Senadores e convidados divergem sobre interrupção da construção de termonucleares no país
Senadores e convidados que participaram, nesta quarta-feira (27), de audiência pública da Comissão de Infraestrutura não chegaram a um consenso sobre o projeto (PLS 405/2011) do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que suspende pelo prazo de 30 anos a construção de novas usinas termonucleares em território nacional. A necessidade de diversificação da matriz energética brasileira se contrapôs a questões de segurança e ao medo de acidentes, como os ocorridos em Chernobyl (União soviética) há 27 anos, e em Fukushima (Japão), em 2011.
O diretor-presidente da Eletrobras Termonuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva, afirmou que as usinas modernas, construídas em locais apropriados e com a tecnologia adequada, são seguras e eficientes na geração de energia. Segundo ele, o Brasil pode prescindir das nucleares, mas vai pagar pela decisão.
– O país é rico em minerais e em urânio, o qual não tem outra utilização que não a geração de eletricidade. Podemos ficar três décadas sem novas instalações, mas vamos pagar muito por isso. É uma questão de opção. Suspender por 30 anos é possível, mas vamos pagar mais e sacrificar mais o povo – argumentou Othon Silva.
Ele garantiu ainda que a Usina Angra III, que deve entrar em operação em 2018, no litoral sul do Rio de Janeiro, está sendo construída com as normas mais modernas de segurança existentes e que existe um plano de evacuação bem preparado da cidade fluminense, em caso de emergência.
– Fukushima contou com um plano de fuga que permitiu a evacuação de 140 mil pessoas da região sem acidentes. Em Angra adotamos metodologia semelhante – afirmou.
Já o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Altino Ventura Filho, defendeu a diversificação da matriz energética brasileira e disse que se há um país no mundo que não pode “fechar as portas” para nenhuma opção é o Brasil.
– Cada fonte deve entrar sem competir com as demais. Tem espaço para todas as fontes, inclusive para a nuclear. Não devemos fechar as portas para nenhuma opção. O Brasil precisa fazer sua economia crescer. E, sem energia, não se tem desenvolvimento. Só ela [energia] não resolve; mas, se faltar, não há indústria, não há agricultura, não há emprego, e a economia não cresce – argumentou.
O senador Lobão Filho (PMDB-MA) criticou o projeto de Cristovam e disse que a proposta surgiu "no calor de acontecimentos recentes", referindo-se ao acidente de Fukushima.
– Aprendi a não reagir no calor das emoções. E isso que estamos fazendo aqui: discutindo o assunto no calor da emoção. Usinas antigas e ultrapassadas como a de Chernobyl não são exemplos para nada. Em Fukushima houve falhas e um componente ambiental. Temos que aprender com erros de terceiros e impedir que aconteçam aqui – afirmou.
Riscos
O diretor-executivo da F.G.Whitaker Assessoria Técnica de Negócios e Serviços Internacionais, Francisco Whitaker Ferreira, mostrou-se favorável à proposição. Ele lembrou que outros países, como Alemanha e Japão estão abandonado esse tipo de usina e defendeu mais investimentos em sistemas eólicos e solares.
– Apenas pouco mais de 2% de nossa matriz vêm da energia nuclear. Será que vale a pena correr riscos? O preço que vamos pagar? É a energia mais cara. Mas eu não penso no preço da energia, mas no preço de vidas humanas – afirmou.
Para Francisco Whitaker, que duvidou da eficiência de um plano de evacuação de Angra dos Reis, a questão não é se o Brasil pode ou não ficar sem usinas por 30 anos, mas se deve ou não abrir mão deste sistema.
– A pergunta a ser feita é se devemos ou não. E não devemos, pois não temos o direito de expor a população a tal risco, que já está comprovado no mundo todo – disse.
O senador Cristovam Buarque deixou claro que o projeto não impede o desenvolvimento do setor, visto que não proíbe a realização de pesquisas. Ele alegou que a energia nuclear não seria abandonada no Brasil.
– Em Chernobyl havia irresponsabilidade geral do sistema soviético. Mas o Japão é um país reconhecidamente cuidadoso e eficiente e mesmo assim aconteceu – alertou.
O senador Walter Pinheiro (PT-BA), por sua vez, mostrou-se preocupado com a falta de uma cultura de defesa civil no país, o que impacta diretamente os sistemas de manejo e evacuação da população de Angra dos Reis e região, que sofre até na época das chuvas, com inundações e deslizamentos.
– Diferentemente do Japão, não temos essa cultura. Nem nas 12 sedes da Copa do Mundo os centros de emergência estão funcionando. Na Copa das Confederações foi no improviso – lamentou.
A Comissão de Infrestrutura é presidida pelo senador Fernando Collor, que conduziu a reunião.
27/11/2013
Agência Senado
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