplos de quanto um trabalhador paga a mais quando compra a prazo, em 12 vezes.

Como se estivesse comandando um programa de auditório, Lula perguntava: “Alguém aqui tem dólar, tem ações na bolsa?”. O público respondia: “Não!”. Aos militantes, ele deu uma explicação para os comentários de que, se o PT ganhar a eleição, o dólar vai subir e a Bolsa, cair. “Eles não querem que o Lula ganhe porque sabem que um torneiro mecânico vai ensinar como esse País pode dar certo”, bradou.

O petista também criticou as viagens de FHC ao exterior. “O presiden te viajou para o Exterior, nos sete anos de mandato, 355 dias, o que dá um ano. Ele precisa voltar para o mundo real. Não tenho nada contra ele viajar para visitar museus e receber título de doutor honoris causa, mas gostaria que, quando chegasse do exterior, visse como está o nosso Nordeste, para perceber que nem tudo é a beleza de Sorbonne ou a maravilha de Londres.”

Em Brasília, o deputado Aloizio Mercadante (PT-SP) também atacou o Governo. Após encontro com o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, ele disse que o PT defende o superárvit primário de 3,75%, o câmbio flexível, metas de inflação com bandas e cumpre a Lei de Responsabilidade Fiscal. Por isso, segundo Mercadante, rejeita qualquer tipo de crítica ou de cobrança do ministro da Fazenda, Pedro Malan, que tem exigido do PT a divulgação de um programa que dê confiança aos investidores. “Malan tem se comportado mais como um cabo eleitoral de José Serra, embora a contragosto”, disse.


Artigos

O futuro da informação
José Paulo Cavalcanti Filho

O futuro dos meios de comunicação, no Brasil, deve caminhar em dois sentidos aparentemente contraditórios. De um lado, fortalecendo os grupos brasileiros, em uma comunicação crescentemente mundializada. De outro, fazendo com que atuem como instrumento do interesse coletivo. Dizendo mais simplesmente, esse futuro corresponderá ao consenso possível entre soberania e democracia. Mas será possível conciliar interesses que, em princípio, têm lógicas excludentes?, eis a questão.

Há grandes mudanças em curso. Produzir conteúdos e a transmitir esses conteúdos são atividades que começam a ser um único negócio. Dois caminhos reduzidos a um falso paradoxo. Muitos imaginaram que uma estratégia de pequenos avanços tecnológicos poderia enfrentar o peso do poder econômico. Não será assim, já se vê.

Tecnologia e dinheiro tendem a trabalhar juntos. As culturas regionais correm o risco de sucumbir, ante a pasteurização da cultura “horizontal” - para usar expressão de Lawrence Friedman.

Em futuro próximo, tenderão a se fundir os veículos em que hoje circula toda essa informação - televisão, jornal, computador, jogos eletrônicos, rádio e seus instrumentos de conexão. Esse futuro poderá inclusive envolver dispositivos que se articulariam para atender aos desejos dos seres humanos - sem envolver, nessa comunicação, os próprios seres humanos. Em países periféricos, como o Brasil, o ritmo dessas mudanças será sempre mais lento. Bom para nós. Mas é preciso não desperdiçar tempo.

Os capitéis dos templos romanos eram povoados por figuras animais, saídas das páginas do Apocalipse. Expressando-se neles receios, remorsos e virtudes. O bestiário nietzschiano, por exemplo, baseava na moral a busca de poder que eleva o homem.

Representada no camelo, com a moral pesada do eu devo, no menino, com a moral simples do eu sou, e no leão, com o moral onipotente do eu quero. A esse zoológico ético devendo-se juntar agora os meios de comunicação, que poderiam ser representados pelo camaleão, com a moral ambígua do eu me adapto.

Ocorre que os grandes grupos nacionais, em comparação com gigantes mundiais de comunicação, se reduzem a grupos apenas médios. Até menos que isso. Nem sempre essa adaptação será suficiente. A combinação camaleônica de engenho e arte, de competência com reserva de mercado, de voluntarismo com boas intenções, em nenhum país vem conseguindo evitar os efeitos predatórios da competição. A esse cenário de incertezas respondeu o Congresso Nacional com a permissão de que parcela (minoritária) do capital de empresas nacionais possa pertencer a grandes grupos estrangeiros. Uma solução conveniente, no curto prazo. Mas que pode acabar se revelando mortal, ao passar dos anos.

Fortalecer esses grupos deverá ser um objetivo nacional. Todos os países fazem isso, com os seus. Mas a tese, quando sustentada em bases simplistas, pode acabar sendo apenas instrumento para concentração de poder nessas empresas. Ruim. Ou sagração de um compadrio deletério entre corporações de comunicação e elites políticas incrustadas no governo. Pior. Devendo um modelo efetivamente comprometido com a democracia, para ser politicamente defensável, compreender que esses veículos devem estar à disposição do bem comum. Que ele só será bom, para os meios de comunicação, se for bom também para os brasileiros.


Colunistas

PINGA FOGO – Inaldo Sampaio

A chapinha do PSB
Apesar do isolamento de Arraes, abandonado na capital e no interior por companheiros de antigas jornadas - uns para ficarem à sombra do governo estadual e outros por discordarem de sua opção política pela candidatura de Anthony Garotinho - o PSB poderá eleger uma bancada razoável para a Câmara Federal e Assembléia Legislativa.

Além do próprio Arraes, que será o puxador de votos da legenda, a chapa dos federais conta com nomes como Carlos Lapa, Gonzaga Patriota, Djalma Paes, Eduardo Campos, Clóvis Corrêa, Jorge Gomes, Nílson Gibson, Pedro Mendes e Darlanges Alves.

Na dos estaduais destacam-se os candidatos José Augusto Farias (Surubim), Ana Carla Lapa (Carpina), Totonho Valadares (Pajeú), Djalma Seixas (Recife), Edivaldo Cassimiro (Rio Formoso), Efigênia Oliveira (Cabo), Francismar Pontes (Recife), Horácio Melo Sobrinho (Ouricuri), Izaías Régis (Garanhuns), Aglaílson Júnior (Vitória), Cândido Miranda (Recife) e Marcone Borba (Bezerros).

Segundo previsão dos “experts”, elegeria entre quatro e cinco para a Câmara Federal e entre cinco e sete para a Assembléia Legislativa, o que seria um saldo razoável. O problema é que alguns dos futuros estaduais no dia seguinte à eleição estarão ao lado do governo.

Inimizade antiga
A ausência de Jarbas Vasconcelos no almoço comemorativo da eleição de Armando Monteiro Neto (na foto entre o prefeito João Paulo e o candidato a vice de Lula, José Alencar) para a presidência da CNI já era esperada. Há 3 anos e 7 meses nem o governador nem o secretário de indústria e comércio põem os pés na Fiepe, também presidida por Armando. E o que é pior: a entidade não integra o “Pacto 21” que acompanha a aplicação dos recursos da Celpe.

Exceção à regra
O prefeito Fernando Rodovalho (Jaboatão) reuniu anteontem o secretariado para um bate-papo sobre as eleições. Ele pediu o empenho da equipe para eleger Ana Rodovalho para a Assembléia Legislativa. Apenas um secretário foi liberado: Geraldo Melo Filho (Turismo). Que por ter o pai candidato à reeleição foi dispensado para trabalhar por ele.

Marcação cerrada
Apesar do gesto de Rodovalho, a rádio FM (101.1) de propriedade de Geraldo Melo (PMDB) é só cacete no lombo do prefeito. Este, rompido politicamente com o deputado, ficou tão contrariado com uma entrevista do professor Michel Zaidan (UFPE) àquela emissora que acionou ontem os seus advogados para exigir o direito de resposta.

Prefeita de Olinda dá início ao “tapa-buraco”
Em Olinda, teve início ontem com gosto de gás a “operação tapa-buraco”, um dos pontos nevrálgicos da prefeita Luciana Santos. Coincidência ou não, Lula defendeu a gestão dela na entrevista que deu à Rádio Jornal.

Prefeito de Vitória vai do PPS ao PFL
O voto mais eclético de Pernambuco é o do prefeito José Aglaílson (Vitória): Ciro (presidente), Jarbas (governador), Sérgio Guerra e Carlos Wilson (senadores), Inocêncio Oliveira (federal) e José Aglaílson Júnior (estadual).

Descanso merecido
O deputado federal e ex-ministro da Justiça Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) almoçou ontem no Recife. Estava acompanhado por Sérgio Sales, administrador de Fernando de Noronha, que lhe emprestou sua casa naquela ilha para que ele pudesse descansar até domingo com a mu lher e as três filhas.

Campanha na rua
Roberto Leandro (PT), ex-presidente do Sindicato dos Bancários e candidato a deputado estadual, inaugura hoje o seu comitê. Fica na Rua Montevidéu, 260 (Boa Vista). Ontem, a também candidata Teca Carlos (Camaragibe) inaugurou o comitê dela (Torre). A deputada federal Esther Grossi (PT-RS) esteve presente.

Marco Maciel tem sérias dúvidas sobre se a participação de FHC nos palanques da campanha irá resolver o problema de Serra, tal como apregoa Geddel Vieira Lima (BA), líder do PMDB na Câmara Federal. Para o vice, não há precedente disso na História republicana. Ele defende, todavia, a participação de FHC através do rádio e da televisão.

Para André Campos, presidente regional do PTB, longe de ser uma “incoerência” a participação de Carlos Wilson nas campanhas de Lula e Ciro, simultaneamente, é a prova concreta de que o senador será reeleito. Isso porque, segundo o deputado, os candidatos do PT e do PPS lideram as pesquisas de opinião.

Em sua recente passagem por Pernambuco, Lula deu uma alfinetadazinha no seu adversário Garotinho (PSB). Foi nos estúdios da Rádio Jornal. Quando viu a sala cheia de fotógrafos e jornalistas, virou-se para Geraldo Freire e disse: “Parece que há mais gente aqui do que no (1º) comício do Garotinho (Marco Zero).

José Arlindo (planejamento) promete “priorizar” a educação se Jarbas Vasconcelos for reeleito. Está correto. Afinal de contas, o ensino público em PE anda mal das pernas.

Além da falta de professores e do péssimo estado físico da maioria das escolas, há estudantes concluindo o 1º grau sem sequer saberem ler.


Editorial

ECOS DE UM FESTIVAL

Na primeira semana deste mês, realizaram-se dois eventos artísticos interligados, e de grande importância, no Recife. Um deles foi a comemoração dos 25 anos de fundação do Balé Popular, criado por Hermilo Borba Filho e durante todos esses anos preocupado com a valorização da cultura nordestina. Ele é hoje uma referência nacional, motivo de orgulho para o Estado.

O outro acontecimento significativo foi o VII Festival de Dança, quando se conheceu o estágio estético de estilos variados, como o clássico, neoclássico, moderno, contemporâneo, jazz, popular e de salão. Esse festival parece reforçar a tendência pernambucana para grandes espetáculos, que se iniciou com a Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, e estendeu-se a congressos nacionais de escritores e festivais de teatro, cinema e música de câmera, culminando com os festivais de inverno, o mais recente sendo realizado em Garanhuns (pela 12ª vez consecutiva), mas que atinge também outras cidades de clima frio, como Triunfo e Gravatá.

Se destacamos esses acontecimentos, ao contrário de outros eventos de rua, como os carnavais fora de época, é porque têm a virtude duradoura de formar público de qualidade, elevando o nível cultural do povo pernambucano. Isso não tem impedido algumas críticas, algumas até mal humoradas. No caso do Festival de Dança do Recife, ao seu próprio formato, por não incluir “oficinas”, que são oportunidade de reciclagem ou iniciação de dançarinos, e principalmente a estratégia de combinar apresentações pagas, no Teatro do Parque, com espetáculos gratuitos no Sítio da Trindade, no Pátio de São Pedro e no pátio da Vila da Fábrica, em Camaragibe. Este ano, as chuvas não permitiram a realização de um dos espetáculos programados, mas houve apresentação nos dois outros locais, sendo que a Vila da Fábrica surpreendeu com um público de seis mil pessoas.

Dentro dos grupos que vêm coordenando o festival, ao longo do tempo, há divergências que se manifestam quando à manutenção da diversidade de estilos nas apresentações. Uns acham que deve predominar a qualidade estética, e outros criticam porque tal variedade inviabiliza uma iluminação fixa para todos os grupos que se apresentam.

Foi muito justo que, este ano, o Festival de Danças tenha escolhido como homenageado o Balé Popular do Recife, que comemora um quarto de século de vida ininterrupta. Esse importante grupo artístico, em sua fase inicial, foi de certa forma adotado pelo Governo do Estado, que o apoiou completamente até poder seguir com seus próprios pés. Foi uma experiência do poder público na área da cultura que precisa ser meditada e, quem sabe, repetida outras vezes. Está aí o Balé de Cultura Negra, formado por jovens pobres, provenientes dos morros do Recife, e que vive sempre em enormes necessidades materiais. É hora de o Governo do Estado ou a Prefeitura do Recife fazer alguma coisa por ele. E há outros exemplos semelhantes, na Capital e no interior.

O Festival de Danças do Recife é uma realização do governo municipal, através da Fundação de Cultura da Cidade, e este ano foi produzido pelo Grupo Experimental - Paulo de Castro Produções Artísticas. Vale ressaltar que teve um número menor de apresentações do que em 2001 (queda de 150 para 70 grupos), mas a bilheteria foi maior. Ao Teatro do Parque acorrerem 7,5 mil pessoas, contra 5 mil no ano passado.

Houve uma redução de verbas liberadas, mas os seus organizadores esperam que isso não se torne uma tendência. Todos sabem pois há sempre o hábito de a administração pública cortar recursos para a cultura. Na realidade, as manifestações culturais, quando apoiadas convenientemente, terminam por dar retorno financeiro. Isso acontece em toda parte do mundo. No Recife não seria diferente.


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07/19/2002


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