Senado divide o PMDB



Senado divide o PMDB A renúncia de Jader Barbalho levará para a disputa pela Presidência do Congresso a briga interna entre a cúpula peemedebista e os que contestam o atual comando do partido A renúncia à presidência do Senado, que será anunciada hoje à tarde pelo senador Jader Barbalho (PMDB-PA), dividirá o PMDB na disputa pela sua sucessão. A cúpula do partido apóia a candidatura do líder da bancada, senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Mas os senadores José Alencar (PMDB-MG) e José Fogaça (PMDB-RS) estão dispostos a disputar dentro da bancada do partido, integrada por 25 senadores, a indicação para comandar a Casa. A data da eleição será definida pelo vice-presidente do Senado, Edison Lobão (PFL-MA), após o discurso de despedida de Jader Barbalho. Alencar e Fogaça se negam a referendar o nome de Renan, que, além de candidato da cúpula, contaria também com a simpatia do Palácio do Planalto. A disputa interna na bancada reflete o desgaste do grupo que hoje comanda o PMDB, cujo principal representante era Jader Barbalho. ‘‘Está na hora do PMDB se abrir, arejar suas lideranças, sob pena do Senado continuar mergulhado em uma crise’’, afirmou Fogaça. ‘‘O nome (do novo presidente) precisa do acolhimento dos outros partidos e ser um instrumento de paz, para resgatar a imagem do Senado’’, emendou Alencar. Em visita a Alagoas, acompanhando o presidente Fernando Henrique Cardoso no lançamento de um programa de governo, Renan Calheiros negou que seja candidato. ‘‘Isso será definido numa reunião da bancada amanhã (hoje)’’, disse. A cúpula do PMDB decidiu, no final de semana, lançar o nome do líder, em um encontro que contou com sua presença. Renan conseguiu arrancar o apoio do ex-presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP), que, apesar dos apelos do PFL, recusa-se a disputar a indicação. Embora Renan apareça como favorito, mesmo na cúpula peemedebista acompanha-se com cuidado as reações a seu nome. O presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), disse ontem pela manhã a Fogaça que o nome de Renan não foi definido. ‘‘Ele (Renan) é identificado com Jader e não significa uma renovação para o partido’’, criticou o senador gaúcho. Temer estimulou Alencar a entrar na disputa, segundo o próprio senador mineiro. Um sinal, portanto, de que pode haver uma surpresa. No Rio de Janeiro, o governador do Ceará, Tasso Jereissati, afirmou que o nome de Renan enfrenta resistências dentro do PSDB. Ele concorda que a indicação ao cargo cabe ao PMDB, partido com a maior bancada no Senado, mas ressalva que o novo presidente precisa ter uma boa relação e disposição para o diálogo com todos os partidos, atributos que, na opinião de Jereissati, faltariam a Renan. No início do ano,o senador fez críticas pesadas ao governador de São Paulo, Mário Covas, que morreu logo depois, vítima de câncer. Dirceu deve ser reeleito São Paulo — O PT Light venceu. Na primeira votação para escolher um presidente de partido no Brasil, o deputado José Dirceu (SP) conquistou seu quarto mandato. Os números finais serão conhecidos somente na quinta-feira, mas a cúpula petista trabalha com dados extra-oficiais que indicam a vitória de Dirceu ainda no primeiro turno. Trata-se de um resultado que indica o fortalecimento da ala moderada do partido, a Articulação, que nos últimos tempos tem dado ao PT uma cara mais palatável à classe média e ao empresariado, de olho na candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. ‘‘Dirceu deve ser eleito com 55% a 60% dos votos válidos’’, afirmou ontem o presidente em exercício da legenda, deputado José Genoíno (SP). O eleitorado do PT é composto por 861.953 filiados com direito a voto. A eleição, realizada no último domingo, começou francamente favorável a Dirceu. Nos últimos dias, entretanto, ocorreu um fortalecimento da candidatura do ex-prefeito de Porto Alegre, Raul Pont, membro da tendência Democracia Socialista (DS), considerada de esquerda no espectro petista. Articuladores da reeleição de Dirceu chegaram a cogitar que o deputado não conseguiria ganhar no primeiro turno, mas a votação confirmou que a maioria dos filiados o quer no comando do partido. Além de Pont, concorreram com Dirceu os deputados federais Tilden Santiago (MG) e Ricardo Berzoini (SP), ambos do centro; o esquerdista Júlio Campos, presidente do PT gaúcho, e o economista Markus Sokol, da corrente de extrema-esquerda O Trabalho. Dados extra-oficiais indicam que José Dirceu levou 63% dos votos em São Paulo. O diretório paulista possui 227 mil dos 861 mil filiados do partido no Brasil inteiro. Até a tarde de ontem, 56% dos votos paulistas haviam sido computados. Júlio Quadros ficou em segundo lugar (14%), seguido por Raul Pont (10%). No Distrito Federal, com 95% da apuração, a vitória é de Dirceu. O deputado também vence no Paraná, Alagoas, Tocantins, Pernambuco, Maranhão, Pará, Minas Gerais e Bahia. Os resultados indicam também que a Articulação deverá aumentar seu poder na máquina partidária, garantindo mais da metade das cadeiras no diretório nacional. Sem Itamar, PDT busca candidato para 2002 O presidente do PDT, Leonel Brizola, reúne-se hoje com a bancada no Congresso para debater os rumos que o partido deve tomar depois que o governador de Minas Gerais, Itamar Franco, comunicou que não pretende se desligar de PMDB. A recusa de Itamar em aderir ao trabalhismo deixou o PDT sem estratégia para a sucessão presidencial. Brizola contava com a filiação de Itamar ao PDT para comandar uma grande chapa de oposição alternativa à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Os nacionalistas do PDT não aceitam apoiar Ciro. PL rejeita Celso Pitta O PL negou filiação ao ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta, disse ontem o deputado Luiz Antônio Medeiros. Segundo ele, o pedido de filiação foi discutido em um encontro que reuniu lideranças nacionais do PL e cerca de 30 prefeitos do partido em São Paulo. ‘‘Preferimos ficar na nossa e não aceitar a filiação de Pitta’’, disse Medeiros, que preside o partido no Estado. A assessoria do ex-prefeito negou que ele tenha pedido filiação ao PL. Medeiros disse que o partido, embora aberto a coligações em 2002, vai lançar o ex-prefeito de Osasco Francisco Rossi candidato a governador. Negada quebra de sigilo O juiz-corregedor Maurício Lemos Porto Alves negou, na sexta-feira à noite, pedido de quebra de sigilo fiscal dos filhos, da mulher e de uma nora do ex-prefeito de São Paulo, Paulo Maluf (PPB). Os promotores de Justiça que investigam a existência de ativos financeiros em nome do ex-prefeito nas Ilhas Jersey, paraíso fiscal no Canal da Mancha, não apresentaram, segundo o despacho do juiz, nenhum ‘‘indício seguro’’ da existência das supostas contas e não conseguiram demonstrar ‘‘que o controverso valor (...) constitua produto de ilícito civil ou penal’’. O juiz também negou autorização para que fossem enviados ao procurador-geral de Genebra, Suíça, Jean-Loius Crochet, os extratos telefônicos obtidos com a quebra do sigilo de Maluf. Artigos Organização impecável André Gustavo Stumpf O início da primeira guerra do século 21 revela peculiaridades. O país da democracia e do amplo trânsito de informações escondeu notícias em nome de manter elevada o moral público. Nenhuma fotografia de vítima do ataque terrorista foi exibida até agora. E, depois da terça-feira trágica, os jornais e as emissoras de televisão estão se repetindo. Não há notícias novas. A tragédia de Nova York foi impressionante. A do Pentágono também. Mas sobre esta última pouco se sabe. O número de vítimas não foi informado e não há imagens recentes do que de fato foi atingido. Falar de censura talvez seja um pouco forte no país do jornalismo investigativo. Mas é possível enxergar um acordo entre governo e os principais veículos de comunicação para não divulgar a verdadeira extensão dos danos. Guerra é guerra. No outro lado, a demonização excessiva dos muçulmanos e em especial desse misterioso Osama Bin Laden cria um inimigo difuso. Há muçulmanos por todo o mundo, inclusive no Brasil. Em verdade, os verdadeiros responsáveis pelo ataque aos Estados Unidos não foram ainda encontrados. Se o foram, a cortina de silêncio desceu sobre eles. Há suspeita de que existe um governo por trás do ocorrido. A logística da operação, além de ter custo muito elevado, exige rigor militar. Parece plano traçado por oficiais de estado-maior. Difícil que um terrorista perdido nas montanhas do Afeganistão tenha capacidade de fazer o que fez. Ele, aliás, nega. Mas, se o milionário saudita for, de fato, o responsável pelo ataque, ele se transforma numa das pessoas mais poderosas do planeta. Lá do fundo de sua caverna, consegue atingir o coração do império, destruir um dos símbolos de Nova York e agredir o comando de todos os exércitos. É muita força para uma pessoa só. A tentativa de construir uma imagem demoníaca desvia a atenção de outros detalhes mal explicados e pouco conhecidos. O seqüestro de quatro aviões (no início das transmissões eram oito, lembram-se?) envolve grande número de pessoas. São quase vinte seqüestradores que partiram de aeroportos diferentes em horários próximos. Desviaram os vôos com precisão militar e atacaram os alvos com rigor e objetividade. Alto índice de acerto. Tudo muito organizado demais. Pode ter havido colaboração local. Nenhum radar dos muitos que funcionam na área percebeu nada. O alarme não disparou. São situações estranhas. A logística foi impressionante. Demonstrou a vulnerabilidade dos Estados Unidos a um ataque muito bem coordenado. Não é a tradição dos árabes. Ao contrário, eles são considerados maus soldados. Sempre dispõem de ótimo equipamento, muito dinheiro, mas não são disciplinados, nem qualificados. A falta de informações precisas ainda não permite avançar sobre quem é o responsável pelo ataque aos Estados Unidos. Um militar brasileiro fez comentário significativo: ‘‘O ataque foi muito bem realizado para ter sido feito pelos árabes’’. As primeiras vítimas O respeito à liberdade não é incompatível com a repressão ao terrorismo A primeira vítima de uma guerra é a verdade. Nenhuma parte de um conflito esgrima com a verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade. Pelo contrário. A mentira é uma poderosa arma de guerra. Sempre foi e sempre será. A segunda vítima de uma guerra é a liberdade. Não me refiro aqui unicamente à liberdade de um povo submetido a ataques. A liberdade dele, de fato, sofre um colapso. Quando não desaparece de vez por um largo período de tempo. Refiro-me também aos danos causados à liberdade doméstica do próprio povo investido do papel de atacante. Os governos e os militares americanos aprenderam com a derrota no Vietnã que o direito do público à verdade deve ser suprimido durante a guerra. Os americanos jamais derrotariam os vietnamitas. Como antes franceses e chineses não derrotaram. Mas a guerra só não se arrastou por mais tempo porque a imprensa americana pôde retratá-la com cores fortes. O país, chocado, exigiu o fim do conflito. Nunca mais isso foi possível. O Exército americano é capaz de encenar desembarque de tropas somente para que a televisão possa mostrá-lo. E em condições ideais de filmagem. Fez isso, por exemplo, quando invadiu a minúscula ilha de Granada. Jamais permitirá, contudo, que a televisão ou qualquer outro meio divulgue o que possa pôr em risco seus objetivos. Ou o que possa contrariar as intenções do governo. A guerra do Golfo e as demais guerras desde então viraram coloridos jogos de vídeo. O saldo do ataque terrorista a Nova York e a Washington ainda não foi fechado, se é que um dia será. Há milhares de corpos sob os escombros do complexo do World Trade Center e de parte do Pentágono. E a tarefa de recolhê-los se estenderá por vários meses. Mas finalmente, quando o coração dos Estados Unidos parar de sangrar, corre-se o risco de ver que o terror não se limitou a tirar a vida de inocentes. Pode também ter subtraído um dos valores mais caros aos americanos — a liberdade, tal qual eles a conheciam. ‘‘Nós estamos sendo atacados pelo que somos’’, declarou Madeleine Albright, secretária de Estado do governo Bill Clinton. ‘‘Nós apoiamos a democracia, a liberdade e uma sociedade livre. Essa é a essência da América da qual não podemos escapar.’’ Digamos que a ex-secretária esteja certa. Embora o que ela tenha dito não guarde a mínima coerência com a política intervencionista dos Estados Unidos e com o apoio que eles deram e ainda dão a regimes ditatoriais em diversas partes do mundo. Pois bem, ‘‘a essência da América’’ começa a ser atingida com anúncios de medidas que visam a preparar o país para a guerra contra o terrorismo. O combate aos inimigos da democracia pode custar a extinção de direitos democráticos. E uma alteração profunda no modo de vida americano. A consciência jurídica ocidental sempre condenou Israel por admitir a tortura a presos políticos e o assassinato de desafetos. O atual secretário de Estado, Colin Powell, revelou anteontem que os Estados Unidos estão prestes a seguir os passos de Israel. Pouco antes de Powell ter dito o que disse, o secretário de Justiça, o equivalente ao nosso ministro da Justiça, anunciou que o governo mandará ao Congresso proposta de lei que facilitará o grampo telefônico e a quebra do sigilo das comunicações privadas. Outras propostas da mesma natureza estão sendo amadurecidas. A restrição de direitos individuais dos cidadãos americanos será o preço que o governo Bush parece disposto a pagar para exterminar os seguidores do terrorista Bin Laden. Quem acha que fora do regime democrático não há saída deve começar a dividir sua preocupação entre o que acontecerá nas próximas semanas além das fronteiras dos Estados Unidos e também dentro delas, no âmbito estritamente militar e também fora dele. Para vingar o assassinato de americanos inocentes, não é justo massacrar inocentes de qualquer nacionalidade. Para sufocar o terror que ameaça os fundamentos do mundo civilizado, não é legítimo enfraquecer o que se quer tanto preservar. Os Estados democráticos devem dispor de meios eficientes de defesa. O terror se vale dos atributos da democracia para tentar destruí-la. Mas o respeito à liberdade não é incompatível com a repressão ao terrorismo. Estamos às vésperas de mais uma demonstração de força bélica a ser dada pelo único império que restou do século passado. Ela servirá para infringir duros golpes às bases terroristas espalhadas pelo mundo. Mas, ao cabo, não conseguirá acabar com o terror. Há que se resgatar contra ele o velho e aparentemente ultrapassado meio da espionagem humana. Somente a espionagem eletrônica não será suficiente como está provado. E há também que se perseguir nova ordem mundial que desestimule ou amenize o uso do terror como instrumento político. A guerra santa contra os bárbaros modernos não pode passar nem de longe, nem mesmo temporariamente, pela assimilação dos seus métodos, armas e ideologia. Do contrário, não haverá diferença entre os bárbaros e os que não se reconhecem como tal. E Bin Laden terá vencido. Editorial Momento de reflexão Os Estados Unidos constituem um grande país de imigrantes. A nação foi construída pelo esforço anônimo de católicos, protestantes, judeus, árabes, asiáticos e latinos. Os africanos foram levados à força para o continente. Lá trabalharam muito, sofreram privações e humilhações antes de conquistar seus direitos civis. Todos os grupos étnicos ou religiosos auxiliaram no desenvolvimento da sociedade multirracional, democrática e hoje líder do mundo livre. O ataque terrorista a Nova York e Washington teve uma perversa conseqüência paralela. Apagou a memória da convivência pacífica dos grupos de imigrantes que construíram o país. A onda de xenofobia mistura no imaginário popular todos os estrangeiros (ou filhos deles), mesmo os nascidos em território norte-americano. A insistência na demonização dos árabes provoca a irracionalidade da população. Já ocorreram atentados contra mesquitas. Raiva, emoção e desejo de vingança não são bons conselheiros. Sob violenta privação de sentidos, o indivíduo comete atos extremados. O ataque terrorista foi brutal, covarde e provocou a morte de milhares de pessoas. Atingiu profundamente a auto-estima do americano. Tudo isso é verdade. Mas retaliar contra o cidadão que, com seu trabalho, ajuda a grandeza da América não homenageia a inteligência de ninguém. O americano quer a guerra. As pesquisas de opinião são unânimes em apontar esse caminho para lavar a honra nacional. A população foi pega de surpresa. A maioria dos cidadãos daquele país não se interessa por relações internacionais e pouco sabe a respeito do conflito no Oriente Médio. É difícil entender como pessoas ou grupos podem odiar tanto o país a ponto de organizar ataques suicidas contra seus principais símbolos. As respostas não são simples. Nem fáceis. Mas simplificar a retaliação agredindo o vizinho muçulmano não resulta em nada de proveitoso. Agrava o círculo vicioso do ódio. Um dos aspectos mais perversos do terrorismo é a dificuldade de se proteger contra ele. Sua ação propaga o medo e esparge insegurança. Colocar um grupo religioso contra a parede, como sendo a origem de todo o mal, não ajuda a construir um futuro melhor. A solução defendida por políticos e jornalistas de relativizar os direitos civis termina a obra dos terroristas. Fere de morte a democracia norte-americana. A tragédia americana tem várias leituras e alguns ensinamentos. Se o governo permitir que o ódio e as agressões contra um grupo minoritário prosperem, estará destruindo um dos pilares do sistema político norte-americano. A hora é grave. Os desafios são muitos. Mas a democracia já enfrentou e venceu problemas igualmente difíceis. Reduzir os direitos políticos ou permitir que um grupo seja agredido em todos os cantos do território não contribui para a vitória final. Ao contrário, aduba o campo onde viceja o germe do terrorismo. Topo da página

09/18/2001


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