Saiba como as bolhas de ar ajudam a retirar sujeira da água



O primeiro bloqueio anti-poluição do Rio Pinheiros é a Estação de Flotação de Zavuvus, na região de Interlagos. Lá é feita a inoculação de uma substância chamada sulfato de alumínio, componente responsável pela aglutinação de partículas de sujeira. Cinqüenta metros depois é injetado um polímero catiônico na água de modo a transformar os minúsculos flocos de poluição, então com o tamanho da cabeça de um alfinete, em algo maior como, digamos, a cabeça de um fósforo de cozinha. Não por acaso, esta etapa recebe o nome de floculação. Cada metro cúbico de água recebe algo entre 30 e 50 miligramas de sulfato de alumínio e outros dois miligramas de polímero. Vale lembrar que os dois componentes, assim como todos os demais ao longo do processo, são usados fartamente em sistemas de tratamento de água, ou seja, não são nocivos ao ser humano.

Formados os flocos de poluição, é preciso tirá-los do lodo. É nesta hora que são introduzidas bolhas de ar e dá-se o fenômeno da flotação. “A flotação pode ser explicada como a adesão das microbolhas de ar aos flocos, provocando o aumento do empuxo e a ascensão dos coágulos, os quais passam a constituir uma massa de consistência homogênea na superfície da água”, explica o diretor de geração da Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia), Antônio Bolognesi. A subida é lenta, cerca de 10 minutos para elevar-se por 10 centímetros. Uma vez na superfície, ainda navegando muito lentamente pelo rio, chega a hora de o material ser coletado.

Neste momento, quem passa de automóvel pela Marginal Pinheiros poderá notar que o rio está coberto por algo como uma estranha camada pastosa de leite. Metros depois da primeira etapa ser concluída, ainda na estação de flotação, os flocos são retirados da água automaticamente por 15 rodas de dragagem. Os flocos são bombeados para tanques e transferidos para centrífugas gigantes. Lá, são processados, desidratados e inertizados. Por fim, eles são levados de caminhão para o aterro da Pedreira, que já recebe lodo do Pinheiros.

Resultado

 

As águas que passam pela Estação de Flotação da Pedreira cumprem o mesmo itinerário percorrido na Zavuvus. Para se ter uma idéia, só na Pedreira foram erguidos seis tanques para o armazenamento de floculantes, cada um com capacidade para 120 mil litros. Ao cabo, reduz-se a 0,01% as ocorrências de coliformes fecais e a 7% o de óleos e graxas. A turbidez, ou seja, a transparência da água, vai a 80%.

Uma vez límpida, a água passa pela Estação Elevatória da Pedreira e vai parar na represa Billings. De lá, ela pode seguir tanto para a usina Henry Borden como para a torneira de muitos paulistanos. Antes, a água vai passar pelas estações de tratamento de água da Sabesp. Para não deixar os moradores preocupados, uma bateria de testes com 195 parâmetros é realizada a cada 15 dias. São 17 pontos de coleta: seis na Billigns, outros seis no Rio Pinheiros, quatro no reservatório de Guarapiranga e mais um no Rio Tietê. Se alguma irregularidade for verificada, a flotação é interrompida imediatamente.

“Haverá um monitoramento extremamente rigoroso deste processo”, reforça o diretor de geração da Emae, Antônio Bolognesi. “Vamos tirar mais de mil amostras de água ao longo destes seis meses de operação e de teste. Depois, vai ser gerado um banco de dados imenso, que será analisado pela Emae e pelo Ministério Público”, completa. Todos os laboratórios envolvidos no processo são credenciados pelo Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia Normalização e Qualidade Industrial) e pela Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental). A primeira etapa de testes, a chamada “coleta branca”, começou na semana passada e contou com a presença da Secretária Estadual de Saneamento e Energia, Dilma Seli Pena. Nesta etapa, os técnicos capturam amostras do sistema sem a interferência da flotação para terem valores de referência.

A limpeza do Pinheiros, uma obra de dimensões e impacto colossais, envolve diversos órgãos do governo, entre eles as Secretarias Estaduais de Saneamento e Energia e do Meio Ambiente, Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Esgoto) e CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), além de prefeituras da região metropolitana da Capital. Os investimentos somam R$ 60 milhões só nesta primeira etapa – os recursos são da Petrobras. Já o montante para bancar os seis meses de monitoramento, a contar a partir de hoje, chega aos R$ 24 milhões. A terceira etapa, que prevê a construção de sete estações de flotação, demandará mais R$ 300 milhões.

Manoel Schlindwein



09/01/2007


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