Sarney homenageia Rachel de Queiroz



Ao encaminhar voto de pesar pela morte da escritora Rachel de Queiroz, o presidente do Senado, José Sarney, disse que a tristeza resultante dessa perda não era apenas da Academia Brasileira de Letras, onde o corpo estava sendo velado.

- A comoção é do país inteiro porque nós perdemos um símbolo, um ícone, a escritora mais importante do século 20 e deste século que estamos começando.

De acordo com Sarney, enquanto o Brasil tiver história literária, um espaço extraordinário será dado a essa escritora cearense que, em toda sua vida, doou-se totalmente ao ofício de escrever. Ele a definiu como uma mulher inovadora que, em 1930, publicou o romance O Quinze, inaugurando um novo ciclo da ficção brasileira e -buscando nas fontes populares o barro do seu trabalho e da sua inspiração-.

Da mesma forma, ele registrou que, já no fim da vida, quando todos os escritores perdem a inspiração do inicio de suas carreiras, Rachel surpreendeu com o lançamento de extraordinária obra da maturidade, que é O Memorial de Maria Moura. Na avaliação de Sarney, nesse livro ela se consagrou como inovadora romancista, que começou com O Quinze, lançado quando tinha 20 anos.

Referindo-se a O Quinze, Sarney disse que, inspirando-se no fenômeno das secas, ela não só abordou um tema específico, como o aproveitou para entrar no sofrimento dos homens e situar o leitor numa nova visão de mundo. Com esse livro, ele disse que a escritora iniciou um processo de renovação que se desdobrou com outros extraordinários nomes da literatura nacional.

Sarney se referiu a cada uma das obras da escritora, recordando que Rachel de Queiroz foi uma mulher de vanguarda, que viveu o sonho socialista do seu tempo. Lembrou que ela escreveu valiosas peças teatrais, que ficarão na história da dramaturgia brasileira, citando especificamente Lampião, drama baseado na vida de lendário cangaceiro nordestino, e Beata Maria do Egito, grande personagem feminina, que alude à própria Maria Bonita, companheira de Lampião.

- Eu tive a felicidade de, desde os anos 50, tornar-me amigo de Rachel, usufruindo da generosidade com que ela recebia os mais jovens para incorporar ao seu universo sentimental. Fui amigo daquela mulher inteligente, que tinha o gosto da vida, o amor às letras e às palavras, sabendo que através das palavras podia eternizar sentimentos e emoções, enfim, reconstruir o mundo, que era o mundo da sua arte de escritora.



04/11/2003

Agência Senado


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