Senado homenageia Machado de Assis



O Senado realizou nesta terça-feira (25) sessão especial em homenagem a Machado de Assis, na passagem do centenário da morte do escritor. Na ocasião, o senador Marco Maciel (DEM-PE), um dos propositores da homenagem, lembrou que a iniciativa tem por objetivo despertar nos brasileiros o gosto pela leitura.

Fizeram parte da Mesa da sessão o 1º secretário do Senado, Efraim Morais, que presidiu os trabalhos; o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Eros Grau; o deputado e 1º secretário do Congresso, Osmar Serraglio (PMDB-PR); a coordenadora da Comissão Ano Cultural Artur da Távola, órgão que organizou as homenagens, Ana Cláudia Costa Badra, além do professor Antônio José Barbosa, consultor legislativo do Senado, que, na abertura da sessão, leu a crônica Os dias, de Machado de Assis.

Durante a homenagem, Marco Maciel lembrou, em detalhes, a produção literária e a biografia de Machado de Assis. Maciel destacou que o escritor foi o fundador e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL). Também observou que, tendo ficado órfão muito cedo, o escritor passou por muitas dificuldades na vida.

Maciel destacou a importância de Machado de Assis no mundo da política - o escritor lutou, por exemplo, pelo voto das mulheres e pelos direitos de minorias - além do valor cultural do intelectual. O senador comentou ainda que Machado de Assis foi um escritor "dotado de um forte sentimento de brasilidade".

Também em discurso para homenagear o escritor, falecido no dia 29 de setembro de 1908, Efraim Morais lembrou que Machado de Assis foi "um dos grandes brasileiros" de todos os tempos, responsável por uma obra universal, admirado no país e no exterior.

O 1º secretário lembrou o Machado jornalista, o Machado tradutor, o servidor público, o político, o teatrólogo e poeta, o homem de família e, por fim, o criador da Academia Brasileira de Letras. Ao citar o crítico literário norte-americano Harold Bloom - que, ao incluir Machado de Assis entre os maiores gênios da literatura, o classificou como o maior escritor "mulato" de todos os tempos - observou ser curioso que o Senado celebre cem anos da morte do escritor máximo da língua portuguesa logo após a eleição de um "mulato" para a Presidência dos Estados Unidos.

- São memórias póstumas, mas que continuam vivas e contemporâneas nos romances e no imaginário brasileiro - disse Efraim.

Senhor das letras

O senador Marconi Perillo (PSDB-GO) afirmou que o escritor Machado de Assis, foi "um dos maiores escritores, senão o maior, no idioma pátrio."

Perillo salientou que o "bruxo do Cosme Velho" inaugurou o movimento literário do Realismo, sem, no entanto, se restringir a ele, tendo passado pelo Romantismo e pelo Modernismo e utilizado "muito tempero com ironia". O parlamentar referiu-se a Machado como "um desses magistrais senhores das letras, cuja leitura se faz nas linhas e, sobretudo, nas entrelinhas, sob pena de perdermos a essência, a sutileza da mensagem, muitas vezes colocada numa palavra ou interjeição".

Já o senador Geraldo Mesquita Júnior (PMDB-AC) optou por homenagear o escritor carioca relatando experiência que realizou no Acre com verba a que tem direito como senador para impressão de material gráfico: a edição de dois cursos em fascículos, Política ao Alcance de Todos e Política e Cidadania, que acabaram tendo grande aceitação por parte da população de baixa renda.

O parlamentar pelo Acre frisou que a população brasileira "adora ler e ama literatura brasileira". Ele observou, porém, que são necessárias iniciativas que coloquem os livros ao alcance dessa parcela populacional. Entre elas, citou a criação de uma Biblioteca Popular, sugestão que deu ao ministro da Educação, Fernando Haddad, por ocasião de audiência pública na Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE), mas que não foi efetivada, segundo ele, até o momento.
.O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) recordou a extensa produção literária deMachado de Assis, que deixou um legado de nove romances, 200 contos, uma dezena de peças de teatro, cinco coletâneas de poemas e milhares de crônicas.
O parlamentar descreveu Machado como alguém que "superou sua situação social e histórica para criar uma ficção universal" e o comparou a outros mestres da literatura clássica como Dante, Shakespeare e Cervantes.

Por sua vez, o senador Mão Santa (PMDB-PI) louvou a iniciativa do colega Marco Maciel (DEM-PE), membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), de prestar a homenagem ao escritor. Em seguida, fez referência a reportagem publicada na edição desta terça-feira (25) do jornal O Globo, segundo a qual relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) mostra que o Brasil perdeu quatro posições - do 76º para o 80º lugar - entre 129 países no ranking de monitoramento das metas globais. O relatório avalia dados de 2006 referentes a matrículas no ensino primário, analfabetismo de jovens e adultos, repetência e evasão e paridade entre gêneros no acesso à escola.

Mão Santa criticou a situação educacional do Piauí, que tem 78 municípios sem biblioteca e que, no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ficou em 26º lugar, à frente apenas de Alagoas. Ao final de seu discurso, Mão Santa recordou que o economista Celso Furtado, morto em novembro de 2004, considerava Machado de Assis, Aleijadinho e Villa-Lobos "os três maiores gênios brasileiros".

Exposição Machado Vive

Ao fim da sessão especial, Marco Maciel inaugurou a exposição Machado Vive, que poderá ser visitada até o dia 16 de dezembro no hall entre as Alas Tancredo Neves e Teotonio Vilela. A mostra foi organizada numa parceria entre o Senado Federal e a Academia Brasileira de Letras e traz a Brasília a iconografia de Machado de Assis, sua bibliografia, objetos, relíquias e imagens do Rio de Janeiro em que viveu o escritor.

Na exposição, podem ser vistas fotos de Machado, dos locais onde o escritor viveu e reproduções de livros publicados em vários idiomas, entre eles inglês, espanhol e alemão.

Também fazem parte do conjunto de homenagens a publicação, pelo Senado, de obras de Machado de Assis, entre as quais uma edição do livro O Velho Senado, editada pelo Conselho Editorial do Senado, e o manuscrito do poema Casamento do Diabo, além de CDs com a gravação de três programas da Rádio Senado sobre o escritor.

Silvia Gomide e Cristina Vidigal / Agência Senado



25/11/2008

Agência Senado


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