Sarney pede um minuto de silêncio para o adversário Brizola
O presidente do Senado, José Sarney, conduziu por toda a tarde a sessão em que a Casa homenageou o ex-governador Leonel Brizola e, ao final dos discursos, pediu que os parlamentares observassem um minuto de silêncio em homenagem ao político morto. Em seguida, Sarney exprimiu sua opinião sobre o líder que freqüentemente dele divergia, mas de quem ele reconheceu todas as qualidades.
- O meu testemunho é um testemunho daquele que não estava em suas hostes, daquele que tinha sempre pontos de vista contrários aos que ele defendia. Mas posso dizer que era um homem de grande bravura, pelo seu nacionalismo radical e pela contribuição que deu à vida pública brasileira - disse.
Sarney disse que via a morte de Brizola com o sentimento de quem vê a perda de um pedaço da história do Brasil. O senador revelou ter conhecido uma face mais humana de Leonel Brizola, relatando que, quando presidente da República, esteve com o então governador do Rio de Janeiro algumas vezes, observando que ele não era sempre o homem duro que sua imagem pública projetava.
- Era um homem sensível, que conhecia os deveres da cortesia, da educação e da convivência democrática entre os políticos de idéias diferentes - disse.
O presidente do Senado definiu o homenageado como um pedaço da historia política da sua geração. Disse que presidiu toda a sessão de homenagem para demonstrar seu apreço e admiração pela vida desse líder. Observou que sempre olhava Brizola como se ele tivesse na alma a herança dos caudilhos do Rio Grande do Sul, daqueles que ficavam de lança em riste, prontos para a peleja nas terras gaúchas.
Sarney disse que conheceu Leonel Brizola em 1959, no Rio Grande do Sul, quando era um jovem deputado e ali comparecia a um debate político da UDN, sendo apresentado ao político gaúcho por um amigo comum. Nesses 45 anos, viu sempre nesse líder -um homem de coragem, um adversário firme, duro, que não poupa críticas-.
- Eu acho que não me recordo de alguém que, durante esses anos todos, não tenha recebido, num momento ou noutro, críticas de Leonel Brizola. Desde Jango, a quem ele se encontrava ligado, até o presidente atual, Luiz Inácio Lula da Silva - comentou.
Sarney disse ainda que Brizola tinha um temperamento singular, que não comportava nenhuma omissão. Para Sarney, Brizola -era da estirpe que Joaquim Nabuco chamava de exaltados, aqueles sentinelas das revoluções, com quem era muito difícil governar-. Sobre estarem em posições adversárias, o presidente do Senado disse quem nem sempre foi assim: -Estivemos juntos na eleição de Tancredo Neves, mas fomos adversários-.
Na mesma sessão, Sarney pôs em votação requerimentos destinados à realização de sessão especial em memória do ex-governador. E designou para representar o Senado nas homenagens póstumas prestadas no Rio de Janeiro os senadores Jefferson Peres (PDT-AM), Sérgio Cabral (PMDB-RJ) e Marcelo Crivella (PL-RJ).
Da mesma maneira, designou para representar o Senado nos funerais, em São Borja (RS) uma delegação composta pelos senadores Pedro Simon (PMDB-RS), Paulo Paim (PT-RS), Sérgio Zambiasi (PDT-RS), Heloisa Helena (sem partido-AL) e Cristovam Buarque (PT-DF).
22/06/2004
Agência Senado
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