Sarney tem mais de meio século de vida parlamentar



Reconhecendo que a reforma política, até hoje não alcançada, é o principal desafio da legislatura que se inicia, o senador José Sarney (PMDB-AP) elegeu-se nesta terça-feira (1º), pela quarta vez, presidente do Senado. Ele prometeu convocar os partidos e fazer todo o possível para que essa reforma aconteça. E avisou que, se a reforma não sair agora, não sairá mais.

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A dois meses de completar 81 anos, Sarney derrotou na disputa pelo cargo o mais novo senador da legislatura, o ex-"cara pintada" Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), de 38 anos. O representante do PSOL iniciou sua trajetória política na adolescência, liderando no Amapá o movimento pelo impeachment do então presidente da República (e atual senador) Fernando Collor. Sarney começou sua carreira política também na juventude, combatendo Vitorino Freire no Maranhão.

Reconduzido à presidência do Senado, Sarney mantém-se em terceiro lugar na linha sucessória da presidente Dilma Rousseff. De acordo com a Constituição, o primeiro a sucedê-la, no caso de vaga ou impedimento, é o vice-presidente Michel Temer; o segundo, o presidente da Câmara, ainda a ser eleito hoje; e o quarto, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Cezar Peluso.

Personagem e testemunha privilegiada da historia recente do Brasil, Sarney chegou ao Parlamento pelo PSD, migrando depois para a UDN. Eleito suplente de deputado em 1954, ele chegou à Câmara dos Deputados como eleito em 1959, o que lhe dá 52 anos de mandatos parlamentares, primeiro pelo Maranhão e, desde 1990, pelo Amapá. "Tive mais mandatos que Ruy Barbosa", afirma o senador.

Ele é também o parlamentar com o maior número de mandatos na presidência do Senado. Sarney presidiu a Casa de 1995 a 1997, de 2003 a 2005 e de 2009 a 2011. Há dois anos, quando disputou esse cargo contra o PT, reagiu especialmente à crítica de que estava muito idoso para conduzir o Senado.

- Não me chamem de um homem retrógrado, como se fosse um velho que chega aqui sem querer renovar o Senado. Não me chamem de um velho que não tem gosto pela inovação. Aqui na Casa, quando cheguei, a ideia da informatização foi minha. Acho injusta a afirmação de que é um retrocesso eu disputar o Senado.

Nascido em 1930, Sarney foi um dos primeiros integrantes do Parlamento a apontar a mudança de paradigmas desencadeada pela revolução digital como impactante na atividade política. Remanescente de uma época em que discursos, frases e posições ideológicas moviam a ação parlamentar, Sarney hoje observa a pouca importância que as novas gerações dão a isso.

Internet

Observador atento do desgaste vivido pelos parlamentos no mundo todo, ele observa que, atualmente, o representante de uma corporação sindical, associação de classe ou organização não governamental dirige-se ao Legislativo, em qualquer democracia, e se expressa com a mesma legitimidade de um líder partidário.

Foi por reconhecer a legitimidade e a força das redes sociais que se propagam pela internet que ele tomou a iniciativa de colocar o perfil do Senado no Twitter, no Facebook e no Youtube. Na avaliação de Sarney, fazer o Senado interagir com a sociedade, pelos caminhos abertos pela internet, é aproximá-lo da população e dar a esta instrumentos mais eficazes para fiscalizar o Legislativo. 

Foi em busca desse entendimento com a sociedade que, em 1985, assumindo o Palácio do Planalto em razão da morte de Tancredo Neves, ele conduziu a transição que, sem traumas, reconduziu o Brasil do regime militar ao mais longo período de estabilidade democrática vivido em nossa história.

Em seus depoimentos para a posteridade, ele tem dito que apressou-se em legalizar os partidos clandestinos e convocar a Assembleia Nacional Constituinte porque não tinha o apoio de que gozava Tancredo Neves. Na verdade, enquanto ocupou o Palácio do Planalto, Sarney diz que não houve um só dia em que não temesse ser retirado do cargo.

Seu receio eram as forças ideológicas que, ao longo da história, tiraram o sossego de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek , Jânio Quadros e João Goulart, entre outros. Forças estas que hoje convivem pacificamente com a democracia que colocou a ex-guerrilheira Dilma Rousseff no poder.

Em 2009, Sarney passou pelo seu momento mais difícil como presidente do Senado. Ele foi alvo de denúncias de irregularidades administrativas e chegou a sofrer pressão por parte de parlamentares oposicionistas para que renunciasse ao cargo. Essas denúncias foram também encaminhadas ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, que concluiu que elas eram improcedentes.

Na época da crise, Sarney prometeu tomar medidas para resolver os problemas administrativos do Senado e desde então foram exonerados vários servidores, contratos foram revistos, uma proposta de reforma administrativa foi colocada em tramitação, o plano de carreira dos servidores foi aprovado e um novo concurso público começou a ser organizado.

01/02/2011

Agência Senado


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