Senadores pedem que Regina forneça detalhes e mantenha a coragem



O senadores que compõem a Conselho de Ética pediram a ex-diretora do Centro de Processamento de Dados do Senado (Prodasen) Regina Célia Borges que fornecesse detalhes dos encontros que afirma ter mantido com o senador José Roberto Arruda (PSDB-DF). Ela revelou que em dois encontros mantidos no carro oficial do senador estavam presentes o motorista e o assessor Domingos Lamoglia de Sales Dias. Regina também lembrou-se de alguns detalhes do apartamento do senador e que foi recebida pelo filho de Arruda. As revelações levaram os senadores a requerer a convocação dos porteiros do prédio onde mora o senador, do motorista e do assessor.

O relator, senador Roberto Saturnino (PSB-RJ) pediu a Regina que autorizasse a quebra do seu sigilo telefônico, com o que ela concordou imediatamente. O senador Ramez Tebet (PMDB- MS), presidente do Conselho de Ética, explicou que a liberação pela própria interessada é a maneira mais rápida dessas informações chegarem às mãos dos senadores. Regina revelou que, após a publicação pela imprensa das denúncias de violação do painel, ainda manteve quatro encontros com Antonio Carlos Magalhães.

Questionada sobre não ter pensado na possibilidade de consultar Antonio Carlos para confirmar o pedido de Arruda, Regina disse a Saturnino que não lhe ocorreu checar a solicitação porque estava sendo feita pelo líder do governo. Ela disse que foi obrigada a contar a verdade no momento em que soube que o funcionário Heitor Ledur já havia revelado como foi violado o painel. Após o depoimento na comissão de inquérito, Regina disse ter tentado falar com Arruda e Antonio Carlos. "Domingos (assessor de Arruda) me disse que Arruda negaria até o fim", afirmou.

Regina lembrou que a reportagem publicada pela revista IstoÉ, revelando o teor da conversa entre Antonio Carlos, Fernando César Mesquita e os procuradores do Ministério Público, quando foi revelada a existência da lista, o clima passou a ser de pânico entre os funcionários envolvidos na violação do painel.

- Procurei Arruda e ele disse que teria que segurar os meninos, manter silêncio. Quando Antonio Carlos Magalhães chegou de Miami, fui a ele e falei que estava preocupada que a Unicamp descobrisse, ou que algum técnico falasse. Ele respondeu que em relação a Unicamp não podia fazer nada - relatou Regina.

Ainda respondendo ao relator, a ex-diretora do Prodasen disse que, a partir do momento em que surgiu a primeira notícia sobre o suposto voto da senadora Heloísa Helena contra a cassação de Luiz Estevão, começou o seu calvário.

- De repente, surgiu outra notinha na IstoÉ citando votos de mais três senadores. A partir daí, a gente viu que poderia ter problemas - disse Regina, acrescentando que na ocasião procurou Antonio Carlos, que teria dito que o vazamento da informação tinha sido "coisa do Arruda".

Prosseguindo em seu depoimento, Regina contou que, ao sair do apartamento de Arruda, contou a conversa ao seu marido, Ivair Alves Ferreira, também funcionário do Prodasen. "Ele disse que não me deixaria sozinha, que se tinha que ser feito (a violação do painel), ele faria comigo". A partir disso, ela explicou que os dois procuraram o funcionário Heitor Ledur e, juntos, chegaram à conclusão de que seria necessária a presença de um técnico da empresa que fazia a manutenção do painel, a Panavídeo. Foi contatado o técnico Sebastião Gazolla, a quem foi dito haver necessidade de algumas alterações por motivo de segurança do Prodasen. Após a entrega da lista ao assessor de Arruda, Regina disse ter recebido telefonema de Antonio Carlos agradecendo pelo trabalho.

Regina revelou ao senador Carlos Bezerra (PMDB-MT) que o primeiro encontro com Arruda durou de 15 a 20 minutos e negou afirmação dele de que foi à sua casa para tratar da Interlegis. Ela disse que esteve uma vez com Antonio Carlos em seu gabinete e outra vez na casa da assessora dele, Isabel Flecha de Lima, que não foi informada sobre o tema da conversa. O senador Romeu Tuma (PFL-SP), corregedor do Senado, perguntou se o assessor Domingos Lamoglia esteve presente nos encontros com Arruda. Regina disse que, na maioria das vezes, o assessor também participou das conversas.

Ao senador Amir Lando (PMDB-RO), Regina explicou ser possível que um senador, tendo a senha de outro, modifique o voto deste segundo senador. Ela acrescentou que essa mudança teria que ser feita em plenário, antes do final do encerramento da votação, em um dos terminais usados pelos senadores para votar. Ela disse ainda que nunca recebeu, antes ou depois, qualquer outra solicitação para violar sigilo de votação secreta e afirmou não ter idéia do motivo dos senadores Antonio Carlos e Arruda pediram a lista e o que fariam com ela.

A senadora Heloísa Helena (PT-AL) quis saber se Regina havia ajudado a violar o painel eletrônico de votação por confiar nos senadores que lhe pediram ou porque se sentiu coagida. Regina disse que "as coisas foram juntas, a confiança ao lado do constrangimento" e que, naquele momento, não via outra alternativa. A senadora solicitou a quebra do sigilo telefônico de Regina e que o presidente Jader Barbalho disponibilize os telefones dos senadores e funcionários envolvidos.

O senador Osmar Dias (PSDB-PR) perguntou se houve modificação no voto de algum senador. Regina garantiu que não. "Eu não faria nem com uma metralhadora na minha frente", afirmou. Ela acrescentou que o relatório da Unicamp constatou que o resultado da votação da cassação do mandato do ex-senador Luiz Estevão, não foi alterado. O senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) quis saber se o fato de ter sido casada com um primo do governador da Bahia, César Borges, influiu na sua nomeação para a direção do Prodasen. Regina informou que os funcionários do Prodasen realizam uma espécie de eleição e encaminham o resultados aos senadores como sugestão, uma vez que o cargo é privativo da Presidência. Antero disse que o episódio era uma lição de que nenhuma ordem de superior hierárquico deve ser obedecida se for absurda.

O senador Casildo Maldaner (PMDB-SC) perguntou se Regina tem sofrido alguma ameaça ou retaliação por ter dito a verdade. Ela explicou que tudo foi desnudado, a rotina do episódio foi detalhadamente definida no relatório da Unicamp, com senha e horário em que foi feito. "E tem uma responsável: fui eu quem pediu para fazer", assumiu. Segundo ela, o limite foi a responsabilização de um colega seu, quando, então, não viu outra saída senão contar tudo. Regina revelou que não falou mais com Arruda e Antonio Carlos depois da confissão.

O relator, Roberto Saturnino, voltou a fazer perguntas sobre os encontros de Regina com Arruda no automóvel dele. Ela lembrou que o carro era o oficial e era conduzido por motorista do Senado. O senador Waldeck Ornelas (PFL-BA) perguntou por que ela não se certificou de que a violação havia sido mesmo determinada por Antonio Carlos. Regina relembrou que entregou a lista a um assessor, mas recebeu uma ligação de Arruda que a tranqüilizou.

O senador Paulo Souto (PFL-BA) assinalou que um ponto do depoimento de Regina não se modificou, a opinião dela sobre o comportamento ético do senador Antonio Carlos Magalhães. Ele também questionou o fato de ela não ter procurado confirmar o pedido de Arruda em nome de Antonio Carlos. Regina disse ter imaginado que Antonio Carlos havia utilizado um intermediário para evitar constrangimentos e acreditava que se o procurasse poderia aumentar esse constrangimento. Ela disse ainda que teria certeza da origem do pedido quando entregasse a lista a Antonio Carlos, como Arruda havia combinado, e que se o então presidente não tivesse ligado no dia seguinte como fez, ela o procuraria.

O senador José Eduardo Dutra (PT-SE) disse que ainda falta responder a principal pergunta: a quem interessa o crime? Segundo ele, quem possuísse a lista poder ia chantagear qualquer senador. Regina contou que foi um momento de decisão difícil, um momento de conflito, mas mesmo assim entregou a lista.

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) disse temer que a corda arrebente do lado mais fraco. "O lado mais forte da corda é o senador e o mais fraco é o funcionário", comparou. Simon reclamou que o presidente Fernando Henrique Cardoso cobre moral do Senado, mas faça tudo para evitar a CPI da corrupção. Para ele, a questão é se o Senado terá coragem de chegar a uma conclusão ou não, "porque a coisa já está provada". O senador também estranhou que Regina não tenha tido a menor curiosidade em olhar o conteúdo da lista. "Se eu estou na jogada, eu dou uma olhada", admitiu. Segundo Simon, a fita dos procuradores fecha com o depoimento de Regina.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) cogitou a possibilidade de Arruda e Antonio Carlos terem agido sob "coação psicológica do presidente Fernando Henrique Cardoso". Regina explicou que sua relação com eles é de uma servidora para um senador e não poderia fazer ilações a esse respeito. Suplicy revelou que ao responder pesquisa de um jornal, se Arruda e Antonio Carlos deveriam ser cassados ou não, ele respondeu que dependeria deles fazerem o mesmo que Regina está fazendo. Roberto Saturnino apoiou a sugestão de Suplicy e complementou que Antonio Carlos e Arruda poderiam entender o momento que o país está vivendo e revelar toda a verdade.

Suplicy concluiu apresentando requerimentos para a convocação de todos os funcionários envolvidos, além dos motoristas e porteiros do prédio de Arruda e do jornalista Ricardo Noblat.

19/04/2001

Agência Senado


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