Senadores debatem com Amorim crise com a Bolívia



Ao debater com o chanceler Celso Amorim a crise decorrente da nacionalização do gás na Bolívia, os senadores da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) demonstraram preocupação com o abastecimento e os preços do gás devido à dependência do Brasil em relação ao produto boliviano.Em sua maioria, os senadores consideraram a nota do governo "tímida e pouco incisiva" e opinaram que a atuação do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, durante a crise "foi danosa aos interesses brasileiros".

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) lembrou que a posse do presidente da Bolívia, Evo Morales, foi cercada de grande entusiasmo popular. Em seu discurso, o presidente boliviano mostrou amizade para com o Brasil e afinidade com o presidente Lula, disse. Suplicy quis saber de que maneira a amizade entre Lula e Morales pode facilitar a solução da crise do gás boliviano e perguntou o motivo pelo qual o presidente Hugo Chávez foi convidado para a reunião em Puerto Iguazú, na Argentina.

Ao responder, Amorim disse que Chávez é parte importante do projeto de integração energética da América Latina, por ser a Venezuela a detentora da maior reserva de gás no continente. Segundo Lula, a presença de Chávez teve uma influência positiva para pacificar a situação Brasil-Bolívia, relatou o chanceler.

Para o senador José Agripino (PFL-RN), o Itamaraty foi colocado de lado na questão da crise do gás boliviano, cedendo espaço para Marco Aurélio Garcia, assessor do presidente Lula para assuntos internacionais, o que, na opinião do senador, é lamentável "porque o Itamaraty representa uma das melhores diplomacias do mundo e está apenas assistindo a essa crise da Bolívia".

Para Agripino, a resposta do Itamaraty não foi forte o suficiente, no contexto público, e nem habilidosa, no contexto particular, como é do estilo da diplomacia brasileira.

- A nota foi frouxa no contexto internacional e coube à Petrobras falar mais duro. O Brasil está se esfrangalhando como líder da América Latina. O Paraguai, vendo a posição frouxa do Brasil em relação à Bolívia, não terá a mesma idéia de querer invadir a usina para ganhar mais alguns dólares? - indagou.

Ao responder, Celso Amorim disse que houve uma efetivação da nacionalização das refinarias, mas que não está descartada uma compensação financeira à Petrobras. Portanto não houve, ainda, segundo ele, expropriação de propriedade brasileira.

- Acho que é dramatizar muito pensar em ocupação de Itaipu - argumentou.

Amorim garantiu que a diplomacia não foi descartada durante o episódio, mas apenas está agindo mais silenciosamente, como convém ao momento delicado que se está vivendo na América Latina. Ele destacou que não convém neste momento adotar uma política de intimação.

Interesses

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse discordar da maneira com que Marco Aurélio age, com ênfase na ideologia, e não nos interesses intrínsecos do Brasil, como acredita o senador. Para ele, o que é bom para Chávez e Morales não é o que interessa ao Brasil.

O senador pelo Amazonas disse que se está desenvolvendo um novo eixo de poder na América Latina: Argentina/Venezuela, com o Brasil em segundo plano. Ele quis saber "até quando o Brasil ficará olhando Chávez empalmar a liderança latino-americana, sem reação".

Arthur Virgílio ironizou a afirmação do presidente Lula de que, se houver aumento de preço do gás, será a Petrobras que assumirá o prejuízo.

- É um absurdo; os acionistas vão reclamar, a empresa acabará expulsa da Bolsa de Nova York. A diferença terá que sair do Orçamento da União, já tão minguado - destacou.

Segundo Celso Amorim, o governo brasileiro sempre soube das intenções de Evo Morales, desde que era candidato, em relação à nacionalização do gás.

- A maneira belicosa de cercar as refinarias nos surpreendeu, mas a nacionalização já estava prevista desde a realização do plebiscito - disse.

Para o chanceler, a presença de Chávez em Puerto Iguazú justificava-se em função da integração energética da América Latina. Ele garantiu, porém, que o presidente Lula transmitiu a Chávez o desconforto do Brasil com algumas ações, como a presença de pessoal da empresa venezuelana de petróleo na Bolívia, durante a crise, bem como a presença do próprio Chávez em negociações com Uruguai e Paraguai.

O senador Roberto Saturnino (PT-RJ) fez questão de dizer que a integração latino-americana é, nos dias de hoje, mais intensa do que em décadas passadas, mas questionou o que chamou de "tropeço do Uruguai em querer sair do Mercosul". Celso Amorim respondeu que, se algo faltou ao Brasil, no Mercosul, foi ter uma visão de mais longo prazo em relação aos países menores. Como eles tinham expectativas enormes, ficaram frustrados, disse.

Pedro Simon (PMDB-RS) afirmou que o presidente Lula manifestou simpatia demais para a Bolívia. "Só não votou nas eleições bolivianas porque não deixaram", disse. Por isso, para o parlamentar, a iniciativa de cercar as instalações da Petrobras surpreendeu.

- O presidente Chávez também exagerou, ao querer aparecer demais. Dentro desse quadro, a nota diplomática brasileira foi suave demais, deveria ter sido mais forte e incisiva - enfatizou Simon.

O senador pelo Rio Grande do Sul lembrou que foi o Brasil que liderou a construção do Mercosul, até porque a Argentina, na ocasião, não tinha condições de fazê-lo, mas reconheceu que os então presidentes da Argentina e do Uruguai ajudaram também. O Brasil, porém, continua sendo o grande incentivador do Mercosul, enfatizou.

Ao responder, Celso Amorim disse que o Brasil, por seu tamanho, tem o ônus e o bônus do seu peso específico na região.

Já a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) informou que Santa Catarina é inteiramente dependente do gás boliviano. Por isso, a questão preocupa especialmente a população daquele estado. No entanto, a senadora não acredita em risco de desabastecimento porque a Bolívia não tem alternativa.

- Venderá para quem 30 milhões de litros-dia? Quanto à questão do preço, é diferente. A Bolívia tem contratos com a Petrobras, mas a empresa tem contratos com distribuidoras dos estados. Como isso será resolvido? - quis saber Ideli.

Celso Amorim respondeu que as negociações da Petrobras com o governo boliviano continuam, e devem surgir respostas a essas questões.



09/05/2006

Agência Senado


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